segunda-feira, 23 de março de 2015

Por que Veja não menciona a operação Lava Jato ao dar capa ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha?

Por Pedro Zambarda

Seria Eduardo Cunha o novo Demóstenes Torres da revista Veja? É o “mosqueteiro da ética” na Câmara dos Deputados?


Quando Demóstenes foi pauta da publicação, em 2007, as denúncias de corrupção entre a construtora Delta e Carlinhos Cachoeira ainda não tinham estourado. Cunha, no entanto, torna-se pauta da mesma revista duas semanas depois da divulgação da lista de políticos que serão investigados na operação Lava Jato da Polícia Federal, que apura casos de corrupção dentro da Petrobras.

Eduardo Cosentino da Cunha, sejamos honestos, está fazendo um efetivo trabalho de relações públicas com a grande mídia para amenizar efeitos de sua própria crise política. Deu entrevistas na Globonews e no Roda Viva. E agora recebe uma reportagem mansa da revista Veja.

O texto menciona o envolvimento de Cunha como réu no processo de PC Farias, além do apoio evangélico que conquistou no Rio de Janeiro ao se aproximar de Anthony Garotinho. A reportagem não menciona o lobby que Eduardo Cunha promoveu antes da aprovação do Marco Civil da Internet, agindo à favor das empresas de telecomunicações, sendo que ele foi presidente da Telerj.

Nem mesmo as informações fornecidas pelo colunista Lauro Jardim da Veja, sobre os doadores da campanha de Cunha em 2014, estão no texto. O deputado recebeu R$ 6,8 milhões em verba para concorrer ao cargo e gastou R$ 6,4 mi. Seus doadores foram diferentes empresas, como Bradesco Saúde, BTG Pactual, Ambev e Coca-Cola. Cunha já acusou o jornalista da Veja de ser “leviano” ao divulgar uma viagem de luxo do congressista até Paris.

Ciro Gomes, o irmão do ex-ministro Cid, está organizando a mobilização para pedir o “Fora Cunha” através das redes sociais e já declarou abertamente em entrevistas que o deputado age como lobista dentro da Câmara, organizando repasses e propinas. Eduardo Cunha nega com veemência as acusações.

Mas a informação sonegada mais assustadora no texto da Veja é a falta de menção clara ao Lava Jato.

A reportagem, de maneira acertada, informa que Eduardo Cunha é chamado de “primeiro-ministro” por políticos do PMDB. E que fez uma demonstração de força ao defender a demissão de Cid Gomes e anunciar a decisão antes mesmo que a própria presidente Dilma.

"Se a presidente não o demitisse, estaria indicando que não há Legislativo no Brasil", diz Cunha, dono de uma “súbita força”.

Mas a mesma revista que dedicou capas seguidas às delações de Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque sobre as propinas da Petrobras não relembra que o presidente da Câmara pode ser incriminado nestas mesmas investigações.

Para políticos do PT, a revista Veja faz questão de relembrar da Lava Jato, sob o nome de “petrolão”.

Para Eduardo Cunha e para o PMDB, a mesma publicação se cala e só decide dar capa ao congressista quando ele abertamente ataca a presidente. Mesmo quando o delator Paulo Roberto Costa diz que parte das propinas da Petrobras foram negociadas em reuniões na casa de Renan Calheiros.

Veja publica em sua mídia escrita todo e qualquer texto que ataque o poder Executivo, seguindo à risca a defesa que o próprio Eduardo Cunha fez ao longo da semana contra Dilma. Para o deputado não há culpa do Legislativo no processo de corrupção no Brasil. Este tipo de jornalismo enviesado, raso e sonegador de informação gera leitores desinformados, raivosos e pouco analíticos.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Indiretas para Marta Suplicy e retomada da cultura: Encontro com o novo ministro Juca Ferreira em São Paulo

Por Pedro Zambarda

Eu compareci, no dia 4 de março, na Roda de Conversa com Midialivristas no Centro Cultural São Paulo, promovido pelo Ministério da Cultura e com presença do novo titular da pasta, Juca Ferreira. Sem muitas formalidades e com transmissão ao vivo pela internet, o novo ministro do segundo governo Dilma Rousseff disse que agora está mais a par da situação de sua nova gestão e já selecionou os secretários para estabelecer reformas culturais no Brasil.


Ele, no entanto, não poupou críticas à gestão anterior da pasta, de Marta Suplicy. Sem mencionar a ministra nominalmente em nenhum momento, Juca Ferreira mandou suas indiretas: “Estamos implantando a nova gestão do Ministério da Cultura e estabelecendo planos para políticas no país. Queremos retomar o que foi abandonado neste processo, porque tem muita coisa que perdeu densidade. Eu não quero entrar nessa conversa porque você não dirige olhando pro espelho retrovisor, mas dá um trabalho danado recompor o clima do ministério”.

