terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Economista Thomas Piketty conta sobre sua simpatia ao PT e aos governos de esquerda

Por Pedro Zambarda



Qual é a sua opinião da economia sob os governos do PT no Brasil?

Eu acho que o Partido dos Trabalhadores fez um ótimo governo do ponto de vista social, mas poderia fazer mais. E sinceramente não entendo o pessimismo econômico de algumas pessoas com mais um governo de Dilma. Criticam os eleitores mais pobres por terem votado após receber benefícios estatais. Eu acho justo votar em Dilma Rousseff por receber o Bolsa Família e não vejo, sinceramente, nenhum problema nisso, assim como outras pessoas preferem outros candidatos. Mas parece algo das pessoas aqui de São Paulo, enquanto outras regiões, como o norte e o nordeste, pensam de maneira diferente.

O que um segundo mandato de Dilma Rousseff pode fazer de diferente?

Pode fazer uma reforma tributária com impostos progressivos, taxando os mais ricos. O governo também pode buscar uma transparência maior do ponto de vista da renda e da distribuição de riqueza. É uma boa maneira de responder à onda de críticas sobre corrupção e falta de informações. Tenho uma simpatia pelo PT, mas ele pode trabalhar de uma maneira melhor.

Existe um preconceito sobre os impostos para os mais ricos? Os integrantes do chamado 1% do extrato social utilizam a grande mídia para impor sua opinião internacionalmente?

Sim, isso existe e é um problema. Quando você tem uma porção de desigualdades, eles [os ricos] utilizam sua influência através da mídia, principalmente através dos veículos financiados de forma privada, que são guiados pelo dinheiro, e isso se tornou grande sobretudo nos Estados Unidos. No entanto, mesmo com isso, acredito que as forças democráticas se tornaram mais fortes e é um fato que, dentro da história da desigualdade, a taxação descrita pelo meu livro provocará um embate de movimentos de massa pacíficos para o futuro.

Você tem mais simpatia por governos à esquerda?

Depende. Depende de qual tipo de esquerda e de qual tipo de direita.

Me dê um exemplo da França, sua terra natal.

Na França nós temos uma direita que está se tornando extrema, e está ganhando espaço. Disso eu não gosto. O ex-presidente [Nicolas] Sarkozy está muito próximo de [Marine] Le Pen e eles estão querendo prejudicar os direitos de trabalhadores. Por outro lado, uma esquerda stalinista não é interessante. Para mim não é uma guerra entre dois lados, porque isso muda a cada país e a cada período de tempo.

A entrevista completa foi publicada no Diário do Centro do Mundo, o DCM.

Projeto ensina economia doméstica para crianças

Por Valéria Dias, via Agência USP de Notícias
Creative Commons

Um ditado muito popular diz que dinheiro na mão é vendaval. Mas se depender da professora de matemática Lizlane Aparecida Trevelin, esse ditado não será válido para seus alunos. Tudo isso graças à pesquisa Economia doméstica: uma aplicação prática para alunos concluintes do ensino fundamental que ela apresentou no último dia 9 de dezembro ao Mestrado Profissional em Matemática (PROFMAT), do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, sob a orientação do professor Luiz Augusto da Costa Ladeira.


A dissertação teve o objetivo de verificar a aprendizagem da matemática por meio do ensino da economia doméstica para as crianças: elas deveriam aprender a lidar com dinheiro, aprender a fazer orçamento familiar e a controlar os gastos, e adquirir noções de consumo consciente. O projeto foi aplicado em uma escola pública de ensino fundamental da cidade de São Carlos onde Lizlane atua como docente. Participaram do projeto 108 alunos, sendo 3 turmas com 36 alunos cada, do 9° ano do ensino fundamental.

“O projeto foi um sucesso não apenas entre os alunos, mas também em algumas famílias que decidiram abraçar a iniciativa”, conta a pesquisadora. Além disso, os próprios alunos tiveram a iniciativa de criar o grupo Embaixadores da Saúde Financeira: por meio de cartazes e de outros recursos, eles transmitiram o conteúdo aprendido para os outros estudantes da escola.

A ideia de desenvolver o projeto surgiu quando a pesquisadora leu uma matéria jornalística na internet que apontava que o número de famílias endividadas havia passado de 58,3% para 62,5% entre 2012 e 2013, segundo a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor. “Percebi que havia a necessidade de a escola trabalhar com seus alunos essa questão de uso do dinheiro e controle de gastos”, explica. Como Lizlane estava cursando o mestrado profissional, decidiu realizar o projeto de economia doméstica com seus alunos. A experiência durou cerca de um ano.

Para realizar o projeto, a pesquisadora utilizou como fonte materiais na internet que abordassem o tema economia doméstica; planilhas do Excel; textos sobre o assunto; além da ferramenta educacional WebQuest.

No WebQuest, ela criou uma página com o sugestivo nome de “Para onde vai meu rico dinheirinho” onde disponibilizou várias atividades. A professora ainda compartilhou com os alunos uma cartilha do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que ensina a calcular o Índice de Custo de Vida (IPC) das famílias.

