sexta-feira, 31 de julho de 2009

Sobre Inimigos Públicos

Michael Mann reedita sua obsessão. Agora nos anos 30.

Michael Mann é daqueles cineastas que conseguem atrair a atenção do mundo quando lança um novo filme. Se encontra naquele seleto grupo de diretores que tratam cada novo trabalho como algo único, que deve ser esmerado ao máximo. Daí sua produção é realmente reduzida em um filme a cada três ou quatro anos. O que vem de bom a partir deste metodismo é a qualidade inquestionável de todos os seus trabalhos. A nova obra do diretor americano, Inimigos Públicos, não é diferente, exalando bom trabalho a cada nova cena que surge na tela.

Retratando a caçada humana que J. Edgar Roover e Melvin Purvis instituíram contra o “inimigo público” John Dilliger à partir de 1933, Michael Mann acaba por retratar com perfeição a obsessão americana em relação ao crime. E ninguém poderia fazer isto melhor que o próprio Mann. Ele dirigiu Profissão: Ladrão, Colateral, Miami Vice e o clássico Fogo contra Fogo. Todos são testemunhos da paixão que tem por retratar o crime não apenas em sua forma pura ou maniqueísta, mas como máscara para mostrar também o lado obsessivo do homem em relação a seu trabalho. Mostra sempre não apenas os lados negativos, mas também os positivos – por mais pessoais e egoístas que sejam.

John Dillinger não era um assaltante comum. Seu perfeccionismo, seu código – que não pode ser confundido com honra - e sua obsessão pela promoção da própria imagem fizeram dele uma lenda nos EUA da Grande Depressão. O público adorava ver um homem roubar os bancos que mantinham seu dinheiro, e nunca tirar um centavo dos cidadãos. O vilão da história aos olhos de um povo faminto era o Estado e J. Edgar Roover (Billy Crudup perfeito), não John Dillinger. E é neste contexto que surge Melvin Purvis. Detetive de inabalável fé na lei e um dos poucos policiais éticos em uma Chicago que se auto-consome por causa do crime.

Apesar da presença da namorada de Dillinger, interpretada por Marion Cottilard, é inegável que o filme gira em torno do confronto entre Dillinger e Purvis. Portanto, a escalação de Johnny Depp e Christian Bale se tornou fundamental. Em uma estrutura que lembra o embate entre Robert de Niro e Al Pacino em Fogo contra Fogo, os atores contracenam em apenas uma cena, mas que vale pelo filme inteiro. Cada cena importante em relação a cada personagem, e é tratada com uma delicadeza impar. Seja o momento que Melvin vê um parceiro morrer ou Dillinger apreciando com raro êxtase a mega-operação construída apenas para lhe caçar. O contraste de personalidades, a diferença nos métodos, a ideologias distintas... não há elemento mais forte em Inimigos Públicos, ou em qualquer outro trabalho de Mann, do que seus protagonistas. Se eles falharem, tudo cai por terra. E felizmente não é o que ocorre por aqui.

Tecnicamente o filme é um primor. Ninguém sabe usar a tecnologia digital como Michael Mann. Se ele revolucionou o cinema de ação filmando o tiroteio principal de Fogo contra Fogo e fez de Los Angeles e Miami personagens vivas em Colateral e Miami Vice. Aqui podemos sentir a tensão em cada cena que Mann carrega na mão suas câmeras HD. A trilha sonora e a edição também são levadas à precisão pelo cineasta, resultando em uma direção que se mostra impecável durantes as 2 horas e meia de filme. O ápice, como não podia deixar de ser, é o desfecho do filme, mais uma das seqüências inesquecíveis que o diretor se habitou a fazer em sua carreira.

Mesmo não sendo perfeito, Inimigos Públicos já surge como um dos melhores filmes do ano até aqui. Um encerramento adulto e pesado para o fim da temporada de blockbusters do cinema americano, que teve neste ano de uma de suas safras mais fracas. Mas talvez o grande mérito deste filme seja mostrar que o próprio Michael Mann poderia ser um de seus personagens. Nunca um diretor se mostrou tão obcecado por um tema e ao mesmo tempo pela perfeição quanto ele. Quem sabe seja este o resumo de sua carreira. Melvin Purvis ou John Dillinger, Max ou Vincent, Neil McCauley ou Vincent Hanna e, até mesmo, Muhammed Ali. Quem sabe, no fundo, todos estes homens sejam apenas Michael Mann.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Taça Brasil e Roberto Gomes Pedrosa: os Campeonatos Nacionais de 1959 a 1970

Entre os anos de 1959 e 1970 foram disputadas a Taça Brasil, 1959 até 1968, e a Roberto Gomes Pedrosa, também conhecida como "Robertão" ou "Taça de Prata", entre os anos de 1967 e 1970. As duas competições nacionais foram organizadas pela extinta CBD (Confederação Brasileira de Desportos) em consequência da criação da Taça Libertadores da América em 1960. Bahia (1959), Palmeiras (1960 e 1967), Santos (de 1961 a 1965), Cruzeiro (1966) e Botafogo (1968) foram os campeões da Taça Brasil. O Roberto Gomes Pedrosa foi conquistado por Palmeiras (1967 e 1969), Santos (1968) e Fluminense (1970).

Apesar de terem a mesma função - eleger os clubes brasileiros representantes para a Libertadores -, a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa tinham diferentes regulamentos. O primeiro tinha características semelhantes as da atual Copa do Brasil, enquanto o "Robertão" pode ser considerado o pai do Campeonato Brasileiro. Eles chegaram a ser disputados simultaneamente em 1967 e 1968.

Até o ano de 1959 não existiam competições de nível nacional ou interestadual no Brasil, exceto o torneio Rio-São Paulo, que foi disputado pela primeira vez em 1933 e depois foi organizado regularmente de 1950 até 1966. No ano de 1967, 15 clubes de cinco estados disputaram o primeiro Robertão, vencido pelo Palmeiras. Com as mudanças e a inclusão de clubes de outros estados, o novo torneio foi batizado de Roberto Gomes Pedrosa, homenagem ao ex-goleiro Pedrosa, do São Paulo e da Seleção Brasileira na copa de 1934 e presidente da Federação Paulista de Futebol, falecido em 1954. De 1968 a 1970, aumentou o número para 17 participantes de sete estados, divididos em dois grupos e com jogos de ida e volta. Em 1971, o Torneio Roberto Gomes Pedrosa foi substituído pelo Campeonato Brasileiro.

Primeira competição de nível nacional, a Taça Brasil começou a ser disputada em 1959 e teve o Bahia como primeiro campeão. A fórmula de disputa era semelhante a da Copa do Brasil: os campeões e alguns vices dos campeonatos estaduais disputavam partidas eliminatórias de ida e volta no sistema conhecido como mata-mata. Cariocas e paulistas entravam na disputa somente nas semifinais exceto nos anos de 64 e 68, quando entraram nas quartas de final. Nos anos em que foi disputada, o número de participantes girava em torno de 20 times e em várias edições, contaram com uma fase de grupos dividida de acordo com as regiões.

A transição da era Taça Brasil para a Roberto Gomes Pedrosa foi circunstancial. No ano de 1968, os clubes paulistas decidiram participar somente da "Taça de Prata", esvaziando assim, a última edição da Taça Brasil, vencida pelo Botafogo.

Embora a Taça Brasil e o Roberto Gomes Pedrosa fossem organizados em caráter oficial pela CBD, que então era responsável por todos os esportes no Brasil, a CBF não a reconhece como oficial. Em março de 2009, os seis clubes vencedores - Bahia, Botafogo, Santos, Cruzeiro, Palmeiras e Fluminense - se reuniram em São Paulo e fizeram um dossiê para pleitear o reconhecimento de campeões brasileiros junto a CBF. Para a CBF, o primeiro campeão é o Atlético Mineiro, vencedor do primeiro Campeonato Brasileiro organizado pela entidade. A luta continua e espera-se que a justiça seja feita ao reconhecer os títulos já que, assim como os campeões nacionais pós-1971, os times desfrutaram do mesmo prestígio e o privilégio de disputar a Libertadores. Vale ressaltar que para o Santos sagrar-se bicampeão Mundial e da Libertadores, teve que disputar e ser campeão da Taça Brasil.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Esclarecendo um pouco mais sobre a gripe A

Na noite de ontem, Tessália Serighelli, a twitteira @twittess, levantou um assunto polêmico em seu Twitter: o número real de vítimas da gripe H1N1 em nosso país.

No dia 21 deste mês os meios de comunicação noticiaram a primeira morte causada pela gripe suína na cidade de Curitiba, no Paraná. Porém, segundo relatos e como afirmou a própria Tessália, o número real de vítimas apenas na cidade é de 75 pessoas. Enquanto isso, as autoridades confirmam apenas 56 mortes totais em todo o território nacional.

