quarta-feira, 29 de abril de 2009

Na moda: Trompe o quê?

Por Bruna Caricati

O sucesso nas passarelas das semanas de moda foi o *“trompe-l’oeil” (engana os olhos). O termo, originário de uma expressão em francês, assusta, mas seu efeito visual diverte!

Este ano, várias marcas, como Fause Haten, Ronaldo Fraga e Maria Bonita, absorveram a prática do trompe-l’oeil e transferiram a arte para suas coleções, porém, o que se confirmou tendência já podia ser visto em t-shirts espalhadas pelo mundo. Basicamente, o efeito consiste em causar uma ilusão de óptica ao mostrar, nas peças, objetos ou formas que na verdade não existem. A técnica, já antiga, é utilizada na arquitetura e na pintura, para, principalmente, dar impressão de profundidade. Camisetas com desenhos imitando gravatas, bolsos, cintos, botões ou colares são alguns dos exemplos. Essas imagens, quando bem-feitas, têm a plena capacidade de driblar nossa percepção, fazendo com que realmente pareça que há um adorno sobreposto. Mas, na moda, a intenção é, principalmente, surpreender e fazer graça, sem compromisso com a técnica. Tais detalhes dispensam os acessórios. Além de ser divertida, é uma alternativa prática para quem quer um look “pronto”, pois, geralmente, não é necessário acrescentar nenhum ornamento a mais à produção.

Essa técnica foi implantada nas indumentárias pela estilista italiana Elsa Schiaparelli, na década de 1930. Influenciada pelo modernismo, movimento artístico de sua época, Schiaparelli misturava em suas criações características dadaístas e surrealistas, tendo como referência o artista plástico Salvador Dali. De uma mente revolucionária surgiu a obra do trompe-l’oeil nas vestimentas, o que adicionou criatividade e irreverência ao mundo da moda, que se tornava cada vez mais sólido e livre. Já nas pinturas, a arte de enganar a visão foi bastante aplicada em domos de igrejas e em murais, o que conferia maior amplitude visual ao ambiente. Não há dúvidas de que a ilusão de óptica tornou-se um instrumento intrigante e muito bem explorado no campo das artes. Aposte!

* Pronúncia: trrromp loeii
Matéria originalmente publicada na revista Profashional

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Um time pequeno contra um fenômeno.

Ronaldo não jogou absurdamente ontem. Não fez arrancadas maravilhosas, não abriu para receber a bola sempre que pode. Tentou vários dribles e não conseguiu realizar pelo menos metade deles. Se algum leigo em futebol, que passou os últimos 15 anos em Marte – ou nos Estados Unidos – visse aquele jogador razoavelmente rechonchudo em campo, diria que ele era um fardo para o time. No entanto, sempre existe um porém quando o assunto é Ronaldo.

Costuma-se dizer no futebol que devemos pensar duas ou três vezes antes de tirar um goleador de campo. Por mais que não esteja jogando bem, ele sempre pode decidir. Ronaldo potencializa esta frase. Não estava jogando mal, nem bem, mas o destino quis que uma bola perdida caísse em seus pés, e, de lá, ele, Ronaldo, quis que ela passasse milimetricamente entre Fábio Costa e o chão, indo parar no fundo da rede. Esse foi o segundo gol do Corinthians contra o Santos. O primeiro havia sido marcado pela barreira que desviou a cobrança de falta de Chicão.

Dizem os jornalistas esportivos que o Santos chegou heroicamente na final do paulista. Dizem que o Santos deu vexame na Copa do Brasil, obviamente o torneio mais importante, diante do desconhecido CSA de Alagoas. Ambas as afirmações eram verdadeiras. No entanto, eram dois Santos distintos. A dúvida era: qual irá enfrentar o Corinthians? O "Santos do paulista" – sim, com letra minúscula – ou o "Santos da Copa do Brasil"?

O Santos do paulista jogou bem, muito bem até. Dominou o Corinthians, marcou bem, atacou sempre que pôde e exigiu muito do bom Felipe. Mesmo após o gol de Chicão – ou da barreira - o time do paulista até que tentou chegar lá. Mas aí entrou em campo o time da Copa do Brasil. Era o atacante da Copa do Brasil: o pobre Kleber Pereira, que esqueceu como se finaliza, como se corta um zagueiro, como se tira um goleiro da jogada. Foi aí que Ronaldo, o atacante do outro time, o ensinou, na história previamente contada. O Santos do paulista então resolveu seguir seu atacante e se tornou de uma vez por todas o Santos da Copa do Brasil. O time pequeno que se acovarda diante do adversário. O time que mesmo diminuindo a vantagem não agride, não cria, se acovarda e se apequena.

Mas então o outro camisa 9 mostrou como se agigantar. Faltava algo ainda nesta sua volta, algo que pudesse coroar de uma vez por todas seu renascimento. Algo que realmente valesse a pena, e não comerciais de cerveja. Faltava uma final, nem que fosse no paulista. Pois Ronaldo resolveu fazer isso sobre um time que se tornou pequeno. O destino novamente quis que a bola caísse em seus pés, uma bola novamente perdida em campo. Mas foi Ronaldo que quis fazer um corte seco no pobre zagueiro santista. E foi o Fenômeno, e não mais Ronaldo, que quis que a bola cobrisse Fábio Costa e caísse dentro do gol. E assim o Fenômeno teve sua volta coroada. Coroada pela única pessoa que pode coroar alguém no futebol. “Ele fez um gol de Pelé” afirmou... Pelé.

domingo, 26 de abril de 2009

Boca Livre entrevista: Ronald Rios

Quer, finalmente, conferir o podCast do Bola?
Clique
na figura acima
ou veja abaixo (em três partes)




Criado em janeiro deste ano, o Bola da Foca podCast esteve inativo e sem atualizações por problemas no computador deste editor. Após algumas entrevistas, estou me organizando para colocar, ao menos, três materiais diferentes. Agora, no finalzinho de abril, conseguimos colocar uma entrevista, chamada Boca Livre, com o humorista carioca Ronald Rios, autor de vídeos de sucesso no Youtube. É um bom começo.


Para quem não conhece o trabalho de Ronald, vai um vídeo abaixo para todos.



Caso você queira contribuir com material em audio, ou queira nos criticar além dos comentários, mande um e-mail para boladafoca@gmail.com. Estamos totalmente abertos a participações.

Da ditadura aos abusos da grande imprensa na era da internet

Imagens de reprodução (ver Google Imagens)
Laurindo "Lalo", Ivan Seixas, Venício Lima e Luís Nassif

Reunidos na sala Rio de Janeiro do Hotel Macksoud Plaza, dia 24, de abril na Alameda Campinas, transversal da Avenida Paulista, comunicadores realizaram a discussão “A Mídia em Debate”, com temas polêmicos que rondaram a imprensa nos últimos dias. Com a organização feita pela Agência Carta Maior, a palestra reuniu jornalistas que foram da esquerda armada, como Antonio Roberto Espinoza e Ivan Seixas, o blogueiro Luís Nassif e até mesmo o acadêmico de comunicação Venício Lima.

