terça-feira, 31 de março de 2009

Além do diploma

Amanhã, o STF discute a exigência da formação superior específica e o registro na Delegacia Regional do Trabalho para o exercício da profissão de jornalista.

De um lado, encontramos aqueles que defendem fielmente a exigência do diploma. Seja pelo fato de ter freqüentado durante 4 anos um curso superior, seja pela crença de que é necessário o mínimo de embasamento teórico, técnico e ético para o exercício da profissão.

Do outro, quem acredita que um bom jornalista não depende de um canudo na mão, mas sim de uma aptidão natural, quase um dom. Usam até dos bons exemplos que temos de jornalistas sem formação acadêmica que são tão bons ou até melhores do que aqueles que a tem.

Em meio a tanta discussão e questionamentos, o protagonista de tudo deixa de ser apenas o diploma, mas sim a desintegração e desvalorização da profissão. Medidas como esta, que talvez nem devessem existir, apenas expõe um grande problema e uma necessidade antiga: a discussão do exercício e do papel do jornalista no Brasil.

Brincando de Jade e brincando de Maya

Há aproximadamente oito anos, a novela O Clone deu início a uma imensa onda de cultura árabe. As mulheres se encantavam com a maneira que o núcleo árabe dançava. Escolas de dança do ventre tiveram a sua procura visivelmente aumentada, pois todo mundo queria dançar como a personagem Jade. Hoje, outra novela da autora Glória Perez invade a casa dos brasileiros com uma nova cultura para apresentar em Caminho das Índias. O tema agora é cultura indiana. Mais uma vez, a cultura de outro país é trazida a vida dos telespectadores. E com essa cultura, suas danças.

É visível o crescimento do interesse de alguns brasileiros pela Índia. Não é apenas com os 42 pontos de audiência da telenovela que isso é claramente visível. A indústria cinematográfica indiana vem crescendo muito e isso tem facilitado o acesso a filmes e músicas que embalam o país que vem apresentando um notável crescimento econômico. Isadora Gonçalves (da foto à esquerda) é professora de dança indiana clássica e moderna e se diz "uma maníaca por cultura indiana", a qual considera "extremamente contagiante".

Mas, parece que muita gente não que ser a protagonista Maya, personagem de Juliana Paes em Caminho das Índias. Segundo Isadora, a divulgação da cultura indiana não tem atraído muitas mulheres para as escolas de dança em busca de uma aproximação com a personagem. Segundo a professora de dança, a novela não tem apresentado muitas cenas de dança, o que não causa tanto interesse, mas as academias têm procurado muito professoras de dança indiana.

A dança do ventre, na época de O Clone, recebeu muito mais procura que a dança indiana recebe hoje, mas será que todas as Jades continuaram estudando a "dança secreta das cobras", como era chamada nos seus primórdios? Mahira Al Shakt (foto à direita) é professora de dança do ventre desde antes do alvoroço causado pela novela. Na escola em que ensina muitas dançarinas, hoje professoras, entraram para a dança graças aos véus da personagem de Giovana Antonelli. "Houve um aumento tanto de alunas como de profissionais na mídia.", diz. "Mas, só os mais sérios se mantiveram no mercado.", completa a professora.

"São danças muito diferentes", diz categoricamente Isadora. Os trejeitos, a filosofia e muitos outros pontos colocam a dança do ventre e indiana em lados claramente distintos. Mas, aos olhos de um mero expectador, as vestimentas ricas e coloridas e o ritmo eletrizante tornam as duas um tanto próximas. Para a professora de dança indiana, a dança que ensina requer mais interesse na cultura do país para se quer aprender, já que não é conhecida pelo público com a mesma amplitude da dança do ventre. "Já dancei dança do ventre durante muitos anos e todo mundo sabe pelo menos o básico, já a dança indiana é muito menos popular. Da Índia, todo mundo só conhece o Yoga.", explica Isadora. Já Mahira explica que alguns movimentos são muito parecidos e que as duas danças ligadas a filosofia e ao autoconhecimento. A professora da dança árabe informa que até mesmo ouve um pequeno crescimento nas inscritas para as suas aulas com o início da nova novela. "Muita gente buscou a dança do ventre pensando que era dança indiana.", diverte-se a dançarina.

Um tema muito comentado quando se fala em danças orientais é o preconceito. A dança do ventre é sempre associada à promiscuidade e a dança indiana, por ser pouco conhecida, é vitima da ignorância. Isadora afirma que o preconceito vem muito mais dos expectadores masculinos. Para Mahira, a dança do ventre é erroneamente associada ao erótico e ao sensual. "A dança do ventre ativa a alma feminina e vem de antes dos hárens.", ensina a dançarina praticante. "Ela é uma celebração do ser feminino e o preconceito dá uma carga errada à praticante.", explica. "É uma bobagem esse preconceito, a alma feminina não deve ser tratada de forma erótica", afirma a profissional de dança indiana e a dançarina de dança do ventre também concorda.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Videogame sem fronteiras

No ano de 1999, antes mesmo da virada do milênio, foi lançado no mundo o Dreamcast, console de videogames desenvolvido pela SEGA, sendo ele o primeiro a conceber uma forma rudimentar de multijogador online. Foi um passo ousado, que mudou a forma de entretenimento eletrônico para sempre.

Dez mais tarde, hoje, temos acesso a uma rede de consoles com funcionamento online amadurecida, como a Xbox Live, Playstation Network e a Wiiware. Elas abrem um leque de opções não apenas para jogos, mas para filmes e seriados de TV. Porém, todos esses recursos só se disponibilizam a partir da compra de créditos próprios da empresa desenvolvedora do videogame. Para inovar esse mercado de compra e venda online, é apresentado o OnLive.

Roteador da OnLive e controle para jogar games de todas as plataformas. Fonte: blog TheTechHerald

É um pequeno dispositivo, semelhante a um roteador de internet sem fio chega ao fim de 2009 com a premissa de unificar as três formas de serviço atuais e implantá-las de uma forma que qualquer jogo, de qualquer plataforma, venha a ser jogado em sua TV, PC ou MAC. Para tanto, foi desenvolvido um serviço online que atende qualquer lugar no mundo, e que faz rodar jogos de última geração em seus computadores. Normalmente, são jogos que eles não suportariam nem nas suas configurações mais basicas.

Sendo assim, essa revolução pode se resumir a duas perguntas dentre as milhares a serem respondidas: até que ponto os desenvolvedores desse dispositivo conhecem o mundo e sua conexão com a web? Como farei para jogar com conexão de baixa potência em um país de terceiro mundo, onde a tecnologia tende a ser obsoleta? Será que o mercado da informática verá esse serviço promissor, que dispensa quase que integralmente o consumo de hardware, com bons olhos?

Fonte: GameTrailers
Site Oficial

Last.fm quer se tornar paga, mas...


Será que tornando seus serviços pagos, a Last.fm vai continuar sendo
uma revolução?


Após 6 dias desde o anúncio, o blog da Last.fm retomou as noções acerca da nova regulamentação da rádio online. Foi publicado, no dia 24, que os usuários não pertencentes aos Estados Unidos, Inglaterra ou Alemanha, precisariam pagar uma assinatura de €3.00 mensais, caso quisessem continuar ouvindo músicas completas, fazendo download destas e desfrutando da rádio, a qual funciona por associação de bandas, tags ou usuário. Como manobra publicitária, 30 downloads de músicas ainda estariam disponíveis aos usuários gratuitos, para que estes se sentissem instigados a fazer upgrade de suas contas.


Muitas pessoas se manifestaram contra, logo na postagem do blog. Até mesmo quem se encontra nas áreas poupadas pela nova política de serviço não se absteve de críticas. Os mais frequentes questionamentos foram o por quê da exclusão dos três países e da cobrança, propriamente.

Por causa desse grande número de feedbacks, hoje, foi postada uma revisão do anúncio. Richard Jones, criador do projeto de Audioscrobbler e atualizador do blog, explica que a Last.fm Radio sempre teve a publicidade como maneira de se manter gratuita. Ele, inclusive, faz menção à multinacionalidade dos anúncios: aspecto que faz com que a Last.fm se torne “internacional ao extremo”.


“Entretanto, nós simplesmente não podemos estar em todos os países em que o serviço de rádio está disponível vendendo os anúncios publicitários que nós precisamos para sustentar o serviço. A Internet é global e restrições geográficas parecem injustas, mas é uma realidade que nós enfrentamos todos os dias enquanto estamos administrando nossas parcerias de licença musical.”


Alguns usuários resolveram fazer uma campanha imagética através de seus avatares. O grupo FREE IS FREE disponibilizou a figura


O grupo, que tem como top artists as bandas
Radiohead e Coldplay, conseguiu 2500 membros em 5 dias


Assim como há um tempo, usuários do antigo Fotolog.net, hoje Fotolog.com, fizeram esse mesmo tipo de protesto contra a mudança do “net” para o “com” e tiveram suas contas ameaçadas de sair do ar, será que a Last.fm vai tomar alguma atitude contra os usuários que estão contra?


Por enquanto...
Para tentar amenizar a situação, a Last.fm pretende adiar a data em que a rádio se tornará paga e, nesse meio termo, também haverá outras novidades. Haverá a possibilidade de um usuário pagar a assinatura para um amigo, o scrobbling poderá ser feito a partir de outras rádios em API (sistema de rádio online feita em Java) e, também, haverá uma pesquisa acerca de meios alternativos de pagamento.

Levando-se em consideração que em alguns países o Paypal é problemático ou que alguns usuários não possuem cartão de crédito, a Last.fm está pensando em desenvolver um sistema de pagamento através de “pay-by-SMS” (via SMS) e outros. Entretanto, RJ não garante que poderá dispor desde o primeiro dia dessa mudança uma maneira para que todos possam pagar a assinatura, com facilidade.



