quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Cantor do Iron Maiden dá aula sobre música e pirataria na Campus Party

Por Pedro Zambarda, originalmente postado na Whiplash.net
Fotos: Campus Party/Flickr/Creative Commons

Na terça-feira, dia 28 de janeiro, o frontman do Iron Maiden, Bruce Dickinson, deu uma aula sobre música e empreendedorismo a partir das 13h. No entanto, o cantor também falou bastante sobre pirataria e downloads ilegais, dando exemplos de como o Maiden aprendeu a ganhar dinheiro com os fãs mesmo sem faturar tanto com os discos.


"Fazemos as turnês para cobrir os custos de um disco novo. É puxado, mas, ao fazer shows em todos os continentes, nós conseguimos fazer isso. E eu criei minha empresa de aviação para suprir uma necessidade do Iron Maiden", explicou Bruce, ao tirar sarro de contadores e dos profissionais responsáveis pelas finanças da banda.

Depois de falar sobre o sucesso da Apple, a suposta "maldade" da Microsoft e sobre produtos de sucesso, Bruce então falou sobre como ganhar dinheiro na música mesmo com downloads ilegais.


"Nós músicos sabemos que vocês baixam músicas ilegalmente. Vamos fazer o que em relação a isso? Virar e dizer 'malditos fãs, eles não querem pagar pela música'? Transformar consumidores em inimigos? Claro que não. Temos que ser criativos para encontrar soluções. As gravadoras não tem fãs, e é por isso que elas estão acabando", explicou o cantor.

Foi nesse momento da palestra, perto do fim, que Bruce Dickinson falou de sua última sacada de marketing contra o mercado de downloads ilegais. "Tivemos uma ideia bacana nos últimos tempos. Vendemos camisetas e outros produtos com a marca Iron Maiden. Rende? Rende um pouco. Mas pensamos em um outro produto que tem tudo a ver com nosso público. Quando você está ouvindo Iron Maiden, o que você gostaria de fazer? Beber cerveja, claro! Então fizemos a cerveja Trooper, para você baixar nossos CDs e, claro, tomar a sua cervejinha".


O cantor falou bastante sobre como a música sobrevive com fãs fieis e produtos diferenciados como a cerveja Trooper. E cravou a seguinte frase que guiou toda a palestra: "Você não está vendendo um produto, mas está sim vendendo uma única coisa, que é uma relação com o consumidor, com o fã".

sábado, 25 de janeiro de 2014

Memória dos 80 anos da USP vai para site

Por Fabio Manzano
Da Agência USP de Notícias, por Creative Commons.

O dia 25 de janeiro é muito mais que o aniversário da cidade de São Paulo. A data marca o início oficial da maior Universidade do Brasil, que este ano completa seus 80 anos. Sua história caminha lado-a-lado com a história do próprio país e é isso que o novo projeto do Museu de Ciências, órgão da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU), busca apresentar em sua nova plataforma: o site Memória USP.


O objetivo é reunir informações sobre acontecimentos históricos, locais e pessoas importantes na história da Universidade em uma única plataforma virtual. O projeto reúne os acervos fotográficos e documentais referentes à história e à memória institucional de cada unidade da USP.

Os dados que estão disponíveis no website relacionam unidades, eventos históricos, pessoas e locais em uma interface de tempo-espaço. É, em suma, uma linha do tempo interativa da USP, que conta com mapa e imagens para facilitar a navegação.

História feita por todos

“A intenção é que as unidades se apropriem da plataforma e construam a memória da universidade”, conta Nilza Ferreira, membro do grupo responsável pelo site. “A ideia nasceu há dois anos com a professora Marina Yamamoto que, junto a um grupo de trabalho do Museu de Ciências, buscou resgatar a memória da universidade”.

Inicialmente formado por membros do Conselho Deliberativo da Unidade, o grupo com o tempo se reduziu. Formado por professores, bolsistas e funcionários, são eles os responsáveis pela manutenção do projeto. A pró-reitora adjunta de cultura e extensão universitária Marina Yamamoto divide a responsabilidade pela coordenação das atividades com o professor do Instituto de Química (IQ), Guilherme Marson.

Ao acessar o website, que conta com informações de unidades de ensino e pesquisa, o usuário terá acesso aos principais acontecimentos históricos da USP. Desde a criação das primeiras faculdades e institutos que posteriormente se integraram à Universidade, como a Esalq, em Piracicaba, até as unidades de ensino mais recentes, como a Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH), a USP Leste.

A equipe do Museu de Ciências é responsável por alimentar o site com os dados, mas conta com a ajuda das unidades da USP que enviam suas informações recolhidas nos portais de cada uma das instituições, como lembra Nilza. “Já temos disponíveis 21 unidades no portal, mas há outros conteúdos esperando a validação de suas respectivas unidades para serem publicados”, diz. A proposta é baseada nas pesquisas efetuadas pelo Museu de Ciências sobre as informações existentes e disponíveis, atualmente, sobre a USP, que estavam espalhadas nos sites e livros históricos de cada unidade de ensino.

Todos os documentos disponíveis na plataforma são de propriedade intelectual da USP e de seus respectivos autores, mas estão sob licença Creative Commons. Cada nova atualização é anunciada pela página no Facebook do Museu de Ciências.

80 anos

Em 1934, as Faculdades de Direito, Medicina, Farmácia e Odontologia, Filosofia, Ciências e Letras e Escolas Politécnica e Superior de Agricultura Luiz de Queiroz já existiam, mas foi então que as seis instituições de ensino superior de maior importância do estado se uniram para formar a pedra fundamental da USP.