De fato não temos fontes oficiais de que as mortes no estado do Paraná sejam tantas, porém houve uma verdadeira reviravolta após a declaração de Tessália. Diversos usuários do site micro blogging, de diversos estados brasileiros, também afirmaram saber que os números estão sendo mascarados pelo governo, talvez em uma atitude para evitar o pânico da população. Agentes de saúde, médicos e enfermeiros estão sendo afastados de suas funções no trabalho, utilizando máscaras e principalmente: proibidos de divulgar informações diferentes daquelas que o Ministério da Saúde confirma. Certo ou errado, o fato é que estamos sendo manipulados pelo governo.

Se o número de casos confirmados consegue ser “controlado” o número de suspeitos com a doença é enorme, praticamente incontrolável. Muitas pessoas ainda tem dúvidas em relação ao contágio, ao tratamento e ao menor sinal de enfermidade correm aos hospitais, o que pode ser uma medida precipitada e determinante para alguns. Em alguns hospitais, aqueles que chegam com a suspeita da doença já são internados. É perceptível o descontrole por todos os lados: pela população, por médicos, hospitais e pelo Ministério da Saúde.

Na noite de ontem, o ministro da saúde José Gomes Temporão, deu uma longa e bastante esclarecedora entrevista no Programa do Jô, onde esclareceu diversos pontos: o contágio, sintomas, o atendimento nos hospitais, os cuidados que devem ser tomados para evitar a doença, tratamento. Um breve resumo a respeito disso:

  • Prevenção: lavar as mãos diversas vezes ao dia com sabão ou pelo menos desinfetá-las com álcool em gel. Evitar o compartilhamento de talheres, copos e objetos de uso pessoal com outras pessoas.
  • Os sintomas são os mesmos da gripe comum: tosse, dor de cabeça, dores musculares e principalmente febre. O diagnóstico também é semelhante ao da gripe comum. O tratamento é que vem a ser diferente quanto a medicação e outros procedimentos, dependendo da intensidade dos sintomas e incluindo quarentena e mobilização das pessoas que tem convívio direto com o infectado.
  • Mortes: na realidade, ninguém morre pela gripe suína e sim por outras complicações. Uma saúde já fragilizada por fatores anteriores ou posteriores a gripe com toda certeza irão agravá-la, levando assim à morte. Tecnicamente, o número de óbitos “pela gripe comum” no país também é relevante, como afirmou o ministro.
  • E um último ponto: o uso de máscaras. Nas últimas semanas esse hábito disseminou-se bastante entre a população, que utiliza a mesma indiscriminadamente. Para quem está contaminado com o vírus da nova gripe o uso é essencial, para que não propague o vírus e evite o contágio de outras pessoas. Porém, para quem está apenas com a suspeita ou que faz uso da máscara por prevenção é importante lembrar que utilizá-la não irá impedir que o indivíduo seja contaminado pela gripe.

E lembrando: aquele que estiver com suspeita da nova gripe deverá procurar orientação médica e tomar as precauções necessárias para não contaminar outras pessoas com o vírus.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dicas para usar o Twitter (Para Políticos)

Texto cedido parcialmente por Gustavo Ats (GuZ) do portal OxenTI.com de tecnologia.
Foto retirada do blog f@biano.com.br.

O Twitter se mostrou uma ótima ferramenta para políticos, tanto que muitos já aderiram a ferramenta de comunicação. Por isso, mostraremos um pequeno guia de como usa o Twitter em favor do seu mandato/candidatura:

1. Nunca mande a assessoria postar
O Twitter é algo pessoal, e deve ser twittado pelo próprio político. Assessoria pode até cuidar do blog, mas o twitter é seu. Poste um resumo de suas ações com um link para um post no blog.

2. Responda os Replys (mensagens de outros usuários)!
Um eleitor manda uma crítica, comentário ou sugestão relevante? Responda. Se for um palavrão ou uma crítica infundada, o Twitter tem uma função block para isso. Twittar sem interagir com o seu seguidor é bobagem. Muito melhor fechar a conta do Twitter.

3. Interaja com o Blog
Se você tem um blog (se ainda não tem, crie um), instale um Script/programa para postar os títulos de texto. O OxenTI e vários blogs já usam esse recurso. A interação com os blogs é um recurso bastante importante para movimentar seu twitter. Visibilidade.

4. Não, eu disse NÃO use scripts para conseguir seguidores.
Tenha em mente que o público do Twitter é diferenciado, formado por pessoas mais críticas do que a sociedade comum. Parecer ter vários seguidores conseguidos às custas de Script/programa pode deixar sua imagem como desonesta. Dentre seus seguidores podem estar jornalistas, blogueiros entre outros formadores de opinião e isso pode causar sérios danos a sua imagem.

5. Senso de humor faz bem!
O Deputado @Efraimfilho é um político bem humorado no twitter, as vezes solta umas piadinhas, comentários sobre o Flamengo, comentários sobre a família, que mostram que o político é um ser humano comum. Ele só está exercendo um mandato para comandar a nação. Isso é bom para os eleitores desiludidos com (veja porque aqui) a classe política.

Texto completo e sem nenhum corte:
http://oxenti.com/www/2009/07/23/dicas-para-usar-o-twitter-para-polticos/

Lembrando que outras áreas profissionais podem se aproveitar dessas dicas.

Um Século de Grenal


No linguajar futebolístico, um "derby" é quando duas equipes rivais de uma mesma cidade se enfrentam. Enquanto no Brasil, o nome mais usado para esse tipo de confronto é "clássico", no exterior esse termo caracteriza um confronto entre duas equipes arquirrivais de cidades diferentes, como no caso de Real Madrid e Barcelona. No Brasil cada cidade grande tem o seu, mas há de convir que não há rivalidade maior que a de Grêmio e Internacional, que completou neste mês um século de história.

Em um século de existência, foram 376 confrontos, com 141 vitórias coloradas, 118 gremistas e 117 empates. Ambos são campeões nacionais (o Inter tem três nacionais e uma Copa do Brasil enquanto o Grêmio tem dois nacionais e quatro copas), da Libertadores e até um Mundial Interclubes pra cada lado. O primeiro confronto ocorreu no extinto Estádio da Baixada em Porto Alegre no dia 18 de julho de 1909, com o placar apontando uma goleada de 10 a zero do Grêmio em cima do Internacional.

Ambos não figuram entre as maiores torcidas do país e estão longe demais das capitais. Por que é a maior rivalidade do país? Há uma série de fatores. Uns apontam o equilíbrio e a intensidade da disputa dentro e fora do campo, embora isso faça parte do confronto entre rivais em vários lugares. O diferencial pode estar no fato do clássico dividir severamente ao meio o Rio Grande do Sul, já que em outros lugares há mais de dois times grandes e tradicionais. Apesar de alguns estados terem dois times grandes rivais como no Rio Grande do Sul, muitos de seus habitantes preferem torcer pra times de outras regiões, coisa rara na terra do gre-nal.

Um sempre leva a vantagem no outro em algum quesito. Se um tem, o outro se mobiliza e corre atrás pra conquistar também. Não importa se é uma taça ou até mesmo um projeto de modernização de seus estádios, visando a copa de 2014. No Sul, ou você está de um lado ou de outro e isso se aprende desde cedo, ou, como diz o colorado Luís Fernando Veríssimo, a escolha acontece no exato momento em que você pisa no aeroporto.

Essa dicotomia tão radical foi capaz até mesmo de mudar atitudes de empresas patrocinadoras. Basta ter como exemplo uma marca de refrigerantes que teve de mudar a placa de publicidade no Olímpico só por ter as cores do Inter. Houve casos em que o patrocinador - principalmente se tiver sede em Porto Alegre - teve de ser o mesmo para os dois times, pra evitar perda de clientes e consumidores. Outro exemplo que ilustra bem o teor da rivalidade são os documentários. O Grêmio produziu um contando a saga da "Batalha dos Aflitos", quando o time voltou à primeira divisão e em resposta, o Inter fez outro documentário tendo como tema a conquista do Mundial de Clubes no Japão.

Uma típica rivalidade tem em seus ingredientes disputa acirrada: revanchismo eterno, provocações e relações de amor e ódio. No caso gre-nal, as coisas são mais profundas e dificilmente um jogador que teve identificação com um lado terá com o outro. Os que chegam aos clubes imediatamente são tomados pela rivalidade. É justamente essa intensidade capaz de derrubar imparcialidades que faz a diferença. Quando se fala em grenal, a coisa tende a passar dos limites.

Livro de referência... sobre blogs?

Para as pessoas que se interessaram pela história dos blogs no post Sobre Blogging ou, simplesmente, Blogando, vale a leitura do livro blog! How the newest media revolution is changing politics, business and culture. A publicação, de 2005, é um copilado de entrevistas com blogueiros de muitas partes do mundo, organizadas pelos jornalistas David Kline , do The New York Times, e Dan Burstein, autor de best-sellers como a série de livros que falam de segredos do Código da Vinci (sim, aquele do Dan Brown).