Fonte: Last.fm Blog - post 1 , post 2
Fotos: Phandroid e Comunidade Last.fm no Orkut

sexta-feira, 27 de março de 2009

Placebo divulga setlist do novo álbum

O site da banda londrina Placebo divulgou a setlist do próximo álbum, que será lançado no dia 8 de junho: Battle For The Sun. As treze músicas, uma delas levando o nome do álbum, tiveram seus propósitos elucidados pelo vocalista Brian Molko. “Eu acredito que Battle será o primeiro de nossos álbuns que contarão uma história no decorrer de seus 52 minutos. Nossos trabalhos anteriores realmente foram só coletâneas de músicas e, mesmo que elas sejam ajustadas conforme o fluxo musical, eu espero que vocês ouçam o bastante para poder reconhecer certas palavras distintivas do tema que começarão a brotar.”

‘Battle For The Sun’

1. Kitty Litter
2. Ashtray Heart
3. Battle For The Sun
4. For What It's Worth
5. Devil In The Details
6. Bright Lights
7. Speak In Tongues
8. The Never-Ending Why
9. Julien
10. Happy You're Gone
11. Breathe Underwater
12. Come Undone
13. Kings Of Medicine

Além da faixa Battle For The Sun estar disponível para download no site, a pré-venda do Deluxe Box Set também já começou. O Box é formado por uma caixa com dois livros de capa dura. O primeiro carrega dois CDs, dois DVDs e um livro de fotos. O primeiro CD é o álbum Battle For The Sun completo e mais duas faixas bônus; o segundo teria as faixas ao vivo da próxima turnê mundial (na verdade, é um cd em branco que possibilita o download exclusivo de músicas ao vivo de determinados shows). O primeiro DVD, feito em estúdio, trata-se do The making of Battle For The Sun The álbum, uma filmagem exclusiva feita em fly on the wall (câmeras escondidas que captam vários ângulos dos artistas) da gravação em estúdio do Placebo, além de entrevistas com a banda. O livro de 32 páginas é composto por fotos tiradas em Angkor Wat e Cambodia.

O segundo livro comporta dois LPs em Heavy Vinyl, 16 páginas de letras escritas à mão e fotos de estúdio, além de um pôster. Não obstante, a banda também dá mais brindes aos fãs: os primeiros 500 compradores terão seua Boxes assinados pela banda e um ingresso VIP Golden Laminate estará escondido em apenas 5 exemplares. Aquele que tiver a sorte de achá-lo poderá escolher mais um amigo e desfrutar de duas noites de estadia, viajar com a banda durante uma parte da turnê, assistir aos ensaios e jantar com Brian, Stef e Steve antes de assistir ao show no side stage (logo ao lado do palco principal, escondidos).

E tem mais: a banda também proporciona o download do álbum que será enviado ao comprador somente no lançamento. Aos brasileiros, tudo isso sai por £ 70.00 (R$ 227,95), incluindo o transporte.

Fonte: Placebo.co.uk

quinta-feira, 26 de março de 2009

Got Milk?!

Assista Milk - A Voz da Igualdade e se arrepie durante 1h40. Ganhador de 2 Oscar, de Melhor Ator (Sean Penn) e de Melhor Roteiro Original, o filme traz atuações incríveis de Penn, James Franco, Diego Luna, Emile Hirsch e Josh Brolin, além da ótima direção.

Harvey Milk foi o primeiro político gay norte-americano. Ele lutou e se posicionou como ninguém, frente a uma época terrível para os homossexuais. Foi assassinado em 1979 por um "colega" de trabalho e, diante do julgamento de sua morte totalmente injusto (Dan White se livrou com a desculpa de uma má dieta alimentar, ninguém merece), 30 mil pessoas reuniram-se nas ruas dos Estados Unidos para acender velas e despedir-se de seu líder.

Esse vídeo é uma parte de um discurso de Milk, vale a pena. Harvey deixou o seu recado: you gotta give them hope.

Got milk?

Este é o Rock de nosso tempo

Imagem do Blog Bratislava


Radiohead, Kraftwerk e Los Hermanos se apresentam no festival Just a Fest trazendo gerações e qualidade, independente do estilo.

Por Pedro Zambarda

Leitor, você poderia dizer que há um equívoco no título deste texto. A banda Kraftwerk surgiu como vanguardista da música eletrônica no começo da década de 1970, Radiohead é um fenômeno do rock alternativo à partir dos anos 1990 e Los Hermanos estourou no Brasil principalmente no começo do novo milênio. Mas sou obrigado a te alertar: há, sim, uma razão clara para que essas três bandas e vertentes estivessem reunidas no último domingo, dia 22.

Por mais que alguns presentes protestassem nos shows de abertura, ou até durante o espetáculo principal, Radiohead só foi o sucesso por incorporar as inovações tecnológicas que os sintetizadores do Kraftwerk inauguraram. E, mesmo que não seja sua influencia principal, Los Hermanos foi afetado diretamente pelo mesmo rock indie que o Radiohead formou, com diversas outras bandas, no final dos anos 1980.

A Chácara do Jóquei, zona oeste de São Paulo, foi uma escolha de lugar acertada por ser em um campo aberto. Apenas isso. O acesso ao local era complicado e a saída foi um desastre com a lama formada pela chuva, logo após o show. Mesmo assim, o público já começou a fazer a fila de entrada um dia antes, 21 de março. Somente às 18h20, após muitas horas de espera das pessoas na frente do palco, o pessoal do Los Hermanos começou sua apresentação de abertura, após 2 anos de hiato em suas atividades.

A performance da banda de Rodrigo Barba, Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante e Bruno Medina foi bem acima da média. Amarante, por exemplo, contagiou o público correndo pelo palco e fazendo o acompanhamento necessário na abertura do show, Todo Carnaval tem seu fim, além de cantar músicas extremamente emotivas como Sentimental e Último Romance. Suas palhetadas eram dadas com tamanha força que, próximo ao final do show, o guitarrista chegou a quebrar uma das cordas. Já Marcelo Camelo, ao contrário do parceiro de banda, permanecia mais calmo na apresentação, embora sua impostação vocal fosse muito mais consistente do que a dos demais. Camelo, Amarante e o baixista Gabriel Bubu ocasionalmente trocavam seus instrumentos, dando uma dinâmica interessante durante a apresentação. Cher Antoine foi uma das músicas tocadas que os fãs não esperavam. Fechando a apresentação com A Flor, era possível ver o sorriso estampado no rosto de cada um dos Los Hermanos. “Até qualquer dia” disse Rodrigo Amarante, em tom de despedida, mas sem nenhum motivo para tristeza, embora a banda não esteja reunida em definitivo.



Ambas imagens de Limao.com.br

Conforme se aproximava do horário da apresentação do Kraftwerk, pessoas trocavam de lugar porque alguns iam beber água, comer e usar os sanitários. Vale frisar que o preço da comida e da bebida, variando entre 5 e 8 reais, era um absurdo pela (falta de) qualidade dos alimentos. Quem conseguiu, nessa movimentação, ficar mais a frente, conseguiu garantir seu lugar para ver o Radiohead. Imagens do público na Chácara do Jóquei espantavam quem estava no meio da multidão: estar próximo ao palco no meio de 30 mil pessoas não é pra qualquer um agüentar.

Às 20h15, Man Machine abriu a série de experimentalismos do Kraftwerk, abusando de sintetizadores sonoros produzidos por seus notebooks e teclados. A banda, liderada por Ralf Hüter, tinha pouca interação com a platéia, apesar de produzir efeitos visuais fascinantes em seus telões, dando todo um charme futurista ao espetáculo. Músicas como Numbers, Computer World e Radioactivity deram um show de efeitos especiais, ao contrário da morna e repetitiva Tour de France, alvo de reclamações principalmente das pessoas que não eram fãs de Kraftwerk. O grande clímax da apresentação foi a música The Robots, momento em que Hüter, Fritz Hilpert, Henning Schmitz e Stefan Pfaffe se retiraram do palco para serem trocados por réplicas do Kraftwerk robotizadas. Muitas pessoas ficaram perplexas diante dos robôs, mas foi nesse momento que a mensagem sobre ausência do humano ficou explícita na música dos alemães. Fechando o espetáculo, Music Non Stop trouxe roupas com listras verdes fosforescentes e luzes néon azuis sobre a pele dos músicos, além de animações em 3D no fundo. Por mais que muitos dos presentes não gostassem de música eletrônica, a apresentação que durou pouco mais de 1h conseguiu trazer um repertório diverso e agradável tanto para fãs quanto não-fãs.



Ambas fotos de Limao.com.br

Após cerca de 30min na montagem do palco, os ingleses do Radiohead iniciaram seu show com a frenética 15 Steps, abertura do álbum recente da banda, In Rainbows. As músicas escolhidas passaram por todo o material da banda, sem poupar nenhum material. Músicas repletas de atmosferas eletrônicas, como Idioteque, Pyramid Song e The National Anthem mostraram o potencial de Johnny Greewood nos aparelhos eletrônicos. As performances notáveis de Thom Yorke em Videotape, All I Need e Fake Plastic Trees enalteceram sua figura marcante como frontman. Ed O´Brien, Colin Greewood e Phil Selway fizeram a base (e até alguns solos, no caso de Ed) necessários para todas as faixas.

Foto de Limao.com.br

Faust Arp teve um diálogo animado entre Thom e Johnny, ambos se apresentando. Thom solta um “hi, this is Johnny!”. O guitarrista responde, num voz abafada típica "this is Thom". Depois da pequena introdução, ambos começaram o dueto de violões com um entrosamento único. Exit Music (for a film) foi um soco no estômago de todos, com a letra mais triste que Radiohead fez, apesar das controvérsias. A comoção foi tanta que pouquíssimas pessoas cantaram, não porque não sabiam a letra, mas porque estavam totalmente espantadas e hipnotizadas.

O palco era repleto de barras metálicas e um projetor ao fundo mostrava 5 câmeras para cada integrante da banda, dando um show de cenografia. Radiohead teve o número absurdo de 3 seqüências de músicas além do primeiro repertório. Karma Police e Paranoid Android levaram tantas pessoas a cantar que a música continuou além de seu tempo, com Thom Yorke e o público dividindo os vocais, montando verdadeiros hinos. Jigsaw Falling Into Place e Weird Fishes mostraram uma banda afinada entre si, totalmente sincronizada. Por fim, Creep, a música que fez a banda estourar na MTV nos primórdios, fechou a noite. Cada “porrada” que Johnny dava em sua guitarra Fender Telecaster tornava a iluminação do cenário totalmente colorida, indicando a relação da apresentação com a turnê In Rainbows.