Por Pedro Zambarda

Mediados pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) e do programa de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, Laurindo “Lalo” Leal Filho, especialista na emissora BBC, o debate teve transmissão simultânea para a internet, na TV Carta Maior. Por esse motivo, o mediador limitou as falas em alguns minutos para cada participante, permitindo intervenções da platéia e pela web.

Docente da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais (FESP), Antonio Espinoza contou sobre a experiência de ter sido entrevistado pela Folha de S.Paulo, por telefone, no dia 5 de abril deste mês. Nela, o jornalista contou sobre sua participação na organização armada VAR-Palmares e o plano de seqüestrar o ministro Delfim Netto, no final dos anos 1960, tendo suas declarações distorcidas na matéria final. “Não deixarei de ceder entrevistas aos órgãos de imprensa, pois sou um homem transparente. Mas já cancelei minha assinatura do jornal” afirmou o jornalista. A manipulação do texto de Fernanda Odilla relacionou a ministra Dilma Rousseff como uma das principais pessoas envolvidas no caso, mostrando uma foto de um suposto documento de prisão dela. “A ficha utilizada e divulgada pela Folha é de uma rede de direita na internet” completou. Órgãos como o Observatório da Imprensa apontaram esse indício com mais detalhes, embora outras buscas na web não o comprovem.

Ivan Seixas, jornalista, entrou na discussão de Espinoza trazendo sua experiência traumática de tortura na época da ditadura militar brasileira. “Eles te extorquem tudo, todos os bens. Minha mãe também foi levada presa e sua tortura era escutar a mim e meu pai” ressaltou, falando dos eventos que ocorreram com ele 1971, quando foi preso por participar do MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes. “Vi a foto de meu pai (o metalúrgico Joaquim Seixas) morto “em confronto” na capa da Folha da Tarde, no mesmo dia em que ele foi assassinado pelos torturadores. Aquilo era a senha, pois eles tinham acesso à imprensa. Achei que fosse morrer também, porque a ordem na época era 50% dos presos serem mortos” revelou, fazendo referências ao AI-5 e também a atuação controversa de jornais como a própria Folha de S.Paulo.

Lalo encerrou a parte dos depoimentos especiais, que colocaram a mídia realmente em cheque, para trazer a opinião dos debatedores críticos. Damian Loreti, professor da Universidade de Buenos Aires, trouxe a discussão de um novo pré-projeto de lei que prevê um espaço obrigatório de críticas em todos os veículos de comunicação argentinos. “De quem é a liberdade de expressão?” perguntou o acadêmico, em castelhano para toda a platéia, dizendo também que seria benéfico se toda a América Latina tivesse na legislação projetos semelhantes.

Venício Lima, autor do livro Mídia: Crise política e poder no Brasil e pesquisador pela Universidade de Brasília (UnB), abriu sua fala ressaltando o crescimento da crítica dentro da própria mídia. “Estamos agora na agenda pública de discussões, sendo que esta reunião é a prova disso” argumentou o acadêmico, afirmando também que o espaço da faculdade é um espaço permanente de debate, ao passo que as ONGs fazem um ativismo alternativo. No entanto, o foco principal desse questionamento dos meios de comunicação, para o teórico, é a internet. “Os formadores de opinião já não existem mais nela” afirmou.

O questionamento de mídia do pesquisador ligou os comentários anteriores até a fala do último debatedor. Famoso em blogs por premiações conquistadas como, por exemplo, o iBest de política em 2008, Luís Nassif aborda economia e política em sua página na internet. “Estou em guerrilha com a Veja” afirmou o blogueiro, sobre os processos que encaminhou na justiça por calúnia e a difamação sofridas ano passado pela revista de maior circulação no país. O caso se deu pelas criticas em relação à vários posicionamentos políticos da revista semanal ao longo de sua história. Colunistas como Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo utilizaram seus espaços de texto e uma rede leitores fiéis para lançar ataques ao jornalista, degradando a discussão.

Nassif acredita que “em inúmeros casos, a velha mídia perdeu a mão, como a reeleição de Lula, em 2006. São como duas pessoas tramando atrás das cortinas de um palco. O pano caiu. Esse modelo acabou”. Por esse viés de reflexão, é possível, em casos como a “ditabranda” da Folha – e muitos outros – haver finalmente um pensamento mais conciso sobre a imprensa e que possa também aperfeiçoar seus instrumentos? Até onde podemos passar os interesses corporativos e políticos na comunicação e realmente fornecer informações úteis, mesmo quando a profissão de jornalista é questionada?

A internet em geral fez elogios à transmissão simultânea da palestra, sendo a maioria das perguntas sobre detalhes dos casos de Dilma, da internet e sobre comunicação vindos da platéia física.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

As Digitais de Brasileiros

A revista Brasileiros acaba de lançar um novo projeto em seu endereço eletrônico: a série de perfis Digitais.

Há quinze dias, Helena Wolfenson perfilou o primeiro personagem da série: o ator Danilo Moreno. A lista ainda incluiu o multimaestro Georges Henry e a mais nova personagem, Renata Sbrighi, sanfoneira.

A premissa é interessante, mas não é inteiramente nova. Tanto a ideia quanto o layout parecem muito com a série One in Eight Million, do The New York Times. O jornal inglês vem fazendo essa série de perfis em áudio, de até três minutos, desde janeiro. A página pode ser acessada aqui.

Brasileiros é uma revista mensal de reportagens, fundada por Hélio Capos Mello em 2006.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cobertura do Multishow no Festival Just a Fest

Outro pequeno texto em atraso, há praticamente um mês: as pessoas com televisão a cabo tiveram a oportunidade de assistir ao Festival Just a Fest direto da Chácara do Jóquei, no dia 22 de março, pelo canal Multishow, com direito a uma reprise no dia 15 de abril. Ver pela transmissão reprisada, dias depois das apresentações, me fez repensar sobre algumas impressões que tive no show ao vivo. Vamos por partes:

Tramissão na Internet e na TV

Fundamental dizer que o Multishow optou também por disponibilizar o conteúdo desses vídeos em seu site (que logo caiu no youtube), com uma qualidade superior a da televisão. Mas o que isso significou? Bom, pela reprise da TV, além da falta de várias músicas (começo do show do Kraftwerk até The Model, e várias do Radiohead, inclusive Fake Plastic Trees e Creep), o som estava absurdamente baixo.

Sério, para quem esteve presente no local, isso faz toda a diferença. É claro que deveria haver uma edição do som do público, mas não deveriam sumir com ele, tirando toda a graça do espetáculo.

Los Hermanos



Pelo vídeo acima, Todo Carnaval Tem Seu Fim, notamos que a trupe do senhor Marcelo Camelo estava a toda. Não interessa se havia diferença da gravação do Multishow em comparação ao que aconteceu na real. No entanto, vejam o vídeo abaixo, da música A Flor, do mesmo show.