Inicialmente os alunos precisaram assistir a um vídeo de um programa de televisão onde um economista apresentava várias dicas e estratégias sobre como lidar com dinheiro. Esse vídeo foi discutido em sala de aula com os alunos.

No vídeo, um consultor financeiro aponta para a necessidade de as pessoas terem sonhos e sempre separarem uma quantia mensal para realizá-los. Também é preciso ter sonhos de curto (1 ano), médio (1 a 5 anos) e longo prazo (acima de 5 anos). O vídeo também fala das diversas formas de pagamento (em dinheiro, débito, crédito e cheque) e dos problemas que envolvem as compras parceladas. Além de outros apontamentos sobre planejamento financeiro.

Depois de assistir ao vídeo, os alunos trabalharam com uma planilha onde era preciso preencher com os gastos ao longo de um mês, sempre com a orientação da professora Lizlane. Segundo a pesquisadora, alguns alunos tinham mesada, outros não. Por isso, em muitos casos, a planilha foi preenchida com os gastos da família e a atividade acabou por envolver todos da casa.

A anotação dos gastos foi feita durante um mês. Depois os alunos analisaram os gastos, as entradas e o saldo e, a partir dessa análise, apresentaram algumas conclusões, incluindo os gastos onde poderia haver economia.

Reflexão

Na etapa seguinte, os alunos precisaram estabelecer sonhos de médio, curto e longo prazo. Os alunos ainda tiveram que fazer uma reflexão sobre esses sonhos e de como poderiam realizá-los, e elaborar um plano de ação. “Isso fez com que os alunos percebessem a importância do planejamento e da organização para alcançar esses sonhos”, destaca a pesquisadora. No final, tiveram de realizar uma autoavaliação. Também foi feito um vídeo com alguns depoimentos dos estudantes onde eles contam o quanto foi importante aprender sobre planejamento financeiro e, principalmente, ter sonhos e lutar por eles.

A pesquisadora acredita que é possível reproduzir o trabalho em outras salas de aula. Entretanto, ela ressalta que o projeto elaborado por ela é apenas um ponto de partida e que talvez seja necessário fazer adaptações para as diferentes realidades encontradas nas escolas no que se refere aos alunos, aos próprios professores e também às próprias escolas. Parte do projeto está disponível no WebQuest neste link.

USP: as origens do impasse e uma possível saída

Por Ana Castro, do Retrato do Brasil, parceiro editorial de Outras Palavras
Creative Commons

Neste ano, a Universidade de São Paulo (USP) completou 80 anos. A merecida comemoração da maior universidade brasileira, entretanto, tem ficado em segundo plano frente à crise que enfrenta ao menos desde maio, quando uma greve de professores, funcionários e alunos parou parte de seus cursos e a colocou diariamente nas páginas dos jornais, questionando a sua própria razão de ser. Se o encerramento da greve, em fins de setembro, resolveu questões mais imediatas, há temas e decisões ainda no ar que refletem o embate de divergentes pontos de vista a respeito do presente e do futuro da USP.


A história dessa crise mais recente começa em janeiro passado, quando Marco Antonio Zago tornou-se reitor da USP contando com forte adesão da comunidade acadêmica. Mais votado pelo Conselho Universitário, com 49% das indicações, e preferido pela comunidade uspiana, segundo consulta interna, Zago, oriundo da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, foi o primeiro colocado da lista tríplice enviada a Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, encarregado de nomear os reitores das universidades estaduais. Em sua campanha, Zago preconizou o diálogo interno, convidando “professores, servidores e estudantes” a reconstruir, junto com a reitoria, “relações civilizadas, que implicam diálogo, confronto de ideias, discordância, pressões legítimas, mas jamais discórdia e recurso à força física; respeito àqueles que discordam de nós, capacidade de reformular nossas propostas, de ceder, de convencer”. Sua candidatura parecia se contrapor à gestão anterior, de João Grandino Rodas (da qual Zago fez parte), acusada de autoritarismo, centralização e privatismo.

Comprometendo-se com o tripé que sustenta o projeto da universidade moderna – docência, pesquisa e extensão –, Zago poderia ser o nome certo para unir as diversas forças que se enfrentam na USP, conduzindo as almejadas reformas para o estabelecimento de uma estrutura de poder menos concentrada e mais representativa. Para se ter uma ideia, atualmente apenas 1,7% da comunidade acadêmica é responsável pela indicação dos nomes para a lista tríplice, ou seja, é o topo da hierarquia uspiana que decide sua condução política.

Ao completar três meses na direção da universidade, entretanto, o novo reitor enviou uma carta a docentes, funcionários e alunos alertando para a existência de uma crise financeira – imputada a uma irresponsável política de contratações, obras e aumentos salariais de seu antecessor –, cuja resolução atrelava-se à necessidade de contenção de despesas. Segundo Zago, quase 105% do orçamento estavam comprometidos com a folha de pagamentos e projeções indicariam que, a despeito de haver uma reserva financeira de 1,3 bilhão de reais, mantendo-se tal ritmo de gastos a USP esgotaria seus fundos até 2018. Em consequência dessa avaliação, foram imediatamente paralisados os concursos de 535 docentes e as obras em andamento (economizando-se 446 milhões de reais) e suspensos 46% (alguns dizem 30%) dos repasses às pesquisas.