Entre os entrevistados, destacam-se Robert Scoble, blogueiro e "evangelista técnico" (assistente na divulgação da marca) da Microsoft, que fala sobre a face mais humana que transparece de grandes corporações americanas ao utilizar blogs, ao contrário da chamada old media (TV, rádio, etc). Joi Ito também é outro personagem do livro, empresário aventureiro na web e que, em 2005, já foi o blogueiro nº 1 do Japão, considerado o segundo maior mercado de weblogs do planeta (perdem apenas para os Estados Unidos em atualizações e números de endereços). Por fim, é importante mencionar também a presença de Ayelet Waldman, novelista que, ao abrir sua intimidade em seu blog teve seu casamento e vida pessoal salvos de uma tentativa de suicídio. Atualmente sua história foi transformada em livro.

O livro dá uma boa perspectiva sobre essa "nova tecnologia", que já nem é mais tão nova assim, mas merece estudos mais concisos. Merece especialmente sobre seu potencial com leitores.

sábado, 25 de julho de 2009

De frente com a Pantera

Maria Alice Vergueiro tem mais de cinquenta anos no teatro, mas ganhou fama com um vídeo simples na internet. A diva do underground virou a velha dama indigna da maconha

Por Danilo Braga

“Claro que eu não faço apologia da maconha! Acho que quem quiser fumar fuma. Quem não quiser, não fuma...” Ela é a maconheira de Higienópolis, a diva do underground que foi salva do ostracismo pelo YouTube, pela erva (“todos os dias, sem pular nenhum") e pela arte. Ela é Maria Alice Vergueiro.

Maria Alice é atriz. Nasceu também no underground do teatro paulistano, mostrando o talento em diversos improvisos e montagens nos quase palcos do submundo teatral. Na parte de cima da vida, onde há luz, semáforos e legislação ela é reconhecida por um dos seus papeis mais simples e legítimos de sua carreira: a Pantera.

Ela recebe visitas no apartamento de mais de trezentos metros quadrados, bem localizado em Higienópolis. Surge na sala de visitas apoiada em uma bengala. A tremedeira chama a atenção no instante em que ela tenta se controlar. Não é uma ansiedade, não é a inquietação da atriz: é o Mal de Parkinson consumindo o corpo datado com 74 anos de idade, mas não derrotando-a. Sorri para os convidados como se os tivesse visto crescer. A mãos macias e quentes, acolhedoras são sedutoras: ela ainda é a diva.

O pai foi um dos líderes da Revolução Republicana. Morreu aos 47 anos, alimentando a rebeldia e a fome de arte de Maria Alice. A família foi contra essa decisão, mas da rebeldia ela não relutou.

A casa de Maria Alice evidencia a riqueza herdada da família. Móveis coloniais, pinturas com alarme anti-roubo. Ao lado de um abajur com cúpula de seda, uma cadeira de rodas elétrica e bem equipada indicam a velhice que atingiu a diva, que é mortal e feita de carne e osso. “Eu comecei a discutir comigo mesma essa questão da velhice, da aposentadoria e do Parkinson. Eu estou com início de Parkinson, e senti que não gostaria de esconder essa... não diria decriptude, mas é que a elite passa a ter um tabu de que você é culpado por estar velho.” A velhice é um de seus assuntos preferidos.

Maria Alice vive com a mãe, de 95 anos de idade. Sobrevive com a pensão que o Estado paga, será interrompida quando sua mãe morrer. Para reforçar o caixa, vende ocasionalmente jóias da família. “Mas não quero pensar nisso”.

Maria Alice toma o chá de margarida com seus convidados. É difícil identificar onde exatamente está a personagem da Pantera uma vez que a atriz é natural e autêntica em suas opiniões sobre a droga. A maconha é outro de seus assuntos preferidos.
“Eu também cheguei a um ponto que eu não tenho mais o que perder depois que eu virei uma maconheira que mora em Higienópolis, de 74 anos.” Se é a favor da liberação? Diz que não pode liberar, mas também não se deve proibir. “É preciso acabar com esse tabu. Quem usa isso não são os fudidos do morro ou a moçada, e sim os grandes cartéis, as cambadas dos banqueiros”, confessa a atriz, que diz estar há 27 anos sem tocar em uma gota de álcool.

“Tapa na Pantera” fez do anonimato da atriz, a notícia. Dos impactos que o vídeo causou, o que mais incomodou foi o da família. “Minha filha não fala mais comigo desde o vídeo. É engraçado. Quando você pensa que deu uma educação livre, que cada um faz o que quer, a outra me vira e me dá um ignorada, para eu aprender. Eu acho que o importante é exatamente isso, fazer e mostrar.” Os netos apoiaram e aplaudiram. “Pai, a vó é muito sem noção”, conta a Pantera.

O filme foi uma criação coletiva, que surgiu durante uma reunião entre Maria Alice e os estudantes de cinema da FAAP, Rafael Gomes, Esmir Filho e Mariana Bastos. Estavam em sua casa para fazer o trabalho de conclusão de curso. Tomavam sorvete e a câmera continuou ligada. Surgiu a personagem na atriz. “Foi uma brincadeira que deu certo”.

O vídeo teve 5 milhões de exibições. “O sucesso se deu por causa da dúvida se aquilo era verdade ou não. Porque aquele espaço foi invadido por uma atriz". E com um simples gesto, responde à pergunta que muitos fizeram: De uma pequena caixa de madeira, tira o seu cachimbo e o acende. “Você quer?”.

Digitar ou tc, eis a questão!

Uso do internetês traz à tona discussão sobre formas de comunicação no mundo virtual e possível ameaça a norma padrão da escrita


“Kd vc? Vamu sai hj?”. É assim que a jovem Camila Macedo, de 18 anos, convida um de seus amigos para se divertir no sábado à noite pelo Messenger (MSN), o comunicador instantâneo da Microsoft. A estudante, assim como grande parte da geração web, utiliza-se do internetês, idioma criado para acompanhar o ritmo frenético das conversas online, a fim de se comunicar de forma mais rápida e fácil.

Usada inicialmente em chats, essa linguagem caracteriza-se pela simplificação informal da escrita com o objetivo de agilizar a digitação. Os principais recursos utilizados são abreviações e substituição de letras para diminuir o número de caracteres.

Mas o que anima os jovens preocupa alguns professores, que veem na nova linguagem uma ameaça a norma padrão da Língua Portuguesa. “As complicações começam quando o internetês transpõe as barreiras do mundo virtual e invade ambientes não apropriados, como a sala de aula”, explica Camila, que garante não ter problemas com essas variações linguísticas. “Quando preciso escrever correto, escrevo! O internetês só é usado na web, para facilitar a conversa”.

A Mestre em Linguística Aplicada e professora de Português, Neide Arruda de Oliveira, alega que essa afirmação não é verdadeira para todos os jovens. Segundo ela, principalmente entre os adolescentes que estão no Ensino Fundamental e Médio, há uma dificuldade de aceitar a língua padrão. “Eles costumam apresentar em suas redações termos oriundos do internetês como naum, mto e axou. Quando isso acontece, chamo-os e oriento-os quanto ao uso do internetês fora do mundo virtual. Digo a eles que cada linguagem tem o seu espaço adequado, assim como o vestuário”.

A principal preocupação dos estudiosos em relação ao uso indiscriminado do internetês diz respeito às dúvidas que podem surgir no futuro com relação à grafia das palavras. Entretanto, respeitados estudiosos como o inglês David Crystal, autor do livro “A linguagem e a Internet”, lembra que a invenção do telefone provocou a mesma desconfiança. Na época, acreditava-se que as pessoas perderiam a capacidade de expressão com o uso de “hã hã” e alôs e não foi o que aconteceu.

Para Neide, a solução mais viável para não gerar dúvidas nos jovens ainda em formação, bombardeados por diferentes grafias, é o incentivo a leitura. “A única saída para os jovens é melhorar o nível de leitura de obras que não utilizem o internetês”. Outra dica apontada pela professora é um acordo entre educadores e alunos. “Quando forem realizadas provas, redações, exercícios, a linguagem utilizada deve ser a padrão. Quando os alunos interagirem com os professores pelo computador (Orkut, MSN, blog ou e-mail), nesse caso, eles utilizariam a mesma linguagem virtual. Os alunos gostam quando o professor também usa o internetês. Não há nada demais nisso”, explica.

:: Leia a entrevista completa com Neide Arruda sobre o internetês

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Projetos esportivos em escolas municipais podem alavancar a qualidade de vida dos jovens e mudar comportamentos


“Pênalti!“. Apita o professor voluntário que orienta um grupo de meninas amantes do futsal na quadra municipal da Escola Mário Covas, em Lorena, interior de São Paulo. Ana Beatriz Farias, de 12 anos, prepara-se para agarrar a bola. Com seus 1,55m de altura e 40 kg, parece sumir na imensidão do gol. Há um ano e meio praticando esportes, a jovem garota deixou de lado as bagunças, a agressividade e o baixo rendimento escolar para conseguir um lugar na seleção de futsal da cidade. “Para treinar aqui e entrar para a seleção é preciso ter bom comportamento”, explica com os olhos atentos.