Três bandas diferentes que, interligadas entre si, trazem o rock de nosso tempo, em diferentes contextos. Outro espetáculo Just a Fest pode levar muitos anos para se repetir. Thom Yorke que o diga, totalmente extasiado com seu público e de joelhos ao final de Creep, após sua primeira apresentação no Brasil.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Gran Torino

A redenção final de Dirty Harry


Um delinqüente corre por meio de uma construção abandonada. Existe medo em seus olhos. O suor escorre por sua testa e sua respiração ofegante denuncia o fim de seu fôlego. Atrás dele um homem caminha lentamente, sem nenhum sinal de hesitação. Chega o fim da linha para o delinqüente, tudo que lhe resta é apelar para a misericórdia do justiceiro que lhe aponta uma Magnum .44. Não existe misericórdia.

A cena acima é o encerramento do primeiro filme da série Dirty Harry (Perseguidor Implacável no Brasil), de 1971, estrelada por Clint Eastwood. Tal cena sintetiza de forma crua o espírito por traz daqueles filmes, ou melhor, daquela época. E é só mais uma das dezenas de facetas que Clint Eastwood construiu ao longo de mais de 50 anos de carreira. E talvez seja necessário conhecer boa parte delas para captar todo o significado que Gran Torino traz para seu diretor e ator.

Walt Kowalsky é um veterano da Guerra de Coréia que acaba de se tornar viúvo. Racista, intolerante e sem nenhum tipo de relação afetuosa com seus filhos e netos, Kowalsky mantém uma rotina não muito diferente de qualquer outro aposentado no subúrbio de Detroit. Cuida de seu jardim, arruma sua casa e lava e lustra religiosamente um Ford Gran Torino 1972, herança dos tempos que trabalhou na mais americana das montadoras. No entanto seu bairro deixou de ser um lugar para americanos conservadores como Walt, e se tornou refugio para a comunidade asiática de Detroit, mais especificamente os Hhmongs, como seus vizinhos.

O fio condutor do roteiro começa quando o jovem Thao é forçado por uma gangue a roubar o Gran Torino de Walt. O roubo é frustrado e Thao passa a ser perseguido pela gangue, até o momento em que a briga acaba no gramado de Walt, que os recebe com uma espingarda apontada para seus narizes. A partir daí o velho antes odiado, se torna um herói para o bairro, e Thao é obrigado pela família a prestar qualquer tipo de serviço que Walt pedir. E a partir daí começa o processo de amaciamento nas crenças racistas do protagonista. Enfim, um roteiro com uma linha básica e não muito criativa. Mas está nos detalhes, nas nuances e nas entrelinhas que Gran Torino se torna um filma sólido, impecável e emocionante.

Tudo que Eastwood aprendeu com mestres como John Ford e Sérgio Leone, e que posteriormente foi aperfeiçoado em uma carreira marcante na direção, está em Gran Torino. Algo que se torna muito surpreendente depois de uma obra falha como A Troca. O que vemos aqui é a volta à temática do western que lhe tornou famoso e lhe rendeu a consagração com Os Imperdoáveis, com a estética da violência urbana vinda dos anos de Dirty Harry, exaltando a presença daquele homem intimidante, capaz de gerar medo apenas com sua face. Estética esta que também fora usada com maestria em Sobre Meninos e Lobos. E antes que alguém se pergunte: sim, Gran Torino é Clint Eastwood revisitando a própria carreira.

No entanto, tudo muda no ato final. A auto referência acaba e o que entra em cena é a redenção de um ícone de um modo falho de se fazer justiça. A última meia hora de projeção talvez sejam os 30 minutos mais sinceros que Eastwood já dirigiu. Algo que vai além de toda a ideologia em seu clássico Menina de Ouro, algo que vai além da cena final de Os Imperdoáveis. É como se Clint dissesse a si mesmo que o modo de se fazer justiça que nos acostumamos a pregar após a década de 70, que o modo que ele próprio ajudou a construir, entrou em falência.


Gran Torino não tem a intenção de iniciar qualquer debate sobre a violência urbana, sobre como devemos lidar com ela ou algo do tipo. Ele simplesmente diz respeito a um homem que talvez tenha se arrependido daquilo que fez, e que corre atrás da própria redenção. Se for isso mesmo vale dizer que a procura chegou fim. E ela se encontra na mão direita de Walt Kowalsky em seu momento final.

sábado, 21 de março de 2009

Prefeita italiana retira de exposição escultura apelativa

Sob alegação de que a escultura fosse uma “falta de inspiração artística”, a obra Sacred Love, do artista napolitano Sebastiano Deva, foi retirada da exposição Emergency Room. A prefeita Rosa Russo Ievorlino ordenou que o crucifixo envolto por preservativos fosse afastado do Palácio das Artes de Nápoles, Itália, sete dias após a abertura da mostra no dia 13.

Em comunicado à imprensa, Rosa disse que Deva, sem disposição para criações artísticas, acabou desrespeitando o sentimento religioso dos cidadãos. A justificativa foi de que a ordem teria sido um pedido de postura diante do sagrado, independentemente de religiões. A prefeita explica seu posicionamento não como uma censura à arte - ela acredita que, neste caso, “o que falta é arte em si, enquanto reina o soberano péssimo gosto”.

O jornal Corriere della Sera informou que a atitude de Rosa provocou constrangimento a Nicola Oddati, secretário de cultura da cidade, quem já havia apontado arte como algo não moralmente avaliável. O escultor declarou que a intenção de Sacred Love foi a de fazer um paralelo entre o rosto de Cristo envolvido num sudário com sua, ainda maior, proximidade da dor e do sofrimento humanos.

Fonte: Folha Online

sexta-feira, 20 de março de 2009

Vídeos da Foca

Está oficialmente aberto o canal de vídeos do Bola da Foca no YouTube.

Chama-se Vídeos da Foca e foi feito por mim, pelo Pedro Zambarda e pela Ana Júlia no dia 13 de fevereiro deste ano, mas somente hoje foi postado o primeiro vídeo, feito pela Ana.



Essa "extensão" foi criada para todos os colaboradores do Bola postarem vídeos jornalísticos (de preferência feitos por eles, mas não descartamos outros tipos de vídeos, que sejam interessantes também).

Quem quiser postar, é só falar com um dos editores do blog.
Aproveitem!

http://www.youtube.com/user/Videosdafoca

quinta-feira, 19 de março de 2009

"Você está demitido!"


Com a tão famosa crise mundial, o já tão mal-fadado mercado da comunicação está entre um dos mais atingidos. Pensando nisso e tentando mostrar como anda a situação, uma conta do twitter chamada “The Media is Dying” lista, como se fizesse uma cobertura ao vivo, as demissões de diversos grupos do ramo. O trabalho, ou a falta dele, do assinante (na verdade, um grupo de profissionais da comunicação que “tentam ajudar nessa situação tão complicada”) ganhou muita visibilidade. São mais de 14.000 pessoas seguindo o site e recebendo avisos diários de quem teve que limpar a mesa e/ou tomar uma portada na cara.

Como nem todo mundo vê a mesma coisa de uma mesma forma, outra conta foi lançada para “brigar” com a TMID. A conta “Media is Thriving” foi criada para mostrar que a área da comunicação vai “muito bem, obrigado” e que tem área em uma situação muito pior que da “galerinha que fala, escreve e desenha”. Bem, como falar bem de algo nunca faz sucesso, MIT tem um pouco mais de 1.800 seguidores. E como era de se esperar, bem menos recados de “olha como estamos bem”. Um ponto muito bom da MIT é o seu BIO, onde se lê uma frase um tanto “dorme com essa, fired-people”: Não culpe a indústria. Culpe o seu chefe.

terça-feira, 17 de março de 2009

Revisão Feminina


foto por DD³

A nova feminista Charlotte Roche, de 31 anos, é a escritora do primeiro livro alemão a atingir o topo da lista mundial de mais vendidos do site Amazon.com. Zonas úmidas ou, originalmente, Feuchtgebiete, chegou ao Brasil na semana passada, pela Editora Objetiva.

Casada e mãe há seis anos, Charlotte resolveu, logo em sua estreia como escritora, lançar um romance sobre os delírios sexuais e comportamentos íntimos de uma jovem chamada Helen. A personagem, desleixada a ponto de sair de casa vestindo uma calcinha furada, faz crítica às mulheres “limpinhas”, obcecadas por depilação e higiene pessoal. Foi assim que Roche, também atriz, produtora, cantora e apresentadora de TV reforçou sua célebre figura: um milhão de cópias de seu livro foram vendidas só na Alemanha, que não é seu país natal, já que nasceu na Inglaterra.

A autora, em entrevista para o site da Revista Época, assumiu que queria “escrever um livro bem honesto sobre o corpo feminino”. Roche, de vez, tenta quebrar os tabus femininos como a higiene, a sensualidade e a ausência de pelos no corpo. A personagem Helen não é uma mulher romantizada: tem hemorroidas (e se orgulha delas), possui necessidades fisiológicas, mestrua, e pratica masturbação.

Helen tem muito de Charlotte, da história familiar da autora. Entretanto, não se pode pensar que a protagonista de Zonas úmidas seja uma generalização das mulheres. A autora se preocupa com leitores homens que possam ter uma nova e errônea interpretação aversiva ao sexo feminino. Roche fez de Helen um tipo exagerado, apesar de acreditar que muito dela deveria ser adotado pelas pessoas.