A solução que se avizinhava era diminuir o pessoal e eventualmente reduzir a folha de pagamentos por meio da redução da carga horária de trabalho de servidores, docentes e não docentes. Em entrevista ao diário O Estado de S. Paulo, o reitor foi direto ao ponto, mirando um dos pilares do regime de trabalho universitário: “Por que tantos docentes em regime de dedicação exclusiva na universidade?”. Tal regime, considerado a base da universidade ao dar ao professor as condições reais de autonomia e independência para pesquisa, docência e extensão, passou a ser visto como entrave à eficiência universitária.

Simultaneamente, os dois principais diários paulistas – Folha de S.Paulo e O Estado –, acompanhados por outros órgãos da grande mídia, veiculavam textos sobre o anacronismo da universidade pública e a necessidade de acabar com o regime de gratuidade, apontando para formas supostamente mais atualizadas e eficientes de gestão da USP. A discussão sobre a gratuidade do ensino aparecia vinculada à diferenciação entre ensino de massa e instituições dedicadas à pesquisa. Simon Schwartzman, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disse, em entrevista ao semanário Época, ser impossível o ensino superior continuar sendo ampliado “sem modificar profundamente seus objetivos e formas de atuação”. Segundo ele, é preciso diferenciar instituições dedicadas à pesquisa e ao ensino superior de qualidade, “necessariamente mais caras e centradas em sistema de mérito”, das de massa, com “carreiras menos exigentes, onde o setor privado atua com custos muito menores”. A Folha chegou, inclusive, a calcular o “valor justo” da mensalidade a ser cobrada pela USP: 2,6 mil reais.

No final de maio, após o conselho de reitores das três universidades estaduais paulistas – USP, Unicamp e Unesp – anunciar reajuste salarial zero na data-base de docentes e funcionários, as associações de ambas as categorias decretaram greve, algo que não ocorria conjuntamente desde 2009.

Em nova entrevista, dessa vez concedida ao semanário Veja, Zago apresentou seu diagnóstico da crise e os caminhos a serem seguidos daí em diante, deixando claro que não concordava com a proposta de cobrança de mensalidades como forma de financiamento da universidade, mas insistindo na questão da estabilidade dos docentes, vinculando-a à impossibilidade de pagar o salário que “cada docente vale”. A entrevista causou – para dizer o mínimo – mal-estar entre os setores mais progressistas da USP, que viram ali o sinal de uma possível adesão da reitoria às teses do desmonte da universidade pública, algo que ciclicamente ressurge.

Diante da continuidade da paralisação e da adesão dos alunos à greve, a reitoria endureceu: determinou o corte do ponto dos funcionários grevistas e levou o caso a julgamento pela Justiça do Trabalho. Além disso, para impedir piquetes no campus, recorreu à Tropa de Choque da Polícia Militar. Também anunciou que o reajuste zero viera para ficar, já que seriam sombrias as estimativas de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) no estado. Como, por lei, o orçamento da USP equivale a 5,02% da arrecadação líquida desse imposto, estima-se que neste ano serão aportados à universidade pouco mais de 5 bilhões de reais.

Em reação a essas decisões, professores da Faculdade de Direito e advogados de outras instituições lançaram o “Manifesto de repúdio aos atentados ao direito de greve na USP”. Cobrando soluções mais efetivas, outras cartas e manifestos se seguiram, ora em apoio aos grevistas, ora em repúdio a seus atos, entre os quais a “Manifestação de docentes da USP contra o uso de métodos totalitários de coação e pela recuperação de valores morais de convivência acadêmica”, firmado por mais de 700 professores de diversas unidades.

Após a greve ser julgada legal pelo Tribunal Regional do Trabalho no início de setembro, a reitoria, também pressionada pelas manifestações internas, pareceu adotar uma nova estratégia, buscando separar os movimentos de docentes e de funcionários. Passou a conectar a crise exclusivamente ao crescimento do setor funcional e ao aumento salarial descabido da categoria, promovido pela gestão anterior, além de divulgar propostas de soluções mais ou menos imediatas para enfrentar a situação financeira da USP: um plano de demissão voluntária (PDV), desenhado para atingir funcionários com mais de 20 anos de casa e salários altos; a desincompatibilização do Hospital Universitário (HU), em São Paulo, e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC), em Bauru; a venda de bens da universidade; e o incentivo à redução da jornada de trabalho (de 40 para 30 ou 20 horas semanais) de servidores técnico-administrativos, com a correspondente redução salarial. Para se diferenciar da gestão anterior, tida como autoritária, Zago convocou o Conselho Universitário para a aprovação das medidas, compartilhando o ônus das decisões com seus pares. O órgão deu aval ao PDV e ao repasse do HRAC ao governo estadual, mas solicitou esclarecimentos sobre a transferência do HU, pressionado por funcionários e estudantes da Faculdade de Medicina (o próprio governador declarou, posteriormente, não haver interesse por parte do estado em assumir a gestão dos hospitais).

