quinta-feira, 31 de julho de 2008

A fundação do Brasil segundo um jornalista

Laurentino Gomes, autor do best-seller invicto por 40 semanas, 1808, falou em palestra feita no SESC Vila Mariana ontem, dia 30 de julho, sobre a criação desse seu primeiro trabalho, como a história pode ser relatada do ponto de vista jornalístico e o que é necessário para uma escrita acessível gerar um sucesso comercial expressivo.

Por Pedro Zambarda de Araújo

Lançado em versão infanto-juvenil, com 136 páginas (contra cerca de 400 da versão original), além de um CD com o livro em áudio, as adaptações de 1808, lançado pela editora Planeta, são reflexo de narrativa atraente do livro inicial, que explica detalhes da chegada da família real portuguesa sem a carga da linguagem acadêmica ou técnica.

Responsável pela excelente repercussão da obra, o autor Laurentino Gomes, que trabalhou em órgãos da chamada “grande imprensa”, como a editora Abril, a revista Veja e o jornal O Estado de S.Paulo, afirmou que a palestra durante o evento Sempre Um Papo, promovido pelo SESC Vila Mariana, só foi possível porque ele considera os leitores fundamentais para compreensão e ampliação da sua pesquisa. “Meus contatos com as pessoas que apreciaram esse trabalho não são apenas em palestras, debates e congressos em carne e osso. Valorizo muito as discussões na internet, principalmente via e-mail e Orkut”. E ele ainda falou mais detalhadamente: “nas comunidades do Orkut, tenho a oportunidade de ver não um tipo de leitor comum, mas aquele que sabe detalhes da minha obra e que realmente pode contribuir”.

Terceiro Sempre Um Papo que participou – sendo os outros dois em Santa Catarina e Belo Horizonte – o autor paranaense de Maringá entrou em temas como corrupção, dívida externa e personalidades, ao retornar ao episódio homérico de D. João VI fugindo de Portugal com medo das invasões napoleônicas. “As visões tradicionais trataram ele como se fosse um trapalhão, uma caricatura. Ele também foi, ao seu modo, um herói e dono de uma estratégia que surpreendeu Napoleão Bonaparte. É esse D. João diferente que eu resgato no livro” expressou o criador, que fez um resgate de personagens históricos.

E, discutindo sobre a própria história, Laurentino foi bem crítico à respeito dos profissionais dessa área. “Historiadores marxistas foram bastante relevantes na educação dessa disciplina aqui no Brasil, como o Nelson Wernerck Sodré e o próprio Sergio Buarque de Holanda. No entanto, o panorama dos problemas econômicos e sociais que eles forneceram tira os próprios personagens, repletos de conflitos e paradoxos totalmente fora dos sistemas, da própria história” enfatizou, sendo crítico incisivo a essa tendência.

Afirmando que o estudo dessa disciplina, principalmente historiografia, é um retorno ao passado para entender a situação presente e construir um futuro, Laurentino colocou situações descritas no próprio livro que mostram muitos problemas presentes que já ocorriam naquele contexto de final de colonização de exploração. Os negócios do Banco do Brasil original, fundado por D. João VI, não eram, segundo o autor, para melhorias do Brasil, mas sim para subsídio de dívidas portuguesas através de acionistas coloniais ricos e doações voluntárias. Para o autor, isso fundamentou a corrupção brasileira.

“Esse é o ´DNA do Brasil´, que acompanha a violência e as desigualdades urbanas. Vendo por esse aspecto, as chances de nosso país dar errado eram grandes. Vejo até com bons olhos a situação atual, dessa forma. No entanto, o atual inconformismo talvez seja fruto de uma ansiedade que veio desde a reabertura democrática” disse o escritor, usando uma tese interessante que o passado nacional talvez explique muitos de nossos problemas. E completou: “infelizmente as coisas não vão se resolver tão facilmente e é possível que muitos defeitos antigos permaneçam futuramente”.

Entrando em especificações do seu livro além dos assuntos da corte portuguesa e de seus detalhes, Laurentino falou do estilo em que seu livro foi escrito, usando uma linguagem acessível ao leitor mais ocasional. Sobre como esse critério de escrita foi concebido, o autor esclarece que veio de sua própria profissão como homem da imprensa: “o jornalista tem missões nessa vida: ser o filtro da linguagem altamente especializada para o leitor leigo. E deve fazer isso de maneira atraente”. E ele acrescenta, como um alerta para novos escritores e escritores do mercado editorial que “a linguagem atraente não deve banalizar. Em um país com baixa escolaridade, os escritores, os jornalistas, enfim, todos que detém e podem disseminar o conhecimento devem usá-lo em uma linguagem didática aos seus leitores”.

Dessa forma, afirmando que o modo como criou 1808 conquistou sucesso por seu planejamento cuidadoso e inclusão de métodos jornalísticos, Laurentino, afirmou, sem nenhuma vergonha, que ele se aproveitou de oportunidade para lançar esse material. “Não foi por acaso que o lancei em 2008, com as comemorações de 200 anos da vinda da família real. Fui oportunista, nesse aspecto”, confessou. “No entanto, não é só a vinda dos portugueses que é festejada, mas sim a abertura dos portos que permitiu ao Brasil o comércio ao exterior, a modernização urbana e a criação da identidade do país que se realizou naquela época”.

Respondendo perguntas da platéia, disse que a participação de sua filha, Camila Ramos Gomes, estudante de jornalismo, foi fundamental para que Laurentino tivesse contato com obras historiográficas fundamentais. “Ela fez esse trabalho dispendioso de entrar em grandes acervos, como o da PUC-SP e o da USP, para investigar esse período histórico para mim. Era um dos executivos da editora Abril na época e não tinha tempo para ver tudo isso. Por isso, foi indispensável agradecê-la ao final do livro” disse, em tom de elogio.

Sobre pormenores da organização dos textos, novamente recorreu ao seu meio jornalístico. “Viver em redações faz você estar pronto a trabalhar não muito ou pouco, mas o suficiente. Faz você ir até uma entrevista sabendo apenas o necessário. Faz você não fotografar pessoas aleatórias em um evento, mas ter o foco dentro da pauta” explicou e, aliando isso na composição de 1808, completou: “a experiência do jornalismo me fez saber como editar textos. Anos antes desse livro (cerca de dez anos atrás), meu primeiro livro, eu já tinha os fatos principais pesquisados e fiz todo o planejamento em 28 arquivos distintos de Word (sic)”.

Laurentino Gomes foi receptivo, sorridente e sem ares muito pretensiosos, apesar de confessar que seu “ego infla” ao saber da admiração dos leitores. A palestra começou às 19h30, terminando às 20h40 para uma sessão de autógrafos, onde ele distribuiu, além de assinaturas, contatos eletrônicos para que o debate não se encerrasse ali.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Papo de pescador

Durante o lançamento do programa "Mais Pesca e Saúde" em Salvador, o presidente Lula anunciou a transformação da Secretaria de Aqüicultura e Pesca em ministério.
O recém-criado será o vigésimo quarto de uma Esplanada superlotada, que obriga ministros a fragmentarem seus departamentos em diversos prédios diferentes, por falta de espaço.

Segundo Lula, o Estado nunca deu condições para a pesca se desenvolver e se tornar competitiva e "é uma vergonha" o Brasil só pescar 1 milhão de toneladas por ano, enquanto o Peru produz 9 milhões de toneladas de pescados e o Chile 2 milhões de toneladas. Alguém esqueceu de contar para o presidente que as opções do Chile e do Peru são poucas e que nenhum dos dois países tem quilômetros de área para plantar e exportar, por exemplo, mais de 4 milhões de toneladas de soja por mês.

Mas, com soja ou não, parece que o sertão vai virar mar em Brasília: "Temos que mapear cada rio, lago e pedaço de mar, cadastrar os pescadores e os tipos de peixes", disse o presidente.

Pequeno caderno das diversas viagens de Luma - Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, praia de Copacabana, 29 de julho de 2008.

6h10 - A bruma banha o mar de uma ponta à outra do continente. Num branco azulado que vai encontrando-se ao forte laranja, através do anil, vermelho e amarelo. Era só o que eu via ao caminhar pela Rua Barão de Ipanema em direção ao mar. Agora, sentada num banco de concreto sobre os ladrilhos ondulados da praia de Copacabana, sou invadida pela moldura de um laranja bem forte da bola de fogo amarela que insiste em mostrar sua magnitude e beleza ao refletir-se nos prédios de Copacabana, ao caminhar lentamente, saindo de trás de três morros pequenos tão apagados sob seus braços dourados; ao desenhar um caminho no mar e ao refletir-se nos rostos dos muitos cariocas que, ainda que cedo, já se alongam, pedalam, caminham e correm, na pista ou na areia da praia.

E aqui estou, em frente ao horizonte, ao infinito, ao eterno, ao fugaz, ao inconstante, ao constante, às pegadas e aos novos possíveis caminhos.

Tentei ligar para a Marina, mas não consegui falar com ela. Então, executei o plano B: vim para o Hostel El Misti. Paguei 29 reais por uma diária. Ainda não sei se ficarei aqui ou na Má, mesmo. Mais tarde mandarei um e-mail ou scrap para ela.

Cheguei às 5h da manhã à Rodoviária do Rio. Os taxistas cobravam entre 25 e 40 reais até o Hostel em Copacabana. Vim de ônibus: R$2,10.

Logo logo voltarei ao hostel para tomar aquele café da manhã inesquecível e delicioso. Já estou com fome, para variar. Daqui, eu vejo tanto velhinho muito mais disposto que eu, fazendo exercícios, que até estou com vergonha da minha calça jeans da viagem e da minha pança julina.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Abafa, abafa.

No mesmo dia em que o STF divulgou uma polêmica agenda para o segundo semestre (que contém, entre outros casos, o reconhecimento civil do casamento homossexual e a constitucionalidade das cotas raciais) o Estado de S. Paulo noticiou o grande paradoxo do Supremo: os casos de grande repercussão envolvendo políticos e autoridades federais estão esquecidos.

A Operação Satiagraha abafou a investigação do suposto desvio de recursos do BNDES por Paulinho da Força, que abafou os R$9,3 milhões desviados do Programa Leve Leite do Rio Grande do Norte durante o governo do atual presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que abafou a investigação da participação do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) no vazamento de dados do dossiê montado no Planalto, que abafou o inquérito aberto para investigar as múltiplas acusações contra o ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL); e todas essas investigações movem-se a passos lentos.

Moral da história: é estourando os escândalos na hora certa que o governo do presidente Lula mantém a população desnorteada com o excesso de informação e continua brincando de A Velha a Fiar.

domingo, 27 de julho de 2008

Muito além do rock´n´roll


Quando uma banda japonesa coloca instrumentais simples – duas guitarras, um baixo e uma bateria – para gerar repetições hipnóticas e ritmos exóticos, o rock deixa de ser simples rock. A música do grupo Mono vai de pequenos e sensíveis toques nos instrumentos para uma atmosfera transcendental.