Além de Ana Beatriz, cerca de 500 jovens participam diariamente do projeto “Lazer Noturno”, criado pela secretaria de Educação do município para oferecer atividades esportivas aos alunos e a comunidade em cinco escolas municipais durante a noite. Orientados por professores de Educação Física, estagiários e voluntários, os participantes aprendem também a respeitar o próximo, a construir a cidadania e a cuidar do corpo e da mente.

O coordenador do projeto, José Agustinho Boaventura, conta que a finalidade da iniciativa é retirar os jovens das ruas e mostrar-lhes um caminho que propicia qualidade de vida. “O esporte é a melhor escola da vida. Ele ensina a vencer sem que a pessoa ache que é a melhor de todas, ensina a perder sem que ache que é o fim de tudo. O esporte ainda ensina a respeitar o oponente e a manter a integração, a solidariedade e a disciplina”.

Do outro lado da cidade, Camila Jofre dos Santos também treina em quadras municipais para atingir seu sonho. Ela não conhece Ana Beatriz nem o projeto “Lazer Noturno“, mas sabe de cór as lições de cidadania que aprendeu no CSU (Centro Social Urbano), espaço da prefeitura que também disponibiliza atividades esportivas gratuitamente aos jovens. Aos 15 anos, Camila acumula treze medalhas, todas conquistadas com seu esporte preferido: o atletismo. Mesmo com a rotina pesada, na qual concilia treinos, competições e escola, não abandona nem por um minuto o bom humor. “Antes eu era muito nervosa e não sabia perder. Com o esporte, aprendi a respeitar os outros e a me conhecer melhor. Isso é uma paixão para mim, não consigo parar“, garante a jovem.

O treinador de Camila, Benedito Moisés de Oliveira, afirma que a mudança de comportamento é visível em todos os seus 40 alunos. Segundo ele, os pais dos garotos sempre vão ao CSU acompanhar os treinos dos filhos e comentam sobre a melhora na conduta dentro de casa. O professor conta com orgulho também que nenhum de seus alunos repetiu de ano depois que começaram a praticar o atletismo. “Isso é muito gratificante e prova que o esporte, por mais que alguns digam que não, é muito importante na formação do jovem”.

O Brasil é um exemplo para o resto do mundo por usar a prática esportiva como ferramenta para a inclusão social, desenvolvimento e para a paz. Por isso, a ONU (Organização das Nações Unidas) criou um projeto intitulado “Esporte para o Desenvolvimento e Paz”, inspirado nos programas brasileiros, onde procura analisar a situação do esporte em âmbito mundial e assim propor aos poderes públicos ações práticas para despertar a valorização do setor na melhoria da qualidade de vida. Para a psicóloga do Esporte, Lívia Petit, a iniciativa é importante para instigar o governo a investir cada vez mais na prática esportiva, alimentando, assim, os sonhos de mais jovens, como Ana Beatriz e Camila, que mudaram o comportamento e a forma de enxergar o mundo em busca de alcançar os seus ideais.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Sobre Blogging ou, simplesmente, Blogando

A web “automatizada”, convergente e acessível nos rumos da internet

O blog possui origens incertas, como a maioria dos aplicativos e espaços na internet. Todos os relatos de servidores web que começaram a usar “logs” (registros simples) enquadrados em codificação HTML, o hipertexto, remontam ao ano de 1999. Naquele ano, surgiu o serviço Blogger, criado pela empresa Pyra Labs, que popularizou um formato simples e intuitivo para usuários que não conheciam muito sobre a codificação na internet. O sistema também sempre permitiu a visualização de toda a linha programável da página, "instruindo" os clientes sobre o HTML.

Antes da explosão causada por essa empresa e várias páginas criadas nos sistemas que a imitaram, um homem fanático por tecnologia, a literatura irlandesa de James Joyce e inteligência artificial da informática lançou o primeiro web log, os dois termos que, flexionados, geram a palavra blog. Nome dele? Jorn Barger. Seu site chama-se Robot Wisdom, com vários textos opinativos, denominados como posts ou postagens. A publicação foi a primeira a usar o termo blog e estabeleceu conexões com tantos sites diferentes, arrecadando tantas visitas que a revista de tecnologia inglesa The Register alegou que “não há maior leitor na internet do que Jorn Barger”. Blog tornou-se um verbo, nos termos brasileiros blogar, blogando e, em inglês, blogging.

Esse fenômeno de “ler a web”, ou seja, apreender informações, criar links - portas de acesso para outras páginas - e inserir texto se tornaram as premissas principais dos blogs, espaços privilegiados de debate e opinião. Criou-se também uma cultura de comentários, dando espaço, através de um link, em todo e qualquer texto, para a pessoa inserir seu apontamento, sua observação, por escrito. O administrador do blog pode bloquear os comentários, pode tornar o conteúdo inteiro como oculto. Pode também codificar esse espaço na web para restringir acesso e muitos outros comandos. Designers e o pessoal das artes gráficas se especializaram em web para ensinar e ajudar outros fãs de informática na personalização de seus blogs, criando os famosos “templates”, que estilizam o fundo e as seções da página com desenhos, letras customizadas e cores diversas, fugindo de um formato padrão.

Cronologicamente, os blogs começaram com picos de criações no começo do século XXI, ampliando os espaços na internet. No entanto, sua interface gráfica, sua aparência, ainda era muito similar a de sites, gerando uma súbita decadência de uso entre 2002 e 2004. Progressivamente, com a entrada da megacompanhia Google, que comprou a Pyra Labs em 2003, e a criação do WordPress no mesmo ano, os blogs ganharam, pouco a pouco, ferramentas de outras mídias. Incorporaram vídeos do site Youtube, que também foi outra aquisição da Google, janelas de exibição de outros sites, estatísticas de visitas, publicidade que rende verba aos donos do endereço e maior facilidade de comandos para inserir todas essas ferramentas. Outro pico da criação de blogs foi registrado devido a esses fatos em 2007, quando o site Technorati, que conecta espaços da web toda, registrou a criação de 112 milhões de blogs.

Os administradores de blogs também se profissionalizaram. Empresas contratam os chamados “blogueiros” para colocar, de maneira acessível ao público e ao mercado, materiais que podem ser comentados. Jornais colocaram colunistas para que escrevessem com mais regularidade seus comentários em blogs, acompanhando os fatos do dia-a-dia e conquistando visitas expressivas na web. Até a rede de blogs ganhou um nome – a “blogosfera” –, tornando organizada e hierarquizada os espaços de discussão na internet, valorizando mais o conteúdo e o autor dos textos, vídeos e fotos digitais. Nomes desconhecidos da televisão e dos sites usuais começaram a despontar dos blogs, seja ele feito em grupo ou sozinho.

A mudança que os blogs provocaram não é exclusiva no jornalismo, nem de nenhuma área em específico. É uma ferramenta para todos. Na informática, ele tornou automática a criação de páginas na internet, desprezando, muitas vezes, o trabalho manual no HTML – e talvez segregando as pessoas do conhecimento de informática, ao invés de ensiná-lo. Nas grandes corporações, o blog constantemente é tratado como um espaço onde mostra tudo o que é dispensável para o site, desvalorizando um pouco produtividade dos comentários e das críticas. No uso pessoal, a maioria dos blog se restringe a cópia de textos, muitas vezes sem autorização, e ao relato individual, aos diários particulares. Entretanto, para criadores autônomos, o espaço é um canal de progresso digital, podendo atingir muitas pessoas em uma escala diferente da física.

Aos criadores eficientes de textos, vídeos e áudios, como o empresário Edney Sousa (do Interney), o criador publicitário Carlos Merigo (Brainstorm #9) e os jornalistas Luís Nassif e Ricardo Noblat, o espaço é um laboratório praticamente infinito de experiências criativas. O formato de texto nesses espaços é próprio e diferente do impresso: ora enxuto e direto, mas não como o jornal diário, ora repleto de links para outros textos, o que seria impossível fisicamente. Os vídeos e os áudios, especialmente de podcasts, passaram a ser incorporados aos blogs pelo sistemas agregadores, widgets. Comunicação por via dos blogs e do mundo digital está longe de substituir outras superfícies. Ela é, com as teias criadas pelos códigos HTML, XML e CSS, além do protocolo IP, um caminho para o texto fragmentado, contínuo e, em alguns casos, interminável. A prova final disso foi a criação enciclopédia mundial Wikipédia, pelos desenvolvedores Larry Sanger e Jimmy Whales, com colaborações livres e sem fins lucrativos. Em desenvolvimento desde 2001, tornou-se uma fonte infindável que é retroalimentável, como o blog (mas totalmente aberta ao acesso do público).

Blogando, seja citando ou gerando conteúdo, o mundo se desenvolve a partir de pequenas iniciativas, sistemas da informática que incorporam tecnologias, por convergência (sobretudo nos softwares), e idéias nesses espaços. Não é porque qualquer pessoa pode postar qualquer coisa que o texto será notícia ou dado confiável, por mais controversos que sejam os critérios atuais. Por isso, autoridades ou não, os homens de imprensa e personalidades sempre terão seu espaço aliado ao tecnológico, especialmente quando seu alcance estiver, pouco a pouco, melhor definido. O que muda é a presença de anônimos que, com material de destaque e uma boa divulgação no mesmo meio, ganham um reconhecimento, mesmo que não seja o suficiente ainda.

