segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O antipetismo fervoroso somado com preconceitos criaram as eleições de baixo nível

Por Pedro Zambarda


Dilma Rousseff estava virtualmente reeleita ontem, às 20hrs, e eu profetizei no Facebook: "Vai ter gente xingando os nordestinos e os pobres e virando notícia". Minutos depois, surgiram as primeiras reportagens em portais de notícia relatando episódios pitorescos de preconceito, racismo e xenofobia regional, sobretudo de paulistas e habitantes do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Diziam-se todos eleitores do tucano Aécio Neves e decepcionados com o Partido dos Trabalhadores (PT) chegar ao seu quarto mandato, mesmo que tenha sido após uma eleição apertada e com um governo, no mínimo, controverso.

O segundo turno entre Dilma e Aécio foi uma disputa clássica entre a esquerda e a direita nas urnas, embora nenhum dos dois proponha economia planificada nos moldes soviéticos e nem o neoliberalismo de Margaret Thatcher do Reino Unido. Pelo menos não de acordo com os planos de governo.

Dilma quer dar continuidade aos programas sociais e precisa restaurar o relacionamento com os empresários, com a indústria e com o setor privado em geral. Aécio tinha o apoio dos empresários, mas tentou flertar com os programas sociais para não ter apenas esse apoio. O que aconteceu foi justamente isso: Uma eleição acirrada por causa de programas muito parecidos, pouco inovadores ou mesmo radicais.

Há de se analisar os votos por estados e por regiões. Dilma Rousseff não venceu só no nordeste. Venceu nas regiões nordeste, norte e nos estados de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. Ainda levou um percentual que variou entre 30% e 40% nos sulistas.

Aécio Neves levou votos de brasileiros que estavam no exterior. E foi maioria no sudeste e no sul. Foi minoritário no nordeste e no norte, mas também teve seus percentuais similares aos de Dilma em São Paulo.

O Brasil não está dividido. O Brasil é complexo, grande e comporta todas as suas contradições, sobretudo em período eleitoral.

Os escândalos de cada candidato são pauta para outro texto. Mas justamente o jornalismo que apurou irregularidades causou um efeito nefasto para a política brasileira: O antipetismo.

Não há uma reação de petistas a ponto de criar um antitucanismo, uma seita anti-PSDB. Os petistas tem orgulho dos programas sociais que, de fato, levaram milhares para fora da linha da pobreza e da miséria. O PT nunca foi bem representado pela imprensa mais alinhada ao PSDB, sempre foi criticado e, pasmém, continua financiando essa mídia.

Mas vamos nos ater ao antipetismo.

O pior das eleições foi protagonizado pelos antipetistas. São eleitores que, acima de tudo, odeiam os últimos 12 anos do PT no governo federal querem tirar o partido do poder, não eleger uma alternativa legítima. São pessoas que, neste momento, não aceitam que eleições podem ser perdidas.

A própria Dilma temia perder as eleições, dado alguns exageros de sua campanha.

O antipetismo acredita em "ditadura comunista", mesmo que os governos Dilma e Lula tenham falado tanto com Cuba e Irã quanto com os Estados Unidos de George W. Bush e a Alemanha de Angela Merkel.

O antipetismo não vê nada de errado em ter como analista político um cantor controverso como Lobão, que mostra a cada dia um desconhecimento de ciência política mais explícito.

O antipetismo aplaude a truculência de Roger, cantor do Ultraje a Rigor. Roger pode militar para quem ele bem entende, inclusive para Aécio Neves. O que ele não pode é insultar pessoas no Twitter que sequer disseram que iriam votar em Dilma, como ele fez incontáveis vezes.

Eu mesmo bati boca com Roger e, na época, não achei que iria votar em Dilma Rousseff. Roger fez questão de me bloquear, sem sequer ouvir a minha opinião crítica sobre o escândalo do metrô do PSDB que ele nunca citou em seu Twitter.

O antipetismo caiu em argumentos furados e de baixo nível. Isso é o combustível para atrair preconceito contra nordestinos. Odiar nordestinos é um passo para odiar negros. Odiar negros também é um bom aval para desprezar minorias como gays e transsexuais. Esse caldo soma-se ao preconceito clássico contra pobres, sendo que você não precisa ser necessariamente rico.

Alguns desses antipetistas agora cogitam fazer mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff em seu segundo mandato. Utilizam um discurso separatista, para selecionar os estados que não votaram no PT e criar um novo país. Não sabem que esses processos gerariam guerra e sofrimento para as pessoas que convivem com eles.

Antipetistas são antidemocráticos por excelência. E a imprensa peca feio ao alimentar esse sentimento.