Os dados apresentados pela reitoria ao longo dos últimos meses para expor a crise também foram crescentemente questionados. Até mesmo os números que refletiriam sua própria essência – aqueles relacionados com a folha de pagamentos – seriam colocados em xeque. Se a alíquota do ICMS repassada às universidades está congelada desde 1995 (ainda que o valor nominal mude), nesses quase 20 anos a USP não parou de crescer. Como apontou João Whitaker, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), nesse período foram abertos novos cursos e incorporados ou fundados novos campi, como os de Lorena, de Santos e da USP Leste, parte da política de expansão incentivada pelo próprio governo estadual. Entre 1995 e 2012, o número de cursos da USP aumentou 88,6%. Na graduação, o crescimento das vagas subiu 53,6%. Ao mesmo tempo, na pós-graduação – a USP é responsável por 25% da pesquisa no País – o número de cursos aumentou 34,6%, e o de alunos, 102,3%. Diante disso, o crescimento de servidores foi modesto: o de professores atingiu 15,9%, e o de funcionários, 11,5%. Hoje, a USP tem 5,5 alunos por funcionário e 15 alunos por professor. Para comparar, a britânica Oxford, no ano passado, tinha 4,92 alunos por funcionário e 4,3 alunos por professor, e Cambridge, também britânica, contava 4,4 alunos por funcionário e 3,9 por professor.

Dados a quantidade e o grau de complexidade das questões em jogo, entretanto, é bem provável que o reajuste salarial de 5,2% e o abono de 28,6%, determinados pela Justiça para compensar perdas anteriores, não signifiquem o fim dos problemas enfrentados pela universidade. Com seus 92 mil alunos, 6 mil docentes e 17 mil funcionários, a USP é hoje uma instituição de massa – a Unicamp, por exemplo, tem 18 mil alunos; Oxford, pouco mais de 22 mil –, muito distinta daquela fundada há oito décadas.

A filósofa Marilena Chauí – que vem refletindo sobre o papel da universidade pública no País há décadas – ajuda a compreender o que se passa com a USP. Ainda que haja nuances para cada área de conhecimento, sua análise tem o mérito de formular um olhar crítico e compreensivo para o processo, que pode ajudar a incidir sobre o presente. Em Escritos sobre a Universidade (Unesp, 2001), ela aponta três momentos-chave na história da universidade – ou o que ela chama de “três fundações” – ao notar inflexões significativas no projeto inicial introduzidas por reformas realizadas nas décadas de 1960 e de 1990.

Fundada em 1934 como um projeto de parte da elite paulista ligada ao Partido Democrático e a O Estado de S.Paulo – intelectuais orgânicos da burguesia agroexportadora e políticos com ambição de se tornarem (ou se manterem como) a elite dirigente do País –, a USP foi formada pela junção de alguns cursos superiores existentes desde o século XIX – entre os quais a Academia de Direito do Largo São Francisco, a Escola Politécnica e a Faculdade de Medicina – e pela criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL), a qual foi pensada como o coração da universidade, um centro integrador que congregaria todo o saber básico, fundamental e teórico. Para isso, uma leva de professores europeus – Levi-Strauss, Fernand Braudel, Roger Bastide, Jean Maugüé, Pierre Monbeig, Giuseppe Ungaretti, Gleb Wataghin, Heinrich Rheinboldt, entre outros – foi trazida para São Paulo, vários deles jovens docentes que se formaram no trabalho intelectual a partir da experiência brasileira. Esses estrangeiros, e também alguns brasileiros – como Fernando de Azevedo, Teodoro Ramos, Luiz Cintra do Prado, Otoniel Mota –, foram responsáveis por formar a primeira geração de novos professores que assumiriam as cadeiras quando do retorno dos fundadores à Europa. Nomes como Antonio Candido, Florestan Fernandes, João Cruz Costa, Paulo Emílio Salles Gomes, Décio de Almeida Prado, Gilda de Mello e Souza, Mario Schenberg, Azis Ab’Saber, Marcelo Damy, Anita Cabral, Crodowaldo Pavan e Paschoal Senise saíram daqueles cursos e passaram a formar gerações e gerações de intelectuais e cientistas brasileiros.

O projeto da universidade sofre uma primeira mudança quando a Faculdade de Filosofia passou a dividir com a do Largo São Francisco a formação intelectual da burguesia. Se os quadros políticos ainda vinham sobretudo das fileiras do direito, um pensamento crítico se abrigou na FFCL, que, ao estender seus cursos a professores do ensino médio, desde sua criação surgiu como oportunidade de ascensão social e intelectual para a primeira geração dos filhos de imigrantes e, em especial, de mulheres, até então praticamente excluídas do ensino superior. Isso não quer dizer que a universidade nascia democrática, mas que desde o início abriu para os setores médios a oportunidade de chegar ao ensino superior.