Não que Charlotte seja anti-higiênica, mas ela defende que a atração entre os humanos se dê pelo cheiro natural, não pela escolha de uma “essência industrializada provinda de um perfume ou desodorante”. A inglesa também reforça que mulheres que mantêm depilação completa na região pubiana “ficam parecendo bebês, menininhas” e não “mulheres de verdade”. Ela acha que existe uma paranóia entre as mulheres quanto à depilação, tanto que, certa vez, Roche resolveu deixar os pelos das axilas crescerem para, no fim, provar a reação negativa das pessoas – algumas chegaram a mandar e-mails dizendo que a odiava por isso.

Charlotte considera-se uma nova feminista por não seguir os padrões tradicionais de suas antecessoras. Auto-denominada “filha” das antigas feministas, a escritora acredita que estas tinham posicionamento lésbico e, por isso, não entenderiam de pornografia – assunto que considera de âmbito heterossexual. Ela acredita que as primeiras feministas, muitas vezes, acabavam pondo-se contra os homens e desprezando o ato de fazer sexo com um homem ou calçar saltos altos para mesmo, em virtude atrativa. Roche aponta que, como uma jovem feminista, ela quer promover a amizade com os seres do sexo oposto.

Ao fim da entrevista, Charlotte responde sobre as recorrentes piadas quanto ao odor vaginal. Ela confessa que cresceu numa sociedade em que os homens acabavam relacionando o cheiro de uma vulva ao de um peixe morto. Confusa, a escritora se pergunta, então, por que homens gostam de sexo oral. E para não deixar de falar do Brasil, ela só soube reconhecer algo “negativo” provindo do Brasil: a depilação completa, em que a mulher se põe em posição ginecológica e os pelos são arrancados com cera.


O livro Zonas úmidas, de 208 páginas, já está a venda. Preço médio: R$34,90.

Afastamento

Escrevo para comunicar meu afastamento do Bola da Foca. A edição continuará por conta de outros editores, e nada impede que eu continue escrevendo apenas como um colaborador

Se uma justificativa se faz necessária, digo apenas que o rumo que o blog está tomando não condiz mais com o que eu esperava dele.

De qualquer maneira, estarei à disposição sempre que precisarem de algo.

Um grande abraço.

Um mergulho em laranja, branco e muito verde



Em São Paulo, festival divulga cultura e celebra amizade entre Brasil e Irlanda

De 17 a 27 de março, São Paulo será palco do Festival Cara Irlanda. Esse é o primeiro grande evento do Instituto Brasil-Irlanda (http://www.irishinstitute.com.br/), fundado há um ano, e que tem o objetivo de divulgar a cultura Irlandesa e promover a união entre os dois países, nos mais variados aspectos.

Cara é a palavra para amigo em gaélico, o idioma oficial da Irlanda junto com o inglês, e demonstra a ideia por trás desse festival. Apesar não ter recebido muitos imigrantes irlandeses, o Brasil nutre uma grande curiosidade e admiração pelo país “Os laços culturais são incrivelmente mais fortes do que qualquer relação de imigração. Embora sejam tão poucos no Brasil [os irlandeses], os brasileiros são ávidos de saber da Irlanda” afirma Maria Alice Ancona Lopez, Presidente do Instituto Brasil-Irlanda.

Nos seus dez dias o evento procura unir diferentes atividades e compor uma programação diversa que vai da música à literatura, passando pela gastronomia, dança e, é claro, cerveja. O dia 17 marca a data oficial da inauguração do conhecido St. Patrick’s Day, o feriado mais importante e dia nacional da Irlanda. “Em primeiro lugar, é um dia de patriotismo. Mais do que tudo esse evento é a celebração da identidade que a gente tem como povo irlandês” diz Stephen Little, professor irlandês de Gaélico do Departamento de Línguas Modernas da FFLCH/USP, que mora há sete anos no Brasil.

Stephen afirma que o dia de São Patrício, principalmente depois da independência, teve a função de resgatar o orgulho e autoconfiança do povo Irlandês após os séculos de ocupação britânica da ilha. Hoje em dia, as comemorações tem se afastado do seu caráter religioso, se secularizando cada vez mais e se firmando como uma verdadeira identidade irlandesa. O dia é celebrado em diversos países do mundo, principalmente naqueles com grandes populações imigrantes, como os Estados Unidos, o Reino Unido e a Austrália.


Historicamente, Brasil e Irlanda não são países muito próximos. Stephen, porém, destaca alguns laços que unem os dois povos “A gente passou muito por isso, o povo não tinha nada. Essa história de brasileiros saindo daqui pra Europa. Isso é nossa história”. Os dois episódios de grandes fomes que assolaram a Irlanda marcaram o povo e a cultura, e trouxeram, segundo o professor, um jogo de cintura que se assemelha ao jeitinho brasileiro.

Uma lenda Irlandesa, que data do século X, discorre sobre um local que só pode ser visto a partir das Ilhas Aron, no noroeste do país. Essa Ilha supostamente teria tempo bom durante todo o ano além de aves e animais coloridos e seu nome era Hy-Brasil, “essa lenda se refere ao suposto conhecimento pelos irlandeses do Brasil, antes do país ter sido descoberto. O que se diz, então, é que o Atlântico é o que nos une, não o que nos separa” comenta a presidente do Instituto Brasil-Irlanda.

A abertura oficial do evento será hoje, às 17hrs, no Teatro Eva Herz do Conjunto Nacional, e contará com a presença do Embaixador da Irlanda Michael Hoey, além de um coquetel. A programação completa do Festival pode ser vista em http://www.irishinstitute.com.br/cara1.html

A juventude que nunca morrerá

Benjamin Button, o tempo e a obsessão pela juventude.


“Eu nasci sob circunstâncias não usuais. Enquanto todos estavam envelhecendo, eu estava ficando mais jovem”. É assim que Benjamin Button, do conto de F. Scott Fitzgerald, explica sua singularidade: ele nasceu velho para morrer jovem.

A história de Benjamin comove muito: é a concretização de um pensamento recorrente em nós, de uma curiosidade ardente por saber como a vida seria, se o processo de crescimento fosse ao contrário. É o sonho de consumo: mente evoluída, corpo jovem. Quem nunca pensou em estacionar nos 25 anos que atire a primeira pedra.

A juventude é a fase mais preciosa da vida, e a mais irresistível também. É a fase onde milhares de portas são abertas, onde você faz as escolhas que te levaram até onde você está hoje. Bons tempos, sem chefe, sem preocupações de gente grande, sem trabalho e, o melhor de tudo: liberdade. Você pode fazer o que quiser que é justificável.

Imagine o estrago que você faria se tivesse o conhecimento de hoje, em um corpo de 20. Seja Benjamin ou Madonna, o tempo passa e, como já dizia Cazuza, ele também não para. Mas tem gente que simplesmente não consegue seguir em frente e aceitar que envelheceu, o que pode gerar uma busca doentia pelo rejuvenescimento.

É sempre bom sentir-se bem consigo mesmo, sentir-se saudável e potente. Para isso, o mais indicado é fazer aquele regiminho, ou melhor, reeducação alimentar, e praticar exercícios. Mas se mesmo assim o pneuzinho insistir em te perturbar, você vai começar a pensar em uma lipoaspiração.

Esse é o limite entre o saudável e o não saudável, para a psicóloga Gabriela Galván, “É saudável desde que não suplante todas as outras coisas. Quando vira objetivo e não tem limite, deixa de ser saudável. Uma coisa é a gordurinha pós-parto, outra é fazer lipoaspiração, puxar aqui, arrumar ali, colocar peito. É questão de cuidado, de manter o bem-estar, enquanto não tome controle da sua vida.”

O geriatra Claudio Souza fala sobre uma banalização do processo cirúrgico: “As pessoas confundem lipoaspiração com regime, esquecem que ela só funciona se você mantiver o peso depois. Não adianta fazer e não ter uma dieta saudável”. Para ele, a linha do não saudável é cruzada quando não é visada a qualidade de vida, e trata-se de mera vaidade, “se a pessoa não tiver um motivo forte, ela pode não ficar satisfeita, ela arruma o nariz e acha defeito em outro lugar, então vira um círculo vicioso.”

O medo de envelhecer, segundo os dois, vem também de um processo social, da falta de respeito, da desvalorização do antigo frente o novo e do fantasma do desemprego. “Envelhecer é muito confundido com perdas, de beleza, de encanto, de atração e de capacidade física, fora a proximidade com a morte. É uma fase carregada de simbolismos negativos. Além do que, no mundo de hoje, o espaço é limitado não só para a velhice, mas para as diferenças, para qualquer coisa que não seja perfeito, prático e rápido. Não há tempo a perder”, esclarece ela.

É por isso, também, que Benjamin é um exemplo. Sua relação com Daisy aparece pura, ele quando velho não fica com ela garotinha, e ela quando madura cuida dele como uma mãe. Eles respeitaram e aprenderam a usufruir o tempo que lhes foi concedido, em cada fase de suas vidas. Claro que não foi fácil, especialmente para ela, que tinha medo de ser vista como pedófila pela sociedade.

Esse é outro fator que leva as mulheres a procurarem aperfeiçoamentos estéticos, “O ideal social de beleza é mais cruel com as mulheres, a expectativa com relação a nós é maior. Mas isso tem mudado aos poucos, com o surgimento do homem moderno metrossexual. Mas ainda, a tolerância social é maior com os homens envelhecidos. É mais difícil ter um casal onde o homem é o mais jovem”, afirma a psicóloga.

Mas, apesar de a pressão ser maior sobre as mulheres, os homens não ficam para trás. Segundo Claudio, “O homem também entrou no mundo das cirurgias, mesmo que recentemente. Eles fazem bronzeamento artificial, plástica, tudo. Apesar de preferirem mudanças mais suaves, como arrumar a pálpebra e o nariz, também aplicam botox e fazem lipoaspiração.”

Gabriela fala de outro fator importante, que facilita o processo: “Houve uma evolução na medicina, uma mulher de 60 anos de hoje aparenta menos do que uma mulher de 60 de antes. As descobertas ajudaram a que as pessoas pudessem se manter mais bonitas e mais jovens por mais tempo.”