As críticas ao PT são sadias quando feitas de maneira sóbria e sem preconceitos, tanto por parte dos eleitores de Aécio Neves quanto pelo de Dilma Rousseff. Também são válidas por partidários mais à esquerda ou mesmo liberais mais extremos. No entanto, o que se formou na última década na política nacional foi a corrente do antipetismo.

O antipetismo é alimentado diariamente na mídia, por meio de colunistas que criaram a tese de que o PT quer se perpetuar no governo e que nada de bom foi feito nos últimos anos por este partido. O Bolsa Família, o Brasil fora do Mapa Mundial da Fome, o Mais Médicos, o Ciência sem Fronteiras, o Pronatec e diversos outros programas que ajudaram o país são sumariamente descartados por essas pessoas.

Não há sequer uma leitura crítica.

O antipetismo não é eleitor de Aécio Neves, necessariamente. Para o anti, qualquer coisa é melhor do que mais quatro anos de PT no poder.

Esse movimento cresceu graças ao preconceito entre as altas classes sociais com os mais pobres, sobretudo com uma vitória de um partido tradicional da esquerda brasileira em 2002. No entanto, há antipetistas com as mais diversas rendas nos dias atuais, porque a mídia massificou a mensagem de que o partido de Lula e Dilma deu um golpe para permanecer no poder, ignorando os votos de diversas pessoas que não enxergavam nem José Serra e nem Geraldo Alckmin como opções nos últimos 12 anos. E, certamente, não consideraram Aécio Neves um bom candidato agora.

Não há problemas em criticar o PT e nem em não votar no partido, mas é realmente lamentável ver os argumentos rasos quando os antipetistas são confrontados por reportagens sérias que mostram corrupção no PSDB e na oposição política ao governo federal. A ideia desse material jornalístico não é mostrar que "todos os políticos são corruptos", mas são informações que devem ser consideradas por qualquer um na hora de decidir na urna e na hora de acompanhar um governo.

Foram os eleitores “esclarecidos” de São Paulo que reelegeram Geraldo Alckmin governador do estado em primeiro turno, perpetuando o PSDB na região por 24 anos. O tucano quebrou o orçamento da maior universidade brasileira, a USP, colocou a Polícia Militar contra os professores em protestos, desalojou pessoas miseráveis no centro da capital paulistana e agora está acabando com a reserva de água da Cantareira, abastecida pela Sabesp, o que pode criar um racionamento sem precedentes no estado, como já ocorre em cidades como Itu.

Em 12 anos de governos do PT, a direita perdeu a oportunidade de fazer uma candidatura mais propositiva e com menos apelo às acusações de corrupção. O único efeito colateral dessa opção foi ter criado uma massa antipetista, com ajuda da grande mídia nacional.

O maior desafio do PSDB nestes próximos quatro anos não será derrotar o PT nas urnas em 2018, mas refazer a base eleitoral de seu partido. Do caso contrário, entusiastas do separatismo, da Ditadura Militar, do preconceito regional e racial serão os apoiadores de seus candidatos. Ou seja, o antipetismo mais apaixonado.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Cientistas revelam segredos das cores de Cândido Portinari

Por Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias

A maneira com que o pintor Cândido Portinari (1903-1962) combinou pigmentos de materiais variados para criar as cores de suas pinturas é revelada pelos estudos do Núcleo de Apoio a Pesquisa de Física Aplicada ao Patrimônio Histórico e Artístico (NAP-FAEPAH) da USP. Entre os meses de março e agosto deste ano, 21 quadros expostos na Igreja Matriz de Batatais (interior de São Paulo) passaram por análises de fluorescência de raios X e espectroscopia Raman para identificar os elementos químicos e compostos presentes nas tintas. Os resultados permitem auxiliar o processo de restauração das obras de arte e em futuros estudos sobre o método de trabalho de Portinari.


Os quadros na Matriz de Batatais, executados pelo pintor provavelmente entre 1953 e 1955, trazem cenas da vida de Jesus Cristo. São pinturas de vários tamanhos, desde as estações da Via Sacra, que medem aproximadamente 50 por 50 centímetros (cm), até quadros como “Batismo” e “Sagrada Família”, com 1,99 metros (m) de altura por 2,99 m de comprimentos. “Os responsáveis pela restauração procuraram o núcleo para realizar um trabalho de caracterização dos materiais usados nas obras e seu estado de degradação durante o processo de restauro”, diz a professora Márcia Rizzutto, do Instituto de Física (IF) da USP, coordenadora do NAP-FAEPAH. “As medições de raios X e Raman aconteceram na própria igreja, por meio da utilização de equipamentos portáteis pertencentes ao Núcleo”.