Por Pedro Zambarda de Araújo

Pouquíssimo conhecido no cenário musical pop, Mono surgiu em 2000 com uma proposta musical puramente instrumental em selos de produção independentes, como o Tzadisk Records e a Ryko Disc, ambos norte-americanos. Vindos de Tóquio, a baixista Tamaki Kunish, os guitarristas Taakakira Goto e Yoda, além do baterista Yasunori Takada fazem uma música tranqüilizante, enriquecida por efeitos bem colocados e até mesmo “pesada” em determinadas passagens, em trabalhos cuidadosos com a cadência, o compasso, de cada música.

Lançado em 2007, Gone: A Colection of EPs 2000-2007 traz os singles que o grupo lançou durante toda sua carreira e, dessa forma, mostra sucintamente como é a música de Mono. Essa diversidade de material permite que o ouvinte realmente entenda o que é o chamado post rock (ou pós-rock, na tradução): uma mescla do virtuosismo e das composições complexas do rock progressivo com a atualidade do rock alternativo.

Dessa forma, Finlandia abre o álbum com uma batida simples acompanhada de guitarras que soam “cristalinas” com efeitos de delay e palhetada alternada. A melodia dessa música sugere, de forma clara, uma iniciação para o material, evoluindo muito lentamente e tendo um ápice onde as distorções dos instrumentos imperam, gerando um clima pesado, mas completamente de acordo com a introdução musical. Parece que você está visitando o país da Finlândia, de uma maneira totalmente musical

Com ritmo mais quebrado e efeitos de sintetizadores adicionados, Black Woods causa claustrofobia com um som de “interferência eletromagnética”, que contrasta claramente com a música anterior. Yearning, a maior música do material (15min36s, uma epopéia sonora, literalmente) começa com alguém falando ao fundo (provavelmente o título da música), seguindo com uma guitarra limpa e afinada que vai, aos poucos, ganhando peso. Dessa maneira, a distorção novamente atinge o volume máximo. A música tem um compasso quebrado que é compensado por outra guitarra que sobrepõe esse “espaço”, dando um ritmo complementar a música. Em resumo, Yearning é uma composição progressiva rica em ritmo, que lembra Finlandia, mas com mais agressividade e efeitos.

Se as progressões e as construções caóticas foram marcas das outras músicas, Memorie Dal Futuro mostra que o restante do CD não será diferente, sendo todo inesperado e com músicas compridas. Ela não começa muito parada, mas toca notas suaves e doces, dando uma atmosfera das mais estéticas e agradáveis antes da forte distorção. As fortes pancadas alternadas dadas com a palheta, ao fim da melodia, fazem você duvidar que é a mesma música que estamos escutando. Um violino que toca ao fundo começa a ganhar o primeiro plano da composição, enquanto as notas das guitarras elétricas lembram músicas japonesas tradicionais. Memorie é uma obra de arte à parte dentre tantos materiais bons. É agradável, sensível e sincera durante seus quase 10min de duração.

Due Fogile, Una Candela Il Soffio Del Vento (do italiano: duas folhas, uma vela e o sopro do vento) traz uma sensação mais sombria e com uma melodia mais constante, embora a música soe esperançosa, apesar de seus efeitos sonoros conturbados. É uma faixa mais curta em relação ao que foi tocado até agora, com apenas 3min40s de tempo.

Eis que a mais curta de todas. Since I´ve been waiting for yo (2min50s) é um “calmante sonoro”: ela lembra uma canção de ninar, mas com uma melodia mais madura, mais desenvolvida. Sem dizer uma única palavra em letra, em linguagem letrada, a música parece fazer um pedido para a calma, para a paz interior.

Gone é a faixa-título deste copilado de singles e, seguindo as duas anteriores, possui uma constância maior em relação às músicas do começo do material. Sua composição lembra músicas japonesas bem folclóricas e seu ápice não é feito com distorção pesada, mas com uma palhetada alternada com som limpo. É uma composição sobre evolução, sobre desenvolvimento e, ao final, ausência. Gone não traz somente sensações simples, mas traduz o sentimento de processo, de acontecimentos.

Com uma baixa distorção de Gone, Black Rain vai transformar a música em uma melodia limpa e melancólica no começo para evoluir para uma distorção cantada (em italiano) e um peso instrumental que sugere confusão, drama, tragédia, mesmo com uma sonoridade bem afinada entre todos os músicos. Essa melodia passa uma sensação de dificuldade, de amargura, com uma beleza que apenas a mortalidade pode oferecer. É uma sensação próxima da morte.

O violino de Rainbow marca a boa-nova: é uma música de renovação com ares tipicamente japoneses. Não parece rock, nem de longe, mas sim uma música clássica que sobreviveu aos tempos. Essa faixa serve como complemento aos diversos sentimentos, sentidos e sensibilidades que esse material traz.

Os pequenos sinos de Little Boy (1945-Future) anunciam essa música que tem um significado vindo do próprio nome: é sobre o homem pós-moderno, que surgiu com o fim das guerras mundiais, com o estabelecimento da globalização e de um mundo totalmente distinto de todos os anteriores. Little Boy tem uma melodia melancólica, violinos de música clássica e a distorção pesada que, junto com todas as progressões e digressões, permearam a criatividade dessa banda que é Mono. No entanto, apenas de tantos elementos reunidos, o som soa inocente do começo ao fim. Little Boy sugere que, apesar da complexidade do mundo moderno, ainda somos garotos. Somos um começo.

Interpretar Mono não é fácil, pois não há letras e não há critérios instrumentais capazes de captar todas as subjetividades deles. Gone: A Colection of EPs 2000-2007 traz uma noção riquíssima do que é essa banda, que é totalmente desconhecida do público e que dificilmente vai aparecer em uma MTV. Mas, mesmo com esse panorama, se torna quase inevitável conhecer o restante do material, que é ainda mais denso e mais completo que o CD resenhado neste texto.

De forma reducionista, considero Mono muito parecido com Pink Floyd tanto em sua fase progressiva quanto na fase psicodélica, pois eles demonstram tanto músicas temáticas quanto técnicas. Outra fonte de inspiração deles, provavelmente, foram bandas alternativas da década de 1980 e 1990, como Talking Heads e o Radiohead, fortemente criticas e repletas de instrumentos pesados e distorcidos. No entanto, o que os torna singulares é a origem japonesa aliada a todos esses recursos. Dessa forma, ouso dizer que essa resenha não diz nem 10% do que essa banda representa. E nem vai conseguir dizer mais do que isso, infelizmente.


Sonhos

O que é um homem (ou uma mulher) sem sonhos? O que seria do ser humano sem ter algo para se viver e sobreviver em um lugar aonde cada vez mais fica provado que se sobressai o mais frio, o que menos se incomoda, o que, como disse Nietzsche, recuperam a consciência pura de um animal de rapina; monstros repletos de alegria podem voltar de uma terrível sucessão de assassínios, incêndios premeditados, estupros e tortura, com a mesma alegria no coração, com o mesmo contentamento na alma, como se tivessem participado de uma algazarra estudantil. Somos hoje uma sociedade de super-homens, pessoas que não se chocam mais com a putaria (desculpem o termo) que está o mundo. Lanço, então, a pergunta: Por termos consciência do atual estado das coisas e, em vez de nos mobilizarmos, nos conformamos, somos seres sórdidos, horríveis? Somos pessoas sem critérios por esquecermos disso após sabermos?

Comecei escrevendo sobre sonhos pois talvez seja o que nos motive a seguir em frente, não o que nos empurra, mas o que nos puxa, o que insiste em nos tornar fortes, o que nos fez super-homens.

Na última viagem que fiz para o interior de SP, fiquei abismado com a paz daquele lugar. Fiquei em uma casa em que o jardim ocupa mais da metade do terreno. Há lá uma fonte com carpas e árvores com passarinhos que descem como folhas secas para comer no chão, a menos de 2 metros da gente. Tudo que pensava - principalmente quando acordava - era que queria ficar longe de eleições, bilhete único com integração de 3 horas, Barack Obama vs. Hillary Clinton, George Bush, Lula, trânsito, preço da gasolina, aquecimento global, mortes e realidade. Queria continuar passando o dia com pássaros, carpas, amigos, bicicleta, violão, cadeira, café preto, risadas, migalhas sobre a toalha (que mais tarde estariam na terra), morcegos e paz.

Mas - sempre há um -, é impossível. Temos de acordar cedo, ônibus lotado - ó o bilhete único aí. Opa, só vale o comum, estudante e trabalhador não têm vez... -, aula, rotina! Será que realmente foram os sonhos que nos fizeram super-homens, que nos fizeram imunes a barbaridades? E se, em vez de sonhos, somos o que somos pela vida que levamos, pela realidade?

O mundo, a sociedade - reparem na dialética - é completamente individual: é preciso contemplar a si e reparar os próprios erros. Lembrando Fernando Pessoa, sou do tamanho do que vejo e não do tamanho de minha altura. Não digo para que trabalhemos em uma espécie de retrocesso pessoal para fazermos com que esse tipo de coisa não passe desapercebido, mas peço para que comecemos as mudanças com nós mesmos e, assim, passando para os (futuros) filhos e por aí vai.
Ninguém deve viver de sonhos, mas, às vezes, a realidade se torna insuportável.

As coisas mais preciosas só são salvas pelo sacrifício. (David Webster).

Um cheiro,
Gui.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Obama e a Imprensa


Capa da revista The New Yorker de 21 de julho de 2008.

Ryan Lizza, repórter da revista The New Yorker, foi vetada pela campanha do pré-candidato à presidênia dos EUA, Barack Obama, na viagem do candidato pela Europa e Oriente-Médio, por conta da ilustração publicada na capa da edição da revista de 21 de julho. A charge mostra Barack e Michelle Obama vestidos como terroristas no Salão Oval da Casa Branca e, segundo a revista, "satiriza as táticas do medo e desinformação usadas na eleição para desestabilizar a campanha de Barack Obama".

No entanto, segundo Bill Burton, um dos porta-vozes da campanha de Obama, "a revista The New Yorker pode achar, como uma pessoa da equipe deles nos explicou, que essa capa é uma crítica humorística da caricatura do senador Obama que a direita tenta criar. Mas a maioria dos leitores vai encarar esta capa com uma coisa de mau gosto e ofensiva. E nós concordamos".
Quanto ao veto à repórter, a campanha de Obama declarou que não havia mais lugar no avião.

A grande questão é como (e se) a comunidade de profissionais de comunicação reagirá a essa atitude e se isso afetará ou não a imagem de Obama. A partir do momento em que veículos cujas coberturas desagradam passam a ter acesso restrito, a sociedade passa a enfrentar um grande risco à livre informação e à liberdade de impressa. Vladmir Herzog incomodava, Líbero Badaró incomodava, Anna Politkovskaya incomodava. Os três foram vítimas de ações extremadas contra a imprensa, mas nem todo governo autoritário começa com golpe de Estado e nem todo governo precisa ser declaradamente ditatorial para censurá-la. Vladimir Putin que o diga.