Bom, se o Camelo não estava desafinado, Rodrigo Amarante estava bem bêbado, talvez. Não tenho provas para afirmar isso com certeza, mas a voz estava diferente do show de despedida e do DVD do grupo. Talvez ele estivesse só bastante alegre. Estes comentários são apenas observações e espero que os fãs deles não fiquem bravos comigo, mesmo porque a apresentação foi muito boa, independente de qualquer comentário. Mas, realmente, é muito diferente ver um show agora, com esse distanciamento (apesar de saber que uma gravação deixa a desejar, em muitos aspectos), e lá, na hora, no meio da multidão em uníssono. Muitas vezes o público cobre as falhas do artista.

Kraftwerk



Sobre eles, não há muito o que comentar. Não consegui o vídeo da Multishow de Radioactivity e nem de nenhuma outra música, mas apenas material de fã no youtube. Apesar das falhas no telão de Man Machine, que nem foram filmadas pelo Multishow, os caras possuíam um equipamento de qualidade e disposição para mixar bem os sons. Igual, tanto ao vivo quanto na TV.

Radiohead



Eles não foram prejudicados pela gravação, nem de longe. A atmosfera está registrada acima, nesta gravação de Fake Plastic Trees (que não foi para a televisão, porém...). No entanto, os caras são mais pesados ao vivo, muitos comentários entre as músicas foram cortados (inclusive a correria dos roadies, trocando o equipamento de Thom toda hora). Mas, no saldo final, a apresentação ficou excelente.

Veja abaixo There There, que foi pra TV, e tire sua própria conclusão sobre isso tudo, de vez.



domingo, 19 de abril de 2009

Aos Reis do Entretenimento

Foto do site Limao

Tantos dias depois da apresentação do Kiss, no dia 7 deste mês, uma terça-feira, parecia impossível que eu pudesse escrever uma resenha. No entanto, ainda me sinto na obrigação de comentar como foi a experiência de estar entre as 35 mil pessoas na Arena Anhembi, São Paulo, testemunhando uma apresentação digna de uma banda com quase 40 anos de carreira nas costas. Por conta de muitos detalhes, e pelo tempo que se passou, não vou comentar o repertório inteiro, mas apontar detalhes que vão além das músicas executadas, dos fogos de artifício e da maquiagem do público.

Foto de divulgação na TV Rock

Por Pedro Zambarda

Começo pela banda de abertura escolhida: para a surpresa de muitos, e sem nenhum telão que os mostrasse de perto, Edu Ardanuy, Andria Busic e Ivan Busic, da banda Dr. Sin, estavam no palco. Sabemos que rock progressivo e hard rock com maquiagem não costumam combinar, mas eu pessoalmente vibrei com os caras na ativa, apresar do Andria exagerar no discurso pró-Kiss e pró-público, ficando chato na maioria das vezes. Então, com um repertório reunindo Fire e You Stole My Heart, além de algumas do novo CD Bravo, eu não tinha como ficar triste. Mesmo assim, o pessoal insistia que eles estavam sendo inconvenientes e atrapalhando o show do Kiss. Bom, ficou essa situação até tocarem Futebol, Mulher e Rock´N´Roll. Nem preciso falar que todos começaram a pular absurdamente na parte do "eta, eta, eta, brasileiro quer..." - até mesmo quem não curtia Dr. Sin.

Setlist do Kiss em São Paulo não foi diferente do Rio, exceto pelo acréscimo de Love Gun, que não foi tocada na Apoteose por conta da chuva. No mais, de Deuce até She, Paul Stanley, Gene Simmons, Tommy Thayer e Eric Singer mostraram um entrosamento que uniu com feeling a "nova" banda (Tommy e Eric) com a "velha guarda" (preciso dizer?). O público estava extasiado com todas as luzes e efeitos sincronizados, mas era também interessante ver o guitarrista solo que substituiu Ace Frehley. Ele criou pequenas improvisações e deu um toque pessoal nas músicas exibidas. Ao mesmo tempo, o novo "Peter Criss" conseguia fazer uma bateria sólida e rica em detalhes, cantando também em alto e bom tom. Para fãs, nada podia estar mais perfeito.

Foto do site Terra

Foi então, quando a banda parou, que as "pequenas improvisações" viraram grandes solos, marcados com música erudita até o blues. Para as pessoas que pensam que Kiss é apenas um bom golpe marketing, sem muito conteúdo, Tommy Thayer criou um intervalo instrumental que atraiu todos os presentes até, por fim, disparar rojões da ponta do braço da guitarra. Sabe o sentido literal de show? Era o que testemunhamos ali.

Watchin´You e 100.000 Years, infelizmente, mostraram um Gene Simmons não mais com a mesma potência vocal. É a idade. Muitas vezes, Paul Stanley e até Eric Singer (?) cobriam suas partes na música. Porém, "The Demon" continua cativante, seja lambendo o próprio contrabaixo ou provocando o público enquanto pode.

Foto ao lado direito do site Terra

Black Diamond teve uma brincadeira de Paul Stanley. "Acidentalmente" tocando acordes dedilhados de Stairway to Heaven, o vocalista solta "oops, wrong music". "Not tonight". Então é executada a música verdadeira, embora o pessoal não reclamasse do cover espontâneo de Led Zeppelin. E, por fim, encerrando o primeiro bloco, Rock´n´Roll All Night foi ovacionada com seu real valor: é a música que mostratudo o que o Kiss já fez, mesmo que as pessoas estejam cansadas dela. A sensação era que todos já estavam plenamente satisfeitos naquele momento.

A segunda parte trouxe Shout It Out Loud, Lick it Up, Won't Get Fooled Again, I Love It Loud, I Was Made For Lovin' You, Love Gun e Detroit Rock City, que não são do CD Alive original de 1975. Mesmo assim, a apresentação em si era uma homenagem a esse álbum, que completará 35 anos em 2010 e que começou com os registros ao vivo da banda. Por isso, tanto público quanto os astros estavam cientes que, embora a formação original não estivesse ali, era histórico eles simplesmente terem durando todo esse tempo, independente das críticas.

Das últimas tocadas, I Love It Loud teve o tradicional "cuspe de sangue" de Gene Simmons, antes dele ser erguido por cordas, voando, até o palco superior. A tinta vermelha, que causa repulsa em pessoas que não curtem o Kiss, era acompanhada por batidas em um baixo extremamente amplificado, que dava todo o aspecto sombrio ao músico, iluminado apenas por uma luz verde.

Foto do lado esquerdo do site Terra

Provocando também o público, Paul Stanley perguntou também se eles gostariam de tocar a próxima música junto com ele. "São Paulo, do you want me there?" berrou o frontman, completando em seguida "then, scream my name!". O resultado foi Love Gun, que contou com o vocalista sendo transportado de tirolesa para um segundo palco, no meio do público (e longe da área VIP, para a raiva de muitos que pagaram caro).