As duas técnicas não necessitam de extração de amostras (não-invasivas). A fluorescência de raios X serviu para caracterizar quais substâncias químicas estavam presentes nas tintas dos quadros. “O aparelho emite um feixe de raios X, que são utilizados para excitar o material presente no pigmento e depois raios X característicos dos materiais são reemitidos pelos pigmentos analisados com frequências de onda diferentes, conforme o material encontrado, o que permite classificar cada elemento químico”, conta a professora do IF. “Em algumas obras usou-se a espectroscopia Raman, em que um sistema de laser interage com os compostos e estes espalham novamente o laser e assim fornecem informações sobre a composição química dos materiais analisados”.

Com base nos resultados das medições realizou-se um mapeamento dos quadros, que indicam os componentes de cada pigmento presente nas obras. “As análises apontam que Portinari usava pigmentos industrializados, porém feitos de diferentes elementos químicos, para variar as tonalidades de cores, como no céu pintado em alguns quadros”, diz Márcia. Para conseguir um maior número de tons de azul, o pintor usava pigmentos a base de cobalto, estanho e cobre. “Nas partes pintadas de branco foram encontrados traços de zinco; nos amarelos, cádmio, nos marrons, ferro, nos verdes, cromo, e assim por diante”.

Paleta de cores

As informações obtidas sobre a paleta de cores utilizada nos quadros da Matriz de Batatais podem ser comparadas com outras obras do artista. “É possível verificar se os pigmentos e as técnicas de pintura usadas nestes trabalhos apresentam semelhanças ou diferenças com quadros de Portinari em outros acervos, como o do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP”, ressalta a professora. “Os estudos com imageamento não encontraram traços de carbono, presentes no carvão e no grafite usado por artistas para esboçar traços iniciais em suas obras, o que pode ser um indício de que o pintor realizou os quadros diretamente sobre a tela”.
O NAP-FAEPAH surgiu em 2012, com o objetivo de realizar um trabalho interdisciplinar entre pesquisadores de ciências exatas e humanas para fazer um estudo sistemático de caracterização de objetos em acervos artísticos, históricos e etnográficos. “Por meio de técnicas físicas e químicas é possível verificar, por exemplo, processos de degradação, mudanças nos materiais ao longo do tempo e efeitos de restaurações anteriores realizadas em obras de arte, ou semelhanças entre culturas devido as características da produção de objetos em coleções etnográficas”, explica Márcia. Desde 2003, a professora realiza análises em acervos museológicos, inicialmente no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP.

Com auxílio da Pró-Reitoria de Pesquisa e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Núcleo adquiriu equipamentos para realizar as medições, principalmente nos locais em que se encontram os acervos. “Além do equipamento de fluorescência de raios X e da espectroscopia Raman, também são utilizadas diferentes tangencias de imageamento para caracterizar as obras de arte como uma câmera de infravermelho, fotografia de alta resolução e fotografia com fluorescência UV que se complementam e auxiliam a estudar a obra, estudar o processo criativo do artista por meio da identificação dos traços iniciais em pinturas e desenhos. Pode-se ainda ampliar os estudos de análises de materiais utilizando o Acelerador de Partículas do Instituto”, completa a coordenadora.

No MAC são estudadas as pinturas italianas do acervo de Ciccilio Matarazzo e a coleção de gravuras em papel, em colaboração com a professora e historiadora Ana Gonçalves Magalhães e com os especialistas em Conservação e Restauro do Museu, Rejane Elias Clemencio, Renata Casatti, Marcia Barbosa e Ariane Lavezzo. “No IEB é feito um trabalho com as pinturas de cavalete de Anita Malfatti e desenhos de Di Cavalcanti, com auxílio da especialista em conservação e restauro, Lucia Elena Thomé”, relata a professora.

No Museu Paulista (MP) da USP são estudados os processos de impressão fotográfica do final do século 19 e início do 20, em conjunto com a vice-coordenadora do Núcleo, professora Solange Ferraz de Lima, e as conservadoras do Museu, Sonia Spigolon, Ina Hergert e Yara Petrella. “No MAE é feita a analise de artefatos cerâmicos etnográficos e arqueológicos da Amazônia, com participação da professora Fabíola Silva e Dra. Silvia Cunha Lima”, acrescenta Márcia. Também participam do Núcleo os professores Manfredo H. Tabacniks e Nemitala Added, do IF, Augusto Câmara Neiva, da Escola Politécnica (Poli) da USP, Carlos Appoloni, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e Patrick Ravines, da Buffalo State Univeristy, nos Estados Unidos, além de estudantes de graduação, pós-doutoramento e do técnico Tiago Fiorini, do Acelerador de Partículas.