A Universidade, que veio com o lema Scientia Vinces (Vencerás pela Ciência, em latim), venceu. Com boas posições em rankings internacionais, a USP é destaque na América Latina e já conquista o mundo com projetos de internacionalização.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

USP foi fundada por acadêmicos paulistanos e apoiada pelos Mesquitas há 80 anos

No dia 25 de janeiro de 1934, há 80 anos, foi fundada a Universidade de São Paulo (USP). O projeto, que se expandiu com a criação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), a Escola Politécnica (Poli) e outras unidades, foi obra de acadêmicos brasileiros, outros advindos de outros países, e do jornalista Julio Mesquita Filho, diretor do jornal O Estado de S. Paulo. Em homenagem às oito décadas da universidade pública mais bem-sucedida da América Latina, o site do Estadão deu destaque em seu site hoje ao assunto em sua homepage e em seu suplemento impresso especial.



Julio Mesquita Filho lançou um livro em 1925 chamado A Crise Nacional, detectando graves problemas na educação da sociedade brasileira. Com apoio do sociólogo Fernando de Azevedo, os ideais de Mesquita foram levados até as pesquisas educacionais. A compra do terreno no bairro do Butantã e a expansão dos cursos superiores públicos em São Paulo ajudaram a formalizar o sonho de uma universidade aberta.

Mesquita apoiou Getúlio Vargas, que perdeu as eleições presidenciais, e depois sua Revolução de 1930, dando início ao Estado Novo. Apesar do apoio recebido do presidente, o jornalista e editor também deu suporte à Revolução Constitucionalista de 32, sendo derrotado pelo governo federal. Foi preso e exilado em Portugal. Mesquita então voltou ao Brasil em 1934 e formou uma comissão com o governo estadual para criar a universidade. O grupo era composto por por ele, Fernando de Azevedo, Raul Briquet e Lúcio Rodrigues.

A comissão entrou em contato com o psicólogo George Dumas, da França. Ele recrutou professores europeus para formar a USP. Foram convocados Fernand Braudel (História), Claude Lévi-Strauss (Antropologia), Roger Bastide (Antropologia), Pierre Monbeig (Geografia), Jean Maugüé (Filosofia), Pierre Houcarde (Literatura) e Paul Hugon (Economia). Entre todos, Jean Maugüé foi um dos poucos conhecidos não por seus livros, mas por suas aulas. O acadêmico de Letras Antonio Cândido afirma que ele não deixou obras, mas palestras memoráveis sobre notícias dos jornais, filmes e romances brasileiros.

Além de incentivar a criação da universidade pública, que hoje conta com 90 mil alunos e orçamento de R$ 4,3 bilhões, Julio Mesquita Filho também foi paraninfo da primeira turma formada no curso de Filosofia, em 1937.

Julio Mesquita Filho, o diretor do Estadão em 1937, como paraninfo dos primeiros formandos em Filosofia na USP

sábado, 18 de janeiro de 2014

Hobbit querendo parecer com Senhor dos Anéis

Em dezembro de 2013 chegou aos cinemas o segundo filme da trilogia Hobbit, A Desolação de Smaug, lançada pelo diretor Peter Jackson, que resolveu fatiar a obra de J. R. R. Tolkien lançada em 21 de setembro de 1937. Fui assistir entusiasmado este segundo filme, esperando uma boa ambientação como no primeiro capítulo.


O filme é bom, mas apresenta problemas. Me parece o filme mais problemático de Jackson desde que decidiu fazer as versões cinematográficas das obras de Tolkien, a partir de 1999.

Longa-metragem abre com Peter Jackson comendo uma cenoura na frente da tela. O primeiro problema é o começo do filme com Beorn, um personagem que se transforma em urso e, nos livros, possui uma personalidade muito mais animada. A versão cinematográfica do personagem é breve, desanimadora e dá sono.

O segundo problema, e um dos principais, é o reino de Thranduil, pai do elfo Legolas, e o romance entre a elfa Tauriel e o anão Kili. No livro de Tolkien, este romance não existe, já que anões e elfos são inimigos históricos e a aliança entre as duas raças só ocorre na Guerra do Anel entre Gimli, filho de Glóin, e Legolas. O roteiro força um triângulo amoroso para tentar justificar a aversão dos elfos às outras raças. A interpretação de Thranduil por Lee Pace também deixa a desejar. Ele parece um estereótipo de sua própria raça no mundo mágico.

Lee Pace faz uma interpretação problemática de Thranduil

Os efeitos especiais são de tirar o fôlego em 3D, mas apresentam alguns problemas na luta entre elfos e orcs na Cidade do Lago. Há momentos interessantes, como duplo tiro na cabeça com flechas de Legolas, mas o filme perde o foco nos anões e em sua busca por retomar Erebor, a montanha usurpada pelo dragão Smaug.

O triângulo amoroso aparente entre Legolas, Tauriel e Kili
O mago Gandalf, na história, puxa dados e informações do universo de Tolkien presentes no Silmarillion, um copilado de textos e anotações, e não do enredo original de Hobbit. Pela construção da narrativa, Peter Jackson dá a entender que quis criar uma versão adulta da história, já que o romance original é voltado para crianças, embora Bilbo seja o portador do Um Anel do inimigo Sauron. Jackson tenta forçar uma ligação entre as duas histórias colocando Sauron como a força comandante dos orcs que enfrentam os anões em sua jornada, tirando o papel do Rei Bruxo dos Nâzgul, como está no livro.