Fonte: Histórias Globais (Patrícia Campos Mello)

Pequeno caderno das diversas viagens de Luma - Gonçalves, Minas Gerais

Taubaté, 19 de julho de 2008.

7h53 → Estou dentro do ônibus com destino à Paraisópolis, antes de chegar lá, eu desço e vou para Gonçalves.

Cheguei à rodoviária, peguei a fila para comprar a passagem. Quando cheguei ao guichê: “Já vendi as 12 passagens que eu podia vender aqui”. Pronto! “Mas fala com o motorista e vê com ele.” E lá fui eu. Esperei um pouco e: “Não tem mais lugar.” “Ixi! Mas o próximo ônibus é mais de uma hora!” Ele insistiu que não havia lugar, até que todos os passageiros entrassem. Então me falou que havia sim passagem, pros passageiros que pegassem o ônibus fora da rodoviária, eu podia entrar no ônibus e no primeiro ponto, compraria a passagem. E assim foi. E ainda sem taxa de embarque, a passagem que custaria R$ 14,70, custou R$ 10,80.

Frase pensada agora: “O fechamento é a decisão final sobre as janelas que serão abertas.

10h45 → Estou aqui na casa da mãe do Pedro. Tem um pessoal acordando e o Pedro. Tem um pessoal acordando e o Pedro está acendendo o fogão à lenha.

A cidade de cerca de quatro mil habitantes é linda! Muitas montanhas, cachoeiras, ótimas vistas! Daqui da casa, dá para ouvir o som da cachoeira que tem por perto.

Está um dia lindo! Nenhuma nuvem no céu e sol radiante, apesar do frio. Espero que a noite esteja sem nuvens também! O céu, as estrelas, devem ser ainda mais bonitos aqui em Gonçalves.


Gonçalves, 20 de julho de 2008.
10h → Acabei de acordar. Todos estão dormindo. Até o Guilé, que estava acordado. Não sei exatamente que horas são. Deixei meu celular desligado e bem guardado, já que não tem nenhum pontinho de sinal.


Viemos ontem para a casa da Mari, amiga da mãe do Pedro. A casa aqui é maior e está vazia. Também tem fogão à lenha, onde ontem assamos banana e fizemos choconhaque.



A vista é maravilhosa! Acordei e vim para a varanda me esquentar no sol. Há umas cinco montanhas intercaladas na minha frente ‘a perder de vista’. Está um silêncio! Só ouço alguns pássaros ao longe, a fonte que derrama água de um anjinho e os passos do Guilé na casa (ele acabou de levantar). Daqui também vejo um boi, um cavalo e uma vaca pastando. Umas galinhas d’angolas acabaram de passar por aqui. O sol está começando a esquentar. Estou com pijama de calça, casaco de moletom, sobretudo e um edredom bem grosso por cima de mim. Fora o sol, claro!

Ontem almoçamos no Pedro. Outro Pedro, que tem um restaurante na cidade. Comi uma truta, especialidade da região. Estava muito bom, mas não tanto quanto os peixes paratienses.
Agora vou levantar, tentar acender o fogão e colocar um Chico [Buarque] para tocar.

Gonçalves, 22 de julho de 2008.
8h20 → Estou no ônibus indo para Paraisópolis (R$3,90). Lá, 9h30 pego o ônibus para Pouso Alegre. De lá, Lavras, depois Belo Horizonte e Ouro Preto, ufa! Cinco ônibus! Bastante, hein?
Que fome!

9h46 → Estou no ônibus para Pouso Alegre (R$10,91). Na rodoviária de Pouso Alegre comi um monte! Um suco de goiaba, dois pães de queijo, um copo de chocolate quente e um salgadinho de batata. Tomara que o dinheiro dê para chegar a Ouro Preto.

Em Gonçalves foi muito bom. Andamos a cavalo, pescamos e comemos o que pescamos. Comemos a comida típica de Gonçalves, quirela de milho com costela de porco, feita no fogão à lenha. Lá, também passamos um pouco de frio, um frio gostoso!


Fotos: Pedro Faggin

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Batman - O Cavaleiro das Trevas

E depois de três anos de espera, o fim de semana de Batman: Cavaleiro das Trevas chegou. Mais que isso: chegou e já passou. Passou como um verdadeiro furacão para o gosto do público, diga-se de passagem. A produção simplesmente fez os recordes de pré-estréia e dia de estréia de Homem Aranha 3 irem para o espaço. No Brasil esse sucesso não foi diferente, pois o que se viu foram filas gigantescas e ingressos esgotados antes mesmo de sexta-feira, algo não muito comum por aqui. Os motivos para a transformação do filme em evento são vários: desde a minunciosa campanha de marketing, com e-mails e sites virais, até páginas e páginas nos principais veicúlos do país comentando sobre a produção. Não pode-se descartar também o efeito Heath Ledger e a curiosidade sobre a última atuação da carreira do ator (falecido em janeiro). O Cavaleiro das Trevas vale tudo isso?

É muito difícil escrever sobre esse filme sem estragar qualquer surpresa. Na verdade, é quase impossivel. O filme começa com uma Gotham City um pouco diferente daquela vista em Batman Begins. A cidade parece estar um pouco mais controlada com a presença de Batman e com a ascensão de pessoas honestas como o Tenente Gordon e o novo promotor público, Harvey Dent. No entanto a situação se parece com um "grande barril de pólvora prestes a explodir" e todos sabem disso. Não demora muito para a faísca necessária aparecer, já que enquanto os chefes da máfia discutem a melhor forma de continuar com seus negócios, a figura do Coringa emerge do nada, objetivando uma única coisa: caos.

Na minha resenha de Batman Begins acabei comentando que o filme parecia uma grande preparação para algo maior. E o que de fato acontece em Cavaleiro das Trevas: temos um Batman muito mais forte e experiente, que tem total noção de suas capacidades e segue suas regras próprias (nunca matar) com extrema precisão. Gotham City se aproxima mais ainda da realidade, pois não é muito diferente de qualquer outra grande metrópole americana. Tudo soa grandioso, das cenas de ação com lutar bem coreografadas e perseguições de tirar o folego até a crueldade mais pura. Cavaleiro das Trevas basicamente lapida o diamante bruto de Batman Begins para transformá-lo em uma jóia majestosa.

Toda a trama tem todo um eixo catalizador no Coringa. Um eixo que faz todas as peças desta complicada engrenagem girar. Por isso a melhor forma de analisar tudo isso é por tópicos separando personagem por personagem, característica por característica.

Coringa: O Coringa é de longe um dos vilões mais amados do mundo das HQs, e também um dos mais profundos. Por muito tempo ele ficou apenas conhecido como o palhaço do crime: uma figura caricatural que ria das próprias maldades. Mas, com o passar do tempo, o personagem dos quadrinhos acabou se desenvolvendo e criando arestas e abismos psicológicos comparáveis apenas a seu antagonista Batman. Foi em A Piada Mortal, graphic novel de Alan Moore, que o personagem se definiu para todo o sempre. Nunca antes o Coringa havia sido retratado de forma tão insana, incontrolável e cruel. Ele é alguém com um único objetivo: provar seu ponto de vista.

Heath Ledger construiu seu próprio Coringa. Em superfície ele não é parecido com nada que havia sido escrito ou interpretado antes. É tão diferente que a inevitável comparação com Jack Nicholson se torna inoportuna. Mas, quando paramos para analisar melhor o trabalho feito pelo ator australiano, o que vemos é uma grande e bem-sucedida mistura de várias faces do Coringa. Grande parte de sua construção vem sim da Piada Mortal, mas a grande questão foi o crítico Pablo Vilhaça quem levantou: em qual abismo pessoal Heath Ledger mergulhou para criar seu Coringa? Também foi Jack Nicholson quem disse que não se pode interpretar o Coringa sem sair ileso desse processo, mas a partir daí seria muita ousadia conjunturar sobre possíveis efeitos desse processo na morte trágica do ator.

É muito difícil crer naquilo que se vê na tela desde a primeira aparição do Coringa. Ao invés daquela divertida maldade vista em Nicholson, o que Ledger nos traz é um constante mal-estar com sua presença, uma apreensão que cresce à medida que seus atos ganham em grandeza e crueldade. Ele próprio se define várias vezes, mas poucas com alguma precisão ou com detalhes de sua origem. Como já foi dito, é um furacão que destrói tudo por onde passa, sem dizer de onde veio ou para onde vai. Se sua personalidade é apenas baseada em Piada Mortal, seus atos encontram interessante paralelo na obra. Enquanto na graphic novel o Coringa tenta provar sua tese enlouquecendo o Comissário Gordon, em Cavaleiro das Trevas seu alvo é toda Gotham City, com foco especial em Batman e, mais ainda, em Harvey Dent. Sua intenção vai muito além do que simplesmente matar (coisa que ele faz muito no filme), mas chega na destruição total do ser humano, pela aniquilação de seu espirito. Sem exageros ou muita empolgação: um dos maiores vilões da história recente do cinema.

Batman: Alguns comentários sobre o filme apontaram Christian Bale como levemente apagado neste segundo filme em comparação com Batman Begins. Esses comentário são injustos, afinal não é sua interpretação que está menos intensa, mas o próprio Batman. O roteiro de Christopher Nolan disseca todas as falhas e os dilemas que um super-herói com a fragilidade de qualquer ser humano, e assim vemos a energia de Batman caindo aos poucos enquanto ele questiona cada vez mais seus próprios atos e sua real importância para Gotham. Tal atitude pode incomodar alguns fãs, principalmente aqueles que amam Cavaleiro das Trevas, a HQ de Frank Miller. Nela Batman sabe de seus efeitos benéficos e maléficos sobre Gotham, mas nunca se questiona pois sabe que isso o enfraqueceria. O que acontece é que este ponto de vista está totalmente inscrito nas entrelinhas do filme. É justamente a partir do momento que Bruce Wayne abre mão definitivamente de uma vida comum e aceita o fato de que o Batman será necessário por muito mais tempo (seja como um herói ou não) que ele se torna inquebrável.

A questão sobre se uma cidade precisa ou não de um herói não é simples, mas o roteiro a retrata com perfeição. É justamente o chamado herói que percebe que não o poderá ser por muito tempo, não da forma que o é atualmente. Batman percebe que Gotham precisa de um herói com rosto, confiável, e vê em Harvey Dent, o cavaleiro branco, esta figura. Sua trinca formada com Dent e Jim Gordon é simplesmente genial, e a forma como Batman se vê como o elo mais fraco desse triangulo é de uma sensibilidade ímpar. Afinal, pobre do povo que precisa de um herói como ele.