Detroit Rock City, do álbum Destroyer, fechou a apresentação com mais brincadeiras da banda, com Paul Stanley ovacionando o público e berrando "São Paulo Rock City!". O show de fogos de diversas cores no final deu um excelente fim de noite para todos. Tínhamos presenciado os reis do entretenimento e, mesmo tantos dias após o show, eu não poderia deixar de descrever a sensação de satisfação estampada na cara das pessoas, de velhinhos até crianças, de pessoas que ficaram mais sossegadas atrás até o pessoal maquiado que estava suado e acabado no final do concerto.

Também é importante lembrar a qualidade técnica da banda. Da queda do manto escrito Kiss, que começou o show, até o final, as sensações eram variadas. Quem estava na área VIP e bem na frente, contou com provocações diretas da banda, que insistia em tocar para o público e não para eles mesmos. Aos que estavam na pista normal e mais ao fundo, Stanley e sua trupe posaram e provocaram muitas vezes diante das câmeras que estavam posicionadas no palco e sendo reproduzidas no telão. Era como ver um DVD muito bem feito ao vivo.

Foto do lado esquerdo do site Limao

Muitos podem não gostar do estilo lúdico e despojado do Kiss, com uma produção pesada que cuida de sua aparência. No entanto, depois de um show nos anos 1980 (em 83) e três na década de 90 (94, sem maquiagem, e 99, com máscaras e integrantes originais), essa apresentação está para ficar na memória. Possíveis falhas que ocorreram foram apenas devido à idade dos músicos Paul e Gene, apagadas pelo talento dos novos integrantes. De resto, Kiss é uma demonstração de profissionalismo e atitude, por mais que questionem ou que seja apenas pelo dinheiro.




Foto acima e abaixo do site Terra

O novo fenômeno da Fórmula 1

A cada ano que começa, um novo suposto fenômeno nasce na Formula 1. Alguém que poderia seguir o caminho "de brasas" deixado por Michael Schumacher em 2006. O primeiro destes fenômenos surgiu em 2004, quando Schumacher ainda estava em atividade. Foi um caso em que comprovou para o mundo todo a genialidade de Fernando Alonso, o homem que derrotou pela última vez Michael Schumacher.

Em seguida veio a vez de Lewis Hamilton, o piloto mais polêmico da Fórmula 1 nos últimos tempos. Ele divide genialidade com erros crassos e atitudes de caráter duvidoso além de, ainda por cima, ter sido o último campeão mundial. Pois bem, acontece que nesse meio tempo, desde 2007, aos poucos surge um nome que desperta calafrios nos amantes da Formula 1, um pequeno garoto do interior da Alemanha que lembra muito aquele outro alemão e, até certo ponto, um certo brasileiro: Sebastian Vettel.

21 anos de idade, franzino, de sorriso fácil, nada na aparência de Vettel demonstra algum traço do quão especial este garoto é. No ano passado, guiando pela modesta Toro Rosso, Vettel fez um campeonato espetacular, coroado com uma pole e uma vitória sensacional em Monza - templo do automobilismo mundial - de ponta a ponta e sob forte chuva. Sem cometer nenhum erro, Vettel deu a primeira vitória à irmã menor da Red Bull.

Na época, o jornalista Flávio Gomes cravou: “Vettel já fez muito mais na Formúla 1 que Lewis Hamilton, com um resultado mais imponente que o segundo lugar de Senna pela Toleman em Mônaco”. Quem conhece Fórmula 1 sabe o que este comentário significa. E hoje, menos de um ano depois, Vettel repete a façanha, de novo sob chuva, de novo em uma equipe que nunca venceu, de novo de ponta a ponta. Venceu com autoridade o GP China, sem errar em uma corrida que todos erraram.

Dimensionar até onde Sebastian Vettel vai não é fácil, mas já não é nenhuma heresia colocá-lo como a maior promessa do automobilismo. Existe um campeão mundial por trás daquele sorriso de moleque e "um algo a mais". Um espírito diferente do que estava presente nos olhos de Ayrton Senna , Michael Schumacher e Fernando Alonso. Espírito esse que ainda não se viu nos olhos de Lewis Hamilton.

Em uma Fórmula 1 que virou de cabeça para baixo, com equipes pequenas humilhando poderosas, será interessante ver a temporada de Vettel, ver até onde este garoto pode ir pilotado um carro que lhe dá condições de vitória. E será ainda mais interessante vê-lo disputando as mesmas curvas, em condições de igualdade com os três campeões mundiais em atividade. Se eu fosse apostar, diria que ele vai se sair muito bem.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mais um site extinto pela APCM: Séries Br

Os fãs de seriados – novos e antigos - perderam uma boa fonte de episódios. Depois do fim da comunidade Discografias no Orkut, o site SeriesBr - Download de Series, <http://www.seriesbr.org> saiu do ar no mês de abril, devido aos mesmos motivos da antiga comunidade no site de relacionamento. De acordo com o comunicado, os proprietários pretendem continuar com o serviço, embora não afirmem o retorno às atividades. Segue abaixo o comunicado dizendo os motivos do fim.

“Esclarecimento sobre o fechamento do site. Durante 3 semanas, sofremos ataques contínuos da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Musica), denunciando os links diretos das series, trabalhando constantemente para recuperar os links conseguimos restaurar boa parte dos links, com isso a APCM denunciou diretamente todos os protetores de links do site, e o que fez com que nosso backup fosse totalmente inutilizado e acarretando no fechamento do site pois não existiam mais links funcionais. Estamos refazendo todo o site e isto vai levar algum tempo. Agradecemos a compreensão de todos os usuários que fizeram do seriesbr um dos grandes sites sobre seriados do Brasil.”

O fato não chega a ser uma novidade, visto que canal do YouTube Aberturas de Novelas foi extinto a pedido da gravadora Sony e o MofoTv, tendo que migrar pro myspace após represálias da mesma APCM e das empresas detentoras tanto dos direitos fonográficos como os de imagem dos artistas. Os mesmos motivos servem de argumentos para o motivo do fim do site, já que, entre tantos episódios atuais do conteúdo do Séries Br, havia um número significativo de séries que já saíram há muitos anos – e até décadas - do ar.

O que se observa nitidamente é uma nova temporada de “caça às bruxas digitais”, levando-se em consideração os incidentes descritos acima, além da insistente campanha das gravadoras contra os downloads, o fim de canais no YouTube – muitos vídeos já saíram do ar – e até a perseguição a sites e links de legendas. Mesmo com a extinção do site, já há outros links e fontes disponíveis na Internet.