Motivados por vaidade, por bem-estar ou por estética, os métodos rejuvenescedores estão mais populares do que nunca, e cada vez mais acessíveis. No entanto, o médico alerta sobre a importância em tomar cuidado com a escolha do profissional, para não correr mais riscos do que o natural. Porque, se ocorrem complicações com grandes cirurgiões, quem dirá com um não tão capacitado.

Há quem cuide, há quem aceite, há quem fabrique, há quem compre. Seja por medicina, por mentalidade, comportamento ou vestimenta, o fato é um só: a juventude está na moda.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Comunidade Discografias no Orkut tem seu fim anunciado



O Orkut perdeu hoje uma de suas comunidades com maior movimento. A Discografias, com mais de 1 milhão de usuários, saiu do ar na manhã desta segunda-feira, sem qualquer tipo de aviso prévio. A medida foi tomada pelos moderadores da comunidade, que vinham sendo ameaçados constantemente pela APCM (Associação Anti Pirataria de Cinema e Música) e pelo Ministério Público. O próprio Google questionava a legitimidade da comunidade.

Segue abaixo o comunicado sobre o fim da comunidade:

"Informamos a todos os membros da comunidade "Discografias" e relacionadas (Trilhas Sonoras de Filmes, Trilhas Sonoras de Novelas, Coletâneas (V.A.), Pedidos, Dicas/Dúvidas e Índice Geral), que encerramos as atividades devido às ameaças que estamos sofrendo da APCM e outros orgãos de defesa dos direitos autorais.Nosso trabalho foi árduo para manter as comunidades organizadas, sem auferir nenhum tipo de vantagem financeira com elas, somente com o intuito de contribuir de alguma forma para a cultura e entretenimento.Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros.Muitos artistas perderão seus meios de divulgação.Milhares de membros terão que procurar outras atividades no Orkut que não seja o download de músicas e afins. O número de sites e blogs de conteúdo similar, mais programas como eMule, limewire, de torrents e outros P2P, cresce em progressão geométrica.Perdem eles, perdemos todos, mas enfim, tudo em nome do dinheiro das grandes corporações. Nada em nome da cultura.

Tais entidades de defesa dos direitos autorais, como a R.I.A.A. nos Estados Unidos e APCM no Brasil, que é a representante legal de:

UNIVERSAL MUSIC DO BRASIL LTDA.;
WARNER MUSIC BRASIL LTDA.;
SONY - BMG BRASIL LTDA.;
SIGLA - SISTEMA GLOBO DE GRAVAÇÕES AUDIO VISUAIS LTDA;EMI MUSIC LTDA.;
COLUMBIA PICTURES INDUSTRIES INC.;
DISNEY ENTERPRISES INC.;
METRO-GOLDWYN-MAYER STUDIOS INC.;
PARAMOUNT PICTURES CORPORATION;
TWENTIETH CENTURY FOX FILM CORPORATION;UNIVERSAL CITY STUDIOS INC.;WARNER BROS.;
UNITED ARTISTS PICTURES INC.;
UNITED ARTISTS CORPORATION;
UBV - UNIÃO BRASILEIRA DE VÍDEO E ASSOCIADAS

Sendo ainda representante de IFPI - International Federation of the Phonographic Industry e MPA - Motion Picture Association no Brasil, se dizem "sem fins lucrativos", vamos acreditar nisso, né gente? Como todos acreditam nas histórias da carochinha.Portanto, deixamos aqui os dados de contato do orgão responsável pelo fechamento das comunidades e de um de seus representantes:

APCM – ANTI-PIRATARIA CINEMA E MÚSICA RUA HADDOCK LOBO, 585 – SÃO PAULO – SP – BRAZIL INTERNET ANTI-PIRACY UNIT Telefone: +55 (11) 3061-1990x244

e-mail: anti-piracy@apcm.org.br=>Bruno Henrique Tarelov: btarelov@apcm.org.br. Fone: 55 11 30611990 ramal 238. Fax: 55 11 30611221. Agradecemos a todos que de um jeito ou de outro, colaboraram para que nossas comunidades fossem tão populares.

Valeu, gente!

A Moderação"

Agora, não custa perguntar: O que a confusa e antiquada legislação brasileira de fato diz sobre download ilegal? Afinal de contas, pirataria não se refere apenas à comercialização de produto sem a autorização do autor? Que tipo de comercio era feito na comunidade? Que tipo de lucro as pessoas que cediam músicas para a comunidade recebiam?

Seria bom, mas otimista demais, esperar uma resposta.

domingo, 15 de março de 2009

Na Batida de uma Geração - The Beat Generation

Em linhas gerais, a “beat generation” foi um grupo formado por escritores, poetas, dramaturgos e boêmios que se juntaram no final dos anos 40 nos EUA. Tinham a intenção de fazer uma literatura mais próxima da realidade das ruas, uma poesia urbana e um estilo de escrever específico e à parte de qualquer outro estilo corrente. Conseqüentemente, os beats – nome dado aos membros da beat generation - se engajaram numa criatividade espontânea e por vezes propositalmente desleixada. Os escritores beats produziram muitos trabalhos controversos para a sociedade americana da época, que acabaram por simbolizar o estilo de seu inconformismo.

O termo “beat”, bastante usado nos anos 40 e após a Segunda Guerra Mundial, reunia inúmeras conotações negativas e foi introduzida ao grupo por Herbert Huncke, figura presente dos submundos de Nova York. O adjetivo beat tinha conotações de “cansado”, “por baixo” ou “de fora”, mas Kerouac adicionou significações mais paradoxais e mais positivas como “beatitude” e a associação musical, principalmente em relação ao jazz, entre outras, que reforçam “estar na batida”, por exemplo.

Reza a lenda que, no mês de novembro de 1948, em algum bar na Times Square em Nova York, estavam sentados conversando sobre o panorama atual da falta de perspectiva John Clellon Holmes e Jack Kerouac. No meio da conversa Jack Kerouac se lembra da “geração perdida” de Jean Paul Sartre e lamenta: “we’re a beat generation” (Nós somos uma geração “batida”, ou “vencida”, em uma tradução livre). John Clellon Holmes percebeu que presenciara uma revelação histórica e saltou da cadeira: ”É isso! Você está certo!” A partir deste momento, o termo beat ganharia seu significado na literatura.

Apesar das definições ditas acima, ainda tiveram outras versões que acabaram criando uma certa confusão nos anos posteriores. Se a referência original do termo beat era de conotações negativas, foi Allen Ginsberg quem mais se esforçou em abrir o termo para englobar aspirações mais positivas. Pare ele, ser beat é ter uma percepção abrangente e uma percepção particular e real da natureza das coisas. Já para John Clellon Holmes, os beats eram uma versão americana para o existencialismo europeu e, conseqüentemente, adotaria o preto como cor. Ser beat, segundo Holmes era "despir a mente e a alma, optar por reduzir-se ao que é mais básico, no lugar de aceitar a visão convencional de uma América complacente, próspera e homogênea".

É possível concluir hoje que existiam dois grupos ou segmentos distintos de beats. O primeiro surge em Nova York durante a década de 1940 e o outro, se encontra em São Francisco na década de 1950. O grupo inicial formava-se sem premeditação quando Jack Kerouac, Allen Ginsberg, John Clellon Holmes, William Burroughs e Gregory Corso se conheceram em diferentes ocasiões durante os anos 40.

Nos anos 50, alguns beats vão juntos para o oeste à procura de Neal Cassady - andarilho que serviu de inspiração para Dean Moriarty, um dos protagonistas do livro On the Road, de Jack Kerouac - e acabam se fixando em São Francisco. Lá acabam atraídos e atraindo poetas igualmente inconformados com a América daquele período.

Neste segundo grupo estão poetas, escritores, artistas e intelectuais como Lawrence Ferlinghetti, Gary Snyder – que introduziu ao grupo o zen-budismo característico da beat generation -, Kenneth Rexroth, Philip Lamantia e vários outros. Foi na Califórnia que a beat generation tornou-se um movimento, pois transformou-se em algo mais abrangente, atingindo a pintura e escultura, como também uma literatura que possa falar não só da cidade, como do campo e do espírito (outro ingrediente trazido por Gary Snyder).

O marco da beat generation foi a apresentação na galeria Six - que antes era uma mecânica e havia se transformado num salão de arte -, no dia sete de outubro de 1955. Organizado pelos próprios beats, sem ter onde ou como apresentar seu trabalhos, eles resolveram fazer um recital gratuito em uma galeria velha que ficava em um dos guetos da cidade. Para o público presente, composto de negros, latinos e imigrantes de vida difícil, o recital com os poemas questionando tantas certezas do modo de vida americano soaram particularmente reais. O cunho crítico e contestador dos pensamentos em relação ao que acontecia naquele momento nos Estados Unidos do pós-guerra fez o público aplaudir de pé, manifestando sua concordância com estes pensamentos e idéias, porque estas mesmas desilusões eram vivenciadas na pele deles também. O último poeta a ler no recital foi Allen Ginsberg, que pela primeira vez recitou em público, chamado “Uivo”. O recital é descrito com detalhes no segundo capítulo do livro Vagabundos Solitários, de Jack Kerouac.

O evento na Six Gallery fez brotar em São Francisco uma série de eventos voltados para a arte. Segundo Gary Snyder, "tivemos a nítida sensação de termos alcançado uma liberdade de expressão, termos nos libertados da Universidade que tanto sufocava os poetas, indo além da tediosa e inútil discussão sobre Bolchevistas versus o Capitalismo que tanto esvaziava a imaginação de tantos intelectuais do mundo".

Mas nem tudo são flores. Nessa mesma época, os Estados Unidos estavam vivendo a paranóia comunista, a Guerra Fria, a “caça às bruxas” promovida pelo senador Joseph McCarthy e a censura não parava de proibir diversas obras de cunho “subversivo”, “comunista” e até “antiamericano”.