Harvey Dent: O Cavaleiro das Trevas tem uma galeria invejável de grandes personagens, mas é com Havey Dent que a tríade principal se encerra. Sem querer menosprezar nomes como Gary Oldman, Michael Caine ou Morgan Freeman que estão impecáveis como Jim Gordon, Alfred e Lucius Fox, mas Aaron Eckhart tem uma das atuações mais marcantes de sua brilhante e menosprezada carreira. Harvey Dent não é um personagem fácil e se mal interpretado é prato cheio para um desastre (vide Tommy Lee Jones em Batman Eternamente). Mas Aaron usa e abusa do fantástico roteiro do filme e torna Harvey Dent a pedra fundamental da produção. Se o Coringa é uma força natural que visa destruir o espirito de todos, Harvey Dent é seu prato preferido. Como Batman diz várias vezes se referindo à trinca já citada, “Ele é o melhor de nós”. Dent é imcorruptivel, corajoso e sem medo. Mas tem uma fraqueza: seu amor por Rachel. E não demora para o Coringa perceber isso e começar a sugar toda a sanidade dele. Havey Dent é o Jim Gordon que o Coringa tentou destruir em Piada Mortal, mas o resultado é diferente. Nas duas horas e meia de produção, o que vemos é um brilhante trabalho em que Aaron Eckhart retrata de forma desesperadora a lenta queda de Dent ao mais profundo abismo emocional. Justamente por no começo do filme acreditarmos no jovem promotor público da mesma forma que Rachel, Bruce Wayne ou Jim Gordon acreditam, que sua destruição se torna mais dramática e desesperadora. Sua trajetória é sem dúvida a mais triste já retratada em um filme de super herói, semelhante àquela feita pelo inicialmente bom Anakin Skywalker.

Batman - O Cavaleiro das Trevas é o filme mais denso de super-herói já produzido. É fato que fica até difícil caracteriza-lo como tal. Nenhum dos aspectos necessários para isso estão lá e o filme parece muito mais uma grande tragédia policial. Ele não tem final feliz e, por muitas vezes, sentimos um gosto amargo na boca com os rumos que o roteiro toma. Mas tudo é conduzido de uma forma impecável e grandiosa. A história não tem um furo sequer e, em nenhum momento, o filme se torna cansativo (algo difícil para um “super-herói”). Dentre tantas qualidades e em um trabalho tão constante ainda pode-se tirar algumas cenas que se sobressaem.

Vou novamente citar a Piada Mortal (sim, sua presença é recorrente no filme) e uma das paginas mais bem escritas da história, quando o Coringa se compara a Batman. Christopher Nolan não reproduz a cena com tamanha simplicidade e genialidade quanto Alan Moore, mas todo o dialógo entre os personagens na delegacia de policia merece entrar para a história. Mesmo com uma nova visão do Coringa e do Batman, o diretor conseguiu tranforma-los em faces opostas da mesma moeda, e até sugere que suas gêneses são semelhantes. E no meio disso tudo ele insere Havey Dent de forma única, sendo a vítima da batalha insana em Batman e Coringa. Seu Duas-Caras pode até ser diferente daquele retratado na HQ, mas não é menos intenso. Motivado por vinganças, nunca vemos nele a imagem de um vilão, mas sim como uma alma atormentada. E talvez seja de fato como saímos da sala de projeção, atormentados e abalados por um filme que se mostra mais do que imaginávamos. O que fica agora é a sensação de que 2008 será um ano que todos correrão atrás de Christopher Nolan e do melhor filme de super-herói já feito.

Diga-me com quem andas...

Interessante a candidata a vice-prefeita da chapa de Paulo Maluf, Aline Corrêa (PP), responder a uma ação penal por supostos crimes contra a paz pública, contra a fé pública, falsificação de documentos e formação de quadrilha. Nunca um provérbio popular foi tão propício.

Explosão no Conjunto Nacional deixa dois feridos em estado grave e tumultua São Paulo

Localizado no nº 2073 da Avenida Paulista e próximo da estação Consolação de metrô, o Conjunto Nacional, complexo de lojas e apartamentos, foi cenário de acidente envolvendo funcionários que faziam manutenção dos aparelhos de ar-condicionado da Bio Ritmo Academia, localizada na parte do terraço do edifício voltada para a Alameda Santos. O episódio da explosão do aparelho ocorreu às 14h de ontem e foi estabilizado pelo corpo de bombeiros às 15h , após um bloqueio temporário na Alameda.

Os dois funcionários estão internados no Hospital das Clínicas. Rildo Elias Soares, de 39 anos, teve fratura nas pernas e queimaduras por todo corpo. Santos Galli Sobrinho, 52 anos, está com 60% do corpo queimado e permanece na Unidade de Terapia Intensiva hospital.

Hoje, às 13h, foi possível ver apenas uma faixa de interdição no local do acontecimento. O tráfego dentro do Conjunto Nacional está normalizado.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Na culatra de Soninha

A entrevista da vereadora e candidata à prefeitura de São Paulo Sônia Francine Gaspar à revista piauí deste mês fez mais mal do que bem. As atitudes e comentários registrados por Luiz Maklouf Carvalho mostram Soninha como uma pessoa dispersa, hiperativa e, em alguns momentos, imatura; resumindo, visivelmente despreparada para a empreitada da prefeitura paulistana. (Algumas das) Suas atitudes e comentários progressistas e liberais, no entanto, pintam a vereadora como um tipo de diamante bruto que, se lapidado com cuidado, pode estar preparado dentro de alguns anos.

Antics: esperança com guitarra semi-acústica e baixo melódico

Por Pedro Zambarda de Araújo

O legado mais direto aos vocais graves de Ian Curtis veio com certo atraso – a formação de seu guitarrista Bernard Summers no New Order fez música eletrônica na onda do Pet Shop Boys até 2007, consolidando não um rock com letras fortes ou depressivas. Interpol, grupo formado pela voz e guitarra base de Paul Banks, o baixo de Carlos Dengler, a bateria de Sam Fogarino além da guitarra semi-acústica de Daniel Kessler, trazem a essência do grupo de Curtis com um pouco de “luz”, ou seja, letras um pouco mais esperançosas.

Nova Iorque e os Estados Unidos, num sentido mais generalizado, justificam o surgimento do Interpol: as bandas de indie rock estão revisitando períodos distintos do rock em si. Enquanto a inspiração de The Killers veio do New Order, com vários teclados típicos de Las Vegas, os novaiorquinos trazem temas urbanos, da decadência às histórias mais simples.

Antics, em 2004, ao contrário do CD de estréia Turn On The Bright Lights, consolida Interpol com músicas mais felizes, apesar das origens obscuras e melancólicas no Joy Division. O contrabaixo de Carlos Dengler marca esse material à partir segunda faixa, “Evil”, que é recheado por uma letra irônica (com referencias à serial killer britânica Rosemary) e uma guitarra que procura acompanhar os graves da canção, sem roubar a atenção.

“Narc”, a faixa seguinte, dá menos destaque para a participação de Carlos, embora esteja presente e simultânea a de Daniel, na guitarra. O que se evidencia na terceira música é a voz de Paul Banks, que, apesar da semelhança com Ian Curtis, consegue manipular com mais facilidade uma sonoridade mais aguda, tornando seu desempenho extremamente apreciável, acessível.

Sobre amores distantes e sensações inesquecíveis, “Take You On A Cruise” cumpre seu papel como balada e novamente coloca Paul como um vocalista que atende às expectativas do ouvinte, sem fazer muitos apelos. Em oposição a essa música, “Slow Hands” tem uma introdução onde a guitarra semi-acústica de Daniel rouba a cena, com um timbre bem mais encorpado e menos artificial que as guitarras elétricas maciças. Com uma letra sobre abandono, a guitarra soma-se à voz e à bateria de Sam, que se apresenta em sincronia.

A energia de “Slow Hands” segue em “Not Even Jail”. Começando novamente com o contrabaixo em destaque, a guitarra soa mais tímida, de fundo. Uma letra que começa melancólica revela uma banda de músicas esperançosas. Paul Banks não é uma mera continuação de Joy Division ou de suas inspirações: é um vocalista com vitalidade própria, independente e seguro.

“Public Pevert” joga uma letra de materialismo sobre o amor, dialogando com seus paradoxos. Banks soa melódico na maior parte do tempo.
“C´mere” (do francês, "esta mãe") fala de um filho que não aceita outro amor da própria mãe, ao som de bicordes na guitarra que lembram “Evil”. No entanto, a principal diferença está na densidade da letra, muito mais simples.

Retomando a assuntos de “Public Pevert”, como o pensamento obsceno, “Lenght of Love” mostra alguém superando essa materialidade paradoxal.

Fazendo o caminho inverso, “A Time To Be So Small”, última música, fala da realidade que valoriza homens mecanizados, uma “multidão cavernosa”. A letra, sob uma guitarra melancólica, convoca a resistirmos a esse tipo de sociedade.

Diferente de todas as outras, “Next Exit”, a primeira faixa, abre com um órgão substituindo o contrabaixo e as linhas mais tradicionais de rock´n´roll. Uma pequena guitarra se manifesta enquanto banda canta sobre a cidade como uma alternativa, tanto como integração ou separação.
Com Antics, Interpol mostra que é uma banda acessível. Seus instrumentistas não elaboram sobre muitas notas musicais, nem mesmo sobre temas tão inacessíveis, mas buscam efeitos e combinações que dão uma melodia bem receptível. Ainda soa como a maioria da cena indie rock atual, que peca por pouca variação. Mas as referências ao Joy Division e uma busca por mensagem própria nesse CD são uma boa ação de Banks e seu grupo.

Curiosidade: O significado de Antics, do inglês, é "comportamento simulado". Talvez essa seja uma grande ironia no CD, que exalta problemas em casos comuns para esconder muitas frutrações das pessoas em busca de felicidade. Onde a esperança se insere nisso?

Querer saltar

Eu quero, tu queres, ele quer. A verdade é que todos nós queremos alguma coisa, muitas vezes apenas pelo prazer da conquista. Queremos contos e poesias em um mundo em que as crônicas se tornam cada vez mais realistas, mostrando um lado que os sonhadores não desejam ver.

Fernando Pessoa diz que ‘quem quer nunca há de poder, porque se perde em querer’. Para o escritor português, você passa a querer algo apenas depois de consegui-lo, pois o desejo anterior à realização pode arruinar o alcance. Suas palavras não poderiam ser mais verdadeiras, ilustrando perfeitamente os limites pessoais de cada um.

Não temos a mínima noção de nossas limitações. Perseguimos o caro, o bonito, o chamativo e muitas vezes o inalcançável. Queremos demais, nos contentamos de menos e vivemos infelizes, sempre em busca de um bônus que nunca chega. Paradoxos a parte, querer não é de todo mal. O desejo passa a ser benéfico a partir do momento em que surge aliado à perseverança e a real possibilidade de realização. Nada contra os sonhos, mas acreditar em uma vida de fábulas não passa de utopia.

Na realidade o querer vem cercado de barreiras, e estas podem ser de difícil ultrapassagem. Podemos utilizar alavancas, mas elas não estarão presentes em todos os momentos. O impulso que recebemos do solo será o mais importante, e é nele que devemos nos apoiar para conseguir o salto que tanto almejamos.