Será que Peter Jackson, um dia, quer filmar as inúmeras histórias de Silmarillion?

O resultado deste enredo confuso e com mais elementos do que a história original é que o filme, infelizmente, soa como se fosse um roteiro muito parecido com Senhor dos Aneis: As Duas Torres. É um bom filme, mas poderia cortar elementos e manter sua originalidade. Ou ter sido unido ao filme anterior, diminuindo a saga.


No entanto, o filme tem um personagem muito bem representado: O dragão Smaug.

Com voz de senhor e interpretado pelo ator Benedict Cumberbatch, que interpreta Sherlock Holmes na série de TV Sherlock, ele parece mau, orgulhoso e inteligente. O encontro entre o pequenino Bilbo Bolseiro e o gigantesco dragão é uma das cenas para ficar na memória.

O ponto fraco desta sequência é somente quando tentam derrubar o monstro com ouro quente. Não dá pra entender, exatamente, o que os protagonistas queriam ao combater o dragão.

Não assistiu o segundo capítulo de Hobbit? Vá ver, mesmo que o filme tenha eventuais defeitos do ponto de vista de algumas críticas que devem ser feitas.

O ápice do filme com Smaug

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

MegaDriver apresenta guitarra inspirada em Akuma, do Street Fighter

MegaDriver comemorou 10 anos de existência fazendo metal de videogame em um show nos Estados Unidos, na 12ª edição do MAGFest, evento que ocorreu em National Harbor, Maryland. Na apresentação, comandada por Tommy Tallarico (compositor da Video Games Live), a banda apresentou sua nova guitarra customizada inspirada no personagem Akuma/Gouki, do jogo de luta Street Fighter. Ela é tocada pelo músico Bruno Galle, que acompanha Antonio Tornisiello, o Nino MegaDriver.

Bruno Galle e a nova guitarra Akuma, acompanhada pela guitarra Sonic e Mega Drive

Guitarras do Sonic e do Akuma

Baixo inspirado no game Golden Axe
O show do MegaDriver foi no dia 3 de janeiro de 2014. A banda apresentou o modelo Akuma tocando a música "Wrath of the Raging Demon", em homenagem ao lutador e à saga de games.

Quer conferir o show deles? Veja este vídeo a partir do minuto 50, para ver a apresentação completa.


Trilogia Poética: projeto leva para teatro poesia de Drummond, Bandeira e Quintana

Por Paulo Virgilio
Da Agência Brasil, por Creative Commons.

Em pleno verão carioca, uma sequência de espetáculos teatrais propõe levar o espectador a um mergulho na poesia. O projeto Trilogia Poética, que ocupa a partir da próxima quarta-feira (15) o Centro Cultural Midrash, no Leblon, apresentará a cada 15 dias uma peça dedicada a um de três grandes poetas brasileiros: Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana e Manuel Bandeira.



A ideia partiu do ator e dramaturgo Marcos França, que pretende com a trilogia marcar seus 25 anos de carreira. “O objetivo é levar ao palco toda a essência desses poetas e desvendá-los para as novas gerações. Mostrar que a poesia está em toda a parte, 'tanto nos amores, como nos chinelos', como dizia Bandeira, ou 'numa moedinha perdida', como Quintana”, destacou França.

Em sua trajetória, França já levou ao teatro, em musicais de sua autoria, a obra de três grandes compositores da música popular brasileira: Mário Lago, Antonio Maria e Ary Barroso. Como ator, também atuou em peças que abordavam personagens da história do país, como O tiro que mudou a história, sobre Getulio Vargas, e Tiradentes, a Inconfidência no Rio, ambas em 1992.

O espetáculo que inaugura a Trilogia Poética no dia 15, às 20h30, é Um Homem por Trás dos Óculos – Um Olhar sobre 7 Faces da Obra de Carlos Drummond de Andrade. Na peça, Marcos França contracena com a atriz Elisa Ottoni para percorrer sete facetas da obra de Drummond, incluindo algumas de suas crônicas e trechos de entrevistas que o poeta deu ao longo da vida.

Já para dar forma à peça Aprendiz de Feiticeiro – Um Encontro Poético entre Mario Quintana e sua Personagem, Lili, o dramaturgo pesquisou dez livros do poeta gaúcho. “Criei um diálogo com a Lili [interpretada pela atriz Eliane Carmo], personagem recorrente da obra de Quintana. É uma conversa com a filha que ele não teve, com a sua infância”, disse França. O espetáculo estreia no dia 29 deste mês.

Em Caminho para Pasárgada, que será apresentado a partir de 12 de fevereiro, o dramaturgo e ator usou como ponto de partida o livro autobiográfico de Bandeira, Itinerário de Pasárgada. Depois, 11 livros do poeta pernambucano deram forma ao texto, entre eles Cinza das Horas, Libertinagem e Belo, Belo. "A poesia musicada de Bandeira ganha destaque na peça", antecipou França.

Os três espetáculos serão apresentados às quartas e quintas-feiras, às 20h30, com ingressos a R$ 20. O Centro Cultural Midrash fica na Rua General Venâncio Flores, 184.

O que é o rolezinho?

Por Thaís Antonio, repórter do Radiojornalismo da EBC
Da Agência Brasil, por Creative Commons.