Ou seja, pelo visto, a APCM vai ter muito trabalho pela frente.

terça-feira, 14 de abril de 2009

A queda - momentânea - de um ídolo


A fase dele já não andava nem um pouco boa. O ano começou com duas contusões seguidas na coxa, sendo a segunda em decorrência do retorno antecipado da primeira. Em seguida veio a "seca de gols": nenhum no campeonato paulista e nem na Libertadores. Por fim, as falhas. Justamente elas, que poucas vezes estiveram em sua companhia. Algo estava errado, muito errado com Rogério Ceni nos últimos dias. E tudo está seguindo na pior forma possível: Rogério rompeu o ligamento de seu tornozelo esquerdo, e ficará de fora dos campos por 6 meses. Essa é a maior ausência na carreira do jogador de 36 anos.

É um extremamente complicado medir a importância que Rogério Ceni tem hoje para o São Paulo. O goleiro é hoje o maior ídolo de um clube brasileiro, talvez ao lado de Marcos, do Palmeiras. Rogério não é apenas um grande goleiro, é uma referência, um daqueles jogadores que dizemos que “fazem a diferença”. E esta diferença que Rogério faz vai muito além de suas defesas, que por vezes são espetaculares, com uma dificuldade contida, sem malabarismos como gostariam tantos outros.

Rogério responde hoje pela essência do que é o São Paulo Futebol Clube. Vestiu a camisa do time mais de 750 vezes nestes 18 anos que de time profissional. Nenhum jogador no Brasil hoje tem este número. A identificação é tanta que não se imagina Rogério Ceni e São Paulo como coisas distintas, pois eles formam a mesma entidade, uma entidade que gera respeito e admiração no mundo todo, mesmo que aqui tal respeito esteja camuflado pela rivalidade. Sua importância em campo vai além das grandes defesas, ou das reposições de bola incrivelmente precisas. O goleiro é uma extensão do técnico, com a vantagem de estar ali no meio, de ver o jogo de uma posição privilegiada. E ele conversa com a defesa durante quase todo o jogo que, não por coincidência, é a área mais elogiada do São Paulo nos últimos anos. A interação Muricy-Rogério-Defesa tem sido perfeita.

Rogério Ceni vai fazer falta nestes próximos 6 meses, muita falta. Não será mais a mesma coisa ver em campo o São Paulo com um outro goleiro embaixo das traves. Não que o experiente Bosco não seja um bom substituto. Por diversas vezes ele provou que dá conta do recado. Mas o time parecerá perdido, sem uma liderança definida. A torcida não terá mais aquela referência, não sentirá mais aquele frio na barriga toda vez que uma falta perto da área adversária surgir. Os adversários não terão mais que se preocupar em marcar toda a reposição de bola. Os zagueiros não terão mais a mesma segurança quando precisarem recuar o lance para o goleiro. E os atacantes adversários não precisarão mais se preocupar em tomar algum drible desestimulante de um goleiro. O São Paulo não terá... ou melhor, o futebol brasileiro não terá mais Rogério Ceni. Serão 6 meses muito estranhos. E não há Ronaldo que possa cobrir esta falta.

Força Rogério... quando esta fase passar e você voltar, porque você vai voltar, estaremos por aqui, gritando seu nome, reverenciando sua elegância e retribuindo cada gota de sacrifício que você faz por seu time.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

O Retorno "Apoteótico" do Kiss ao Rio de Janeiro

Foto do site IOL Diário, de Portugal

O Kiss é uma banda onde todos os adjetivos, comentários e números são superlativos. E para comemorar os 35 anos da carreira de um dos maiores nomes da história da música, os quatro mascarados caíram na estrada e voltaram mais uma vez até a América Latina. Das outras três vezes, visitaram São Paulo (94 e 99) e Porto Alegre (99). Nesse tempo, visitaram também o México e a Argentina. Mesmo assim, o Rio de Janeiro teve que esperar por 26 anos, desde o dia 18 de junho de 1983, quando o Kiss fez a histórica apresentação onde tocaram pra aproximadamente 200 mil pessoas, para ver o evento que ganhou o título de “o melhor show de Rock ’n’ Roll da Terra”.

Hordas de fãs – muitos de máscaras no rosto -, chegavam de vários cantos e faziam dos arredores da Praça da Apoteose um verdadeiro "carnaval" rock and roll. Muitas famílias vieram prestigiar – filhos, pais, tios e, por que não, avós e netos -, numa demonstração clara das várias gerações de membros da chamada “Kiss Army”. Muitos estavam ali pra ver o Kiss pela primeira vez. O show prometia bastante, já que o set list da turnê é basicamente o mesmo do histórico “Alive”, que completa 35 anos em 2010, dando uma aura ainda mais especial ao evento.

Pontualmente às 21h30, as luzes se apagam. Uma gritaria ensurdecedora explode na Apoteose. No P.A., rolava “Won’t Get Fooled Again”, do The Who e tema do seriado CSI Miami. Antes da bandeira cair, Eric Singer esquenta ainda mais o clima ao acompanhar o P.A., tocando a batida característica da música do The Who. Ao final da música que serviu de introdução do show, Paul Stanley (guitarra/vocal) saúda o público e, acompanhado de 20 mil vozes, profere a clássica frase: “You wanted the best, you got the best. The hottest rock n’ roll band in the world, Kiss!” Uma explosão e o enorme bandeirão preto com o logo do Kiss em prata que escondia todo o palco cai e debaixo de toneladas de luzes e efeitos pirotécnicos, Gene Simmons (baixo e vocal), Paul Stanley (guitarra e vocal), Tommy Thayer (guitarra) e Eric Singer (bateria) aparecem. Êxtase total. A coisa mais comum naquele momento era você ver pessoas chorando ou gritando, todas com expressões atônitas ao presenciarem in loco um show do Kiss.

Como era de se esperar, entraram com a seqüência do Alive: Deuce – com direito ao balançar característico do Kiss, onde a linha de frente fica enfileirada batendo cabeça pros lados, tão imitados ao longo dos anos -, Strutter, Got To Choose e Hotter Than Hell. Todos os ingredientes tradicionais de um espetáculo do Kiss estavam ali: efeitos pirotécnicos, explosões e toneladas de luzes, as sirenes para Hotter Than Hell – embora achasse que entraria “Firehouse” que, apesar de estar no Alive, não foi tocada nos shows no Brasil -, as cusparadas de fogo e língua de Gene, as caretas e provocações safadas de Stanley, os instrumentos prateados, toda aquela performance e obviamente, os clássicos. A sensação era de estar num túnel do tempo, nos shows antológicos dos anos 70.

"Fazia tempo que não víamos vocês”, disse Stanley, que depois de saudar mais uma vez o público, veio com mais quatro pedradas: Nothin’ to Lose, C’mon and Love Me, Parasite e She. Neste momento, a chuva que caiu durante a semana no Rio de Janeiro e havia dado uma trégua no dia do show, resolve dar o ar da graça. Tommy então faz seu solo, lançando fogos através da guitarra e a chuva aperta ainda mais, transformando-se num dilúvio bíblico típico de fevereiro na Apoteose. A banda volta ao palco com Watchin’ You e 100.000 Years, com solo de Eric Singer e a plataforma onde estava a bateria subindo até o teto do palco.