Em consequência das reformas instauradas na segunda metade da década de 1960, após o golpe militar, esse projeto sofreria uma inflexão. O esquema proposto seguiu as diretrizes de Roberto Campos, ministro do Planejamento à época: o ensino secundário deveria atender à massa, perdendo suas características humanistas e se concentrando no viés profissionalizante, enquanto o ensino universitário deveria continuar reservado às elites. A Lei 5.540/68 levou esse formato à universidade, na tentativa de massificar os cursos de graduação e dar à pós-graduação um papel de ponta, a partir de acordos feitos com os EUA. Com isso, a USP vivenciou uma fragmentação dos seus cursos, com a dissolução da sua célula mater. A antiga FFCL foi transformada em Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e parte de seus cursos, como química, física, matemática, biologia e psicologia, passou a ser ministrada em novos institutos. Impuseram-se então um vestibular unificado, a matrícula por disciplinas e a divisão por departamentos.

Nos anos 1990, como define Chauí, a universidade tornou-se “prosaicamente realista”: “Do lado das associações docentes, estudantis e de funcionários, o discurso está centrado na ideia de interesses das categorias, enquanto do lado das direções universitárias prevalece o discurso da eficiência, produtividade e competitividade”. A absorção desse ideário neoliberal se teria dado, entre outros fatores, pela instalação de fundações dentro da universidade – o que ajuda a explicar a falta de apoio à greve ocorrida na USP por parte de muitas unidades, que mobilizam recursos a partir dessas instituições –, levando à naturalização da ideia de uma gestão eficiente, nos moldes de uma empresa.

Embora originalmente concebida para atender às elites, a USP abriga hoje 60% de alunos cuja renda familiar mensal é inferior a dez salários mínimos, cumprindo um evidente papel de democratização do ensino superior público de qualidade – a USP era, há até bem pouco tempo, a única universidade latino-americana presente em rankings internacionais.

Sua crise atual, portanto, parece carregar as contradições da transformação de um projeto originalmente de elite para um sistema universitário cada vez mais massificado ao longo desses 80 anos e que de certa forma reflete as mudanças e os dilemas do próprio País. Nesse caminho, a velha estrutura resiste, não aderindo, por exemplo, ao sistema de cotas. Chocam-se e se complementam no projeto uspiano as determinações do mercado; o autoritarismo do Estado e às vezes dos órgãos que representam os trabalhadores; a busca pela excelência acadêmica; o compromisso com a docência e a extensão, e não exclusivamente com a pesquisa; e a pressão por uma maior democratização, não apenas no ingresso, mas em seu compromisso social. Mas os momentos de crise, como se sabe, são aqueles em que há maiores possibilidades de escolher novos caminhos. Espera-se que o atual seja o da democratização e o da abertura, sem a perda da qualidade.

Professor Vladirmir Safatle explica a real crise da USP hoje

Por Pedro Zambarda



Há um risco real de haver mensalidades na USP? 

Sim, e isso é discutido já na universidade. Principalmente porque não há uma proposta do governo estadual de melhorar o nosso tipo de financiamento público. Mas a ideia é absurda para uma instituição pública como a USP. Os tais alunos que podem pagar essa mensalidade possuem uma renda familiar estimada em 7 mil reais. A mensalidade seria cerca de mil reais, chegando até 2 mil. Para uma família de dois filhos, com as atuais despesas com outros fins, ela seria obrigada a se endividar para educar os jovens.

Também estipularam uma taxa menor, simbólica, de 500 reais. Mas sabemos como isso funciona. Começa com 500, sobe para mil e chega até mais de 2 mil. Corre-se o risco de transformar a Universidade de São Paulo em uma PUC, onde os estudantes pagam cerca de 3 mil reais em alguns cursos.

Qual é a sua opinião sobre o congelamento salarial e a consequente greve na USP?

Não acredito que a greve acontece apenas por uma questão salarial, e sim por um esgotamento produzido pelas dificuldades da gestão da Universidade de São Paulo. Existem dois grandes modelos de gestão universitária. Um é o modelo norte-americano, com uma clara distinção entre o setor administrativo do acadêmico, com um presidente e um administrador com funções diferentes. E outro modelo é o europeu, com representantes eleitos pelo conselho universitário. Cada um dos dois possui sua racionalidade interna.

E a USP segue qual modelo?

Nem um e nem outro. O conselho universitário é completamente opaco e não tem nenhuma representatividade. Criou-se uma casta burocrática que se tornou autônoma em relação ao restante da USP, se perpetuando de uma administração para outra. Ela é a responsável pela crise na universidade. A história que eles apresentam é que a folha de pagamento é responsável pelo patamar de 105% do orçamento. Agora, há duas questões que precisam ser levantadas com esta hipótese. A USP Leste teve uma expansão de sua infraestrutura sem uma melhoria de sua educação orçamentária.