Veja também a reportagem do G1

Rolezinhos” estão sendo programados pelas redes sociais em mais de dez estados para as próximas semanas. Em muitos deles, movimentos sociais e universitários organizam os encontros em protesto à repressão policial contra a reunião que ocorreu em um shopping de Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo. Na linguagem popular, “rolezinho” significa passear ou dar uma volta. Nas últimas semanas, a palavra tem sido bastante usada para descrever reuniões de jovens, principalmente da periferia, em shopping centers.

Mcs Dedé, Gui e Bio. Foto: Divulgação

De acordo com a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ivana Bentes, o fenômeno tem um forte caráter político e surpreende por resgatar o espírito das manifestações do ano passado em um cenário inusitado, os shoppings. “Mesmo que não tivesse uma intenção de causar politicamente, ele é político. A simples existência de um jovem negro da periferia dentro de um shopping center, sendo rejeitado, sendo considerado um consumidor indesejado, já é um fato político, independentemente da intencionalidade”, disse. “Acho muito importante que outros grupos sociais tenham se organizado para manifestar solidariedade a esses jovens”, completou.

O chamado “rolezinho” começou em São Paulo, no fim do ano passado. Desde então, vários ocorreram, chegando a reunir milhares de pessoas. No último sábado (11) foi no Shopping Itaquera, teve a participação de 6 mil jovens e terminou em confronto com a Polícia Militar. Daniel de Souza, o MC Danadinho, esteve presente. Ele disse que a origem do “rolezinho” são os chamados encontros de admiradores, em que fãs dos cantores de funk ostentação iam aos shoppings para encontrar os ídolos. “Antes do 'rolezinho' tinha o encontro de admiradores, que era com os famosinhos das redes sociais, que faziam o seu encontro e reuniam o povo no shopping”, declarou. “É o único lugar que todo mundo conhece e é público”.

O jovem acredita que os encontros de admiradores cresceram e se tornaram os “rolezinhos” de hoje, atraindo também pessoas que aproveitam a situação para causar tumulto. “Começou a encostar os caras que faz baderna, começou a colar os polícias para tirar a gente do shopping, começou a passar na televisão, começou a vir os caras de longe para tumultuar. Aí, por causa de uns, todos os que vão para curtir pagam do mesmo jeito dos que vão para tumultuar”, disse. 

As administrações de alguns shoppings conseguiram, na Justiça, liminares para impedir os encontros. Para o professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Fernando Menezes, o que está em jogo, nesse caso, é o direito de ir e vir e o direito à propriedade. “No caso em que um grupo, se valendo da sua liberdade de ir e vir, combina um encontro de tal volume e de tal tamanho e com tais atitudes que começam a, exageradamente, impedir o exercício de outros direitos e liberdade por outras pessoas, estão abusando do seu direito”, explicou.

O professor da Universidade de Brasília, Alexandre Bernardino, discorda. Na opinião dela, a proibição da entrada nos shoppings está ligada ao perfil dos jovens que fazem os "rolezinhos". “É claramente uma manifestação de preconceito em relação a um determinado grupamento social que se caracteriza por pobreza e por negritude, um grupo que se manifesta politicamente, no sentido mais amplo da palavra, e que não pode ter seu direito de manifestação e de ir e vir cerceado em um lugar público, porque o lugar é privado, mas é aberto ao público, então é publico”, defende.

A professora do Departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco, Liana Lewis, entende que o fenômeno evidencia contrastes da sociedade brasileira. “Quando a gente trata de 'rolezinho', a gente não pode separar a questão de classe da questão de raça. O 'rolezinho' é um fenômeno de classe e de faixa etária, mas sobretudo de raça”, explicou. Para Liana, existe um estranhamento quando universos diferentes passam a ocupar o mesmo espaço. “O que mais amedronta no 'rolezinho', para além da questão de classe, é que você tem vários garotos negros em um espaço majoritariamente branco”, destacou.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Arianna Huffington anuncia World Post: Site focado em jornalismo global

Tradução e edição: Leticia Nunes. Informações de Dominic Rushe [“Arianna Huffington announces launch of World Post news website”, The Guardian, 9/1/14] e de Emily Steel [“Huffington Post to launch global digital publication”, Financial Times, 9/1/14]
Do Observatório da Imprensa, por Creative Commons.


A fundadora do Huffington Post, Arianna Huffington, anunciou no dia 8 de janeiro o lançamento de um novo projeto de mídia digital. O site, que se chamará World Post, terá notícias e conteúdo de opinião e, ao que parece, servirá de plataforma de expressão para algumas das pessoas mais poderosas do mundo.


Entre os colaboradores estão o fundador da Microsoft, Bill Gates, o ex-premiê britânico Tony Blair e Eric Schmidt, presidente do conselho do Google. A primeira edição terá uma entrevista com o presidente chinês, Xi Jinping, além de contribuições do Dalai Lama, do Nobel de Literatura turco Orhan Pamuk e do ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso.

O bilionário Nicolas Berggruen, co-fundador do projeto, diz que o World Post – que será lançado no Fórum Econômico Mundial de Davos, este mês – não terá apenas a opinião da elite. “Você tem que começar de algum lugar. Muitas destas pessoas são bem informadas. Por outro lado, você verá muitas vozes desconhecidas, vozes jovens e lugares que não são óbvios”, diz ele, que é dono de 50% do site. Uma curiosidade sobre Berggruen: ele é conhecido como o “bilionário sem-teto”, porque prefere viver em hotéis a ter sua própria casa.

Arianna corrobora o argumento do investidor. “Você pode ter todos esses líderes de Estado e gigantes dos negócios, etc etc, escrevendo ao lado de um desempregado da Espanha, ou de um estudante do Brasil. A essência do HuffPo é a ausência de hierarquia”, ressalta ela.