Um dos fatos responsáveis pela popularização dos beats foi o famoso processo jurídico de Lawrence Ferlinghetti, que publicou o livro Uivo e outros poemas de Allen Ginsberg pela City Lights Books, sua livraria que também servia como editora e ponto de encontro dos beats. Acusado pelo governo de promover pornografia, o poema não só foi inocentado, como também foi aclamado "de valioso conteúdo social". Mais importante ainda foi a cobertura diária da imprensa no julgamento, que tornou os termos Beat e Beat Generation repentinamente conhecidos por todo o país, embora poucos sabiam do que se tratava. Outras obras foram parar nos tribunais, como o caso de Almoço Nu, de William Burroughs. O romance era impregnado de descrições de conduta sexual, cenas contendo homossexualismo explícito, além de uma contínua prática no uso indiscriminado de entorpecentes pelos seus personagens. O réu desta vez foi Barney Rossett, outro editor de livros beats. Também saiu inocentado dos tribunais.

Enquanto os processos recebiam uma baita cobertura da imprensa, Jack Kerouac finalmente conseguia publicar outro livro chave da beat generation, Pé na Estrada. Escrito em 1952, era um relato do que aconteceu no final dos anos 40, numa viagem com Neal Cassady (Dean Moriarty, no livro) só foi publicado no final de 1957. Aliás, vários outros escritores beats estavam lançando livros que já tinham escrito há quase dez anos atrás.

Em abril de 1958, surgia outro termo para descrever o grupo de escritores: “beatnik”. O termo foi criado pelo jornalista Herb Caen, do jornal San Francisco Chronicle. O sufixo “nik” foi retirado do Sputnik, satélite russo lançado naquela época, oferece ao beat a sugestão de ser subversivo, uma vez que russos e americanos simbolizavam a antítese entre comunismo e capitalismo. Não demoraria muito e Beat seria compreendido como um estilo de escrever e Beatnik um estilo de viver.

A linguagem e as roupas dos beats chegaram às telas do cinema através de James Dean, no filme “Juventude Transviada” e Marlon Brando. O rock and roll, que estava explodindo na época, teve também influência estética dos beats, através de Elvis Presley e suas costeletas. Os livros viriam a influenciar as letras de artistas como Bob Dylan (que leu On the Road, título original de Pé na Estrada, e depois fugiu de casa), Pink Floyd e Beatles, nos anos 60.

Os beatniks já não se resumiam apenas aos boêmios escritores de São Francisco e Nova York que já estavam viajando pelo mundo e sim uma série de jovens universitários que se vestiam de preto, usavam boinas, óculos escuros e ouviam jazz. Assim, os beats – agora beatniks -, se transformavam num gênero de movimento cultural, separado (mas nem tanto) dos beats literatos e que geralmente ficavam orgulhosos de serem chamados de beatniks.

A rápida e gradual expansão da “beat generation” abriu caminho para a “contracultura dos anos 60”, que foi acompanhada pelo deslocamento natural no público de “beatnik” para “hippie”. O termo é uma abreviação do termo “hipster”, muito usado por Kerouac em seus livros como uma denominação alternativa aos beats. Alguns dos beats originais permaneceram como participantes ativos. Allen Ginsberg, por exemplo, se tornou um dos grandes nomes do movimento antiguerra e fez amizades com muitos astros do rock. Já Kerouac, outro grande nome da geração, rompeu com Ginsberg e criticou os movimentos de protesto nos anos 60 como “novas desculpas para o rancor”.

De muitas maneiras, os beats foram a primeira geração contracultural que veio a influenciar, de uma forma direta ou indireta, todas as tribos urbanas que surgiram nas décadas seguintes. A primeira delas foram os hippies, descendentes diretos dos beatniks, nos anos 60. Durante o conformismo da era pós-Segunda Guerra Mundial, eles foram uma das forças engajadas a questionar valores tradicionais que produziram uma quebra com a cultura predominante.

Não há dúvidas de que os beats produziram grandes idéias revolucionárias em relação a um novo estilo de vida (principalmente em relação ao sexo e as drogas). Os beats exerceram também um grande efeito intelectual ao encorajar o questionamento da autoridade (a força por trás do movimento antiguerra, principal bandeira dos hippies) e até mesmo a consciência ecológica. Muitos deles foram ativos em popularizar o interesse pelo zen budismo no ocidente.

De qualquer forma, não há como negar que os ecos da beat generation transpassaram a todas as formas de contracultura alternativa já existentes desde então (ex: hippies, punks, etc), sem contar a revolução criada por estes escritores. Se não existissem os beats, provavelmente, a história do mundo seria completamente diferente.

quinta-feira, 12 de março de 2009

A leitura social como reflexão de uma área

Pouquíssimos estudos científicos conseguem retratar uma trajetória de vida. Normalmente, o pesquisador se apega ao objeto de crítica ou em sua própria linha de análise, sem, no entanto, se revelar ao leitor. Liráucio Girardi Jr., ao contrário da maioria, revela sua posição como professor da disciplina de sociologia na Cásper Líbero no livro Pierre Bordieu: Questões de Sociologia e Comunicação, de 2007, lançado pela editora Annablume com incentivo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). "(...) este livro é - porque não dizer - um esforço de objetivação da minha própria posição no campo acadêmico, isto é, um possível (e precário) "acerto de contas" com a minha formação sociológica e com a minha própria posição no campo da Comunicação" confessa o autor, logo no começo das páginas do estudo.

Mas como contar sobre si mesmo sem fugir de uma pesquisa coesa? Talvez se o objeto for parte de sua visão de mundo, do seu viés particular que, sendo ou não sociologia, constitui sua principal motivação profissional? Por esse motivo os assuntos do estudo referem-se todos ao sociólogo Pierre Bordieu, um dos teóricos mais lidos em obras sobre o subdesenvolvimento (sociologia da Argélia), as relações de jogo ou illusio sociológico e o grande sistema que agrega todo um interacionismo simbólico entre as pessoas (os agentes), chamado "Economia das Trocas Simbólicas".

O livro apresenta e reapresenta Pierre Bordieu do começo ao fim, sendo sua linha condutora de raciocínio. Os temas são apresentados começando pela comunicação no mundo moderno e o conceito de "indústria cultural" para encerrar seu texto em possíveis razões para a produção de significados neste mundo, resolvendo parcialmente um problema inicial do trabalho, que é a sociedade atual. Bordieu foi também tema de outras pesquisas em diversos aspectos da sociologia e das comunicações nos trabalhos de Liráucio. No entanto, esse livro não se resume aos preceitos do intelectual francês, passando pelo questionamento da comunicação de Gabriel Cohn, o teórico apocalíptico "que deve ser revisado" Theodor Adorno e até os estudos culturais ingleses de Raymond Willians, que inserem a antropologia como fonte de saberes na pesquisa de cultura e comunicação.

"Como lidar, então, com o momento da invenção, com aquilo que é fluído e não se deixa registrar senão na própria situação, na própria interação?" indaga o autor sobre o campo inconstante que é a natureza do habitus, o principal fator que condiciona os agentes na interação da sociologia simbólica de Bordieu. De certa forma, esse princípio reflete o funcionamento da própria comunicação: registrada historicamente, mas fruto de um trabalho estéril do momento, das necessidades do tempo. Para entender, tanto a controvérsia de se fazer comunicacar quanto receber mensagens, como audiência massificada ou não, Liráucio, baseado em seus referenciais, supõe que o ser é sociológico e segue regras de um jogo de imagens e significados. A sociologia é "reposicionada" como crítica de uma área específica do conhecimento, dando um sentido para suas ações e reações.

A leitura do livro não é tão simples, necessitando de um repertório breve do leitor (é mais fácil no caso de ex-alunos de Liráucio). No entanto, sua mensagem é universal a todos os comunicadores e pessoas interessadas nesse processo tão controverso. "Entender as condições sociais necessárias para a produção do sentido (o senso prático da vida social), para a construção de trocas simbólicas objetivadas é o que se coloca como desafio ao sociólogo na produção de uma Economia de Trocas Simbólicas".

É, certamente, o sucessor do livro Sociologia da Comunicação: Teoria e Ideologia do sociólogo Gabriel Cohn (de 1973), definido por Liráucio como o livro que "procura mapear o desenvolvimento dos conceitos, historicamente elaborados, para pensar o significado da comunicação no mundo social de um modo esclarecedor e desmistificador". Com a teoria de Bordieu no suporte, os conhecimentos interdisciplinares nas formações de significados são a fonte que o teórico Liraúcio Girardi Jr. usa nesse trabalho, não no intuito de tornar a comunicação um processo reduzido, mas amplo e dinâmico na medida em que suas estruturas são desconstruídas.

Resenha dedicada aos alunos que frequentaram as aulas e as discussões na disciplina Sociologia da Comunicação, no 1º ano da Faculdade Cásper Líbero, e que puderam testemunhar parte do trabalho do professor Lira.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Small talk

Chega o novo iPod Shuffle - o menor mp3 do mundo e... Ah! Ele fala.


A Apple não se cansa de surpreender. Depois do boom iPod e do boom iPhone, a inovação continua sendo o lema da empresa. A surpresa da vez é a atualização do iPod Shuffle, que agora é o menor tocador de mp3 do mundo, e o primeiro que fala.

O recurso chama-se VoiceOver e emite sons em 14 línguas diferentes. A utilização do VO foi uma saída mais do que inteligente: o grande diferencial desse iPod é ser mais barato, carregando a qualidade Apple. Logo, para baratear o produto, ele não possui tela e é minúsculo. Para se ter uma idéia, o novo é menor do que uma pilha AA e seu antecessor era um pouco maior do que uma moeda de R$1. O único problema era que, por não ter tela, o usuário não tinha como saber o nome/autor/CD que estava tocando, caso ele não reconhecesse. Problema resolvido com o pressionar de um botão - literalmente.

O que já foi e o que há - veja a evolução.


O primeiro Shuffle foi lançado em 11 de janeiro de 2005, tinha o tamanho de um lápis, somente disponível na cor branca, 2 opções de tamanho: 512MB ou 1GB e custava, respectivamente, algo como U$70 e U$105.

