sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O real sentido do automobilismo



Poucos clichês são mais usados que o “lembro-me como se fosse ontem”, mas neste caso ele é válido. Era a manhã de 1º de maio de 1994. E você, como eu, sabe o que aconteceu. Sabe o que estava fazendo. Talvez até saiba qual foi a sua reação. Eu sei qual foi a minha, qual foi a do meu pai que estava ao meu lado. Afinal, era a morte de Ayrton Senna.

Ao contrário de muitos, a morte de Senna foi meu segundo contato com a morte em um esporte que eu estava aprendendo a amar. O primeiro veio no dia anterior, com o acidente fatal de Roland Ratzenberger no treino classificatório para fatídica prova de domingo. Ainda não entendia aquilo, e me choquei com as cenas da desesperada tentativa de socorro a Ratzenberger. Com Senna, veio o choque de realidade.

Em 1999, com 11 anos, já entendia muito bem a morte, e já amando este esporte vi o pior acidente que minha memória consegue buscar: Greg Moore perdendo a vida em um violento choque contra o muro interno de um oval, na Fórmula Indy. E então, no último domingo, a morte no automobilismo voltou a me chocar com o acidente de Dan Wheldon.

Por que competir em um esporte onde o risco de morte é tão inerente? Ou melhor, por que amar este esporte, que a primeira vista parece tão frio, distante e até, por que não, monótono? Desde domingo me pergunto a mesma coisa enquanto acompanho as consequências da morte de um grande piloto, embora pouco conhecido por aqui. E um polêmico texto publicado por André Forastieri me trouxe a resposta. Forastieri, que nunca escreveu sobre automobilismo, mas que praticamente introduziu o “jornalismo nerd” no Brasil, reflete o ponto de vista de grande parte das pessoas e conclui, já no título, que o “sentido do automobilismo é a morte”.

Seria fácil apenas afirmar que ele é um jornalista de blog a procura de pageviews, aproveitando-se de um assunto do momento e escrevendo algo polêmico. O difícil é entender as razões de seu texto e encontrar argumentos para contrariá-lo. Afinal, poucos esportes parecem ter qualquer sentido e praticar um onde seu destino final pode ser o choque com um muro de concreto a 300 km/h parece mais sem sentido ainda. Mas quer saber? Argumentos racionais não iriam funcionar. E o sentido para isto, ao menos pra mim, pode ser encontrado justamente naqueles que perderam suas vidas neste esporte.

Senna, que apesar de poucos lembrarem era apenas um homem e não um mito, uma vez disse que tinha muito medo de morrer. Mas que no momento que estava em um carro, o medo passava, e tudo que ele queria era vencer. E esta frase já foi dita ao menos uma vez por todos os grandes pilotos: a vontade de vencer simplesmente subjulga o medo da morte. Mas novamente, é fácil falar isto, mas tentar entender, para nós mortais que trabalhamos 8 horas por dia em algo sem qualquer tipo de risco, parece quase impossível.

Michael Schumacher já afirmou que em certos momentos se sentia flutuando na pista. Ou seja, que ele e o carro eram como uma única coisa. Senna já disse que em Mônaco entrava em transe, transportado para seu próprio mundo enquanto pilotava nas estreitas ruas do Principado. Se tais declarações eram marketing na tentativa se forjar como mito é irrelevante, mas retratam perfeitamente o sentido deste esporte: não se tornar uma extensão da máquina, como muitos dizem. Mas sim tornar a máquina a extensão de si mesmo.

Sempre foi assim, e por isso o homem se apaixonou tão fortemente pelo carro desde sua invenção. Por isso que para alguns, pilotar e vencer é tão básico quanto respirar. Estúpido? Talvez...provavelmente. Assim como boa parte de tudo que nós achamos fascinante. Por isso que Sennas, Moores e Wheldons faziam o que faziam. Não por um desejo suicida de adrenalina, como afirmou Forastieri, mas por tentar alcançar algo a mais. Algo que nós, normais, não entendemos.

Um comentário:

Anônimo disse...

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