Sérgio Dias conversa com fãs no CCJ Ruth Cardoso

"Mutante" esclarece por que não lançará o novo álbum da banda no Brasil

Neste mês do rock, o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso (zona norte de São Paulo) recebeu, no último sábado (dia 18), o guitarrista dos Mutantes Sérgio Dias. Por quase duas horas, ele falou sobre o passado e o presente do conjunto, além de classificar a divulgação na internet de material da banda sem autorização como "um tiro no pé".

Fãs de diversos lugares compunham a plateia. Desde o bairro da Pompeia (zona oeste de São Paulo), que é bairro natal de Sérgio Dias, até São José dos Campos (interior do estado), os admiradores dos Mutantes levaram discos de vinil para serem autografados pelo músico.

Dias relembrou a influência familiar no processo de composição do grupo. "Meu pai tinha uma livraria imensa. Quando fiz 13 anos, ele me deu Os Lusíadas. Eu li o negócio e não entendi merda nenhuma, mas alguma coisa entra. O lado cultural da gente era muito forte. A gente vivia no Teatro Municipal assistindo à minha mãe, às óperas. Minha casa sempre foi um centro de cultura."

Uma pessoa da plateia perguntou sobre o efeito das drogas na carreira do conjunto. O guitarrista declarou ter feito uso do ácido lisérgico (LSD) em apenas um álbum. "O único disco feito à base de drogas foi O A e o Z (gravado em 1973 e lançado em 1992). Todos os discos que são reverenciados e do qual eu acredito que sejam os mais criativos foram completamente caretas. Quando a gente tomou os ácidos, aconteceu uma coisa muito séria. Tem músicas do O A e o Z que foram compostas na hora, com três letras separadas ao mesmo tempo e cada um cantando a sua letra, o que para nós era 'mágico' ou 'impossível'."

Junto do baterista Dinho Leme, Sérgio Dias é o único remanescente da formação original do grupo, formado no final dos anos 60. Trinta e cinco anos depois de Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974), o último álbum de inéditas, os Mutantes lançarão Haih, no dia 8 de setembro, com novos integrantes. Dias comentou a semelhança do novo trabalho com o auge da carreira. "Uma coisa eu te garanto: é Mutantes. Agora, é Mutantes do século XXI. É Mutantes comigo com 58 anos de idade. É Mutantes com garotos de 22 anos tocando."

Um parceiro na nova fase dos Mutantes é Tom Zé, que já colaborou com o conjunto 40 anos atrás. Sérgio Dias não esconde sua admiração pelo compositor. "Quando conheci o Tom Zé, eu tinha 16 anos. Não conseguia nem conversar com ele. O Tom Zé sempre foi um mestre, um gênio. Eu fui entender letras dele 20 anos depois. Quando a gente se encontrou no show [do aniversário da cidade de São Paulo, em 25 de janeiro de 2007] do [Museu do] Ipiranga, eu disse: 'Eu quero fazer música nova'. E ele disse: 'Vamos nessa!'".

Sérgio Dias elucidou os motivos pelos quais não assistiu ao documentário Loki – Arnaldo Baptista, sobre seu irmão e ex-parceiro dos Mutantes, ainda com as sequelas da queda do quarto andar de um hospital psiquiátrico, em 1982. "É muito dolorido para mim. Não aguento mais ver meu irmão se desenvolvendo ou coisa do gênero. Isso para mim beira o masoquismo. Prefiro guardar os momentos bons [com o Arnaldo] do que ficar vendo o depoimento da minha mãe, o meu depoimento. É chato".

O "mutante" criticou a atitude de muitos fãs que publicam conteúdo de artistas na internet sem autorização. "Imaginem uma banda nova que vocês admirem. Você diz: 'Puxa, essa banda é demais, é genial, vou colocar no YouTube, na internet.' Como é que o cara vai fazer o segundo disco? A ideia da 'democratização' da música é muito bonita, mas, ao mesmo tempo, é um tiro no pé, porque é o trabalho dele".

Para o guitarrista, grandes artistas saem do Brasil por conta da exposição indevida de seus trabalhos na rede. "Onde está todo o manancial da música brasileira, que está viva e desaparecida? Onde está Milton Nascimento, Edu Lobo, essas pessoas que são tão sérias e importantes? Cadê esses caras? Eles são a essência disso tudo. É uma pena ver esse tipo de talento ter que ir embora do Brasil, que, no fim das contas, é isso que acontece. Essa é a questão maior que vocês estão vivendo: se vocês querem ter a música popular brasileira aqui ou fora do país, o que é um negócio muito chato."

Haih será lançado mundialmente no dia 8 de setembro, exceto no Brasil. O "mutante" se justifica: "Quando fui falar com os diretores da Sony, os caras já não acreditaram. 'Bixo', eu conheço a indústria [fonográfica] brasileira. O negócio que não tem sucesso cai por terra. Imagina se ninguém pagasse ônibus, não teria ônibus. Estamos vivendo um momento extremamente sério. Como é que isso vai ser resolvido? Por que os Mutantes não estão lançando o disco no Brasil? É uma questão de debate para vocês".

Último dia do Anime Friends 2009 empolga fãs de tokusatsus

Otakus enfrentam fila de quase duas horas para assistir aos shows do evento


Fila, plaquinhas, fantasias. Ingredientes que sobraram na sétima edição do Anime Friends 2009, o maior evento de cultura pop japonesa da América Latina,. Foi realizado em dois finais de semana no Mart Center (zona norte de São Paulo) e encerrado no dia 19 de julho.

Os otakus – fãs de animes (desenhos animados) e mangás (histórias em quadrinhos) japoneses – tiveram de esperar cerca de duas horas para entrar no evento. Nesse tempo, a criatividade aflorou nas já tradicionais plaquinhas, publicando de enquetes a comentários curiosos. Criativas também foram as fantasias dos cosplayers: enquanto cinco rapazes se vestiram como os Cavaleiros do Zodíaco, enquanto outro grupo parodiou as guerreiras de Sailor Moon. Até as Meninas Super Poderosas – em versão masculina – compareceram.

Embora algumas salas estivessem ausentes nesta edição, como a de Chaves e sobre Harry Potter, outras estrearam, como a do livro Crepúsculo. Também estiveram presentes a Editora Panini, com a versão mangá da Turma da Mônica, e a PlayArte, com a promoção de DVDs de Os Cavaleiros do Zodíaco, Yuyu Hakusho, Naruto e outros animes de grande sucesso entre os otakus. A rede de cabeleireiros Soho transformou o visual do público por 1 kg de alimento não-perecível.

Vale destacar a apresentação da banda Wasabi, formada por brasileiros, às 16 horas. O set list empolgou a plateia. Músicas de animes como Naruto e Death Note dividiram o show com canções em português, marcantes na infância dos espectadores. As versões brasileiras de Pokémon, Shurato e Yuyu Hakusho deram tom nostálgico ao espetáculo.

O chamariz do último dia do Anime Friends é o Super Friends Spirits, show reunindo intérpretes japoneses de animesongs – as músicas que embalam os animes. Os protagonistas desta edição foram os cantores de tokusatsus – séries live-action japonesas – Yukio Yamagata, cantor da abertura de Gaoranger; Schnichi Ishihara intérprete da música de Gogo V; e Akira Kushida – cantor de Jiraiya, Jiban e Jaspion, séries exibidas pela extinta TV Manchete e aclamadas pelo público otaku. Antes, a Associação Pak Shao Lin realizaram uma apresentação de kung-fu, irritando o público que estava ansioso pelo show principal.

O Anime Friends 2009 terminou. Agora é esperar pela oitava edição, em 2010. Teremos as mesmas peculiaridades do evento, como as filas quilométricas, atraso nos shows, gritaria dos fãs e muita história para contar no dia seguinte. Anime Friends é, sobretudo, uma confraternização entre fãs e amigos, vindos com caravanas do Brasil inteiro, esperando por esse acontecimento anual.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sobre jornalismo, mídia social e... post pago?

Produção cultural, twitter e blogs é especialidade de Liliane Ferrari, casperiana capa da revista Veja do dia 8 deste mês sobre mídias sociais. Ela já foi jornalista de inúmeras emissoras de TV importantes, como a Manchete, Bandeirantes e até a FOX Kids. Em uma entrevista ao Bola da Foca ela contou detalhes de seu trabalho na internet e na comunicação atualmente, que estão distante da chamada imprensa hard news.

Por Pedro Zambarda

Bola da Foca: Liliane, você atualmente trabalha com produção cultural e em seus blogs na internet. Quais blogs você atualiza? Como é o seu atual ritmo de trabalho?

Liliane Ferrari: Faço a produção executiva da EXS 09 exposição internacional de sticker art que traz mais de 120 artistas de 25 paises para as cidades de São Paulo, Curitiba, São Carlos, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Dou aula na Escola São Paulo na área de Artes Plásticas e Novas Mídias. E coordeno a área de comunicação e produção da maior escola de dança da América Latina, a Pulsarte.