Sobre fantasmas

Falar sobre escrever em um lugar repleto de jornalistas nunca será uma tarefa simples, assim como não é simples escrever. Muitas vezes cronistas relataram o trauma que é para o escritor, seja ele literário ou crítico, o papel em branco - ou o branco em si -, a falta de idéias, o não-saber, enfim. É com profunda timidez e incrível atraso que inicio minha participação aqui, falando sobre o que iremos todos fazer daqui a um tempo: escrever.

Em seu livro A arte de escrever, Arthur Schopenhauer disse que nenhuma qualidade literária pode ser adquirida pelo simples fato de lermos escritores que possuem tal qualidade. Contudo, se já as possuímos in potentia, podemos evocá-las, trazê-las à nossa consciência, podemos ver o uso que é possível fazer delas, podemos ser fortalecidos na inclinação, na disposição para usá-las, podemos julgar o efeito de sua aplicação em exemplos e, assim, aprender a maneira correta de usá-las; e só então possuiremos tais qualidades in actu. Essa é a única maneira de a leitura ensinar a escrever... (L&PM, p.129). Ou seja, para escrever e fazê-lo bem, é necessário que tenhamos nascido com essa habilidade. E eu pergunto não só a vocês, mas a mim: Nascemos com essa capacidade? E uma outra pergunta que vai além do tema: Estamos no lugar certo?

Não tenho capacidade moral para julgar quem não sabe a resposta, mas todos temos capacidade para questionar quem nunca se fez essa(s) pergunta(s). Tenho fé de que todos aqui gostam de escrever, mas todos têm capacidade? Repito que faço a mim a mesma pergunta.

Admito que tenho uma imensa paixão por escrever e por isso resolvi entrar no curso, mas o que me impede de ter me enganado? Enquanto não sei a resposta, sigo em frente, vou tocando, deixando meu lado literário de lado (o que acho um imenso pecado).

Ofício complicadíssimo esse de informar com exatidão, de redimir-se quando enganado, de infiltrar-se, de dedurar, por assim dizer, de dizer de nós mesmos "verdadeiros". É com as mãos que se sobe ao céu escreveram Louis Pauwels e Jacques Bergier no livro O Despertar dos Mágicos. Teremos a função de repassar sem participar, o que é extremamente contraditório. Teremos em mãos algo que pode derrubar ou (re)erguer uma nação. Teremos em mãos o mundo - o que temos mesmo sem o jornalismo.

Apesar de extremamente pretensioso, tudo que pretendi no último parágrafo foi nos incentivar e conscientizar de que teremos uma responsabilidade sem igual e que devemos confiar em nós mesmos, apesar de todas as dúvidas e de todos os fantasmas que nos rondam.

Não abandonem o lado literário! Ele pode ser o nosso ganha-pão daqui a um tempo!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Hogwarts é aqui!

A Escola de Magia e Bruxaria/Feitiçaria de Hogwarts é o cenário principal das aventuras de Harry Potter, criado pela britânica J. K. Rowling. Hogwarts parece ser a única grande escola de magia existente no Reino Unido, treinando pessoas com habilidades mágicas para que se tornem bruxos e bruxas plenamente qualificados. Seu status não é discutido em detalhes nos livros de Harry Potter, mas sabe-se que se trata de uma secondary school do sistema de educação britânico que funciona em tempo integral, recebendo alunos com idade entre 11 e 17 anos.

Até aí tudo bem. Mas aqui no Brasil, mais expecificamente, em São Paulo, na Paulista, também temos uma escola de magias! Fica num beco (que não é diagonal) . Ao entrar neste “beco” você encontra um quase lago, onde lê-se "não alimente os peixes"; ao olhar o “lago” não há peixes! Deve ser um código de acesso ou apenas o extrito cumprimento da norma!

Entra-se pela direita e tem-se guardas da torre que lhe pedirão sua identificação (palavras mágicas ou sua carteira de identificação). Assim você terá permissão de entrar! Chega-se às Casas , que nesta escola de magias é dividida em andares: 3º. 4º. 5º. 6º. Temos também , como a famosa estação de trem andares aos meios 3 ½ ; 4 ½ onde coisas estranhas ocorrem. Existe aqui também o distanciamento entre as casas, cada um na sua. A mais pomposa e bem cuidada é a casa do andar 5º. É mais tradicional e com maior atenção, ela e uma espécie de Salazar Slytherin da correspondente inglesa; resta saber quem seriam as outras casa, a saber: Godric Griffyndor , Rowena Ravenclaw, Helga Hufflepuff. Deixo em aberto para possiveis comentários.

Seres míticos andam por aqui também; não é dificil localizá-los, basta andar pelos corredores, com cuidado para não achar nenhum fantasma. Os Professores são nossos mestres de feitiçaria e nossos alunos são aprendizes de feiticeiros. Os Alunos vivem preocupados com suas avaliações, os populares Ordinary Wizarding Levels Examinations - OWLs, (coruja) ou os Nastily Exhausting WizardingTest – NEWTs ( Salamandra); sempre preocupados, eles não tem tempo para outras atividades a não ser os constantes exames de bruxaria básica para assim, um dia, serem bruxos profissionais. Manipuladores de mentes e almas, controladores sociais, comunicadores eficazes.

Portanto : Draco Dormiens Nunquam Titilandus (Nunca cutuque um dragão adormecido)

Direto da terceira margem do rio

Bob Rabbit
especial de férias!

sábado, 19 de julho de 2008

Morre Dercy Gonçalves, aos 101 anos

Vítima de pneumonia grave e internada no Hospital São Lucas, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro, a centenária Dercy Gonçalves faleceu às 16h30 desse sábado. A doença evoluiu para insuficiência respiratória durante a operação no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), nesta madrugada.

Conhecida pelo humor despojado, além de 20 filmes e novelas em seu currículo, passando de emissoras como a TV Globo e SBT, Dercy marcou suas participações televisivas com, provavelmente, os primeiros palavrões explícitos para o público. Diversos artistas e celebridades manifestaram pêsames pela perda desse ícone televisivo, como a comediante Márcia Cabrita, a jornalista Glória Maria e o próprio presidente Lula.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Pequeno caderno das diversas viagens de Luma - Campos de Jordão

Por Luma Ramiro

Sempre que viajo, carrego um caderno onde rascunho algumas impressões e expressões. Transcrevê-los-ei na íntegra, ok? E, queridos editores, dêem-me toques se estiver pessoal demais ou qualquer outro conselho que for útil. Isso também serve para vocês, queridos leitores.

E agora, vamos Viajar!

CAMPOS DE JORDÃO

“Pindamonhangaba, 18 de julho de 2008.

9h25: Gastei quase uma linha inteira só para escrever o nome da cidade. Como vim parar aqui?

Ontem liguei para o utilíssimo 102 (‘Guia de assinantes da Telefônica. Este serviço é gratuito’), peguei o telefone da Estrada de Ferro de Pinda e novamente liguei perguntando sobre o trem que vai de lá para Campos de Jordão. Passaram-me o preço, os horários, só não me falaram que precisava reservar com uns 10 dias de antecedência.

Hoje acordei às 7h da madrugada, minha mãe me deixou na Rodoviária Velha de Taubaté antes de ir trabalhar, peguei o ônibus e vim para Pinda. Desci próximo à ferroviária, andei um pouquinho, me informei e descobri a enganação sobre a reserva.
Tinha duas opções: voltar para Taubaté e passar o dia vendo TV aberta ou ir de ônibus pra Campos. O que tinha a perder? Já gastei R$2,10 e estou aqui, mesmo. Sairá 11h e custou R$7,50 – e não os 40 reais, ida e volta, com guia e parada em pontos turísticos.

Então, enquanto o ônibus não chega, fico aqui escrevendo.
Que frio! Será que lá dentro tem onde sentar? Vou ver.

9h52: Tem lugar sim, mas vim para o outro lado de fora, tomar um solzinho frio de inverno.

Agora está muito quente aqui, acho que vou para dentro.
Vim para o lado do prédio da rodoviária. Incrível como na sombra está tão frio e no sol, tão quente.

Estou com alguns problemas com a minha viagem para a França. Faltam 134 dias para o meu vôo. Tomara que dê certo a minha viagem! Estou torcendo e desejando tanto!

Quanto será que vai custar o meu mochilão? - pretendo ficar 10 meses em Paris, estudando Francês e 3 meses "mochilando" - viajando - pela Europa. Pretendo usar o couchsurfing.com para ficar na casa de pessoas desconhecidas, disponíveis para intercâmbio cultural. Isso já me faz economizar uns 25 euros por dia.
Serão uns 500 euros de trem, mais uns 25 euros pra comer, por dia. Vou viajar por três meses, 90 dias, ou 100, vai! 2500 euros. Mais uns 1300 euros de lembranças, baladas, passeios, ônibus, validação do trem, se precisar de hotel...

Acho que só!
500 + 2500 + 1300 = 4300: vamos arredondar para 5000 euros. Uma grana! Vou ter que trabalhar bastante, ou gastar meu carro, o que eu não quero.

Vou para perto do embarque!

15h01: Finalmente cheguei a Campos, era 12h e pouco, quase 13h. Passei pelas várias lojinhas de casacos, de lembrançinhas e de chocolates. Almocei, andei no teleférico (R$10), tirei fotos e estou aqui no trenzinho (R$8) esperando o passeio.
O trem está saindo.

16h36: O passeio de trenzinho de Campos de Jordão foi bem gostoso. Passou por hotéis luxuosos, casas de famosos como a ex-casa do cantor Roberto Carlos e em uma cachoeira, onde havia mais chocolaterias e lojinhas de casacos e lembranças.

16h43: Cheguei à rodoviária daqui de Campos do Jordão e já comprei a passagem para Taubaté por R$7,50. Com mais um real eu iria para Minas, em São Bento do Sapucaí*. Quero tanto ir para Minas!

Antes de entrar no trenzinho, tomei um chocolate quente. É bem gostoso! Não é muito doce e é bem cremoso, o mais cremoso que já vi, parece chocolate derretido.
Depois que cheguei do passeio de trem, também passei numa chocolateria e comprei um crepe, com massa de pão de queijo, que delícia!

Por aqui, vi muita gente bonita e muitas casas bonitas também, todas no mesmo estilinho ‘chalé sete anões’ com os telhadinhos levemente arrebitados.

17h02: Entrei no ônibus. Sentei na frente para admirar a paisagem, espero que não seja o lugar de ninguém.

Fiz uma tremenda cagada ao pegar o ônibus para o teleférico. Dei uma nota de R$20. A moça não tinha troco e falou para eu esperar. O ônibus começou a encher e eu estava sentada bem para trás. Fui para frente e perguntei se havia troco. Ela perguntou se eu já ia descer, eu respondi que não e ela disse que me daria depois, não iria esquecer. Esqueceu. Que raiva! Perdi 18 reais!

Estou morrendo de sono, acho que vou dar uma dormidinha.

