
Essa longa introdução retrata um episódio que pode se repetir logo no Brasil, apenas substituindo o rockstar por um lutador de MMA. Com a popularização do esporte vem aumentando cada vez uma polêmica previsível e vazia: Quais efeitos o MMA poderia ter sobre nossa sociedade? O mais recente e mais explicito golpe veio do deputado José Mentor (PT-SP), que propôs uma lei que proibiria a transmissão do esporte em tv aberta, alegando que, bom, MMA não é um esporte e que a prática nada mais é que “rinha humana”, causando graves efeitos sobre nossa sociedade, argumentos defendidos em um artigo publicado na Folha de S. Paulo no último dia 5 de março.
Não vou entrar no mérito se MMA é um esporte ou não. Esta discussão é tão absurda quanto questionar se automobilismo e boxe também o são. A discussão aqui vai além e passa pelo lugar do jornalismo nessa história. O deputado tem todo o direito de propor as leis que quiser e publicar seu artigo em um jornal de grande circulação, afinal, isso é democracia: O direito sagrado de darmos nossa opinião sobre qualquer assunto, independente se ela é ridícula ou não. O grande problema da lei proposta é querer, autoritariamente, decidir o que cidadãos maiores de idade, perfeitamente capazes de julgar o que é certo ou errado, devem ou não assistir em suas TVs.
Realmente o MMA não é um esporte para todos, e é justo que alguns o considerem plasticamente violento. Portanto nada mais correto do que sua transmissão passar por uma classificação etária através de um órgão responsável que já existe, o Ministério Público. Junte isto ao fato de que geralmente as lutas ocorrem em um sábado após às 23 horas e temos finalmente a dimensão do autoritarismo proposto pelo deputado: Ele não quer defender a “família” (talvez o argumento mais detestável de todos) ou as nossas crianças, pois não é uma transmissão voltada para as crianças. Ele quer simplesmente proibir todos de assistir a algo que ele não aprova.
O Brasil é o país do "falso-conservador", algo muito pior do que o conservadorismo assumido e explicito que se vê em lugares como os EUA e Austrália. Aqui pregamos a criatividade, improviso e liberdade, mas ao mesmo tempo, setores importantes de nossa sociedade usam e abusam de palavras como “regulamentação” e “debate” para que nossos hábitos sejam definidos por regras, e não pela realidade. Mais arcaico impossível, e a situação piora quando veículos de comunicação, que deveriam partir do básico principio da liberdade de escolha e expressão, se manifestam a favor de tais ações.
O exemplo neste caso foi um editorial publicado também na Folha de S. Paulo, no dia 19 de dezembro, logo após a primeira transmissão do UFC pela Rede Globo, pedindo que o governo regulamentasse a transmissão “em defesa dos telespectadores”. Sim, o mesmo jornal que afirma que qualquer proposta para regulamentar a operação de veículos de comunicação é uma volta à censura. Dois pesos e duas medidas? Imaginem. Talvez em meio a esse debate seria produtivo lembrar das palavras de Dee Snider, e adaptá-las para nossos dias: Confiem em seus filhos, e se não gostarem, exerçam seu direito inenarrável de mudar de canal.
Não curto o MMA por ser apenas uma versão light e publicizável do vale-tudo. Mas não é que eu odeie, eu só não gosto tanto. Nada justifica querer censurar por uma questão de gosto.
ResponderExcluirA liberdade de expressão devia valer pra quem gosta de rock até batidão. As leis deveriam ajudar as pessoas, não atender a demandas individuais.