LF: Escrevo, além do meu blog (http://www.lilianeferrari.com), da Rede M de Mulher da ed. Abril, nos corporativos da Trakinas (http://www.maecomfilhos.com.br), Mapfre (http://redemapfremulher.com.br/vivabela), LG (http://bloglge.com.br/). Também sou colaboradora da revista MundoMundano e do portal IdeaFixa.

LF: Em todos os veículos eu tenho total liberdade de escolha de pautas e desenvolvimento dos assuntos com base no meu olhar e experiência.

BF: Você disse na palestra que fez na FAPCOM, dia 28 de junho, que já foi jornalista hard news, da notícia a todo minuto, e que agora não é mais. Como era naquela época? Quais lugares você trabalhou?

LF: Trabalhei na TV Gazeta, TV Bandeirantes, TV Manchete, SBT, FOX Kids. Fui desde rádio-escuta a produtora executiva, passando por editora de matérias internacionais e repórter. O ritmo de trabalho era tão intenso como o que tenho hoje como produtora. Mas ainda não tinhamos a presença forte da internet nas redações era tudo mais à moda antiga.

LF: Penso que o jornalismo se perdeu um pouco justamente pela essência do seu existir, que é trazer fatos todo dia, toda hora, todo minuto. Dizer algo sobre as pautas do momento fez a coisa ficar desinteressante. E essa situação está ainda mais neste estado com a ideia do distanciamento e a não-opinião, que fez com que todos os jornais (impressos/radio/tv) ficassem de tal forma pasteurizados que em '"testes-cegos" parecem que todas as matérias foram feitas em um mesmo local.

BF: Você ainda considera que faz jornalismo, mesmo envolvendo outros tipos de trabalho?

LF: Acho que uso algumas técnicas do jornalismo para levantar informação, redigir rapidinho um post por exemplo. Por outro lado, me distancio do jornalismo quando imprimo pessoalidade e intimidade nos meus textos. Não acho que faço jornalismo não, até penso que os blogs seriam uma "terceira via" na área de Comunicação Social.

LF: Quando cuido do blog de uma empresa, ou estou na produção de alguma exposição sempre uso o critério de 'quem está na redação' ou seja procuro dar enfoque aquilo que é realmente interessante e pautável e não aquilo que o cliente acha bonitinho e pensa que é assunto. O press release, a meu ver, já morreu faz tempo e é hora de novas fórmulas de comunicação entre assessorias e veículos.

BF: Você faz posts e textos pagos em seu blog e em outros blogs? Como ocorre esse tipo de trabalho? Há críticas do público? E elogios?

LF: Faço post pago desde o ano passado. A maioria dos blogueiros detesta essa nomenclatura. A mim não incomoda, afinal é post é pago.

LF: Quando a gente faz um blog, não se pede autorização. Por isso explico: não é como uma TV que recebe concessão para funcionar e ainda faz merchan de muitos produtos. Então deve ser o critério do blogueiro que decide topar ou não escrever um publieditorial. Só a ele cabe decidir. Geralmente a agência entra em contato e apresenta a pauta. Com base na pertinência do assunto para o blog e valor da remuneração, ela é aceita ou não. Costumo identificar esses posts e os incluo na categoria "Publieditorial", para quem ler saber do que se trata. Não é porque está ali que estaria somente "fazendo propaganda", mas para dar transparência sobre o conteúdo.

LF: Sempre há críticas, como não haveria? Eu só faço post pago quando o assunto tem a ver comigo, quando acho interessante para quem lê meu blog e muitas vezes é um assunto que escreveria mesmo se não me pagassem. E as propostas das agências vem bem nessa linha, nunca recebi um pedido de algo que jamais faria. Já os elogios vem naturalmente. Quando eu fiz o post sobre o Carona Chevrolet e contei várias histórias das caronas que já dei por aí muita gente gostou e se divertiu e é aí que está o segredo: não importa se o post é pago. Vale sim se quem o escreve fará de forma chata e burocrática ou de forma bacana e verdadeira. Recomendar serviços e produtos é uma coisa que todo mundo faz na vida, a diferença é que nesse caso uso o blog. Pela visibilidade que eu tenho as empresas me procuram com propostas.

BF: Você é usuária assídua do twitter. Como você acha que o jornalismo pode aproveitar bem essa ferramenta? E outros Social Media? Devemos estar atentos a todas essas novidades?

LF: Quem trabalha com informação, publicidade ou algum tipo de função que seja importante acompanhar as novidades deve ficar de olho nessas ferramentas, pois a agilidade e frescor das novidades está ali em tempo real. Eu adoro o Twitter e para mim tem uma utilidade incrível. Só um exemplo: estava em busca de um apoio para EXS 09 que bancasse a conta pro do Flickr. "Tuitei" e minutos depois já tinha muita gente se oferecendo a ser nosso '"mecenas". Meia hora depois a conta pro estava ativada.

LF: E para o jornalismo a ampliação no nº de fontes que o Twitter oferece é uma preciosidade, além disso é um excelente termômetro para observar a repercussão de assuntos.

Contato de Liliane Ferrari no twitter: http://twitter.com/lilianeferrari

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Dicas musicais pro Dia do Rock e pra sua semana

No dia 13 de julho de 1985, Bob Geldof organizou um evento chamado Live Aid, um gigantesco show de rock com as melhores bandas da categoria e muitos pops (de Led Zeppelin até Michael Jackson e Madonna) simultâneo em Londres, Inglaterra, e na Filadélfia, Estados Unidos. O objetivo era combater a fome na Etiópia e sua transmissão teve apoio da rede BBC.

Desde então, esse ficou conhecido como o Dia Mundial do Rock. Uma homenagem ao evento e ao estilo musical.

Por esse motivo, caso você queira sugestões hoje ouvir hoje e nesta semana, faço algumas recomendações necessárias da música. São contribuições do rock para a história, que você deve encontrar na internet ou deve ter entre seus CDs, vinis e gravações, mesmo que esteja empoeirado.

Combo Clássico: The Kinks e The Rolling Stones

Os grupos de Ray Davies e Mick Jagger fazem aquele rock que atende bem aqueles querem algo bem sessentista (e até com um swing dos anos 50). Kinks terminou em 1996, os Stones ainda estão na estrada. Por essa história, a carreira mais atual de ambos não é ruim, mas nada supera os velhos tempos. Se for dar destaque às músicas, pode ser algo bem tradicional como You Really Got Me até algo mais obscuro como Paint in Black. Vá ouvir, sem erro (e ouça os covers, que também são ótimos).



A Tríade "Madura" do Rock: Led Zeppelin, Deep Purple e Black Sabbath

Criadores do heavy metal, do hard rock e influência de muitos músicos, sempre será rico ouvir qualquer um dos três. Purple, para os que gostam dos eruditos Richie Blackmore e Jon Lord, é um prato cheio. Até sua nova fase com Steve Morse merece ser vista com frequência. Zeppelin vale pelo enigmático Page, vale pela riqueza que John Paul Jones trouxe ao baixo e vale também pela história de John Bonham. Robert Plant é o projeto que todo vocalista de sucesso quer ser, mesmo sendo odiado por alguns. Sabbath vale pelo toque pessoal de Ozzy Osbourne e seus sucessores, além da proeza de Tomy Ionni na criação de riffs, "fraseados"na guitarra. Por mais que você não goste de peso, essa tríade foi uma das transformadoras do estilo.



A raiz: Elvis e os anos 1950

Não se trata apenas do senhor Presley, mas de Chuck Berry, Mud Waters, B.B.King e todas as personalidades que deram o swing inicial do rock, além de preenchê-lo com blues. A origem norte-americana é necessária para que muitos entendam o estilo.



O fenômeno The Beatles

Falar sobre eles é repetir o que um monte de gente diz. Mas não custa dizer que Paul, George, Ringo e John não foram encaixados com outras bandas porque eles representam um processo diverso dentro da música: antes de depois de 1966. Fizeram músicas que continuam sendo adoradas no mundo todo e não tem um som "uniforme", embora os primeiros discos dêem a entender isso. Duas músicas não são suficiente para definí-los, mas não custa tentar, não é mesmo?






As guitarras do rock: de Hendrix até Van Halen

Mas essa recomendação não fica restrita a esses. Se você ouve Jimi Hendrix, deveria ouvir Eric Clapton, George Harrison, Neil Young, David Gilmour e todos os contemporâneos do negro que popularizou a guitarra estilo stratocaster, especialmente as da empresa Fender. Já para os mais modernos que ouviram Eddie Van Halen e sua banda nos anos 80, Yngwie Malmsteen, Jason Becker, Marty Friedman e todos os guitarristas virtuose dos tempos atuais são a sua praia. No mais, a guitarra sempre foi um instrumento marcante para a rebeldia do rock.