A chuva vai embora e pra animar ainda mais vem Cold Gin. Depois de destilarem clássicos e mais clássicos, o Kiss finaliza a primeira parte do show com o verdadeiro hino do rock, Rock and Roll All Nite, e uma outra chuva - de papéis picados - cai sobre a platéia, completamente extasiada. Desta vez, o foguetório veio também da parte de trás do palco.

O público então pede bis cantando a melodia clássica de I Love it Loud e depois de alguns minutos, o Kiss volta para o palco, com Paul Stanley empunhando uma bandeira do Brasil. A primeira da seqüência do bis, foi Shout It Out Loud. A surpresa ficou com Lick It Up, da fase “sem máscaras” que atravessou os anos 80 e durou até a metade dos 90. Atendendo a pedidos, I Love it Loud também fez parte do bis.

O gran finale obviamente veio no melhor estilo do Kiss. Paul Stanley, diz: “Rio é uma cidade do Rock. Mas nós vamos levar vocês a uma outra cidade do Rock. Essa aqui se chama, Detroit Rock City!". Êxtase completo. Assim como em Rock and Roll All Nite, a platéia recebeu um bombardeio de luzes, fogos e muita pirotecnia. Depois de duas horas de show, as luzes do palco desligam. Nos telões, um “Obrigado, Rio de Janeiro, Nós amamos vocês”. A lindíssima God Gave Rock and Roll to You serviu de trilha sonora da despedida e da queima de fogos de fazer inveja as escolas de samba.

Não resta dúvidas de que o Kiss tem o melhor show de rock da Terra. É gratificante ver bandas veteranas mostrando principalmente as novas gerações uma verdadeira aula de rock. Nada daquela arrogância típica de bandinhas metidas a depressivas, nada de discursos panfletários baratos, virtuoses sonolentas e, sim, um verdadeiro culto ao rock. Muitos criticam o Kiss pelo marketing, mas de nada adianta se a banda não tiver talento, carisma e dedicação, coisa que os mascarados cinquentões tem de sobra. Não é por acaso que estão há mais de 30 anos na estrada. Sinceramente, um dos melhores shows já vistos no Rio de Janeiro. Finalmente, a Praça da Apoteose recebeu um espetáculo digno do seu nome.

Foto do site IOL Diário, de Portugal

sábado, 11 de abril de 2009

U2 bate na trave em novo albúm.

Foram 5 anos de espera. Desde o lançamento de How to Dismantle an Atomic Bomb, em 2004, o U2 vem prometendo mudar seus próprios rumos em seu próximo trabalho. A expectativa criada foi gigantesca, e não era para menos. Bono deu um tempo em seu trabalho messiânico pelo mundo e mergulhou em um estúdio no noroeste do Marrocos junto com seus três companheiros e o produtor Brian Eno. O lançamento, originalmente previsto para março de 2008 foi atrasado duas vezes e só pudemos ouvir ao primeiro single – Get on your boots – em janeiro deste ano. Mas enfim, No Line on the Horizon chegou.

Se for para analisar a carreira musical do U2, algo que é difícil em razão do tamanho assombroso da banda, veremos que ela pode ser claramente dividida em três fases, cada uma com seu ponto inicial e final próprios. A primeira é a década de 80, do rock pós-punk com forte carga política, sonoridade crua e um Bono cantando com mais energia e menos melodia. O ponto final desta fase é claramente o emblemático Joshua Tree. Considerado até hoje o maior álbum da banda, Joshua fez do U2 uma banda com sonoridade grandiosa, que se aventurava fora de sua zona de conforto. A prova definitiva disto veio em 1991, com Achtung Baby, um trabalho genial que pouco tinha a ver com aquele U2 de 2 anos atrás. O álbum deu um novo rumo à banda, que pisou forte na sonoridade pop, abusando de recursos eletrônicos. O lado bom é que a fase trouxe o ótimo Zooropa, o lado é ruim é que trouxe o péssimo Pop, justamente o ponto final de sua fase, em 1998.

Por fim, chegaram os anos 2000 e, com eles, All that you can leave behind. E uma surpresa: em seu primeiro single Beatiful day, vimos uma banda que retornou ao seu estágio entre os anos 80 e 90, com um álbum que remete diretamente à Joshua Tree, com letras fortes e uma capacidade absurda de trazer músicas que emocionam. How to dismantle an Atomic Bomb pode ser visto apenas como uma continuação direta deste álbum. Vale dizer, depois de ver todo este retrospecto da carreira da banda é que No Line é simplesmente mais um ponto de chegada. Um novo turning point, por assim dizer. E o álbum deve ser analisado com todo o cuidado que sua condição atual requer.

Antes de tudo, evite o preconceito despertado por Get on your boots. A música é a pior escolha de single que o U2 fez em muito tempo, não trazendo o espírito do álbum e tendo o grave defeito de ser facilmente esquecida. A melhor candidata seria justamente a música que dá nome e abre o álbum. No line on the horizon traz um vocal forte de Bono Vox, que parece cantar no limite em todas as músicas, conduzida pela grande marca deste álbum: uma bateria constante e forte de Larry Mullen Jr. Em doses homeopáticas, No Line apenas introduz levemente os elementos que veremos a seguir no álbum. Um leve deja-vu de Acthung Baby brota na mente quando a música termina. Magnificent, outro provável single, nos faz lembrar que ainda existe algo da década de 80 nos rapazes irlandeses. Com um refrão que fará o público cantar em coro e que vai emocionar os mais aficionados, talvez esta seja a música com a sonoridade mais óbvia do álbum (não que isso seja ruim).

A coisa continua nesse ritmo pelas músicas seguintes. Apresentado um ou outro conceito novo a cada música, com momentos altos e baixos. Entre os ápices temos a linda Moment of Surrender, uma música com a marca de Bono e Brian Eno, liderada novamente pela bateria e pela guitarra de The Edge. Este último, por sinal, traz alguns de seus melhores momentos nos últimos anos. Se a atenção nos trabalhos recentes recaiam sobre Bono e Larry, aqui ela fica o guitarrista.

Também merecem destaque White as snow e Stand Up Comedy. As músicas com maior teor político do álbum, mas com grande riqueza melódica, principalmente a introdução da primeira. Os pontos baixos são justamente os momentos que a banda pisa mais fundo no experimentalismo. Fez – Being Born soa quase afetada, com um inicio sem muito sentido. Breathe e Cedars of Leblon são perigosamente esquecíveis, enquanto “I´ll go crazy if i don´t go crazy tonight” soa levemente perdida.

Talvez o grande defeito de No Line on the Horizon seja não apontar um rumo para a banda. Em 1991, o U2 sabia qual caminho seguir, por mais que este caminho fosse perigoso. O que soa agora é que a banda de 30 anos de idade começa a enfrentar uma pequena crise de meia idade. Pode não ser nada demais, pode ser que o próximo álbum – anunciado para o fim do ano - determine de vez os rumos da maior banda do mundo. Mas ainda assim, o sentimento após No Line é de que a revolução prometida pela banda ficou no "quase".

