Seria Eduardo Cunha o novo Demóstenes Torres da revista Veja? É o “mosqueteiro da ética” na Câmara dos Deputados?
Quando Demóstenes foi pauta da publicação, em 2007, as denúncias de corrupção entre a construtora Delta e Carlinhos Cachoeira ainda não tinham estourado. Cunha, no entanto, torna-se pauta da mesma revista duas semanas depois da divulgação da lista de políticos que serão investigados na operação Lava Jato da Polícia Federal, que apura casos de corrupção dentro da Petrobras.
Eduardo Cosentino da Cunha, sejamos honestos, está fazendo um efetivo trabalho de relações públicas com a grande mídia para amenizar efeitos de sua própria crise política. Deu entrevistas na Globonews e no Roda Viva. E agora recebe uma reportagem mansa da revista Veja.
O texto menciona o envolvimento de Cunha como réu no processo de PC Farias, além do apoio evangélico que conquistou no Rio de Janeiro ao se aproximar de Anthony Garotinho. A reportagem não menciona o lobby que Eduardo Cunha promoveu antes da aprovação do Marco Civil da Internet, agindo à favor das empresas de telecomunicações, sendo que ele foi presidente da Telerj.
Nem mesmo as informações fornecidas pelo colunista Lauro Jardim da Veja, sobre os doadores da campanha de Cunha em 2014, estão no texto. O deputado recebeu R$ 6,8 milhões em verba para concorrer ao cargo e gastou R$ 6,4 mi. Seus doadores foram diferentes empresas, como Bradesco Saúde, BTG Pactual, Ambev e Coca-Cola. Cunha já acusou o jornalista da Veja de ser “leviano” ao divulgar uma viagem de luxo do congressista até Paris.
Ciro Gomes, o irmão do ex-ministro Cid, está organizando a mobilização para pedir o “Fora Cunha” através das redes sociais e já declarou abertamente em entrevistas que o deputado age como lobista dentro da Câmara, organizando repasses e propinas. Eduardo Cunha nega com veemência as acusações.
Mas a informação sonegada mais assustadora no texto da Veja é a falta de menção clara ao Lava Jato.
A reportagem, de maneira acertada, informa que Eduardo Cunha é chamado de “primeiro-ministro” por políticos do PMDB. E que fez uma demonstração de força ao defender a demissão de Cid Gomes e anunciar a decisão antes mesmo que a própria presidente Dilma.
"Se a presidente não o demitisse, estaria indicando que não há Legislativo no Brasil", diz Cunha, dono de uma “súbita força”.
Mas a mesma revista que dedicou capas seguidas às delações de Alberto Youssef, Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró e Renato Duque sobre as propinas da Petrobras não relembra que o presidente da Câmara pode ser incriminado nestas mesmas investigações.
Para políticos do PT, a revista Veja faz questão de relembrar da Lava Jato, sob o nome de “petrolão”.
Para Eduardo Cunha e para o PMDB, a mesma publicação se cala e só decide dar capa ao congressista quando ele abertamente ataca a presidente. Mesmo quando o delator Paulo Roberto Costa diz que parte das propinas da Petrobras foram negociadas em reuniões na casa de Renan Calheiros.
Veja publica em sua mídia escrita todo e qualquer texto que ataque o poder Executivo, seguindo à risca a defesa que o próprio Eduardo Cunha fez ao longo da semana contra Dilma. Para o deputado não há culpa do Legislativo no processo de corrupção no Brasil. Este tipo de jornalismo enviesado, raso e sonegador de informação gera leitores desinformados, raivosos e pouco analíticos.