Punk Rock: música e ideologia

Embora questionável, simplista em determinados momentos e nonsense em outros, é fato que a explosão do punk rock, entre 1974 e 1977, mudou para sempre o show business. Ramones, Sex Pistols, Dead Kennedys, Misfits e muitos outros vieram de uma total falta de talento e sorte, direto dos subúrbios pobres da Inglaterra e dos EUA, para mudar a mensagem e as inovaçãos do rock. "Do it yourself" é o lema deles, inspirados por outros "dinossauros" como The Stooges, Iggy Pop e o glam rock do New York Dolls. Vale a pena, pelo menos, dar uma conferida no tio Iggy e na molecada do Pistols.





Rock Progressivo e Experimental

Indo para além das fronteiras do estilo e da técnica, ouvir rock progressivo é sempre uma riqueza aos ouvidos. Explorando os sentidos e a teoria musical, ele é um óbvio opositor ao punk. Bandas a se escutar? Desde o tradicional Genesis, de Peter Gabriel e Phil Collins, em plenos anos 70, até o moderno Porcupine Tree, de hoje. Basicamente todo o rock´n´roll foi contaminado pelas viagens, músicas de 20 minutos e evoluções conquistadas pelo pessoal do progressivo.





Glam/Glitter Rock: Muito laquê e purpurina

Quem disse que o rock´n´roll não pode ter androginia, homossexualismo ou bissexualismo explícito? Quem disse que todo o vocalista aparentemente afeminado é gay? O rock nesse segmento ganhou, literalmente, brilho. E o que pouca gente sabe é que a purpurina criou o heavy metal e o punk, vindos diretamente de David Bowie, New York Dolls e até de bandas mais modernas como o Hanoi Rocks (que já acabou, infelizmente). A aparência, especialmente nos anos 70 e 80 contou muito para essas bandas, tendo expoentes como o Kiss e Twited Sister.





Há muito o que se escutar e entender no rock, mas essas são algumas seleções para fãs, para pessoas que querem entender melhor a história e para outros que querem apenas festejar a data, o prazer de aproveitar música.

Um Teto para o Brasil

Um rádio. Foi o que Rita de Cássia Batista pagou pela sua atual moradia. Quando ex-proprietária do barraco, a baiana Beatriz, resolveu retornar para seu estado de origem, trocou o local pelo rádio do filho de Rita, Felipe. Depois de seis anos morando em condições precárias, Rita e seus três filhos irão receber uma nova casa da ONG Um Teto para meu País.

"Eu tinha acabado de ver esse pessoal na televisão quando eles apareceram aqui", conta ela. A ONG fora divulgada pela TV Globo no dia em que ela preencheu o formulário para candidatura ao benefício. E deu certo. No dia 28 de Junho, domingo, os voluntários da organização foram até sua moradia, em Suzano - SP, anunciar à família que ela havia sido selecionada entre outras 40 para ter sua casa reconstruída.


A nova moradia, feita de madeira e elevada do solo, evitará a entrada da chuva, de insetos e o contato direto com o barro. Em dois dias de Julho, por volta de 80 membros da ONG vão construir outras 9 residências emergenciais no Jardim Gardênia, bairro de Rita.

As casas não são definitivas, porém. A previsão é de que durem 5 anos, em média. “As casas são uma medida emergencial para ajudar de imediato as famílias que mais precisam”, conta a estudante de arquitetura da USP Julia Nogueira. A intenção, diz, não é somente solucionar o problema da moradia, mas estimular a família a sair da condição de extrema pobreza.

Da casa, cujo valor é cerca de 2500 reais, os futuros moradores pagarão uma taxa simbólica de 120 reais, “para sentirem que a conquistaram, que é deles”, contou a voluntária. O valor padrão, de 250 reais, foi reduzido em virtude da dificuldade dos moradores de Suzano com o pagamento. O dinheiro vem, principalmente, de doações. Cada casa é erguida em cerca dois dias com materiais cedidos por empresas de construção, na maioria da própria cidade.

Constituída basicamente de universitários e recém-formados, a ONG atua principalmente no período de férias escolares, quando os voluntários têm mais tempo livre. Embora a ação nas favelas seja planejada o ano todo, ela se concretiza em apenas três dias, que é quando os "pedreiros" acampam em escolas municipais da cidade escolhida e erguem as casas."Mas no último mês de Janeiro ficamos 6 dias construindo 24 casas", conta com orgulho Felipe Mello, estudante de Psicologia da P
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Construção de uma das casas emergenciais, no Brasil.

Em três anos de Brasil, a Um Teto para meu País já contou com a participação de pelo menos 530 voluntários na construção de 112 casas nos municípios de São Paulo, Guarulhos e Itapeva. Agora será a vez de Suzano, o décimo sexto PIB mais pobre do Estado de São Paulo. Mas a ação da ONG no Brasil, chamada carinhosamente de “Teto”, ainda tem muito a melhorar em relação ao Chile, seu país de origem. Lá, a Teto existe desde 1997 e conta com apoio oficial do governo da presidente Michele Bachelet. Com a ambição de erradicar a pobreza na América Latina, os chilenos já exportaram a ONG para outros 14 países.

No Brasil, a ONG ainda está no que os voluntários chamam de Fase I: a construção de casas emergenciais. Além da ajuda imediata às famílias, a Fase I coloca os participantes universitários da organização em contato com uma realidade diferente e tocante. “Quando se constrói uma casa, todos da comunidade ficam animados, querem ajudar e querem aquilo para eles também, e aí a habilitação social vai evoluindo” relata Julia.

As fases intermediárias envolvem o estímulo da cooperação entre os moradores e a capacitação para o trabalho. "Depois, vamos tentar descobrir o que cada comunidade precisa: esgoto, escola, creche, plantar árvores, catar lixo, microcrédito, ir atrás do governo para reivindicar infra-estrutura, cada lugar é diferente", conta ela, que com 8 meses de Teto já viajou para o Paraguai e construiu duas casas, uma delas em uma aldeia guarani.

A fase final, alcançada apenas no Chile, é simbolizada pela construção da moradia definitiva e o desenvolvimento de soluções habitacionais, em parceria com o governo, a sociedade e as empresas. A comunidade, nessa etapa, é chamada de auto-sustentável, pois os moradores se emancipam do intermédio da ONG e já podem reivindicar seus direitos junto à sociedade. Espera-se que, assim, a favela se integre à malha urbana da cidade.

Como no Brasil a última etapa ainda está um pouco distante, os planos imediatos da Teto são fortalecer a atuação e a imagem da ONG, conta Lucas, estudante de Ciências Econômicas da PUC. “Queremos que a Teto seja a primeira opção das pessoas que querem fazer trabalho voluntário. Que seja uma referência no voluntarismo universitário no Brasil”.

O crescimento do terceiro setor no Brasil é cada vez maior, mas isso não implica na sua independência em relação aos outros setores. Daniela, graduanda em Arquitetura pela USP, ressalta que o sucesso do projeto no Brasil só é possível com o apoio do governo. "Não podemos passar sem o poder público de maneira nenhuma. O que fazemos é ajudá-los a se organizarem, se associarem, para poderem reivindicar seus direitos de posse de terra, de cidadania junto ao governo". Por fim, solicitou: "A prefeitura tem que cooperar com a regulamentação fundiária e prover as famílias de infra-estrutura".


Mais informações


São Paulo, Junho de 2009


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Medo segundo Muse

Black Holes and Revelations não é o único álbum de sucesso do trio britânico Muse, formado por Matthew Bellamy (voz, guitarra e piano), Christopher Wolstenholme (baixo, voz secundária e teclado) e Dominic Howard (bateria e percussão). Absolution traz a temática do medo humano em um rock alternativo que mistura a elaboração do progressivo, o peso de distorções bem encaixadas e a empolgação de uma banda entrosada. Vai agradar desde aqueles que querem uma música pra agitar até os que desejam ouvir e refletir.

Por Pedro Zambarda

Lançado em 2003, começo da Guerra do Iraque, desde a introdução o CD já traz a realidade de sua época. Em 22s, nos momentos iniciais, há sons de marcha de soldados. Apocalipse Please começa com um piano repetitivo, com poucas notas, que faz o fundo para a voz melódica de Bellamy. Em tom de fim inevitável, a letra se transforma no "corpo" principal da música, especialmente no trecho: This is the end / This is the end / Of the world. Matthew Bellamy brinca com a voz ao longo da canção, sendo acompanhado por alguns efeitos eletrônicos, encerrando a introdução.

Time is Running Out também conta com efeitos de sintetizador em seu começo, sincronizado com estalar de dedos. Em seguida, uma guitarra abafada surge até encombrir a música com sua distorção pesada. Bellamy consegue tocar rápido, em palhetadas ao melhor estilo punk rock, e modular sua voz. Proeza de poucos, com uma letra que gruda na cabeça, junto com todo o peso. Our time is running out / And our time is running out / You can't push it underground / We can't stop it screaming out.