O segundo foi lançado em 12 de setembro de 2006 (1GB) e em 26 de fevereiro de 2008 (2GB), com o tamanho um pouco maior do que uma moeda de $1 e tinha, pelo menos, 5 opções de cor (variando entre verde, azul, branco, preto, vermelho, roxo, laranja, rosa e prata). Custava aproximadamente U$55.

O novo, lançado hoje, é menor do que uma pilha AA, tem 4GB (capacidade para até 1000 músicas), fala, está disponível nas cores prata e preto, e custa U$79. Outra mudança é que o controle do volume está no cabo do fone de ouvido.

Dá-lhe Apple.

Fontes: http://www.apple.com/ipodshuffle/features.html
e http://en.wikipedia.org/wiki/IPod_Shuffle

terça-feira, 10 de março de 2009

Os 300 das Folhas, Professores e "Ditabrandas", ou duras

Às 10hs do dia 7 deste mês, na Rua Barão de Limeira, sede da Folha de S.Paulo, um protesto articulado pela ONG Movimento Sem Mídia, organizada pelo bloggeiro Eduardo Guimarães, junto a entidades estudantis e partidos ligados a CUT protestou contra o editorial do jornal Limites a Chávez. O texto, que utilizou a polêmica palavra "Ditabranda" para qualificar a repressão brasileira entre 1964 e 1985, também rendeu um bate-boca entre a direção da Folha e os professores universitários Fábio Konder Comparato e Maria Benevides.

O manifesto contou com cerca de 300 pessoas presentes que expressaram mensagens de repúdio ao jornal e de cunho político de esquerda, embora entre os manifestantes não tenham sido encontrados os professores da USP (dados do Portal Imprensa). Para informar melhor, esta notícia traz alguns vídeos da manifestação, inclusive discursos do Padre Júlio Lancelotti:







Otávio Frias Filho, atual diretor da Folha, admitiu, dois dias após o incidente na sede, o deslize do jornal. "O uso da expressão 'ditabranda' em editorial de 17/02 passado foi um erro. O termo tem uma conotação leviana que não se presta à gravidade do assunto. Todas as ditaduras são igualmente abomináveis”. No entanto, Frias manteve a posição da nota publicada nas cartas aos leitores, atacando os professores Comparato e Benevides.

Eduardo Guimarães, embora o movimento tenha sido de baixa expressividade, mostrou o poderio dos blogs na internet pelo protesto. É possível conferir, abaixo, uma entrevista que ele forneceu a cineasta Andréia Vieira durante a manifestação do dia 7:

segunda-feira, 9 de março de 2009

O mais novo injustiçado do Oscar: Frost/Nixon

Dentre os muitos traumas da história americana, o maior deles responde com certeza pelo nome de Richard M. Nixon. O presidente responde pelo caso mais vergonhoso da verdadeira instituição que é o seu cargo nos EUA, sua renúncia em 1974 em decorrência das investigações que se seguiram ao caso Watergate. E talvez este trauma seja uma das poucas explicações plausíveis de como Frost/Nixon saiu de mãos vazias do Oscar 2009. O filme de Ron Howard – adaptação da peça montada por Peter Morgan – é o mais novo e um dos mais representativos exemplares dos thriller que tratam da comunicação, equiparando-se a obras como Rede de Intrigas de Sidney Lumet. E mais, é superior a pelo menos 3 dos filmes que concorriam ao Oscar de melhor filme (não posso comentar Milk por ainda não ter visto).

O filme conta em forma semi-documental todo o processo que envolveu a entrevista que o então ex-presidente Nixon concedeu ao apresentador britânico David Frost em 1977. A entrevista acabou se tornando o evento jornalistico de maior audiência na história da TV americana, com números imbatíveis até hoje. O acontecimento foi um marco na vida de ambos os personagens. David Frost não era um jornalista respeitado ou algo do tipo, e sim um apresentador de shows de entretenimento na Inglaterra e Austrália. Enquanto Richard Nixon vivia inquieto com sua aposentadoria forçada, algo impensável para um homem que acreditava que “o que dá sentido à vida é um objetivo”. Em uma comparação leiga, é como se nos dias de hoje, Fernando Collor concedesse uma entrevista única para Fausto Silva. Um lutava por uma credibilidade inédita em uma terra estrangeira e hostil, enquanto outro via sua última oportunidade de limpar seu nome na história.

Dentre os vários êxitos da produção - entre eles o roteiro muito bem amarrado, a trilha sonora feita sob medida e a reconstrução perfeita de cenários da época – está a direção de Ron Howard. O diretor americano traz aqui seu melhor trabalho da sua bem-sucedida mas inconstante carreira. Sabendo da força de seu tema, o diretor adota uma postura firme, sem nenhum tipo de sentimentalismo que poderia colocar tudo a perder. Além do já comentado semi-documentário, Howard usa muito bem outro artifícios clássicos em filmes do gênero como close-ups, alternância de câmeras e imagens fortes – destaque para o aperto de mão que Nixon dá no personagem de Sam Rockwell, que negara tal fato poucos segundos antes - além de recriar muito bem imagens reais, como a despedida de Nixon da casa branca

No entanto a grande força de Frost/Nixon está em seu elenco extremamente eficiente. Liderado por Michael Sheen e Frank Langella, os produtores conseguiram reunir um ótimo time de coadjuvantes como Kevin Bacon, Oliver Platt, Sam Rockwell e Rebecca Hall, que surgem como os assessores de Nixon e Frost. E seus papeis não poderiam ser mais emblemáticos, já que no fim das contas, seus personagens surgem como esferas girando ao redor da orbita de Sheen e Langella, as forças motoras do filme. Nenhum dos dois são extremamente parecidos com as pessoas reais, no entanto, tudo que aqueles homens eram em seu interior está representado com perfeição na tela. Sheen transmite todo o charme, entusiasmo e magnetismo do verdadeiro David Frost. No entanto, no momento certo, tudo dá lugar à insegurança diante daquele momento único. Em nenhum momento o Frost de Sheen se torna algo maior do que o verdadeiro foi. Já Frank Langella merece um parágrafo à parte.

Quando me referi à comparação entre Nixon e Collor como leiga, o principal motivo dela é que Fernando Collor nunca foi um homem comparável à Richard Nixon. Enquanto o primeiro chegou à presidência da República como um para-quedista, o segundo travou uma batalha de anos até chegar lá. Amargou várias derrotas, e em dado momento virou piada nacional, após a derrota para Kennedy. Chegando lá, enfrentou uma guerra que já se encontrava muito mal encaminhada, uma revolução social eclodindo em seu país e uma guerra fria crescente. Não cabe neste texto julgar os anos Nixon, mas no fim é evidente que aquele era um homem de alto nível intelectual, com uma postura no mínimo complexa. Desde o momento que vemos pela primeira vez a imagem de Frank Langella no filme, subindo no avião e se despedindo da mesma forma que Nixon fez, percebemos que aquela não é uma interpretação comum.

Embora os traços físicos de Nixon não estejam ali, seu espirito está assustadoramente presente. Sua presença poderosa, a voz imponente e a capacidade de crescer em cima de outro oponente. Assim como Sam Rockwell diz em dado momento do filme, Langella “cresce 6 polegadas quando precisa, esmagando quem está a sua frente”. Mas dentre os vários momentos emblemáticos de sua interpretação, um merece ser ressaltado. Uma única expressão, captada em close por Ron Howard, que revela todo o furação de sentimentos no interior daquele homem, que não se deixava ser filmado em momento de fraqueza, na hora em que vê sua batalha como perdida. Um único olhar. Olhar que além de definir o vencedor daquele embate histórico, pode ter sido também o responsável pelo trauma da america à Nixon. Talvez Frank Lagella construiu alguém maior que o próprio homem, mas isso poucos podem dizer. O fato é que o ator que poucos lembravam deu o seu canto do cisne em Frost/Nixon e se tornou o mais novo injustiçado do Oscar.

domingo, 8 de março de 2009

Igualdade, mas nem tanto

24 de fevereiro de 1932. Foi esse o dia em que as mulheres brasileiras adquiriram o direito ao voto, com um decreto presidencial de Getúlio Vargas. Na Constituinte de 1891, o sufrágio feminino foi negado, com o argumento de que seria "um estímulo ao fim das famílias".

Hoje, no Dia da Mulher, em pleno século XXI, ainda estamos debatendo questões de igualdade entre os sexos. As brasileiras, apesar de terem conquistado prestígio na área de trabalho, e ascendido socialmente, ainda sofrem muitos preconceitos. Apenas 30% dos lares possui uma mulher como principal provedora, o que é quase nada quando se leva em consideração a fatia do mercado nacional sob poder feminino.

A Nova Zelândia, em 1893, já garantia o direito de voto a suas cidadãs, e em 1907, uma mulher foi eleita para o Parlamento, na Finlândia. Ainda assim, o Brasil, como tantos outros países, não abre espaço para a participação feminina efetiva na política. Apesar do direito ao voto, as mulheres têm conseguido pouco lugar no governo do país, ainda que a lei nº 9.504/97 reserve 30% das vagas para o sexo feminino, o que não é cumprido pelos partidos.

Infelizmente, os critétios de escolha para que uma mulher alcance cargos públicos não tem muito a ver com mérito, mas sim com a lógica hereditária do partido. As mulheres conseguem cargos na base, mas nunca alcançam os mesmos direitos de ascensão de um colega masculino.

No Vaticano, apenas os homens têm direito ao voto na Conclave, reunião que define quem será o próximo Papa, posição também ocupada pelo sexo masculino. A Igreja Católica ainda intervém em assuntos como o aborto (a exemplo do arcebispo de Olinda), apesar de a sociedade atual considerar esse um assunto restrito ao poder que a mulher tem sobre seu próprio corpo. Mulheres também não podem celebrar missas, e possuem pouco ou quase nenhum poder de veto em decisões tomadas pela Igreja a qual servem. A sharia, lei islâmica, continua em vigor em diversos países, permitindo que mulheres sejam apedrejadas, recusando-lhes direito à educação e obrigando-as a viver totalmente sob as ordens dos líderes masculinos, pais, maridos e irmãos.