Alckmin ataca ONU por crítica sobre falta de água da Sabesp

Por Pedro Zambarda

Geraldo Alckmin, governador de São Paulo reeleito por cerca de 58% dos votos, enviou um duro ofício ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, cobrando que a entidade corrija suas conclusões sobre a crise da água no estado.


O estopim foi a visita da portuguesa Catarina de Albuquerque, relatora especial para água e saneamento, a São Paulo, em agosto último. Ela afirmou que a crise era responsabilidade do governo estadual e apontou falta de investimentos.

Alckmin diz que a relatora incorreu em “erros factuais” e fez uso político do tema ao conceder entrevistas às vésperas da eleição estadual, violando o código de conduta da ONU.

Ao concluir o texto, o governador adota um tom acima do usual em comunicações diplomáticas. Ele afirma que se a ONU não retificar as informações prestadas por Catarina de Albuquerque, ele ficaria em dúvida sobre a habilidade da organização para realizar a Cúpula do Clima.

Via DCM e Fernando Rodrigues, colunista do UOL

Confira o resultado das pesquisas Datafolha e Vox Populi neste segundo turno

Por Mariana Tokarnia, da Agência Brasil

Pesquisa feita pelo instituto de consultoria Vox Populi, a pedido do grupo Record, mostra empate técnico entre o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, e a candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT). Segundo o levantamento, Dilma aparece com 46% das intenções de voto e Aécio com 43%. Votos brancos e nulos somam 5% e indecisos, 5%.


No levantamento anterior, Dilma tinha 45% dos eleitores consultados e Aécio, de 44%.

Considerados os votos válidos, excluindo-se os votos brancos, nulos e indecisos, mesmo procedimento utilizado pela Justiça Eleitoral para divulgar o resultado oficial, Dilma tem 52% e Aécio, 48%. Configurando também empate técnico.

Dilma Rousseff se sai melhor entre os eleitores das regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Aécio lidera no Sul e no Sudeste.

Quanto à avaliação de governo, 43% consideram o governo de Dilma bom ou ótimo; 36%, regular; e, 21%, ruim ou péssimo.

O Vox Populi ouviu 2 mil eleitores no sábado (18) e no domingo (19), em 147 cidades. O nível de confiança é 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01136/2014.


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Pesquisa Datafolha divulgada ontem (20) mostra a candidata do PT, Dilma Rousseff, com 46% das intenções de votos. Aécio Neves, do PSDB, tem 43%. Dada a margem de erro de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, os dois seguem empatados tecnicamente. Esta é, no entanto, a primeira vez, no segundo turno, que Dilma aparece numericamente à frente de Aécio no levantamento.

Na pesquisa anterior, Dilma tinha 43% e Aécio, 45%. Votos brancos e nulos somam 5%. Não souberam ou não responderam, 6%. Considerados os votos válidos, excluindo-se os votos brancos, nulos e indecisos, mesmo procedimento utilizado pela Justiça Eleitoral para divulgar o resultado oficial, Dilma tem 52% e Aécio, 48%.

Quanto à avaliação do governo de Dilma, 42% julgaram a administração boa ou ótima, 37% consideraram regular e 20% ruim ou péssimo.

O Datafolha ouviu 4.389 eleitores nesta segunda-feira, em 257 municípios. O nível de confiança é 95%. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-01140/2014.

No primeiro turno, Dilma Rousseff obteve 41,59% dos votos válidos e Aécio Neves, recebeu 33,55%. A votação será no dia 26 deste mês.

Promessa: Dilma diz que até 2018 universalizará a banda larga no país

Por Bruno Bocchini, da Agência Brasil

A presidente da República e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, disse ontem (20) que, se reeleita, universalizará a banda larga no país até 2018. Segundo ela, universalizar significa que 90% dos domicílios terão banda larga, via fibra ótica, com velocidade de, no mínimo, 25 megabytes por segundo.


“Consideramos que a internet tem a mesma importância que, por exemplo, a universalização da energia elétrica. A internet é tão importante hoje para as pessoas como é o caso da energia elétrica. Ou seja, é um dado do consumo que a gente não pode deixar de considerar como integrante da vida das pessoas. Faz parte do cotidiano”, salientou Dilma, em entrevista coletiva em um hotel na região da Avenida Paulista.

De acordo com a candidata, o Banda Larga para Todos, como é denominado o programa de universalização, será realizado por meio de parcerias público-privadas e demandará investimento do governo da ordem de R$ 40 bilhões, que serão originários do orçamento da União, de créditos tributários e financiamentos a juros subsidiados.