Como o próprio nome diz, Sing for Absolution soa como uma prece por absolvição dos pecados e das penas. Traz a temática do CD, que é o peso dos males que causamos e daqueles que infringimos. Stockholme Syndrome, música seguinte, traz justamente o "outro lado" dos crimes: o da vítima. And i won't hold you back / Let your anger rise / And we'll fly / And we'll fall /And we'll burn. A sindrome citada no nome se refere aos sequestrados que compactuam das torturas dos algozes para sobreviver, que se transmite claramente pela melodia que oscila entre o distorcido e algo mais leve, quase afetivo.

Falling Away With You é essencialmente eletrônica, após uma introdução acústica, e fala sobre o peso na consciência dos nostálgicos, que jamais terão acesso ao passado tão exaltado. Com o som de uma distorção acima do comum, quase uma dissonância pura, Interlude é a introdução de Hysteria que pela guitarra estremamente caótica já transmite sua mensagem. Bellamy canta com sentimento e uma interpretação única da loucura, entre a agressão e a passividade. Wolstenholme Dominic fazem a retaguarda necessária no baixo e na bateria.

Tímida, Blackout começa reconfortante para trazer uma enorme interferência no final da canção. Mattew Bellamy favorece a interpretação de sua forma de cantar, repetindo uma letra ao longo da música que conta com variações sutis. Don't grow up too fast / And don't embrace the past / This life's too good to last / And I'm too young to care. A vida inteira como um blecaute, uma enorme ruptura.

Butterflies and Huricanes traz a Teoria do Caos como tema, onde "o bater de asas de um ser simples como a borboleta pode causar um furacão do outro lado do mundo". Best / You've got to be the best / You've got to change the world / And you use this chance to be heard / Your time is now diz o vocalista, em frases que começam em sussurro e terminam em gritos. O caos para Muse é isso: a crença que você pode mudar, porque uma pequena atitude pode fazer a diferença. Mais uma vez a interpretação musical é valorizada, ao longo de um instrumental variado, com toques de rock progressivo.

Como um pequeno retrato, TSP (The Small Print) resume as loucuras que o medo da verdade pode trazer, que a lucidez contém. Endlessly trata de amores que não morrem, em formato de balada lenta e valorizando o vocal, mesmo na ausência total do outro, o sentimento que permanece até nos casos acabados. There’s a part in me you’ll never know / The only thing I’ll never show.

Thoughs of Dying Atheist traz uma idéia muito interessante: qual seria o desespero de um ateu, que não espera ninguém além da vida, em sua morte? O ritmo da música é um rock frenético, sem muito peso, quase como uma música feliz. É quase o oposto de Ruled by Secrecy, a última música, que trata da repressão essencialmente sagrada. Os efeitos e o piano que a recheiam quase a transformam em um ritual religioso, apesar da bateria e do baixo que ainda lembram o estilo de Muse.

O álbum é longo - 14 músicas podem cansar o ouvinte -, mas é interessante como a banda aborda com diversidade o tema, seja comunicando por voz ou pelo som instrumental. É uma lição para bandas novatas que acham que apenas meia dúzia de grandes hits implacam. Uma última constatação é notar a semelhança absurda de Muse com a sonoridade de Radiohead. No entanto, mesmo parecidos, cada um tem suas peculiaridades.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Passagem das Trevas para a Luz

Trazendo temas pessoais, dando destaque para solos de guitarra com feeling e com poucas músicas, mas bem progressivas, o Dream Theater revive elementos que cativam os fãs, sem perder o passo em direção ao futuro. As trevas, o peso e a agressividade estão em sintonia com a luz de muitas melodias de Black Cloud & Silver Linings, lançamento de junho de 2009 e receita de uma banda elaborada que continua aclamada por um público fiel.

Por Pedro Zambarda

A Nightmare to Remember é um óbvio retorno às origens do DT: Metallica. Mas a música não é uma cópia, pois apenas tem alguma inspiração no pessoal do thrash metal, ainda tendo sua característica mais progressiva. Portnoy provavelmente estava satisfeito com o lançamento de Death Magnetic e fez um trabalho nessa faixa que abusa do pedal duplo, parecido com a trupe de Hetfield em ...And Justice For All. Os teclados de Jordan Rudess possuem uma variedade de efeitos que fez parte de Systematic Chaos. Muito efeito wah-wah vem da guitarra de Petrucci. Mas há problemas também no instrumental, principalmente no baixo de Myung, que some no meio de uma bateria exagerada. LaBrie está em forma e mostra de cara. Não abusa de agudos e não desaparece, marcando as músicas com sua personalidade.

A nightmare to remember / I'd never be the same / What began as laughter /So soon would turn to pain. Essa faixa tem tantas nuances e uma diversidade que até o próprio Mike Portnoy, sem largar as baquetas, arrisca cantar por volta do tempo 10min. A voz dele dá uma quebra fundamental na canção. A música tem pausa no ritmo frenético por volta dos 4min e passa realmente a impressão de estar em um pesadelo, em um acidente de carro. In peaceful sedation I lay half awake / And thought of the panic inside starts to fade /Hopelessly drifting / Bathing in beautiful agony. Começo, meio e final lindos, por mais que se fale em tragédia.

Depois desse retorno ao peso e ao heavy metal que sempre foram bases do Dream Theater, A Rite Of Passage é uma balada grudenta sobre as passagens da vida e com letra mais positiva em relação à música anterior, mas ainda com um peso e virtuose que a deixa respeitável para fãs do progressivo. Traz na letra, também, referências claras a maçonaria e nenhuma aos integrantes da banda, desembocando em outros assuntos. Turn the key / Walk through the gate / The great ascent / To reach a higher state /A rite of passage. John Petrucci está realmente equipado com pedais, mas não deixa de usar escalas elaboradas em um solo, enquanto Portnoy resolve reduzir o ritmo sem perder qualidade. LaBrie sobe um pouco a voz, sem se comprometer, e, infelizmente, Myung continua apagado.

Wither não é rica instrumentalmente, mas acerta em outra balada marcante e uma letra mais soft (e é a mais curta do álbum, 5min25s). Lembra I Walk Beside You, do Octavarium, que ainda desperta a raiva dos devotos da primeira fase da banda, mas é acessível a fãs de outros estilos. I wither /And render myself helpless / I give in /And everything is clear / I breakdown / And let the story guide me / I wither / And give myself away. LaBrie canta com naturalidade e à vontade, com o coro de vocais de fundo formado por John Petrucci e Mike Portnoy.

A distorção mais pesada da guitarra anuncia a próxima música, acompanhada por intervenções do teclado. The Shattered Fortress traz riffs de músicas anteriores do DT para encerrar a chamada “saga da cachaça”, amplamente divulgada na internet. Com passagens de The Glass Prison, do antológico Six Degress Of Inner Turbulence, e The Root of All Evil, do CD Octavarium, a letra trata sobre reabilitação durante o alcoolismo, feita por Mike Portnoy no melhor estilo "Eric Clapton" de compôr e transmitir mensagens sobre o tema dos 12 passos dos Alcoólicos Anônimos. I am responsible / When anyone, anywhere / Reaches out for help / I want my hand to be there são nitidamente frases de apoio aos que não conseguem se livrar do álcool e aos reabilitados que desejam ajudar (caso do próprio Portnoy).

The Best of Times é uma das mais belas melodias criadas para a guitarra. A banda em si se aquieta nessa música. Rudess começa com um teclado acompanhado por violino, enquanto, aos poucos Petrucci surge com um violão. LaBrie quebra a introdução leve em dueto com Portnoy. A letra resgata o passado do pai de Mike Portnoy e é uma homenagem a sua morte recente (começo de 2009). O encerramento dela é que decepciona um pouco: Petrucci executa um solo de guitarra de dar inveja, mas, ao invés de ser prolongado, ele é bruscamente interrompido.

Com arranjos típicos de Rush, uma novidade para o Dream Theater, The Count of Tuscany fecha muito bem essas 6 músicas. Sendo a mais longa de todas as faixas (cerca de 19min16s), a música pode ser facilmente dividida em três partes. O começo traz a melodia principal, sendo interrompido por um refrão muito mais pesado de LaBrie e Portnoy, como vozes. Entre as passagens do refrão, teclado que lembra Scenes From a Memory e até Images and Words. Não é uma volta completa ao passado, mas agrada muitos fãs.

O tema que encerra o CD é sobre a cidade natal de John Petrucci, Tuscany, trazendo histórias de seu passado familiar e outros detalhes. Linda é a seqüência que segue pelas frases Of course you're free to go / Go and tell the world my story / Tell them about my brother /Tell them about me / The Count of Tuscany. A parte final segue um outro solo de guitarra tão inspirado quanto em The Best of Times, mas retomando, aos poucos, a primeira melodia.

Esse álbum não consegue o mesmo sucesso de um EP como Change of Seasons, mas é bonito como ele trata bem de temas particulares de dois integrantes fundamentais da banda - Portnoy e Petrucci - e aborda o tema da iluminação de maneira concreta. Agora é esperar que eles mantenham LaBrie com a mesma qualidade vocal dos últimos álbuns e, finalmente, que dêem maior destaque a John Myung, principal prejudicado nos últimos lançamentos, deixado de lado nas composições.

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