O ministro Juca Ferreira disse que a maioria dos processos em trâmite dentro de sua pasta estava congelado, porque as pessoas tinham “medo de assinar papéis”.  Ele disse que em três ou quatro meses consegue recompor os processos, sendo que houve devolução de dinheiro em projetos de financiamento cultural. “Não dá para trabalhar assim. Os órgãos do Estado precisam recompor um clima de trabalho profissional dentro do ministério”, afirmou o ministro, não poupando Marta e relembrando que a gestão dele foi uma continuação dos trabalhos de valorização social que Gilberto Gil iniciou no primeiro mandato de Lula.

“Quando fui ministro pela primeira vez, me viam como um querido. Hoje, depois que tomei um posicionamento na campanha da presidenta Dilma, tenho mais opositores”, completou.

Além de Marta, Juca critica até Joaquim Levy

 Entre os principais assuntos do encontro, Juca Ferreira debateu a importância dos pontos regionais de cultura, a necessidade da regulamentação dos meios de comunicação e o fortalecimento de veículos públicos. “A EBC, por exemplo, precisa ser uma emissora voltada para o público e não para atender demandas do governo”, disse o ministro.

No entanto, o ministro Juca Ferreira não deixou de criticar a situação do atual governo. “O Brasil está passando um momento delicado economicamente, institucionalmente e as energias corrosivas estão soltas por ai. O país está vivendo um momento de insegurança, de perda de credibilidade na política democrática. Os que foram responsáveis pela consolidação do ciclo de desenvolvimento cometeram tantos erros que hoje estão na berlinda, a verdade é essa. Por isso o Brasil precisa rever seu projeto de nação e incluir mais verba na cultura”, pontuou.

Juca Ferreira admitiu que a consequência da Operação Lava Jato no noticiário e no meio político não será pequena. “E não adianta nós apontarmos apenas os corruptos da oposição. Quando a esquerda fica parecida com a direita, quem ganha é a direita”, frisou o ministro.

Quando aprofundou no tema da economia, ele não deixou de mencionar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que pretende fazer profundos cortes de gastos do governo. “Mas, pra essa gente, o legal é sempre taxar mais”, criticou.

Lei Rouanet “neoliberal”

Com várias perguntas da plateia, Juca Ferreira esclareceu seu ponto de vista pessoal e o que ele pretende fazer com a Lei Rouanet, que aumenta incentivos privados através de desoneração fiscal. “O que as pessoas não sabem é que essa lei não lida com verba privada, mas sim com um dinheiro público que iria para pagamentos de impostos. Precisamos reformá-la. Ela foi pensada nos anos 90, de uma forma neoliberal”, pontuou, lembrando que ela surgiu depois da Lei Sarney.

O novo ministério da Cultura estuda ampliar os critérios da Lei Rouanet e estimular o investimento direto e não através de desonerações. Juca também criticou a forma como a mídia noticia seu envolvimento com projetos do setor. “Muitos jornalistas forçam a barra querendo sempre me aproximar do grupo Fora do Eixo. Eles participaram de licitações e até perderam em algumas concorrências”, frisou.

Retomada da cultura tradicional com tecnologia

Juca Ferreira diz que sua gestão anterior foi marcada por uma cultura voltada para a sociedade. Em seu discurso em São Paulo, ele defendeu uma reforma de instituições como a Funarte (Fundação Nacional da Artes), para estimular mais espetáculos de dança, circo e artes plásticas, saindo do campo do cinema e do audiovisual, projetos que deram certo na gestão anterior do ministro.

Perguntei ao ministro Juca Ferreira se o governo pode intervir na reforma do Museu do Ipiranga, que foi fechado em 2013 e só seria reaberto em 2022. Seria uma manutenção mais prolongada do que museus internacionais, como o Louvre. Ele não respondeu a pergunta, mas disse que a pasta pretende fazer investimentos em acervos grandes e menores, mais regionais.

O Ministério da Cultura pretende fazer esses investimentos através do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). A ideia é revitalizar acervos que já existem e investir na criação de pequenas instituições para valorizar a cultura regional.

“Mas também teremos um trabalho forte em cultura digital. Precisamos, para implantar boa parte das mudanças, que exista um avanço no plano nacional de banda larga. E teremos uma conversa próxima com o Ministério das Comunicações”, finalizou, dando um sinal que trabalhará junto de Ricardo Berzoini dentro do governo Dilma. O comentário também surgiu quando eu mencionei projetos digitais bem-sucedidos na área da Lei Rouanet, como é o caso do game Toren que será lançado no Brasil e internacionalmente neste ano.

Confira o vídeo da conversa completa logo abaixo.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O que Laerte Coutinho pensa sobre regulação da mídia?

Por Pedro Zambarda


Laerte, em uma charge publicada na Folha, você defendeu abertamente a regulação dos meios de comunicação. Por quê?

Acho que há uma ação unificada da mídia com um propósito político claro ao recusar a discussão sobre regulação de meios de comunicação. É o que penso. Acho que nossos meios precisam se submeter a interesses da sociedade. Até em nome da liberdade de expressão dela. É um debate que precisa começar agora. Não tenho uma resposta clara e abrangente, infelizmente. É preciso buscar modos democráticos de limitar o monopólio dos meios de informação, bem como garantir e estimular o uso desses meios por parte da população. Isso deveria ser feito para diversificar as abordagens e opiniões que existem hoje e ficam concentradas nas mãos de poucos detentores da audiência.