“[Com o plano], pretendemos dobrar o número de conexões no Brasil. Passaremos dos atuais 150 milhões para 300 milhões no fim de 2018. Hoje, a velocidade média da banda larga é de 2,3 a 5,5 megabytes. Queremos chegar a 25 megabytes por segundo no fim de 2018", acrescentou.

Dilma disse, ainda, que o governo exigirá das operadoras a oferta de um pacote popular, com parâmetros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). “Como contrapartida, vamos exigir, de qualquer um dos modelos possíveis, a oferta de um pacote popular alinhado com critérios da OCDE, que são a conexão de banda larga fixa de, no mínimo, 25 a 32 megabytes”, salientou.

Conforme a candidata, os 10% de domicílios que não serão atingidos pelo programa utilizarão outros meios de acesso à internet, como rádio, satélite, o 3G ou o 4G, que são tecnologias utilizadas pelos smartfones.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Um debate importante sobre segurança em um possível segundo mandato de Dilma

Por Pedro Zambarda

Estamos chegando ao fim do segundo turno das eleições presidenciais de 2014. O tucano Aécio Neves disputa com a petista Dilma Rousseff o cargo de presidente da República. Dilma destacou-se em seu primeiro mandato com avanços na educação federal, no combate à fome e na política externa menos dócil, principalmente com o escândalo de espionagem digital dos EUA. No entanto, a gestora fraquejou no avanço da economia e foi dona de uma política de segurança dura durante manifestações, que mostraram sua face inflexível durante a Copa.


Em julho deste ano eu pude conversar com Inauê Taiguara para o site Diário do Centro do Mundo (DCM). Inauê foi preso durante a reintegração de posse da reitoria durante a greve da USP em 2013, sem provas de ter depredado o local, e participou de protestos que ocorrem desde junho do ano passado. Comentamos sobre abusos dos governos e até sobre as reações violentas durante a Copa do Mundo de 2014.

Ao contrário do que o título da matéria dá a entender erroneamente, Inauê não é líder do Movimento Passe Livre (MPL), mas apenas teve uma participação junto com vários coletivos que fizeram parte das mobilizações populares.

Para entrar no debate sobre segurança, é fundamental relembrar os abusos policiais contra protestos sem nenhum motivo ou prova, além dos dados de roubos, assaltos e da criminalidade real das grandes cidades.

Recomendo a leitura da entrevista no DCM.

domingo, 12 de outubro de 2014

Como foi participar do Roda Viva de Lira Neto, biógrafo de Getúlio Vargas

Por Pedro Zambarda

Há mais de um mês, no dia 25 de agosto, participei como tuiteiro do Roda Viva na TV Cultura com Lira Neto, o novo biógrafo de Getúlio Vargas, que lançou sua obra em três volumes generosos da República Velha ao suicídio do estadista. Com presença do mediador Augusto Nunes (revista Veja), o debate foi acompanhado pelos jornalistas Alberto Dines (Observatório da Imprensa), Eleonora de Lucena (Folha de S.Paulo), Ana Weiss (ISTOÉ) e Oscar Pilagallo, além da professora de história da USP Maria Aparecida de Aquino.


O programa foi interessante em abordar a relação de afinidade entre Vargas e o fascismo italiano, além da simpatia entre os militares que apoiavam o jornalista Carlos Lacerda da UDN e os Estados Unidos. O debate falou abertamente sobre a influência externa que criou regimes totalitários no Brasil.


Augusto Nunes escreveu uma resenha muito favorável a Lira Neto na revista Veja. Crítico dos governos do PT, o jornalista demonstrou uma grande simpatia pelo biógrafo, tanto ao vivo quanto nos bastidores. No entanto, quando foi perguntando em quem Lira votaria nas eleições de 2014, veio a resposta desconfortável com um silêncio: "Entre os candidatos postos, votarei na presidenta Dilma Rousseff". Para o intelectual, o Partido dos Trabalhadores representa a social-democracia hoje.

Certamente Nunes discorda do escritor, mas ficou nítido que o entrevistado enxerga o petismo como um movimento político singular no combate às desigualdades sociais, mesmo com todos os defeitos de seus governos. Entre os jornalistas, Alberto Dines e Ana Weiss foram precisos ao questionar Lira Neto se ele apoia ou não Getúlio Vargas, além de traçar paralelos com a política atual nas eleições presidenciais.

Confira o programa.