Entidade internacional

O World Post terá seu próprio espaço, mas também substituirá a seção internacional do Huffington Post. O portal, lançado em 2005 e comprado pela AOL em 2011, será responsável pela publicidade e organizará conferências e seções patrocinadas. Mas não foi revelado qual o valor do investimento no novo projeto. “Nós temos uma oportunidade incrível de usar as cartas que já temos na mesa para falar com nosso público e aumentar esta audiência simplesmente abraçando o fato de que somos uma entidade internacional”, resume Peter Goodman, editor global do HuffPo.

Hoje, além dos EUA, o Huffington Post tem oito versões internacionais: Canadá, Reino Unido, França, Itália, Espanha, Japão, Alemanha e a região do Magreb. Está marcado para este ano o lançamento de um projeto brasileiro em parceria com a Editora Abril, chamado Brasil Post. Jornalistas destes países, junto com três novos correspondentes em Pequim, Beirute e Cairo, produzirão conteúdo noticioso para o World Post. Segundo Arianna, 42% dos 94 milhões de visitantes únicos mensais do HuffPo vêm de fora dos EUA. “Há pouco mais de dois anos, não tínhamos nenhuma edição internacional”, lembra ela.

O World Post ainda deve contratar mais gente, mas Arianna diz que a ideia é que sejam feitas parcerias com organizações locais. “Colaboração é a chave, especialmente nesta economia interligada”, afirma ela. “Se você pode levar ao seu leitor outros bons trabalhos que estão sendo produzidos, você melhora a experiência dele”.

Inicialmente, o conselho editorial – que irá sugerir ideias e colaborações – será formado por membros e ex-membros de companhias de mídia de diferentes países. Além de Arianna e Berggruen, fazem parte do conselho Juan Luis Cebrián, editor fundador do jornal espanhol El País; Dileep Padgaonkar, editor consultor do Times of India; Yoichi Funabashi, ex-editor-chefe do japonês Asahi Shimbun; e Pierre Omidyar, fundador e presidente do eBay. Omidyar é o financiador do projeto de jornalismo investigativo First Look Media, que será tocado pelo jornalista Glenn Greenwald, responsável pela divulgação da maioria dos vazamentos do ex-técnico da NSA Edward Snowden. 

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Por que fazer uma graduação em Filosofia?

Desde 2010, eu faço um curso de graduação em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Ao chegar no quarto ano do curso, resolvi tentar responder uma pergunta: Por que você deveria estudar isso? Tentei não dar respostas muito óbvias, como parecer inteligente, escrever de forma prolixa ou entender o sentido da vida. Estes são argumentos (bem) superficiais.

Foto: Réplica da escultura "O Pensador", de Auguste Rodin, em Berlim. Autora: Andréa Lagareiro
Filosofia não dá dinheiro, filosofia geralmente é um conhecimento utilizado para formar professores de filosofia e, em casos de sucesso e bem raros, filosofia pode ser assunto de livros que são sucesso de crítica (e não de vendas). A notoriedade de um pensador normalmente acontece depois de sua morte.

Saindo dessas superficialidades, seguem 10 bons motivos para estudar filosofia.

1. Estudar filosofia é entender o começo da ciência, da cultura e do conhecimento. Quem estuda os pensadores, entra em contato com literatura, física, biologia, matemática e as diferentes abordagens para absorver informações - Ler os textos de Galileu Galilei ajuda a entender mecânica básica da física, enquanto René Descartes esclarece o papel das matemáticas em suas Meditações. Voltaire traz os textos de folhetins e dos jornais da imprensa revolucionária francesa. Aristóteles lida com os princípios da biologia. Ludwig Wittgenstein eleva o papel da linguagem para conhecer qualquer coisa.

2. Filosofia contribui para conectar diferentes conhecimentos - A ontologia (palavra que deriva dos termos gregos "ontos", que significa ser, e "logos", estudo) é o assunto principal de qualquer filósofo. Nesse aspecto, a filosofia se aproxima bastante do jornalismo e da comunicação como um todo. Ela lida com diferentes conhecimentos conectados. Ela tem como objeto de estudo o ser humano. E ele não se conhece apenas por números, por linguagem ou apenas pela ciência pura.

3. As ideias contribuem para acontecimentos práticos - Os socráticos, na Grécia, transformaram o pensamento mitológico em racionalidade e em conhecimentos científicos. Os estoicos, em Roma, prepararam o império para a decadência. Os iluministas traduziram os ideias da Revolução Francesa, que decapitou a realeza e até mesmo os próprios revoltados. Hoje há filósofos que pensam os limites da ciência e da extrema especialização, como Edgar Morin em Paris. A filosofia também se traduz em ideologias políticas e econômicas, como Adam Smith, no liberalismo capitalista inglês, e Karl Marx, na esquerda alemã.

4. A filosofia te ensina a pensar criticamente e a reproduzir as principais ideias históricas - Para que você tenha propriedade ao questionar a forma como a sua sociedade se comporta, é fundamental ler e depurar os autores que influenciaram gerações de outros pensadores, cientistas e figuras importantes da história. A filosofia nem sempre se comporta de forma linear e cronológica, mas influencia toda a humanidade, de uma forma ou de outra.

5. Filosofia te ensina o valor do sofrimento e das lições cotidianas - Os pensadores traduzem muitas de suas ideias em passagens de suas próprias biografias. No entanto, nenhum deles ensina a ser feliz, como alguns autores de autoajuda pregam. Mesmo assim, as histórias pessoais dessas pessoas acabam contribuindo para conhecimentos práticos da vida.