Era óbvio que iria explodir de alguma forma, desde o início do campus leste isso era levantado. A segunda questão é que a reitoria anterior, de João Grandino Rodas, foi incapaz de apresentar uma solução. A gestão também foi completamente irresponsável nos gastos, fragilizando as finanças da universidade. Isso tudo causou um déficit de cerca de um bilhão de reais, sem que ninguém assumisse a responsabilidade de fato pela situação. Pior defeito do homem, nesses casos, é transferência de responsabilidades. Isso é a regra para os nossos gestores.

Quais foram os gastos da gestão Rodas? Por que a USP, em crise hoje, ainda está fazendo reformas estruturais que podem ser vistas no campus Butantã?

A gestão anterior fez uma série de novos prédios e escritórios absurdos em Cingapura, em Londres e até na cidade de Boston. Prédios foram comprados no centro da cidade de São Paulo, fora do campus. Bolsas também foram dadas sem uma avaliação correta sobre o impacto e a necessidade delas.

Tivemos quatro anos de descalabro administrativo inacreditável, enquanto a universidade e os universitários insistiram que a instituição precisava de mais transparência e de mais democracia.

A sociedade civil foi completamente surda para essas demandas da USP, estigmatizando os protestos. É uma universidade que custa 5 bilhões de reais, recebe ICMS do estado e não é administrada de uma maneira minimamente transparente, sendo que ela é pública.

A entrevista completa foi publicada no Diário do Centro do Mundo, o DCM.

Uma entrevista com Luciana Genro sobre o que podemos esperar do segundo governo Dilma

Por Pedro Zambarda


Como você avalia o resultado da disputa presidencial entre Aécio e Dilma?

A oposição de direita não tem autoridade política para criticar o PT. Aécio denunciando a corrupção na Petrobrás é patético. O PSDB dizendo que vai defender os pobres é ridículo. Então venceu o mal menor, na visão da maioria do povo. Não tenho dúvida que os mesmos que comemoraram a vitória de Dilma vão sair às ruas em breve para lutar por mais direitos.

A pouca margem de votos demonstra que ela será uma presidente mais débil, mais refém dos partidos fisiológicos como o PMDB e que o PT está sangrando o seu patrimônio político cada vez mais. É na esteira de uma esquerda que abandonou suas bandeiras que a direita se fortalece. Por isso estamos construindo o PSOL para oferecer ao povo uma alternativa de esquerda coerente.

Foi prudente não manifestar um apoio explícito a Dilma?

Sim, foi muito correto. E o que está ocorrendo agora prova que estávamos certos. Uma semana depois das eleições o Banco Central aumentou a taxa de juros e especula-se que o Ministro da Fazenda virá do sistema financeiro. As posições de esquerda do governo são sazonais, isto é, só duram até o final do segundo turno.

Como você avalia a campanha do PT? 

Durante o primeiro turno, Vladimir Safatle escreveu um texto muito interessante abordando simbolicamente a “estação das cerejas vermelhas”. Ela dura o período da campanha eleitoral. Serve para dar discurso à candidata do PT, para polarizar com o PSDB, animar a militância e termina no dia seguinte ao segundo turno. Foi isso o que ocorreu. Uma campanha que não corresponde à postura do governo ao longo dos 12 anos que o PT governou e que não corresponde ao que vem pela frente.

O primeiro discurso de Dilma reeleita abordou a reforma política. Ela vai seguir a cartilha do que você chamou de “três irmãos siameses”?

Infelizmente não vejo que haverá mudanças de rumo. Ao contrário, a situação econômica é bem complicada e os “mercados” exigem ajuste. Dilma vai fazer exatamente o que ela dizia que Aécio iria fazer. Um ajuste nas costas do povo, para garantir superávit primário e seguir pagando os juros para os credores da dívida pública. Ela não tem disposição de enfrentar os interesses do capital financeiro, dos bancos e dos milionários.

Por isso não tem outra saída a não ser se render a eles. Aécio poderia ser pior, com um ajuste sem anestesia. Mas com Dilma o ajuste virá de qualquer forma. O plebiscito para a reforma política, uma proposta democrática que Dilma defendeu, já está sendo abandonado pelo PT diante da resistência do PMDB. Eles não têm disposição de lutar nem pelo que eles mesmos dizem defender.

A entrevista completa foi publicada no Diário do Centro do Mundo, o DCM.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

O feminismo versus o GamerGate

Por Pedro Zambarda
Originalmente escrito para o Brasil Post

Vamos supor que você é uma menina. Você desenvolve games. Você cria um jogo chamado Depression Quest. Você quer que este jogo seja bem avaliado. Você namora um sujeito e é pega traindo ele. Ao invés dele terminar com você e as brigas serem mantidas entre seus círculos de amigos, ele posta as conversas e suas intimidades na internet. Ele te acusa de vender sexo por resenhas positivas de jornalistas de games. Ele te acusa de comprar uma resenha positiva no site Kotaku, um dos maiores do mundo no segmento de jogos. A resenha nunca é encontrada, mas as acusações permanecem em sites como 9GAG e outros que favorecem o anonimato.