Você acredita que uma mídia regulada conviveria bem com o deboche?

Acho que conviveria muito melhor com o humor de deboche ou de debate. Não vejo o humor sendo censurado com mais veículos de mídia criados. Ele apenas seria, talvez, mais debatido.

O Charlie Hebdo está levando a culpa pela tragédia em Paris?

Cartunistas fazem parte do universo de jornalistas de opinião, especialmente aqueles que se dedicam à charge e à sátira política. Não acho que vá acontecer uma pressão inédita sobre os autores e autoras de sátiras. Nem acho que uma possível pressão desse tipo conseguiria obter mudanças sensíveis no grau de liberdade com que esse trabalho é feito hoje.

Sua pergunta usa o termo “culpa”. É uma palavra de alta complexidade neste momento. Charlie Hebdo é uma das revistas mais importantes do mundo em sua área e influenciou milhares de pessoas em sua história. Inclusive eu. Acho que a linguagem do humor, necessariamente agressiva, de nenhum modo é neutra, porque sempre há um conteúdo ideológico pelo qual o discurso humorístico deve responder.

“Foi só uma piada” é uma defesa geralmente idiota. No entanto, por suas características especiais, sua subjetividade, é difícil avaliar de longe como se realiza este discurso, que tipo de leitura se faz no contexto da realidade francesa. Para nossos olhos, pode se tratar de islamofobia pura.

A experiência que temos no Brasil em relação a populações islâmicas é bem diferente porque há muitos imigrantes de origem árabe, boa parte cristã. Tenho a impressão, e posso estar muito errada, de que a islamofobia no Brasil procura obter resultados em relação a apoios e condenações de políticas no exterior, especialmente no caso da Palestina.

Você acha que existe preconceito por trás da crítica especificamente voltada para as religiões muçulmanas?

O tráfego dos preconceitos é intenso e multidirecionado. Racismo, machismo, fobias de todos os sabores e qualidades se combinam em desenhos elaborados e complexos. Sim, o islamismo é hostilizado, assim como o judaísmo e o cristianismo. Esses ataques ocorrem em várias medidas. As religiosidades são hostilizadas e manipuladas de muitas formas.

A entrevista completa foi publicada no Diário do Centro do Mundo, o DCM.

Eu me arrependo de quem eu votei em 2014 para presidente?

Por Pedro Zambarda

Votei na Dilma Rousseff nos dois turnos na eleição passada. Não sou petista e nunca fui filiado a partido nenhum. Cheguei a votar em Marina Silva em 2010. Já anulei votos. Me arrependo do meu voto na presidente pelos ministérios e pela condução econômica. Não me arrependo se a opção fosse Aécio Neves, considerando as acusações pesadas de corrupção de seus aliados, como é o caso de José Agripino Maia do DEM.


Tenho amigos tucanos e tenho amigos que votaram em Aécio Neves por razões que considero justas. Respeito é bom e todo mundo gosta.

Não sou de esquerda, por mais que amigos tentem me convencer do contrário. Tenho forte simpatia com a esquerda dos meus tempos de grêmio na escola, mas mantive uma militância apartidária - e simpática aos partidos. E aumentei minha simpatia pela esquerda após a crise americana de 2008, fora a crise européia. Conheço teses liberais e apoio a livre iniciativa. O problema é que o capitalismo conservador caminha pra formação de oligopólios e isso é tudo, menos um sistema econômico saudável.

Digo tudo isso pra expressar: Se você culpa petistas ou pessoas de esquerda pela crise no Brasil, você só contribui para aumentar o problema. A grande maioria dos escândalos de corrupção no país é formado por conluios empresariais que abastecem políticos e impedem o progresso para atender demandas particulares.

Mesmo se a gente tivesse eleito Jesus Cristo pro cargo de presidente do país, ele seria trapaceado por um congresso comprado e com uma população leniente. São pessoas que se assustam com vidraça de banco quebrada num protesto e não entendem o que é uma formação de cartel corporativo.

Votei na urna sabendo do escândalo da operação Lava Jato que se aprofundava na Petrobras, das alianças do PT com o PMDB ao longo de mais de 10 anos e da precariedade de Dilma em falar em público, pois encontrei ela pessoalmente pelo menos duas vezes cobrindo eleições. Mas lembrei do escândalo do Helicoca de Aécio Neves em Minas Gerais, da Sabesp e Geraldo Alckmin em São Paulo, além do cartel de trens e metrôs do conluio Alstom-Siemens que une alguns dos principais nomes do PSDB.

Votei consciente e não tenho culpa nenhuma caso o governo federal se prejudique na condução de sua gestão. Quem vai sofrer não são os petistas "burros" que votaram em Dilma Rousseff. Seremos todos nós. Estamos dentro do mesmo barco e no mesmo processo político. Não ganhamos nada pensando em separar as pessoas em blocos A ou B.

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