He's just NOT that into you...

Ele Não Está Tão a Fim de Você, do diretor Ken Kwapis (de Guerra dos Sexos, Quatro Amigas e um Jeans Viajante e Licença para Casar), traz uma teia de relacionamentos dos mais variados, sempre com o mesmo intuito: decifrar o outro sexo.

Baseado no livro de Greg Behrendt e Liz Tuccillo, o filme tem o elenco com estrelas: Ben Affleck (no papel de Neil), Jennifer Aniston (Beth), Drew Barrimore (Mary), Jennifer Connely (Janine), Scarlett Johansson (Anna), Justin Long (Alex), Kevin Connolly (Connor), Brad Cooper (Ben), Ginnifer Goodwin (Gigi) e Kris Kristofferson (Ken Murphy).

Neil está com Beth há 7 anos, mas não acredita no casamento. Ele é amigo de Ben, que está casado com Janine há anos e passam por uma fase de "seca". Janine é amiga de Beth e de Gigi, uma solteira desesperada por um homem e que sai com Connor, que é amigo de Alex Ele tem vínculo de trabalho com Mary sem saber quem ela é e é obcecado por Anna, que conhece e se apaixona por Ben.

Beth vê todas as suas irmãs casadas, menos ela, e resolve, apesar de ser feliz com Neil, dar-lhe um ultimato: ou casam, ou acabou. Neil não quer casar, então eles se separam. É só quando o pai de Beth, Ken, passa mal e fica em casa que ela percebe que, casados ou não, o que importa é a felicidade.

Janine e Ben tem um casamento de dar dó - são claramente amigos em vez de amantes - e Ben começa a ter um caso com Anna, uma aspirante a cantora que ele havia prometido ajudar. Por fim, Mary passa mais ou menos pelos mesmos problemas que Gigi, só que, menos desesperada, o grande obstáculo é a rede. Segundo ela, antigamente você levava um fora pela secretária eletrônica. Agora, você tem o e-mail, celular, telefone de casa, SMS, MySpace e outros. É cansativo.

A personagem que mais toma conta do filme e que mais leva o nome dele é Gigi, sempre caindo na lábia dos homens com quem sai e sofrendo por isso, depois. Quando Gigi sai com Connor e ele não liga, ela resolve aparecer "casualmente" no bar em que ele fica depois do trabalho. Quando Alex, dono do bar, diz que ele não está, ela conta toda a história e ele passa a ser seu guru de encontros, dizendo quais caras querem ou não sair de novo e apresentando a ela (e a todos nós) a dura verdade: se um cara não te liga, é porque ele não quer te ligar. Se ele quiser sair com você, ele vai dar um jeito. Sem dramas.

Seja como for, se ele não te liga, se ele não casa com você, se ela não dorme com você...

He/She 's Just Not That Into You.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O primeiro ano das Bolas e das Focas

Ontem foi o dia de todos os envolvidos com notícias e informações: os jornalistas (diplomados ou não, apesar de toda a controvérsia). Hoje faz, exatamente um ano, da ligação telefônica feita entre a minha pessoa e Thiago Dias, num clima aparentemente casual. Foi uma conversa despretensiosa que gerou esse blog.

Estava fazendo minha pesquisa científica no CIP (pro pessoal que não estuda na Cásper, é o Centro Interdisciplinar de Pesquisa, que estimula trabalho acadêmico na faculdade), quando resolvemos verbalizar uma conversa prévia feita no MSN Messenger. Sugeri o nome, fruto de uma rima tosca que tinha pensado dentro de um ônibus. Nome e idéia aceitos, aos poucos eu fui gerando o layout, que não é nada 100% original, até o que ele é hoje, com as cores branca e vermelha, predominantemente.

O desenho da foca ao lado (esquerdo), adquirido depois de algumas buscas no Google (imagem cujo autor eu desconheço, não encontrei contato e, se alguém quiser me ajudar, por favor, me envie), gerou uma identidade e uma espécie de logomarca ao blog, devidamente editada. Com a adesão de diversos colaboradores (embora muitos não possam contribuir todos os dias), o espaço tomou forma, disciplinou alguns escritores e disseminou tanto debates quanto alguns conceitos que algumas pessoas não conheciam.

Por mais que muitos reclamem da qualidade dos textos ou dos temas que geram grandes discussões, sou obrigado a expor que este espaço me enche de orgulho, me torna mais humilde para tratar de minha própria profissão e transforma meu olhar de mundo ao checar, com mais detalhes, a visão de meus próprios colegas. Se todos não compartilham dessa visão, espero que, pelo menos, vejam algo de positivo no espaço que temos aqui.

E o futuro que nos aguarda é o profissionalismo, as demandas do mercado e crises que não, necessariamente, acompanham nossas vontades. Então, se não podemos falar ou dar voz a tudo o que nos parece importante, espero que pelo menos o Bola da Foca seja um reduto pequeno para o jornalismo colaborativo, para o treinamento não apenas pela prática, mas pelo exercício, acima de toda teoria ou rua.

Abaixo vocês podem conferir alguns dos horríveis diferentes banners que estiveram no topo do blog, em ordem cronológica. E feliz aniversário para todos nós, leitores ou colaboradores!

Feito em abril até junho de 2008.

De junho até setembro de 2008.

De setembro até novembro de 2008.

Dezembro de 2008 até Janeiro de 2009.

De Janeiro até Fevereiro de 2009.

Final de Fevereiro de 2009 até presente.

terça-feira, 7 de abril de 2009

O fim da SET

É, realmente a coisa tá feia mesmo. Uma das mais antigas, e únicas, revistas de entretenimento do país fechou as portas. Na semana passada, em pleno 1º de Abril, correu pela internet o rumor de que a revista SET estaria acabando. Muitos acreditaram ser apenas uma piada inocente. No entanto, o fato infelizmente se concretizou.

Nas bancas desde o ínicio da década de 1980, a SET foi uma das principais responsáveis pelo crescimento do jornalismo de entretenimento no Brasil, algo praticamente inexistente há 25 anos atrás. O seu auge foi na década de 90, quando a publicação se tornou a principal fonte de informação para cinéfilos que queriam saber sobre os futuros lançamentos, ter acesso às entrevistas de astros e diretores, além de ter a possibilidade de ler uma crítica cinematográfica que falasse em sua própria lingua - algo que respeitasse sua inteligência e ao mesmo tempo não soasse arrogante e distante. Enfim, a SET definiu a formula que milhares de sites e blogs usam hoje em dia.