O sufrágio feminino americano - tema do filme Iron Jawed Angels, de Katja von Garnier (indispensável à qualquer feminista) - foi conquistado em 1920 após muita luta, polêmica, protestos e até prisões e maus tratos por parte da polícia. No filme, a atriz Hilary Swank, que interpreta Alice Paul, líder do Partido Feminino Nacional, diz que é injusto que mulheres tenham que sofrer numa luta que nem ao menos deveria ser uma luta. Afinal, onde está a igualdade?

Enfim, apenas um dia ao ano para fazer evoluir todas essas questões é pouco. Todo dia deveria ser o Dia da Mulher.

O prazer de um simples conto

O mundo dos quadrinhos se tornou muito paradoxal ultimamente, principalmente no Brasil. Existe um esforço tão grande das editoras para tentar conquistar um público mais adulto, que às vezes simplesmente esquecemos daquelas histórias simples, divertidas, despretensiosas. No entanto, elas nos proporcionam um ótimo passatempo. Um exemplo é O Curioso Caso de Benjamin Button, que chegou as livrarias no último mês. Aproveitando o impulso proporcionado pela superprodução estrelada por Brad Pitt, a Ediouro lançou a adaptação que Nunzio DeFillips e Cristina Weir (com arte de Kevin Cornell) realizaram do conto de F.Scott Fitzgerald no fim do ano passado nos EUA.

A HQ conta com o texto original de Fitzgerald, apenas com algumas pequenas adaptações, proporcionando um número maior de diálogos. Mesmo assim a origem acaba sendo a minoria, priorizando até a narração em off feita pelo autor. Desta forma, a HQ acaba se tornando a única chance que os brasileiros tem de adquirir o conto original, já que este nunca foi lançado oficialmente no Brasil. E vale a pena ser lido, já que tem muito pouco haver com o filme de David Fincher.

Os desenhos de Cornell são feitos em aquarela, com cores pasteis que acabam proporcionando ao leitor uma experiência leve. É possível passar por suas 128 páginas em menos de 1 hora, sem perder nenhum ponto importante e desfrutando de cada quadro. No fim, temos um posfácio que explica toda a jornada pela qual Fitzgerald passou até ter seu conto publicado. Ele dizia que seu conto era “o mais engraçado já escrito”. De fato, risadas não faltam, principalmente na primeira metade da obra, em que vemos a relação entre o bebê-ancião Benjamin e seu pai, que se esforçava para que ele agisse como uma criança. De fato, até ficamos sem entender muito bem por que o roteiro do filme alterou tanto o conto original, com o pai de Benjamin abandonando a própria criança. Enfim, um ótimo passatempo, sem um preço muito salgado (R$ 29,90), em uma edição muito bem cuidada pela Ediouro, que serve até para arejarmos nossa cabeça depois da overdose de Watchmen e Batman nos últimos tempos.

sábado, 7 de março de 2009

Poucos admitirão, mas Watchmen - O Filme é único

Muitas vezes desconfio da capacidade de alguns críticos brasileiros. Em alguns casos eles mostram um sério déficit de atenção ou, pior, um preconceito tão enraizado em sua concepção do que é cinema que simplesmente não suportam o novo, refutando-o na primeira chance. Um grande exemplo disso pôde ser visto nesta sexta-feira, com a estréia de Watchmen - O Filme. Tanto a Folha de S.Paulo quanto o Estadão preferiram simplesmente ignorar a estréia, dando uma simples nota de rodapé sobre o filme ou renegando-o aos blogs de seus colunistas. No entanto, parafraseando Anton Ego, da animação Rattattouile, a crítica depreciativa é muito mais divertida de se ler e escrever. O problema é que acabamos nos fechando para o novo neste processo, e é justamente o novo a razão de nossa profissão existir. E Watchmen sintetiza isto em perfeição: a produção de Zack Snyder causa justamente o mesmo efeito que a HQ original de Alan Moore. Quebra padrões, mantém seu significado e faz com que os espectadores saiam da sala de cinema com sua cabeça se perguntando constantemente: “O que foi aquilo que eu acabei de ver?”

Durante anos a adaptação da obra-prima de Alan Moore falhou. Em um depoimento dado no ano passado, Terry Gilliam, diretor que perseguiu o projeto por mais de dez anos, disse que havia desistido por ter descoberto que a obra era "infilmável". Seria necessário um filme de mais de 5 horas para que todo o conteúdo presente em Watchmen fosse traduzido com perfeição, e que a obra original não fosse “profanada”. No entanto, Zack Snyder nunca concordou com Gilliam. Grande fã de Alan Moore, o diretor se juntou ao roteirista David Hayter (X-Men 2 e voz de Solid Snake em Metal Gear Solid), que vinha escrevendo o texto da adaptação desde que ela passara pelas mãos de Gilliam, e iniciou o projeto. Não foram poucos que desconfiaram de tudo. De David Hayter, das liberdades que a Warner supostamente (não) daria e, principalmente, do próprio Zack Snyder. O principal medo era que Watchmen repetisse 300, um espetáculo visual, porém sem nenhum significado. O que vale dizer agora é que subestimamos Snyder.

Tudo que esperamos do jovem diretor está presente. O visual impecável, a alternância entre câmera lenta e rápida, ângulos fortes e uma trilha sonora épica. Porém, todos os excessos apresentados em 300 foram podados, e tudo foi usado na medida certa, sem cansar ou tornar-se repetitivo. O filme é sensivelmente mais violento que a HQ, e lutas que demorariam apenas dois quadros nas mãos de David Gibbons se transformam em empolgantes cenas de 5 ou mais minutos. Desde a sequência de abertura, o assassinato do Comediante, até a luta da Espectral e do Coruja contra um bando de arruaceiros. Tudo feito na medida certa para empolgar o público que não estava preparado para Watchmen, e costurado com uma trilha sonora escolhida a dedo por Snyder, em um lapso de genialidade (os créditos iniciais ao som de Bob Dylan são um clássico instantâneo). Mas, acredite, são muitos que não estão preparado para Watchmen.

“Que filme ruim. Mas talvez melhore, talvez todos eles se juntem no final e lutem contra o bandido.” Esta frase, proferida por um par de moças sentadas atrás de mim no cinema sintetiza a reação que a maioria das pessoas devem ter ao assistir Watchmen. E se tal reação fosse outra, fosse a reação natural que esperaríamos de um público acostumado aos filmes de super-heróis, estaríamos vendo uma péssima adaptação da obra de Moore. O fato é que todos aqueles personagens presentes na tela incomodam, e muito. Talvez com exceção da confusa Espectral (que sofra nas mãos da maravilhosa, porém sem muito talento, Malin Akerman). Todo o resto do elenco, formado por nomes desconhecidos, está inspirado na construção de seus personagens. É difícil apontar algum destaque, mas talvez ele fique com Jackie Earle Halley e seu neurótico Rorschach. Com uma empostação de voz perfeita, uma raiva contida e uma sociopatia extremamente compreensível, seu personagem traz a melhor cena do filme, em um final catártico. No entanto Billy Crudup faz um Dr. Manhatan impecável, em um papel que pode até soar fácil, mas que é sim o mais traiçoeiro da trama. Afinal, como interpretar um Deus? Matthew Goode faz uma construção extremamente interessante de Adrian Veidt. Com um leve toque Glam, um oculto sotaque alemão e um ar arrogante controlado e nada caricato, convence perfeitamente como o homem mais inteligente do planeta. Patrick Wilson, comprovadamente um grande ator, é a própria encarnação do Coruja, seja na aparência ou em sua nostalgia ressentida, de alguém que se tornou apenas uma lembrança daquilo que já foi. E o que dizer de Jeffrey Dean Morgan? O que dizer do Comediante? Uma palavra: perfeito.

Todavia, dizer que Watchmen é perfeito seria um exagero. O filme tem um ou outro problema técnico, como alguns cortes muito rápidos, e sofre com a interpretação da já citada Malin Akerman. Algumas cenas, que foram abordadas longamente na HQ poderiam ter sido melhor aproveitadas, como as conversas de Rorschach com seu psiquiatra na prisão, ou até mesmo uma explicação melhor do trabalho realizado em conjunto pelo Dr. Manhatan e Adrian Veidt. Mas não cabe culpar David Hayter por isso, já que tais concessões tiveram que ser feitas em prol de um ganho maior: a liberdade.

Se houve um grande defeito em V de Vingança, melhor adaptação de uma HQ de Alan Moore até Watchmen, foi a pisada no freio que o roteiro dá no final, alterando totalmente a natureza anárquica do personagem, transformando-o em um mártir pela democracia. Em Watchmen, isso não acontece. Não importa o quão controversas sejam as idéias de Alan Moore por trás de sua obra, e seria necessário um texto exclusivo apenas para discutí-las, mas elas no filme se mantém. Não porque representam a idéia de Snyder ou Hayter, mas porque são a base daquilo que Watchmen é. O final não foi alterado, como muitos disseram, mas sim ressaltado. Se antes ele era induzido, agora ele é explicito. E tal final pode ter sido o responsável por tantos críticos brasileiros terem abominado o filme. Alguns, que chego a questionar se realmente viram a obra, chegaram a dizer que não há nada para se pensar em sua conclusão. Besteira.

Assim como a HQ, o filme deve ser visto mais de uma vez, e assim sendo, pode ser que brevemente esta crítica se torne obsoleta para mim mesmo. Pode ser que minha opinião se altere, positiva ou negativamente. Se Zack Snyder realmente foi alçado a categoria de gênio por ter adaptado uma das mais fantásticas obras do século XX com sucesso, só o tempo vai dizer. Mas com certeza prova que não é um cineasta comum. E correndo o risco de me repetir e de arriscar, pode ser que poucos reconheçam, pode ser que só seja reconhecido daqui a alguns ou muitos anos, mas Watchmen - O Filme, é um divisor de águas no cinema. Um filme como poucos, que dificilmente sairá da memória de quem o vir. Só o que resta é parabenizar a Warner Bros pela coragem de levar um projeto de mais de vinte anos ao seu fim. Fim este que não poderia ter sido melhor.

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