terça-feira, 3 de abril de 2012

Roger Waters e a arte do show com qualidade: The Wall em São Paulo




Um muro em construção, trajes militares, fogos e muito rock conceitual. Foi assim que Roger Waters, ex-baixista do Pink Floyd, abriu seu show baseado no CD The Wall em São Paulo, no último domingo (1). Com o refinamento de um maestro, Roger conduziu uma apresentação que contagiou de imediato pelo cuidado com o som, que repercutiu sem falhas por todo o Estádio do Morumbi, e pelas diversas animações projetadas nos tijolos do muro, catapultando todos os presentes para dentro de um videoclipe de alta qualidade.

Foi difícil não se emocionar com as letras de Waters nesse disco executado na íntegra, que abordam desde o totalitarismo (concentrado em seu protagonista, o introspectivo Pink) passando pela relação problemática com os pais e até chegar no sensação de solidão. As 26 músicas desse épico foram executadas na íntegra, com alguns acréscimos em Another Brick in the Wall Part 2 e passagens mais modernizadas entre as canções. 

Roger Waters também aproveitou o show todo para prestar homenagens para a família do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia britânica sob a suspeita falsa de terrorismo, além de relembrar os mortos nas guerras do Afeganistão e do Iraque. "Dedico o concerto a Jean Charles e sua família pela luta pela verdade e justiça e a todas as vítimas do terrorismo de Estado", afirmou Waters, arrancando aplausos entusiasmados da multidão que lotava o Morumbi. A apresentação era o seu protesto pessoal e coletivo, com seus fãs, contra o que ele considera abusivo e monstruoso na sociedade contemporânea.

O show fez os olhos dos presentes brilharem quando, em Goodbye Blue Sky, Roger Waters projetou aviões de bombardeio derrubando desde a foice e o martelo socialista até o símbolo do dinheiro e de corporações como a Shell. The Wall é um manifesto sobre loucura, totalitarismo e luta contra todos os poderes e símbolos que predominaram no século XX até a queda do muro de Berlim.

Quando o concerto se aproximou das músicas finais, como The Trial, o sistema de som começou a se tornar ensurdecedor, como se estivéssemos na paranóia de seus personagens, afetados pelas guerras mundiais e pelas guerras sem sentido. Os paulistanos gritaram, com força, "tear down the wall", enquanto Waters destruía seu próprio espetáculo, derrubando o muro.

Ao testemunhar o show de um homem que domina a arte da apresentação, toda a plateia sente uma espécie de libertação e de renovação. The Wall de Roger Waters em São Paulo, mesmo sem os integrantes do Pink Floyd originais, traz essa sensação.

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