6. Filosofia mostra, claramente, que o conhecimento não é algo definitivo - Por ser mãe da ciência, e mais antiga do que ela própria, a filosofia prova que pensar não é definir as coisas de maneira fechada. As ideias estão em constante reforma e é por este motivo que ela floresce no ambiente acadêmico, às vezes transbordando para fora dele.

7. Estudar filosofia é, primordialmente, aprender a ler - E, para ler corretamente os autores, os professores deste tipo de curso passam anos depurando os diferentes vocabulários dos pensadores. Dar aulas de filosofia não significa simplesmente resumir livros, mas muitas vezes consiste em fazer leituras coletivas nas salas de aula.

8. Filosofia pode nos ajudar a pensar de maneira mais simples - Ao lidar com questões complexas elaboradas por livros filosóficos, você aprende que sua vida é muito diferente daqueles pensadores. No entanto, mesmo com essas diferenças, conseguimos enxergar suas ideias presentes em fatos mais banais. Com novas referências adquiridas dos conhecimentos filosóficos, conseguimos separar o que é importante. Nos tornamos mais simples, em determinados aspectos.

9. Filosofia é, acima de tudo, um exercício mental - Pensar filosoficamente contribui para que você não fique acomodado. Pensar de forma aprofundada acaba sendo, um pouco, pensar contra você mesmo. Você consegue calejar suas ideias ao praticar a filosofia. E isso é saudável.

10. A boa filosofia é um bom exercício de humildade - Filósofos que pensam nos limites do ser humano, no desespero, na dor e na morte nos fazem entender que o homem precisa de muito pouco para viver bem e até de maneira saudável. Por esse motivo, as boas ideias acabam sendo um exercício de humildade, que nos livra dos pensamentos mais fúteis, tanto do ponto de vista consumista quanto do ponto de vista do egoísmo puro.

domingo, 5 de janeiro de 2014

Kiko Loureiro comenta sobre novo DVD e as origens do Angra no metal progressivo

Abaixo uma entrevista com Kiko Loureiro, guitarrista da banda Angra, que conversou sobre o novo DVD de 20 anos do disco Angels Cry, sobre as influências do grupo, a concorrência com bandas internacionais e as transformações do metal melódico. Confira a conversa pingue-pongue abaixo:

Entrevista por Pedro Zambarda de Araújo
Via Ultimate Music Press. Originalmente publicado na Whiplash.net.



1 - Quais são as influências do Angra? Elas mudaram durante toda a carreira?

Kiko Loureiro - A gente sempre gostou de metal progressivo. No começo, o Queensryche era uma referência, além de Jethro Tull e até Yes. Em alguns momentos a gente deixou isso mais claro, como no caso do disco Holy Land e em algumas músicas do próprio Angels Cry. Nos dois discos, você vê pontos específicos com elementos do progressivo. Angels Cry também foi baseado em música erudita. Depois daquele disco de 93, não fomos mais atrás dessas referências. O que foi surgindo com mais força foi o metal progressivo. Atualmente, o Fabio Lione está colocando a voz dele nas músicas mais clássicas do Angra. A gente ainda não sabe como ele vai influenciar na criação de novas músicas nossas. Estamos ainda na fase de interpretação do que já existe.

2 - O que você anda ouvindo de música, Kiko?

KL - Atualmente tô ouvindo pouca música. Escutei o último álbum do Children of Bodom, Halo Of Blood (2013). Tenho Spotify e fico ouvindo de tudo um pouco, saindo de uma banda para outra. Foi-se o tempo em que a gente ouvia o mesmo disco sem parar. Ouvi com o Felipe [Andreoli] o Deftones, que achamos bem legal. São essas bandas que me vieram à cabeça agora.

3 - Em que pé está a gravação de um disco de inéditas do Angra?

KL - Estamos começando a compôr vagarosamente, pelo ritmo de shows, entrevistas e o lançamento do DVD. É muito trabalho junto e o lance da criatividade é um processo mais lento, que é quebrado facilmente por outras atividades. Tenho entrevistas a dar pra Argentina nesta semana e até para grandes jornais brasileiros. Para criar músicas, você precisa de um tempo ocioso, para tocar coisas repetidamente, criando coisas novas. Vamos tentar criar músicas que sejam a marca dos anos 2010.

4 - Como funciona a fidelidade dos fãs com tantos shows internacionais no Brasil?

KL - O lance da fidelidade dos fãs está diretamente relacionada à qualidade do produto que você entrega, seja CD ou show. Tudo faz parte desse produto que é uma banda. Os fãs não gostam de falar assim, mas é um produto. Você tem uma série de coisas agregadas, incluindo contato com o público. Dar atenção pras pessoas na internet é um dos laços para criar fidelidade. Existe a questão financeira nessa relação, que precisa ter retorno para resultar em um show melhor, com cenário, com luz e com qualidade de som, sem nem citar coisas mirabolantes. Quando vem um gigante internacional, é claro que podemos dizer que estamos concorrendo com ele nas apresentações. É como a vinda de um shopping center para competir com lojas de rua. As pessoas vão querer comprar só no shopping center, afetando as lojas. Fica difícil competir com festivais também, com ingressos caríssimos que tomam dinheiro das pessoas.

5 - Por que o cenário brasileiro está com muitos shows ultimamente?