18h06: Que dormir que nada! Fiquei aproveitando a vista e tirando fotos. O sol estava se pondo entre as montanhas, enquanto descíamos a serra. Tinha-se uma vista maravilhosa lá de cima!

Passamos Tremembé, estamos chegando.

18h37: Estou na Rodoviária Velha. Minha mãe está demorando para me buscar. Está uma lua linda! Lua cheia, grande, dourada.

20h24: Vou para Gonçalves amanhã! A lua lá deve estar mais linda ainda!

E-mail da Estela:
‘Chegar em Cambuí e pegar o ônibus para Gonçalves.’
Não, acho que só tem de Taubaté para Paraisópolis.
´Pedir para o motorista para descer na Barra, o trevo que vai para Gonçalves’ e ela vai me buscar.”

Então, amanhã tem mais!

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Batman Begins

Neste exato momento, críticas e mais críticas sobre Batman: O cavaleiro das trevas devem pipocar na internet e na grande mídia. Todas têm algo em comum: apontam o filme como magnifico. Portanto, como um preview para o maior lançamento do ano, aqui vai uma pequena crítica de Batman Begins, o filme que reinventou o personagem no cinema.

Quando Batman Begins foi anunciado, a franquia estava totalmente desacreditada. Afinal de contas, Joel Schumacher conseguiu em dois filmes destruir totalmente a imagem do personagem e transformá-lo em um ícone carnavalesco e um tanto homossexual. Algo que é considerado no mínimo uma heresia digna "de fogueira" pelos fãs do morcego. Para isso, a Warner Brothers decidiu recomeçar tudo. A história seria contada em sua gênese. O tom do filme seria totalmente sombrio, nada que lembrasse a série camp protagonizada por Adam West ou o filme com George Clooney. Com isso em mente, o estúdio arriscou chamando o então pouco conhecido Christopher Nolan para dirigir e escrever. Em seguida foi a vez do talentoso Christian Bale ser contratado para o papel principal. O ator, até então, era conhecido apenas como o garoto de Império do Sol e pelo maniaco de Psicopata Americano.

O filme não se chama Batman Begins à toa. Durante a primeira hora de produção temos nossa atenção voltada não para o herói mascarado, mas em Bruce Wayne. Nolan, um diretor que já estudou as razões humanas em Isonia e, principalmente, em Amnésia, nos entrega o fascinante processo de gênese do herói. Afinal de contas, por que um bilionário decide se tornar um vigilante vestindo uma roupa de morcego? O que se passa na mente de alguém que decide arriscar sua própria vida para proteger uma cidade que muitos consideram perdida? E a viagem ao ser humano que se torna Bruce Wayne não é fácil ou cômoda. Tendo como estopim a violenta morte de seus pais, Wayne se enche de ódio e com o natural sentimento de vingança, que acaba por se tornar o motor para a sua transformação. A “jornada do herói” aqui é muito mais sombria do que aquela estudada por Joseph Campbell. O menino cresce e se torna um adolescente que tenta matar o assassino de seus pais, mas acaba fraquejando. Por fim, ele cresce e embarca numa jornada que irá treiná-lo física e mentalmente, aprendendo assim a usar a vingança e os abismos (que não são poucos) que existem dentro de si próprio como algo benéfico.

Embora seja altamente relevante, seria prolongar demais traçar todas as complexas relações entre Begins e a construção mitológica de Batman que foi sendo construída através de sua história. O que vale dizer que é que o "verdadeiro Cavaleiro das Trevas" está lá. Seu motivo para se vestir como morcego, seus dilemas por ser o que é e por ser quem é. Além do fantástico roteiro de Nolan, muito desse filme se deve a Christian Bale. O ator, diferente de Clooney, levou o personagem a sério tal como Michael Keaton o fez (na década de 1990). A diferença é que Bale é melhor que Keaton. E ele constrói um Bruce Wayne da mesma forma que o faz com qualquer personagem que interprete: mergulhando nele. Christian Bale passou pessoalmente por todos os treinamentos que são retratados no filme. Aprendeu a lutar, saltar, comer mal e tudo o que é mostrado. Outro ponto alto é Michael Caine. Entregando um Albert paternal, o personagem acaba funcionando como a consciência de Bruce Wayne. Ele é a rede que não permite que ele caia no abismo do qual se aproxima quando se veste de morcego. Seus diálogos rápidos, com algumas tiradas tipicamente inglesas também dão um tom um pouco mais leve ao filme. Gary Oldman está obviamente bem em seu Tenente Gordon, possivelmente o único tira honesto de Gotham City. Liam Neeson (Ras Al-Ghul) faz um vilão eficiente e contido, porém não genial. Já Cilian Murphy se destaca como o Espantalho. O elenco estrelado elenco ainda conta com Tom Wilkinson, Morgan Freeman e Katie Holmes (pior atuação do filme).

Além de todos os acerto já citados, um último merece ser lembrado. O grande defeito nas produções de Joel Schumacher era sua total falta de respeito e de conhecimento do personagem. Aqui, o diretor, junto com o co-roteirista David Goyer, mostra totalmente o oposto. Batman Begins parece uma grande preparação para algo muito maior. Sendo assim, a escolha de vilões “menores”, não muito conhecidos do público se torna vantajosa. Ao invés de queimar um grande vilão, Ras Al-Ghul e Espantalho parecem a escolha certa para um Batman iniciante, que ainda duvida do que ele próprio pode fazer. Enfim, essa é a grande sensação que temos ao final de Batman Begins. Um ótimo filme, mas que soa como um terreno arado pronto a receber algo grandioso. E isso é o que todos estão dizendo de Cavaleiro das Trevas, um ápice colossal. E se eu fosse apostar meu dinheiro, diria que todos estão certos.

Sopa de Letras

L. é baixo. L. é baixo e gordo. L. é simpático. Seu sorriso é quadrado, enquanto o sotaque é notável. “Lá na minha terrinha, essas coisas não acontecem” repete, compulsivamente. Eu como algum salgado de cantina em algum tempo livre, ouvindo os discursos do pequeno homenzinho.

R. é silenciosa. R. contém até o espanto ao ouvir as histórias de L. Tomando um cafezinho às 9 da manhã, R. está se preparando para ir ao seu emprego no Estadão. Teve reunião de pauta ontem e está atarefada, apesar dos cursos de línguas que faz em outros horários. Fala um exótico árabe, que ainda não nos mostrou. Somos jornalistas.

Não lembro ao certo se L. é do Pará. Sei que é formado lá, com o diálogo animado sobre os professores de seu tempo. L. tem idade para ser meu pai. L. começa a falar como a música é formada, muito além do ritmo, pela harmonia e pela melodia. A melancolia de L. é saber que a industria musical resolveu apostar apenas em ritmo, enquanto a beleza harmônica é cada vez mais abandonada. Na evolução de produtoras como a EMI, a Sony e a Warner, surgiu o monopólio e a padronização dos grupos e bandas. Por isso, L. lembra bastante lúcido de “modas” como o grupo É o Tchan.

L. é musicólogo. Musicólogo totalmente especialista em música popular. L. é um produtor. L. pretende, com o lançamento de seu álbum, se tornar um músico, talvez. R. olhava para todos e eu percebia que, à medida que falávamos mais, os jornalistas não sabem um pouco de tudo, mas alguns sabem muitas informações preciosas para as pessoas.

Uma das coisas que L. mais repudia é o atual ministro da cultura, Gilberto Gil. “Artista não entende de produção e nem de contexto artístico. Achei um atrevimento ele falar que a Preta, sua filha, é a única novidade no país, em visita a Europa”. Concordo com L., enquanto R. parece concordar com nós dois, mais falantes do que ela. No entanto, eu não tive coragem de interromper L., mas isso mostra que ele mesmo é paradoxal: será que um musicólogo pode ser um músico?

A banda de L. não tem mais bateristas. Tocam músicas regionais do norte brasileiro, com influências amazônicas. L. toca com diferentes percussionistas, violonistas e diversos outros instrumentistas. L. apóia músicos que inovem. “Uma amiga minha toca clássicos da Elis e não sabe porque os discos dela não vendem. É uma das melhores na noite paulistana, mas poderia ter mostrado isso em seu CD, não covers”.

L. diz que a cultura norte-americana está em decadência. L. L. já foi jornalista na televisão canadense, depois de trabalhar na revista Bravo e jornais regionais. “O jornal regionalista revela talentos, junto com a televisão desses lugares. Aqui em São Paulo, a elite impede o reconhecimento”.

Seu repertório é rico. L. conhece todo o Brasil, exceto o nordeste. “Vi norte, sul e centro-oeste. Passei um tempo no Pantanal. É lindo”. L. pretende conhecer o nordeste pelo sertão, andando de pau-de-arara.

L. não sabe inglês. L. é meu professor de francês.

R. não falou muita coisa, realmente. Mas, como jornalista de O Estado de S.Paulo, cumpre seu papel com êxito: ouvir as pessoas. Ouve atentamente, atiçando raramente o orador, para deixá-lo à vontade. R. é testemunha, uma testemunha tímida, simples, recém-formada pela ECA-USP.

E eu? Bom, o autor do texto é um amador mesmo.

O encontro dos três ocorreu nesta última terça-feira (15/07), às 9 horas da manhã.

Sopa de Letrinhas são crônicas publicadas às quintas-feiras.

Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.

Anna-Varney Cantodea - Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows

Anna-Varney Cantodea é vocalista e compositor da banda alemã Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows, que se iniciou em 1987, numa casa noturna de Frankfurt, Negativ, quando Varney chamou a atenção de duas pessoas quanto sua crítica sobre a banda que se apresentava. Um dos interessados, Holger, esteve envolvido no projeto por dois anos.
A banda iniciou-se com uma demo-tape chamada "Es Reiten Die Toten So Schnell", que seria a primeira de uma triologia nunca finalizada. A partir daí, mais de dez álbuns foram lançados, além de um projeto em conjunto com Constance Fröhling, chamado "Nenia C'alladhan" (2002).
O verdadeiro nome de Anna-Varney, que prefere ser tratado no feminino, apesar de já ter revelado ter nascido do sexo masculino na revista 'Witchcraft', é um segredo. O nome artístico consiste em Anna, apenas como nome, Varney, nome do vampiro protagonista do folhetim
Varney the Vampire, or the Feast of Blood (James Malcom Rymer, 1847) e Cantodea, que é um vernáculo feminino em latim para som, cantora ou canção. Esse seu anonimato abrange à recusa de se apresentar no palco durante shows e à escassez de informações sobre a artista, o que faz os dados beirarem da verdade ao boato, como histórias sobre sua infância e a agressão dos pais que sofria.
Anna-Varney é tida como o único membro da banda Sopor Aeternus, por conta do desconhecimento da composição de "The Ensemble of Shadows". Cantodea diz que eles são espíritos que a ajudam a compôr as músicas, tais quais as Musas, da mitologia grega, que inspiravam os músicos e poetas.
The Ensemble of Shadows surgira quando Varney estava à beira do sucídio, aos 20 anos. A depressão, que adquirira aos seis anos, estava em seu ápice, fazendo Cantodea não sair mais ao sol e assim, adoecer. Para fugir da dor, a artista dormia e, em seus sonhos, ouvia as melodias de 'Ensemble of Shadows', que eram músicas suas para si mesma. Varney afirma que trabalhar com Sopor Aeternus é uma forma de lidar com seus conflitos, procurando elevar-se espiritualmente.
A dúvida sobre a sexualidade de Anna-Varney é comum quando se vê fotos da cantora, que comumente aparece nua. Cantodea não fez nenhuma cirurgia de mudança de sexo, diz que prefere ter as genitais trabalhadas no computador, daí tendo a versatilidade de as fazer feminina ou apenas desfazê-las. Varney diz que isto está associado a conflitos espirituais. A compositora aborda principalmente esse assunto em suas canções, sendo mais notável nos álbuns "The Inexperienced Spiral Traveller” e "Voyager - Jugglers of Jusa".