Seu nome é Zoe Quinn. Se você fosse um homem, a história seria a mesma?

Este é o GamerGate.



O maior erro do GamerGate foi se tornar uma notícia. A grande maioria das denuncias a respeito da menina não foram confirmadas. Existiu sexo entre a desenvolvedora e jornalistas de fato? O acontecimento abriu espaço para uma discussão sobre ética válida dentro da imprensa de jogos. No entanto, os detalhes sobre a intimidade de Zoe Quinn também se tornaram notícia, o que é um erro dentro de padrões jornalísticos mais rigorosos.

A intimidade de Zoe constituem boatos, e não notícias. E eles abriram espaço para agressões sérias.

Zoe foi xingada de vagabunda para baixo nas redes sociais. Ela é fonte de ofensas até hoje. Sua vida mudou drasticamente com a exposição pública de sua vida pessoal. Sua traição, em tese, não deveria interessar ninguém publicamente, especialmente num mundo que hoje é embalado pelo feminismo.

Se o namorado de Zoe Quinn fosse pego pulando a cerca, o caos provocado em agosto de 2014 no mundo dos games seria o mesmo? Ele seria xingado de galinha? Sua vida pessoal seria devassada ou ele seria poupado por ser homem? A segunda alternativa se mostra mais verdadeira.

O feminismo, e as pessoas contagiadas pelos seus ideais, levantou-se contra o GamerGate. Anita Sarkeesian, vlogueira famosa pelo programa Feminist Frequency no YouTube, soltou seu episódio "Women as Background, Pt. 2" com financiamento do Kickstarter. O caso de Zoe Quinn e Anita se encontraram, resultando em tuítes que ameaçavam de morte a autora de vídeos com dados da casa dela. Ela se viu forçada a sair temporariamente de sua residência com medo da mensagem enviada no Twitter em setembro.

Em outubro, Anita Sarkeesian teve uma palestra cancelada na Utah State University por ameaças de tiroteio e terrorismo. No entanto, cada vez que a blogueira sofreu ameaças, sua voz passou a ser mais ouvida. Ela foi até o programa de humor do apresentador Stephen Colbert e falou ao público da TV norte-americana sobre feminismo.

A desenvolvedora de jogos Brianna Wu também sofreu ameaças. A atriz Felicia Day se posicionou sobre o GamerGate e teve dados privados vazados. As invasões crackers e o mal-estar provocaram problemas até para um homem: O desenvolvedor Phil Fish, odiado por parte do público, defendeu Zoe Quinn. Teve seus dados invadidos, além de informações de sua empresa, a Polytron.

Por que a situação chegou neste ponto? O que está acontecendo com a comunidade gamer?

Os jogadores estão inseridos em um cenário machista, predominantemente dominado por homens e por símbolos que reforçam sua presença. No entanto, as mulheres cada vez mais jogam videogames e estão, aos poucos, mudando a estética dos games. Levantamentos como o da Entertainment Software Association (ESA) apontam que 48% do público de videogames é feminino em 2014.

O GamerGate, embora seja um conflito contra o feminismo, nos faz pensar sobre o papel das mulheres na indústria e como elas são vistas de maneira preconceituosa, secundária e até reducionista.

O GamerGate nos mostra como uma não-notícia que envolveu Zoe Quinn se transformou em várias agressões públicas sem justificativa, dignas para serem registradas como notícias.

Se o caso fosse com um homem, não seria a mesma coisa.

Os 10 posts mais lidos em 2014

Por Pedro Zambarda

Grafite, Mikhail Bakunin e o discurso de Emma Watson foram alguns dos assuntos que mais bombaram no Bola da Foca em 2014. Confira nossa recomendação de leitura dos mais lidos do ano.


Confira nosso Top 10.

1 - Comunicação em Grafite e Pichação durante os protestos de junho e ao longo de 2013

2 - Anarquista Mikhail Bakunin "é procurado" pela Polícia Civil do Rio de Janeiro

3 - Por que fazer uma graduação em Filosofia?

4 - Confira o discurso Emma Watson em evento da ONU na íntegra

5 - Como foi participar do Roda Viva com Romeu Tuma Jr.

6 - Hobbit querendo parecer com Senhor dos Anéis

7 - O dia (bizarro) em que vi eu mesmo impresso em 3D

8 - A tortura da jornalista Miriam Leitão durante a Ditadura Militar

9 - Um resumo da Copa do Mundo do Brasil por quem viu todos os jogos

10 - O Grande Fracasso da Copa: A Publicidade?

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O fim da revista INFO impressa não deve ser comemorado

Por Pedro Zambarda
Originalmente escrito para o Diário do Centro do Mundo (DCM)

Trabalhei por um pouco mais de dois anos na editora Abril. Entrei lá com 21 anos. Queria trabalhar com tecnologia desde o início. Sonhava em ingressar na revista INFO, mas acabaram me levando ao site da EXAME, emprego no qual aprendi muito sobre economia e negócios.