KL - Tá tendo muito show no Brasil de grupos ótimos. O câmbio brasileiro facilitou isso, com o dólar num patamar favorável, além de leis de incentivo à cultura que ajudam o trabalho de empresas organizadoras dos shows. A crise econômica mundial também atinge esse mercado, afetando os países de primeiro mundo e trazendo as bandas para cá. Também tem o lance do Brasil na era Lula ter uma boa imagem no exterior. Tudo isso ajudou as bandas a aumentarem sua influência em novos territórios. É dificil competir toda semana com um show legal e importante no mercado, enquanto o Angra pode ser visto sempre no Brasil. Mesmo assim, se a sua banda toca realmente bem, o fã volta pra você. O Angra mostrou isso em sua história. O show de gravação do DVD no HSBC estava lotado, provando que entregar algo de qualidade é o caminho.

6 - Sem cair em brigas com ex-integrantes, mas como está sendo prestar uma homenagem ao disco Angels Cry sem a reunião com Andre Matos?

KL - A gente chegou a convidar o Andre Matos para tocarmos juntos no ano passado. Ele não quis se reunir conosco e a gente respeita a decisão dele. Ele fez os shows dele do Angels Cry e deve ter gostado da ideia. É um disco que se encaixa com a voz dele, mesmo que ele não cante da forma aguda como fazia em 1993. Pra mim, sem dúvida, o Angels cry foi um momento único de nossas vidas. Por isso, existe saudosismo daquele tempo pelo menos de duas formas: Tentar viver o passado ou ter a sensação boa quando você ouve o disco. Se eu ouço o Angels Cry original, não quando eu toco as músicas hoje, aquele som realmente remete àquela época da minha vida na Alemanha, compondo e ensaiando. Ao dar várias entrevistas, a gente acaba lembrando das sensações e isso é uma coisa legal e boa. Não vem uma saudade de fazer a mesma coisa do passado, porque a gente ainda é muito ativo e faz coisa nova. É legal tocar o que é antigo porque as músicas são de fato muito boas. Como eu venho tocando as músicas do Angels Cry ao longo dos anos, eu tenho uma relação muito diferente com a aquele som de 1993, uma música que tem vida própria.

7 - Vocês sabiam o que o Angels Cry se tornaria 20 anos depois?

KL - Não tínhamos noção do que o Angels Cry se tornaria. Mas, analisando agora, todo o posicionamento da banda quanto aos conceitos que deveriam estar no álbum foi bem preciso e éramos obsessivos por isso. Foi assim que a gente conseguiu esse resultado. Eu cito em palestras bastante esse período do Angels Cry, de formação da banda, como um bom posicionamento para saber o que se quer, tanto na escolha das músicas quanto de capa e imagem do grupo. Também foi um bom trabalho para saber como se portar diante de outras bandas que estão no mercado. Saber disso tudo é fundamental para fazer um disco bem-sucedido. Além do álbum, comemorar 20 anos também é reconhecer o esforço da banda em sua trajetória toda depois de Angels Cry. A gente poderia ter gravado Angels Cry, achado o máximo e não ter feito mais nada. Poderíamos ter acabado inclusive nos momentos mais difíceis, quando um integrante sai, por exemplo. Continuamos tocando e conduzindo o projeto pra frente, que começou em 1993. O sucesso de Angels Cry não está em si mesmo, mas sim na carreira inteira. Celebramos tocando várias músicas diferentes.

8 - Os projetos solos funcionam como um descanso para vocês quando não estão reunidos em torno do Angra?

KL - Nossos projetos solos são algo bem natural no mercado, inclusive entre artistas gringos. Serve pra tocar com outras pessoas, sem estar amarrado completamente. Essas experiências são saudáveis ao próprio Angra e aos músicos da banda. Eu toquei sozinho com vários músicos incríveis e fui para países que eu não iria com o Angra. E eu levei essas experiências novas para dentro da minha banda antiga. Atingi também outros tipos de fãs, especificamente aqueles que admiram guitarra elétrica. Existe um intersecção entre interesses diferentes, com fãs específicos para cada tipo de música.

9 - Os projetos solos de cada um de vocês parecem apontar para direções musicais distintas. Podemos afirmar que Kiko Loureiro aposta em música tipicamente brasileira, enquanto Felipe Andreoli e Rafael Bittecourt se direcionam para um metal brasileiro mais cru? E Ricardo Confessori, o que pretende com seu Shaman?

KL - A música brasileira é um lance forte comigo, porque eu sempre gostei dela. Eu ataco essa mistura do rock com o nacional. Já o Rafael tem o trabalho próprio dele. Neste momento, com o aniversário de 20 anos do Angels Cry, nós dois estamos focados no Angra. Tenho um novo trabalho com música brasileira chamado The White Balance que foi lançado no final do ano passado.

10 - Quem está tocando com você em White Balance?

KL - Este disco solo teve Virgil Donati na bateria e o Felipe Andreoli no contrabaixo. Mostrar algo diferente do Angra é o propósito da minha carreira solo, jogando com outros elementos musicais e não canibalizando a música de minha própria banda. Muitos fazem algo parecido na carreira solo por questão de ego. Eu realmente busco fazer um som instrumental que é diferente e que nos guie por outros caminhos na música. Isso poderia estar no Angra, porque o Angra é bem abrangente, mas é outra coisa.

Andre Matos fala sobre carreira solo, Angels Cry e mercado brasileiro de heavy metal

Conversamos com o cantor e compositor Andre Matos, fundador das bandas Angra e Shaman, que atualmente segue em carreira solo comemorando os 20 anos do disco Angels Cry, lançado em 1993.