"I wish I cut my genitals and threw them to the dogs"
Eu queria cortar minhas genitais e jogá-las aos cachorros.

Não obstante, a vocalista tem a capacidade de entonar sua voz como feminina ou masculina.


Anna-Varney influencia suas músicas no planeta Saturno, nomeando essa tendência astral como "Saturnian Path". É possível remeter à mitologia grega, em que Saturno equivale a Chronos, que por sua vez, tem a etimologia de seu nome obscura, surgindo assim a ligação com "cornos", que rege o demônio indiano Kroni ou a divindade levantina El. O próprio símbolo da banda é o símbolo astronômico de Saturno () sobreposto pelo símbolo de Júpiter (), fazendo-se assim a analogia mitológica entre os planetas, em relação à paternidade de Saturno quanto Júpiter.



A música de Anne-Varney Cantodea tem toques de medievalismo, é emocional, melancólica e é composta por instrumentos como violinos, sinos, flautas, órgão, guitarra, além de arranjos de teclado. Apesar da temática sobre a sexualidade ser mais evidente, além do obscurantismo, as músicas também tratam sobre suicídio, amor não correspondido, dor, morte, solidão, tristeza, astrologia, sonhos e figuras mitológicas. Um bom exemplo inaugural seria a música The Conqueror Worm, que tem como letra o poema de Edgar Allan Poe, em que são tratados temas como a mortalidade do homem e sua inevitabilidade.



Anna-Varney participou, em 1995, da compilação "Jekura - Deep the Eternal Forest" com quatro músicas: duas canções de "White Onyx Elephant", seu projeto instrumental paralelo ao Sopor, e dois covers do Black Sabbath, "
Paranoid" e " A National Acrobat", publicados com acentuação estranha e os nomes invertidos. Atualmente Sopor Aeternus & The Ensemble of Shadows possui 16 álbuns.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Em busca do Ouro inédito

O técnico Dunga definiu os atletas que representarão o futebol tupiniquim nos Jogos Olímpicos de Pequim, na China. O capitão de 1994, medalhista de prata em 1984, em Los Angeles, que atuava de volante no meio campo verde-amarelo, chamou três jogadores acima de 23 anos (regra permitida pela FIFA) além dos demais. Abaixo os dezoito atletas convocados para as Olímpiadas:

Goleiros:

Diego Alves (Almería - Espanha) - "guarda-metas" revelado pelo Atlético Mineiro. Apareceu com destaque no ano de 2006, quando assumiu a camisa 1 do Galo na pior fase da história do clube, e foi um dos protagonistas da volta do time para a Série A (Atlético campeão da série B). Em 2007, como um dos líderes do jovem time, conquistou o Campeonato Mineiro, em cima do rival Cruzeiro. Após um início espetacular de campeonato brasileiro, Diego foi negociado com o pequeno Almería, tornando-se o primeiro goleiro brasileiro a atuar na Liga. No campeonato espanhol disputou 22 jogos, sofrendo 25 gols. Diego bateu o recorde de tempo sem sofrer gol, permanecendo 678 minutos sem buscar a bola no fundo das redes. Destaque do pequeno time da cidade portuária, chamou a atenção de Dunga, sendo convocado para os jogos. Será, provavelmente, o títular do gol brasileiro.

Renan (Internacional) - Presença constante nas seleções de base, Renan é o atual títular do Colorado. Vitorioso, estava nas principais campanhas dos vermelhos do Rio Grande do Sul, como as conquistas da Libertadores de 2006 e o Mundial de Clubes da FIFA do mesmo ano. Porém nessas conquistas, Renan era reserva do veterano Clêmer. A titularidade veio a tona em 2007, sendo concretizada em 2008, e o jovem, - vitorioso por si só - levantou o caneco do Campeonato Gaúcho deste ano. Experiente e acostumado a essas competições, Renan é uma boa sombra para Diego, e caso ocorra algo com o goleiro do Almería, o gaúcho tem totais condições de assumir a camisa 1 (isso se Dunga não optar por ele).

Laterais:

Rafinha (Schalke 04 - Alemanha) - Outra figura conhecida das seleções de base brasileira, Rafinha é um dos principais destaques da equipe de maior torcida da terra da cerveja. Revelado pelo Coritiba, apareceu muito cedo para o futebol e, conseqüentemente, foi negociado muito precocemente para o velho continente. Atuando bem pelo Schalke, o lateral-direito chama a atenção das principais equipes européias, e uma boa atuação nos Jogos poderia encerrar sua participação no Campeonato Alemão (a não ser que o comprador seja o Bayern). Rafinha é um dos melhores da posição na Europa.

Marcelo (Real Madrid - Espanha) - Mundial sub-20, ano de 2005. Rafinha na lateral-direita e... Marcelo na esquerda. Repetindo a dose, o ala revelado pelo Fluminense prima pela ofensividade e pelo bom chute de fora da área. Meteoricamente ele assumiu a camisa 6 do tricolor das laranjeiras, que o negociou com o Real Madrid por 6 milhões de Euros. Marcelo substituiu Roberto Carlos na lateral merengue, atuando nessa temporada em 32 partidas. Indiscutivelmente, ele é o melhor da posição para os jogos.

Ilsinho (Shakhtar Donetsk - Ucrânia) - Revelado pelo Palmeiras, o lateral direito se envolveu em uma polêmica transferência para o rival de muro, o São Paulo. Concretizada a mudança, Ilsinho destacou-se na conquista do tetra campeonato do tricolor do Morumbi. Atualmente, defendendo a equipe ucraniana, o jogador participou da UEFA Champions League, além de conquistar a Liga e a Copa da Ucrânia, sendo um dos principais jogadores na conquista. Infelizmente, o futebol ucraniano acaba limitando nossas observações dos jogadores. Mas, pelo que demonstrou no Brasil, o lateral tem muito talento.

Zagueiros:

Alex Silva (São Paulo) - Irmão do zagueiro Luisão, do Benfica, Alex Silva apareceu no cenário com a camisa tricolor, no ano de 2007. Muricy Ramalho bancou o jogador no ano passado, quando definitivamente assumiu a titularidade na zaga são paulina. Destacando-se a cada partida, o zagueiro acabou convocado constantemente por Dunga, e estava no grupo vencedor da Copa América de 2007. Alex tem grandes chances de deixar o São Paulo após os Jogos, equipes como o Milan estão (supostamente) interessadas no seu futebol.

Breno (Bayern de Munique - Alemanha) - Janeiro de 2007, Breno era zagueiro titular da equipe júnior do tricolor paulista, vice-campeã da Copa São Paulo. Passou um ano, e o garoto de apenas 18 anos, conquistou o título mais importante do país (Campeão Brasileiro pelo São Paulo, em 2007) e realizou o sonho de se transferir para a Europa. O mega-campeão Bayern pagou 18 milhões de dólares pelo defensor. Infelizmente, o garoto não teve muitas oportunidades de atuar, mas o futuro do garoto é brilhante. Qualidade técnica e muita força física fazem Breno ser um zagueiro acima da média, mais ainda em uma categoria sub-23.

Thiago Silva (Fluminense) - O primeiro super-23 convocado por Dunga. O zagueirão do Flu é um dos melhores do país, e uma das principais estrelas do Fluminense, vice-campeão da Libertadores da América. Revelado pelo RS Futebol Clube - clube gerenciado pelo ex-jogador Paulo César Carpegiani - Thiago já atuou na Europa, e devido as restrições de convocações (Juan, Lúcio, e outros exemplos) é o melhor nome para a defesa brasileira, candidato a destaque nos Jogos.

Volantes:

Hernanes (São Paulo) -
Técnico, habilidoso e bom chutador. Hernanes é um jogador completo, um dos melhores volantes do país . Destaque do tricolor desde 2007, o atleta caiu um pouco de rendimento nesta temporada. Assumiu a titularidade após a saída de Mineiro e Josué, e rapidamente conquistou a torcida. O camisa 15 é especulado a cada dia na Europa, principalmente depois de sua primeira convocação para a seleção, no amistoso contra a Irlanda, no dia 22 de Janeiro. Eleito o melhor volante do Campeonato Brasileiro do ano passado, ele infelizmente, ficará pouco tempo no nosso futebol. Ótimo nome para a seleção olímpica, e também um excelente nome para a principal.

Lucas (Liverpool - Inglaterra) - Seu futebol é semelhante ao do são paulino, e referência de um volante moderno. Lucas, sobrinho de Leivinha, ídolo palmeirense na década de 70, ataca e defende com a mesma eficiência. Motivos que chamaram a atenção de Rafa Benitez, e do Liverpool, que comprou seu passe, vinculado ao Grêmio, pela bagatela de 9 milhões de Euros. No tricolor gaúcho, conquistou a Série B de 2005, e os campeonatos gaúchos de 2006 e 2007. Pela seleção Lucas Leiva também é vencedor, levantando a taça do Campeonato Sul-Americano Sub-20 (competição que classificou o Brasil para os jogos). Na Inglaterra, o volante não é presença constante como titular, porém devido ao revezamento imposto pelo técnico espanhol, atuou em um bom número de jogos na temporada. Capitão no "pré-olímpico", Lucas é um dos líderes do grupo.

Anderson (Manchester United - Inglaterra) - Companheiro de Lucas na Batalha dos Aflitos, e herói da mesma, Anderson é uma das jóias raras do futebol brasileiro. Criado como um meia ofensivo, exercendo até mesmo a função de atacante, foi mudado pelo técnico de sua atual equipe, o escocês Alex Ferguson, para jogar mais recuado: e deu certo! Antes de atuar pelos ingleses, o jogador havia sido referência no Porto, de Portugal. O Manchester pagou 31 milhões de euros pelo futebol do meia, tornando-o volante na última temporada. Anderson conquistou o Campeonato Inglês e a UEFA Champions League, marcando um gol na decisão por pênaltis.