Sobre a minha afinidade com a poesia de Ferreira Gullar

Por Pedro Zambarda


Poucas pesssoas sabem, mas bem antes do jornalismo, eu caminhei pela trilha da poesia. Comecei a poetar desde meus 13 anos, escrevendo para correspondentes e depois tentando criar versos com algum sentido em público. Entre os 14 e os 16, firmei os autores que me deram as bases para entender que a poesia era a arte das formas e do conteúdo fragmentado. Li Camões. Li Fernando Pessoa. Mas nenhum deles me conquistou tanto quanto o maranhense Ferreira Gullar.

Amigo de infância de José Sarney em São Luís, Gullar teve uma vida difícil: Foi perseguido pela Ditadura Militar, exilou-se na Argentina e perdeu um filho já no Brasil. Seus versos são secos, ríspidos e às vezes mal-educados. Mas também são dotados de uma doçura e de uma brasilidade raras, que não se manifestam em um ufanismo bobo e ingênuo. E sim nas descrições de bananeiras, de gente pobre e de gente sofrida.

Conheci Gullar através de seus inimigos concretistas de São Paulo: Haroldo e Augusto de Campos. Apreciei o concretismo por sua arte através da repetição e da estruturação sem critérios clássicos, sem rima obrigatória. Li sobre como Ferreira Gullar rompeu com os paulistas através de uma arte própria, conquistando notoriedade no Rio de Janeiro.

Torturado durante a Ditadura, Ferreira Gullar abandonou o comunismo e suas convicções de esquerda. Pensou que iria morrer. Nos versos de seu Poema Sujo, fez uma gravação achando que não iria sobreviver. Teve ajuda de Vinicius de Moraes em seu exílio.

Hoje, Gullar está vivo e bem, com 84 anos. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras no último dia 9 de outubro, uma notícia que muito me agradou.

Ferreira Gullar critica Lula, o PT e a esquerda em suas colunas na Folha de S.Paulo. Flerta o pensamento conservador, não gosta de rock e não acredita na legalização da maconha. Às vezes é um antipetista entusiasmado.

É um idoso irritado com os rumos do mundo político atual, mas que pinta quadros que fogem do padrão clássico consagrado. Gullar também faz crítica de arte carregada de repertório. E não abandona os versos, que segundo o próprio saem naturalmente.

Não concordo com tudo o que Gullar diz ou afirma, mas sua arte marcou minha escrita por sua forma sintética e sua coragem para encarar o lodo, o sujo e o obscuro. É meu poeta de formação.

Separo três poesias dele e sua entrevista ao Roda Viva, em 2011.

Nasce o poema

há quem pense
que sabe
               como deve ser o poema
                                                      eu
                                                      mal sei
                                                      como gostaria
                                                      que ele fosse

porque eu mudo
                 o mundo muda
                 e a poesia irrompe
donde menos se espera
                                     às vezes
                                     cheirando a flor
às vezes
desatada no olor
               da fruta podre
               que no podre se abisma
(quando mais perto da noite
              mais grita
                       o aroma)
                                     às vezes
              num moer
              de silêncio
num pequeno armarinho no Estácio
de tarde:
              xícaras empoeiradas
              numa caixa de papelão
enquanto os ônibus passam ruidosamente
                à porta
                           e ali
                           dentro do silêncio
da tarde menor do comércio
do pequeno comércio
                    do Rio de Janeiro
na loja do Kalil
                 estaria nascendo
                 o poema?
(...)

Dilema

A pretensão me degrada
a humildade me deprime
e assim a vida é lesada:
ora é virtude ora é crime

Morte de Clarisse Lispector

Enquanto te enterravam no cemitério judeu
do Caju
(e o clarão de teu olhar soterrado
resistindo ainda)
o táxi corria comigo à borda da Lagoa
na direção de Botafogo
E as pedras e as nuvens e as árvores
no vento
mostravam alegremente
que não dependem de nós





Poeta Ferreira Gullar é eleito para a Academia Brasileira de Letras

Por Paulo Virgílio, da Agência Brasil

Por votação quase unânime, a Academia Brasileira de Letras (ABL) elegeu hoje (9) o poeta Ferreira Gullar para a cadeira 37 da Casa, vazia desde 3 de julho, com a morte do poeta e tradutor Ivan Junqueira. Gullar recebeu 36 dos 37 possíveis e foi eleito em primeiro escrutínio. Um voto foi em branco. Votaram 18 acadêmicos presentes e 18 por cartas.


O maranhense Ferreira Gullar, cujo verdadeiro nome é José de Ribamar Ferreira, nascido em São Luís, em 10 de setembro 1930, é o terceiro poeta a ocupar sucessivamente a cadeira 37. Antes de Ivan Junqueira, ela pertenceu ao pernambucano João Cabral de Melo Neto. A cadeira teve como fundador Silva Ramos, que escolheu como patrono o poeta Tomás Antonio Gonzaga. Seus ocupantes anteriores foram Alcântara Machado, Getúlio Vargas e Assis Chateaubriand.