Entrevista por Pedro Zambarda de Araújo.
Via Ultimate Music Press. Originalmente publicado na Whiplash.net.


1 - Hoje, tocando uma carreira solo, você se sente como um músico livre, por mais que tenha arranjado conflitos durante sua carreira?

Andre Matos - Se houve alguns conflitos durante minha carreira foi por tentar fazer, e às vezes até impor, o que considerava certo, tanto musicalmente, quanto moral e profissionalmente. Nunca busquei quaisquer conflitos, mas eles são comuns em qualquer profissão que se escolha. Há de saber aceitá-los como parte da vida e usá-los a favor de um maior auto-conhecimento.

A carreira solo não foi uma escolha, mas uma necessidade. E, sem dúvida, por mais que isso me acarrete mais responsabilidades hoje em dia, sinto-me bem mais livre. Hoje, se houver dúvidas ou conflitos, eles são resolvidos imediatamente, de maneira clara. Do ponto de vista musical, a liberdade é ainda maior. Minha banda abarca uma carreira de 25 anos e podemos passear por todo o repertório com tranquilidade, além de produzir sempre material novo, pois já estamos no terceiro álbum de estudio. Foi difícil no começo, no entanto, agora posso dizer que a carreira está solidificada e é definitiva.

2 - Sua volta ao Viper em 2012, celebrando discos como Soldiers of Sunrise, foi uma espécie de preparação para as comemorações da estreia do Angra?

AM - Sem dúvida, porque foi aí que nasceu a ideia de uma turnê comemorativa também em 2013. A turnê do Viper estava prevista para durar apenas um mês e acabou se estendendo por cinco! E o mesmo aconteceu com a turnê atual da banda solo, pois sabíamos que iríamos participar de festivais como Abril Pro Rock e Rock in Rio, mas não imaginávamos que permaneceríamos ocupados até os últimos dias do ano, quase ininterruptamente. A tour foi um sucesso e o tributo ao Angels Cry teve uma importância crucial, porque era algo que as pessoas estavam esperando. Se vamos continuar fazendo turnês comemorativas ou não, isso não ouso afirmar.

3 - Você sabia o que Angels Cry se tornaria, 20 anos depois?

AM - Não tinha a menor ideia. Assim como não tinha em relação ao Theatre of Fate, ao Ritual, ao Virgo, ao Time to be Free. Cada álbum tem o seu tempo de maturação e a sua maneira particular de entrar para a história. Muitas vezes um álbum é composto e produzido não exatamente de acordo com o tempo presente, mas mirando o futuro, à frente de seu tempo.

4 - Como foi tocar Angels Cry sem seus antigos companheiros do Angra? Foi por opção? Bate uma nostalgia ao tocar Angels Cry na íntegra?

AM - O clima que percebo não é de nostalgia, mas sim de celebração. É muito empolgante ver a resposta do público às músicas deste disco que fez história no Brasil e no mundo. Quanto aos músicos que me acompanham, estou mais que satisfeito com a performance da banda solo porque eles estão tocando as composições com perfeição. Não me recordo dos arranjos soarem tão precisos ao vivo em toda a carreira, e estamos agradando por onde passamos. A escolha deste tributo foi uma sugestão já antiga. A ideia se provou viável depois da turnê de reunião do Viper, com Soldiers of Sunrise e Theatre of Fate ao vivo. A única condição para se fazer o Angels Cry era a de tocar o disco na íntegra, do início ao fim. Deste ponto de vista, foi um grande desafio, mas que acabou se transformando em diversão no decorrer dos shows.

5 - Como é competir com shows internacionais no Brasil hoje?

AM - Não podemos competir, mas sim conviver com eles. A verdade é que os shows internacionais tornaram-se tão ou mais freqüentes quanto as apresentações de bandas nacionais. Então, tudo passa por uma questão de qualidade. Ofereça a mesma qualidade e mantenha o seu público fiel, para não haver a necessidade de competição. Obviamente, é aconselhável optar por datas que não sejam conflitantes, para não colocar o seu próprio fã em xeque. Antigamente isto não era tão drástico, mas a quebra da indústria fonográfica obrigou todos os artistas a estarem na estrada o tempo todo. Veremos até onde isto deve chegar.

6 - Andre, você acredita que fez discípulos no heavy metal? Que novos cantores você destacaria nos últimos 10 anos? Eles foram influenciados diretamente por você?

AM - Muitos jovens vêm constantemente até mim e fazem questão de declarar que me incluem entre suas principais influências. Isso é motivo de orgulho pra mim. Não deixo, no entanto, de alertar para que cada um deles busque sempre uma identidade própria. Influências são importantes e até mesmo necessárias, mas não como um fim em si mesmas. Há diversos bons cantores e cantoras que surgiram no Brasil nos últimos anos. Citar apenas alguns seria injusto. Não deixo de valorizar também os mais antigos que continuam em constante evolução.

7 - O que falta ao heavy metal atualmente?

AM - Criatividade? Ousadia? Coragem? Sair da chamada "zona de conforto"? Não sei, retribuo esta pergunta a você e aos próprios leitores! Como costumo dizer, a última coisa "nova" que apareceu dentro da música pesada, e que me chamou realmente a atenção, foi o Rammstein. A vinda deles já faz quase 15 anos! Mas este é um ponto de vista estritamente pessoal. Gostaria, na verdade, que algo hoje em dia me surpreendesse tanto quanto eles me surpreenderam naquela época.

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