O fim da SET ocorre de maneira triste. Não houve nenhum anúncio oficial nem na publicação impressa e nem mesmo em seu site, que está desatualizado há pelo menos um mês. Infelizmente o caso não é o único. Ele segue uma tendência que vem do forte jornalismo de entretenimento americano, com o fechamento recente das revistas Blender e Premier, ambas no mercado a mais de 15 anos. Culpa da internet? Culpa da crise? Uma combinação dos dois fatores? O fato é que cada vez mais o jornalismo de entretenimento sai das bancas e caminha em direção aos blogs e sites.

ps: O furo do fim da SET vem do site Omelete.

Hoje é o nosso dia

Não é que os demais não sejam, pois o jornalismo, a informação e os leitores são pensados minuto a minuto, por nós ou por outras pessoas, de diversas áreas. Foge do nosso controle, na maioria das vezes.

Apesar dos recentes acontecimentos caóticos da profissão do homem de jornal, é importante lembrar deste dia: em 7 de abril de 1908 foi criada a Associação Brasileira de Imprensa, a ABI, primeiro órgão voltado para a profissão, mesmo com a forte censura exercida previamente pelo Império Brasileiro e as primeiras presidências da República. Não é apenas hoje que temos esse cenário caótico e controverso, que sempre pairou sobre nossa prática diária.

Bom, encerro esse pequena nota recomendando um texto da Federação Nacional dos Jornalistas (a FENAJ, clicando aqui), um do Itu.com.br sobre as controvérsias da data de hoje, e um artigo da Intermezzo, qualificando materiais curtos e resumidos como "mito" e não realidade, ao contrário do que muitos afirmam em nossa profissão.

Não é um dia para comemorar, mas bem que podia ser feriado exclusivo, considerando que não paramos nem no Natal. Cristo sabe!

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Biografia de Alan Moore relançada nos EUA


Foi relançada, nos Estados Unidos, a obra biográfica de Alan Moore, The Extraordinary Works of Alan Moore, editada por George Khoury. A nova versão possui 240 páginas e novas entrevistas e comentários de Khoury.

A TwoMorrows, editora responsável pelo relançamento, disponibilizou em seu site cem cópias em cada dura e autografadas pelo britânico, que já esgotaram.

O livro conta a trajetória do roteirista através de fotos, desenhos, roteiros, comentários, entrevistas e quadrinhos raros. A capa foi feita por Dave McKean (parceiro de Neil Gaiman e desenhista de Asilo Arkham).

Alan Moore é responsável por quadrinhos importantes como Watchmen, A Liga Extraordinária, V de Vingança e Promethea, além de ser o criador de John Constantine e de ter reciclado o Monstro do Pântano, famosos personagens de HQs adultas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O Terrível Silêncio da Morte

Há dois anos Boaz tem o mesmo sonho. O israelense imagina que 26 cachorros raivosos correm pela cidade, param e ladram na frente da janela de seu quarto. Não são 30 e nem são 20 cães. São 26. E ele pode dizer com enorme certeza esse número, pois foi ele mesmo quem matou esses cachorros. Só que vinte anos antes dos pesadelos começarem. É com essa lembrança em forma de pesadelo que se inicia Valsa com Bashir, o filme israelense que premiado em Cannes no ano passado e que estréia no grande circuito essa semana.

O documentário trata sobre a tentativa de Ari Folman, veterano israelense na invasão do Líbano de 1982, em recuperar memórias de um fato que participou como testemunha ocular: o massacre dos campos de refugiados de Sabra e Shatila, que matou 3 mil palestinos.

Como não se recorda de nada, Ari, que é o protagonista e diretor do filme, busca nas lembranças de amigos rememorar momentos sangrentos que ele mesmo “apagou do seu sistema”. Por tratar de um fato extremamente cruel, o diretor transformou o documentário em uma animação, onde ele claramente brinca com as cores. O uso do preto e do contraste entre cores quentes e frias torna o filme uma experiência inigualável.


Apesar de não se tornar leve e “bonitinho”, o filme mostra uma realidade triste e sangrenta de uma forma quase lúdica. O espectador se entretêm com a trilha sonora que passa do rock progressivo a música clássica e com a união da realidade e da imaginação que quase se esquece que grande parte do que vê aconteceu de verdade. Todo o lirismo da cena em o amigo de Ari entra em transe e dança com uma arma na mão perante o cartaz do presidente Bashir Gemayel pode ter realmente acontecido, mas a platéia a vê como apenas uma alegoria da idéia que um homem com uma arma na mão pode enlouquecer.

De repente, a animação faz questão de lembrar que é um documentário e nos últimos minutos do filme coloca imagens reais dos palestinos mortos no massacre. Para se tornar mais forte, essa cena não tem trilha sonora, há apenas a voz e a imagem de uma senhora palestina que chora e sofre a morte de seus companheiros. A platéia, em choque com a súbita demonstração de realidade, sente que o diretor fez com que todos dançassem ao som de uma valsa que quando acaba traz o terrível silêncio da morte.


quarta-feira, 1 de abril de 2009

Os Supremos Tribunais do Dia da Mentira

Não tinha escrito absolutamente nada hoje. Fiquei na minha apenas lendo, apenas folgando um pouco e estudando uma parcela minúscula do dia. Era pra ser mais um dia corriqueiro, se eu não tivesse capacidade de entender certas coisas que leio.

Logo ontem uma colega do Bola noticiou a decisão do Supremo Tribunal Federal em julgar a necessidade de diploma de jornalismo em nosso país. Como tomar um juízo definitivo sobre a educação de falar a verdade e passar informação no famoso 1º de abril, Dia da Mentira?

Eu sei: na verdade pouco importa a data, é necessário tomar as rédeas desse assunto importante. No entanto, seria como acordar em um pesadelo descobrir que, no dia 2, já não vale a pena ensinar jornalismo, que jornalismo se aprende simplesmente escrevendo qualquer coisa, indo para qualquer rua e ignorando qualquer outro tipo de conselho, livro ou ensinamento.

Amigos, peço que pensem uma coisa bem simples, bem clara e objetiva, sem nenhuma teoria ou defesa da educação. Peço que sejam humildes nos comentários deste texto diante da seguinte pergunta: tudo o que você faz na vida traz conhecimento imediato? Se sua resposta for sim, então não interessa muito se existem ou não escolas. Bastaria querer ser jornalista e aprender as coisas na marra. Bastaria querer ser médico e aprender medicina matando alguns de seus pacientes, antes do aperfeiçoamento. Agora, caso você ache que aprendizado é lento, penoso na maioria das vezes, e desgastante, se você não defender uma escola, no mínimo você vai ter senso crítico para discutir mais de um lado da história.

Não consegui fazer uma brincadeira de 1º de abril por aqui. Acho que não quis ao certo. Acho que o STF já fez isso pra mim. A questão não é obrigar os canudos e universidades apenas por serem universidades, mas trazer um estudo para uma classe mais acostumada a trazer dados do que receber. Sabemos de alguns heróis (se não forem isso, são exemplos no mínimo) da carreira, mas não sabemos de uma busca, uma reflexão, consistente sobre ela mesma.

Posts mais lidos