Nascido em uma família de classe média pobre, Gullar passou a infância entre a escola e a vida de rua, jogando bola e pescando no Rio Bacanga. Aos 18 anos, começou a frequentar os meios literários da capital maranhense. Um ano mais tarde descobriu a poesia moderna, ao ler os poemas de Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira.

Em 1954, Ferreira Gullar lançou A Luta Corporal, livro que o projetou no cenário literário nacional. Os últimos poemas deste livro provocariam o surgimento, na literatura brasileira, da “poesia concreta”, da qual ele foi um dos participantes. Dissidente, passou a integrar um grupo de artistas plásticos e poetas do Rio de Janeiro, denominado neoconcreto.

São expressões da arte neoconcreta as obras de Lygia Clark e Hélio Oiticica, hoje nomes mundialmente conhecidos. Nesse grupo, Gullar levou suas experiências poéticas ao limite da expressão, criando o livro-poema, o poema espacial e, finalmente, o poema enterrado.

O último é uma sala de subsolo, a que se tem acesso por uma escada. Após penetrar no poema, o visitante se depara com um cubo vermelho. Ao levantar o cubo, encontra outro, verde, e sob este ainda outro, branco, que tem escrito numa das faces a palavra “rejuvenesça”.

Após afastar-se do movimento neoconcreto, Gullar aderiu à luta política revolucionária, nos anos que antecederam e que se seguiram ao golpe militar de 1964.  Membro do Partido Comunista Brasileiro, foi processado e preso na Vila Militar. Mais tarde, teve de abandonar a vida legal. Passou à clandestinidade e, depois, ao exílio.

Durante o exílio em Buenos Aires, escreveu Poema Sujo, poema de quase 100 páginas, avaliado como sua principal obra. Traduzido e publicado em várias línguas e países, Poema Sujo foi determinante para a volta do poeta ao Brasil.

Quando retornou, em 1977, foi preso e torturado. Libertado por pressão internacional, retomou seu trabalho na imprensa do Rio de Janeiro e, como roteirista, na televisão.

O teatro é outro campo de atuação de Ferreira Gullar. Após o golpe militar, ele e um grupo de jovens dramaturgos e atores fundou o Teatro Opinião, que teve importante papel na resistência democrática ao regime autoritário. Nesse período, escreveu, com Oduvaldo Vianna Filho, as peças Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come e A saída? Onde fica a saída? . De volta do exílio, escreveu Um rubi no umbigo, montada pelo Teatro Casa Grande, em 1978.

Em 2002, Ferreira Gullar foi indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Em 2010, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante para autores de língua portuguesa. Instituído em 1988 pelos governos do Brasil e de Portugal, o Camões é concedido anualmente a autores que tenham contribuído para o enriquecimento do patrimônio literário e cultural do idioma.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Dream Theater fez a coroação de um novo líder em São Paulo

Texto e fotos: Pedro Zambarda


Com um show de três horas de duração, o Dream Theater marcou sua sétima passagem pelo Brasil agradando gregos e troianos no dia 4 de outubro dentro do Espaço das Américas, São Paulo. Para os fãs da fase clássica da banda, músicas da era Mike Portnoy foram executados com precisão e respeito. Para os novos adeptos do gigante do metal progressivo, já com Mike Mangini na bateria, novas composições foram apresentadas com direito a videoclipes.


O show abriu com uma animação envolvendo as capas dos álbuns do grupo e "False Awakening Suite", a abertura instrumental pesada do novo disco "Dream Theater" (2013), seguida por "The Enemy Inside" tocada junto com o videoclipe original. A banda investiu em músicas recentes no começo da apresentação, abordando os atentados de Boston ocorridos nos EUA no ano passado e os problemas com veteranos das guerras do Afeganistão e do Iraque. Sete composições das nove tocadas inicialmente eram de 2011 para frente.


A banda fez uma coroação neste show, assim como está fazendo em toda a turnê: O novo líder do Dream Theater é o guitarrista John Petrucci. Com sua guitarra customizada JPS Majesty, da Ernie Ball Music Man, o instrumentista norte-americano com cara de Jesus Cristo barbudo abusou de solos encorpados e mais eletrônicos em um equipamento novo. O solo de Petrucci, que ocorreu logo após de "Looking Glass", misturou harmônicos e velocidade com um palco colorido que mudava de cor de acordo com suas improvisações. Suavemente, e dominando seu instrumento, John Petrucci transformou uma participação solo de sua guitarra elétrica na introdução de "Trial of Tears", música clássica do disco "Falling Into Infinity" (1997).