Meias:

Diego (Werder Bremem - Alemanha) - Melhor jogador do Campeonato Alemão (2006 e 2007), bicampeão brasileiro pelo Santos (2002 e 2004), duas Copas Américas pelo Brasil (2004 e 2008) o currículo de Diego é glorioso. O jogador, presença constante nas convocações de Dunga, amadureceu muito o seu futebol, e espera recuperar-se do fracasso de 2004, quando a seleção sequer classificou para as Olimpíadas. Diego era a estrela da compania (juntamente com Robinho) e caiu, numa decepcionante derrota frente ao Paraguai, que colocou em cheque sua capacidade. A volta por cima veio no futebol europeu. Agora, em Pequim, ele terá a oportunidade de trazer o ouro inédito para o país, e suas atuações serão fundamentais.

Thiago Neves (Fluminense) - Revelado pelo Paraná, o meia chegou quietinho no Fluminense. Reserva de Carlos Alberto, assumiu a camisa 10 após a saida do polêmico jogador. Conquistou rapidamente os torcedores, e com belíssimas atuações foi eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro (Bola de Ouro), pela revista Placar. Sua capacidade seria testada em 2008. Thiago consagrou-se e entrou para a história do maior torneio de futebol das Américas. Ao marcar três gols na finalíssima, frente a LDU, o camisa 10 das Laranjeiras cravou seu nome na história da competição, pois o fato ocorreu pela primeira vez. Consequentemente, os olhares dos europeus estão voltados para o jogador, que pode concretizar sua transferência após os jogos.

Ronaldinho (Barcelona - Espanha) - O consagrado jogador vive uma fase negra. Fora de forma, desacreditado e, praticamente, dispensado do Barça, ele tem nas Olímpiadas a chance de renascer para o futebol. Ronaldinho é gênio, sua capacidade é indiscutível e, passando pela fase que passa, Pequim pode ser a melhor coisa a acontecer na carreira do astro. Melhor do mundo em 2004 e 2005, o Gaúcho pode realizar o sonho do ouro com oito anos de atraso. Nos jogos de Sydney, estrelava uma geração excelente, juntamente com Alex. Infelizemente a derrota frente a equipe de Camarões, quando estavam com dois homens à mais, marcou aquele time. Agora na China, Ronaldinho terá a oportunidade de reviver sua genialidade. Se isso acontecer, o ouro é nosso!




Atacantes:


Robinho (Real Madrid - Espanha) - O "rei das pedaladas" chega com banca de astro. Acompanhando Ronaldinho e Thiago Silva na idade acima da permitida, o ex-jogador do Santos tem toda a confiãnça do técnico Dunga. Robinho, igualmente ao parceiro Diego, é bi-campeão brasileiro pelo Santos. Na Europa, o atleta não conseguiu se firmar no Real Madrid, e tem seu nome especulado em transferêcias, inclusive sendo oferecido ao Manchester United. O atacante é um dos homens de confiança de Dunga, e uma referência nesta equipe. É uma das estrelas da competição.

Rafael Sobis (Bétis - Espanha) - Segundo melhor jogador do Brasileirão de 2005 (perdendo para Carlitos Tevez), Rafael foi a estrela do título da Libertadores, conquistado pelo Internacional no ano seguinte. Com a valorização, o atleta foi jogar na Espanha, porém não conseguiu se firmar na fraca equipe de Sevilla. Rafael é opção de ataque para Dunga. E, se repetir o futebol do Inter, torna-se grande opção para o treinador, que fez história no mesmo clube que Sobis despontou para o futebol.

Jô (Manchester City - Inglaterra) - Jogador mais novo da história a participar de uma partida profissional pelo Corinthians, Jô foi negociado por 38 milhões de dólares de sua antiga equipe, o frio CSKA, para a "nova moda" do futebol inglês, o primo pobre de Manchester. Jô estreiou pela seleção principal em um amistoso contra a Turquia e teve passagens pelas seleções de base, quando fez dupla de ataque com Alexandre Pato. O ex-corintiano é opção de Dunga para o ataque, e sua importância deve-se a sua característica diferente dos outros atacantes: ele atua fixo na área, como referência, fundamental para mudar o andamento de uma partida.

Alexandre Pato (Milan - Itália) - Canditatíssimo a craque dos jogos, o menino da cidade de Pato Branco é craque desde cedo. Em sua estréia pelo profissional, encarou um Palestra Itália cheio, e um Palmeiras precisando da vitória. O menino, com um minuto, fez o primeiro gol pelo profissional e demonstrou que tem futebol de gente grande. Hoje, Pato transporta a febre "patomaravilha" para a cidade da moda. Sílvio Berlusconi e Carlo Ancellotti dizem que o jovem é o futuro do Milan. Para muitos, Alexandre Pato já é realidade, já é craque. Pequim está aí. Se Pato brilhar, tornará sua capacidade de craque inquestionável, e o Ouro Olímpico estará muito próximo da realidade.

Obs: Na noite dessa segunda-feira (15 de Julho), o Werder Bremem vetou a participação de Diego nas Olímpiadas. A CBF promete recorrer, e tentar a liberação do ex-santista para os Jogos.

sábado, 12 de julho de 2008

Filme “de mulherzinha” e discussão sobre relacionamentos

Sex and the City traz as estrelas do seriado norte-americano, com todos os elementos que as consagram. Mas não é apenas isso, não é apenas um filme para agradar fãs. Com muito bom humor, Carrie, Charlotte, Miranda e Samantha não são apenas estereótipos de mulheres, mas personagens que mostram como relacionamentos são distintos, conflituosos e fora da racionalidade.

Por Pedro Zambarda de Araújo

Sei que é estranho redigir uma resenha quando o filme saiu de cartaz nesta sexta-feira, dia 11 de julho. Dentro do jornalismo, dizemos que a pauta desse filme está “fria”, pois muito do que se podia falar foi dito e repetido, desde os críticos mais amadores até os textos extremamente profissionais e desenvolvidos.

No entanto, resolvi aceitar falar sobre essa película principalmente para contrariar a maioria. Os motivos que me levaram a “cometer” essa crítica são inúmeros: há muitas generalizações sobre filmes que falam sobre mulheres, há poucos homens que realmente se dispõem a dar um viés mais abrangente de seu ponto de vista sobre o assunto e, por fim, o seriado é engraçado, sutil e familiar para mulheres e pessoas que passam por transtornos no amor, nos negócios, na vida, transmitindo o cotidiano novaiorquina de forma alegórica para a tela dos cinemas.

Em resumo, o filme trata sobre a história das quatro mulheres diretamente ligadas às oportunidades que a megalópole Nova Iorque oferece nos sentimentos, nas profissões e em seus detalhes. Com suas vidas entrelaçadas desde o começo do seriado, elas, solteiras nos primeiros encontros, são apresentadas por vidas distintas e comportamentos igualmente diversos, mas todos totalmente compreensíveis para as características femininas em nossa sociedade.

Carrie Bradshaw, interpretada pela enigmática Sarah Jessica Parker, cumpre seu papel como escritora de sucesso de três volumes do livro best-seller Sex and the City (cuja ficção, na verdade, mostra a narradora que ela é dos eventos de suas outras três amigas), além de suas densas reflexões sobre as circunstâncias urbanas. No entanto, a trama se desdobra em uma forte decepção amorosa que ela sofre repetidamente, tornando-se o centro das histórias que ela normalmente observa com certa “distância”: em comparação às suas outras amigas, Carrie costuma ter mais equilíbrio e menos características peculiares.

Tendo surtos de felicidade pelo bom relacionamento com a filha adotiva (que é chinesa), o amor do segundo marido judeu e a proximidade com as amigas, a elétrica Charllotte York é responsável por uma das seqüências mais hilárias do filme, sofrendo pela falta de um banheiro público em viagem ao México. Kristin Davis é uma atriz que marca por suas feições singulares, sua espontaneidade que condiz com a personagem que interpreta.

Diferente do começo da série, quando procurava se esquivar de relacionamentos emocionais, procurando apenas sexo e satisfação, a nova cinqüentona Samantha Jones começa o filme com um namoro sério com Jerry “Smith” Jerod, ator hollywoodeano que oferece uma vida de luxo e glamour fora de Nova Iorque. Mesmo com relações sexuais diárias, Samantha é obrigada a dividir o marido com o trabalho e com suas amigas novaiorquinas, das quais não consegue se desligar. O tesão incontrolável por um vizinho chamando Dante (“e quando Samantha conheceu Dante, sua vida, literalmente, virou um inferno”) é o estopim do fim de seu relacionamento e uma volta às origens, diferente das outras garotas, que mudaram ao longo do seriado e do próprio filme.

Miranda Hobbes é a outra ponta do filme. Enquanto Carrie toma as decisões de maneira equilibrada, Miranda é diretamente afetada por seu emocional, que quer ser racional e eficiente, mas acaba a afastando de Steve Hobbes, seu marido e pai de seu filho, Brady. Cynthia Nixon, apesar dos olhos calmos, atua realmente como uma mulher perturbada, como alguém que não sabe lidar com as próprias frustrações, tendo nessa deficiência sua maior peculiaridade.

Culpando o casamento por todas as suas frustrações como pessoa, Miranda contribui para o fracasso da união entre Carrie e Mr.Big, o namorado que mais se manteve junto com a personagem de Sarah Jéssica Parker durante o seriado. Esse episódio é o centro dos acontecimentos do filme, com as personagens em tramas menores diretamente relacionadas ao acontecimento. Sem estragar a surpresa do final para os leitores, o desenvolvimento da trama não vai mostrar somente os comportamentos femininos, mas a provável ausência e a falta de iniciativa presente em muitos homens.

Não se trata de um julgamento reducionista e generalista, – algo como “homem são todos iguais, pois não prestam” – mas sim de uma inércia que temos diante de muitos segredos femininos. Big tem medo de casamento, por isso machuca Carrie. Steve não consegue combater a amargura e a falta de expressão de sua esposa Miranda. Jerry não percebe a vontade insaciável de Samanta, que acaba não traindo, mas admirando outro homem num ato puro de voyeur – tesão ao ver sexo.

Por esses motivos e pelos próprios acontecimentos do seriado, o filme Sex and the City não é “para mulherzinha”. Acredito que é um bom longa-metragem para homens adquirirem auto-crítica, mesmo diante de um ponto de vista tão diferente como é o da mulher. Sex and the City pode não agradar que não gosta de moda, – a personagem de Sarah Jéssica Parker é viciada em sapatos e roupas de marca – mas também pode cativar o expectador que pretende ver conflitos de relacionamento e, de certa forma, se identificar neles.

O filme pode não ser uma obra-prima em criatividade, mas parece atingir o que pretendia desde os primeiros capítulos do seriado. Além dessas considerações, não posso deixar de ressaltar que o bom humor das quatro mulheres juntas fala por si só. Um bom entretenimento para quem quer uma diversão leve e bem colocada, além de ser uma história também voltada para os curiosos à respeito da guerra milenar dos sexos.
Resta esperar a estréia do DVD para conferir a trama, novamente.

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