Mas a coroação de John Petrucci não seria completa sem a voz de James LaBrie, que cantou afinado os clássicos e as músicas da nova geração de fãs do DT. LaBrie trocou a palavra New York da letra de "Trial of Tears" por São Paulo. Um destaque especial foi a atuação do cantor em Space-Dye Vest, logo após de anunciar uma série de músicas em homenagem ao disco "Awake" (1994). James LaBrie sentou-se próximo do tecladista Jordan Rudess e usou suas cordas vocais com sentimento, em sincronia com o teclado e as explosões da guitarra.


A dupla LaBrie e Petrucci também mostrou garra e perfeccionismo em "The Mirror" e "Lie", músicas antigas que foram executadas com perfeição. James LaBrie saiu do palco todas as vezes em que as músicas instrumentais eram executadas, como foi o caso da novíssima "Enigma Machine". Nesta faixa, utilizando animações parecidas com as da turnê de 2008 do disco "Systematic Chaos" (2007), o Dream Theater criou animações que mostraram a banda enfrentando um enorme dragão negro das máquinas. A sequência parecia a de um jogo de videogame ao vivo.



Antes de tocar "Awake", álbum que completou 20 anos exatamente no dia do show em São Paulo, o Dream Theater tocou "Breaking All Illusions" de maneira bem high-tech, com animações que mostram a degradação das grandes cidades, do dinheiro e da tecnologia. A mensagem da composição estava em sintonia com a banda de metal progressivo, que mistura virtuosismo instrumental com comunicação contemporânea.


O tecladista Jordan Rudess teve uma participação fundamental em faixas como "Illumination Theory", que durou mais de 22 minutos assim como no disco "Dream Theater". Rudess é responsável pelo mergulho da banda nos efeitos digitais, sobretudo com solos que são executados tanto no seu teclado giratório, quanto em outro de mão ou em seu aplicativo no iPad. O instrumentista é responsável pelos temperos que dão ares futuristas ao som do DT.


O intervalo de 15 minutos que o Dream Theater deu no meio de seu show foi um dos melhores que vi em minha vida. A banda exibiu vídeos engraçados no YouTube, os melhores covers de seus clássicos na internet e até propagandas humorísticas com seus integrantes transformados em bonecos de ação.


O baterista Mike Mangini se manteve mais escondido na bateria, mas o som estava bem regulado e foi possível ouvir nuances em sua percussão, que é diferente do estilo ritmado de Mike Portnoy. Mangini se dá melhor em músicas de alta velocidade, dominando com maestria a cozinha com o baixista John Myung. E conquistou os brasileiros com seu calçado verde exótico após o final do show. E que final, devo dizer.


A banda tocou em sequência as músicas "Overture 1928", "Strange Déjà Vu", "The Dance of Eternity" (sem Liquid Tension Experiment) e "Finally Free", composições inesquecíveis do álbum "Metropolis Pt. 2: Scenes from a Memory (1999)".


Eu tenho uma relação pessoal com o Dream Theater. A banda surgiu em 1985, mas lançou seu primeiro trabalho, "When Dream and Day Unite", no ano em que eu nasci - 1989. Este é o quinto show que vou deles, depois de 2005, 2008, 2010 e 2012. Só não fui em duas apresentações do grupo em 1998.


Consigo afirmar com todas as letras que esta foi a melhor performance da banda mais famosa do heavy metal progressivo no Brasil. E isso certamente se deu graças à coroação de John Petrucci como novo líder do grupo, após a saída traumática do fundador e baterista Mike Portnoy em 2011.

Dream Theater é uma banda que desagradará os tios mais velhos que preferem punk rock, além dos moleques mais novos que preferem músicas mais simples no rock. No entanto, é um grupo que estará no coração dos guitarristas e bateristas de YouTube, que estudam música instrumental pesada para tocá-la até a perfeição.

Confira o setlist da apresentação em São Paulo:

False Awakening Suite
The Enemy Inside
Shattered Fortress
In The Back of Angels
Looking Glass
Solo de John Petrucci, com harmônicos, palco colorido e velocidade
Trial of Tears
Enigma Machine, com animação dos integrantes em cartoon
Solo de Mike Mangini
Volta de Enigma Machine
Along for the Ride
Breaking All Illusions

Pausa de 15 minutos

The Mirror
Lie
Lifting Shadows of a Dream
Scarred
Space-Dye Vest
Illumination Theory

Bis:
Overture 1928
Strange Déjà Vu
The Dance of Eternity
Finally Free

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