Tive contato com muitos ex-jornalistas da INFO. Pessoas brilhantes, com enorme capacidade de compreender tecnologia e ciência.

Nunca fui assinante, mas comprei e li freneticamente entre 2006 e 2011. E já era seu leitor antes disso, quando a internet começou a ganhar popularidade em nosso país.

Alguns de meus textos e contribuições foram reproduzidos no site da INFO, e são matérias de que me orgulho. Por este motivo, fiquei triste ao deparar com a notícia do fim da edição impressa.

A revista sai de circulação em fevereiro do ano que vem e passa a existir apenas em sua versão digital e no site. É um fim melancólico.

INFO surgiu em março de 1986, há 28 anos, com o nome de EXAME Informática. Tornou-se INFO EXAME e, depois, apenas INFO. Sempre esteve antenada com a internet.

Com a INFO, aprendi a configurar programas de computador, a desmontar máquinas, a fotografar e a gostar de tecnologia. Houve um tempo em minha vida em que pensei em cursar engenharia ao invés de jornalismo, e a publicação me ajudou muito nessa busca.

Ela reunia tanto jornalistas quanto programadores e designers competentes. Em 1997, foi criado o INFOLab, um espaço para testes de produtos tecnológicos. O primeiro iPhone e o primeiro iPad passaram por ali, além de muitos outros PCs, videogames e diferentes aparelhos.

Os jornalistas da INFO não iam apenas atrás de fatos corriqueiros, mas pesquisavam sobre a qualidade da internet brasileira, apuravam sobre o real funcionamento dos aparelhos e tinham uma equipe de técnicos que ajudava a trazer as informações mais precisas.

Nos últimos anos, houve problemas com o próprio público. A maioria dos leitores consome sites. Desta forma, a INFO tentou diversificar suas pautas, considerando até mesmo a cultura pop e a ciência.

O problema da Abril transformar a INFO em uma “revista digital” é deixá-la como uma mera extensão de sua página na internet, que já dá certo sozinha.

A internet é o futuro e a revista é um produto obsoleto. No entanto, foi a INFO que ajudou inúmeros brasileiros a usarem os recursos do mundo online.

A INFO foi uma escola de jornalismo para quem trabalha seriamente com tecnologia no Brasil, com suas resenhas, análises e entrevistas. Foram eles que entrevistaram Bill Gates e vários nomes do setor que mudaram o mundo da computação, das redes sociais e da internet.

Eu discordo profundamente de alguns jornalistas que acham que não existirá editoria de tecnologia num futuro próximo. Esses assuntos prosseguem como importantes, sobretudo para brasileiros que querem aprender a criar inovações para seu próprio país.

A revista INFO sobreviverá em novos formatos e nas edições velhas que guardo aqui em casa, além da gratidão que tenho com os profissionais de lá nos meus anos de Abril.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ataque de Veja forçará democratização da mídia

Por Mídia NINJA, reproduzindo o jornalista Paulo Moreira Leite do Brasil247
Creative Commons

Uma farsa óbvia e mal ensaida


"O vazamento de trechos dos múltiplos depoimentos do doleiro Alberto Youssef  expressa uma  tradição vergonhosa pela finalidade política, antidemocrática pela substância.  Não, meus amigos. Não se quer informar a população a partir de dados confiáveis. Também não se quer contribuir com um único grama para se avançar no esclarecimento de qualquer fato comprometedor na Petrobrás. Sequer o advogado de Youssef reconhece os termos do depoimento. Tampouco atesta sua veracidade sobre a afirmação de que Lula e Dilma sabiam das 'tenebrosas transações' que ocorriam na empresa, o que está dito na capa da revista.

Para você ter uma ideia do nível da barbaridade, basta saber que, logo no início,  admite-se que só muito mais tarde, através de uma investigação completa,que ninguém sabe quando irá ocorrer, nem quando irá terminar,  'se poderá ter certeza jurídica de que as pessoas acusadas são culpadas'.

Não é só. Também se admite que Youssef 'não apresentou provas do que disse'.

Precisa mais? Tem mais.

Não se ouviu o outro lado com a atenção devida, nem se considerou os argumentos contrários com o cuidado indispensável numa investigação isenta.

O que se quer é corromper a eleição, através de um escândalo sob encomenda, uma farsa óbvia e mal ensaiada. Insinua o que não pode dizer, fala o que não pode demonstrar, afirma o que não conferiu nem pode comprovar".

Detalhe importante: o "depoimento" do doleiro já foi desmentido por seu próprio advogado. Diante do crime eleitoral cometido pela revista Veja, que representa um atentado à própria democracia, o que fazer? O único caminho é discutir, a sério, a regulamentação dos meios de comunicação. Eis mais um trecho do texto de Paulo Moreira Leite:

"Com esse comportamento, a mídia brasileira prepara o caminho de sua destruição na forma que existe hoje.  Como se não bastasse os números vergonhosos do Manchetômetro, que demonstram uma postura parcial e tendenciosa, o golpe da semana só fará aumentar o número de cidadãos e de instituições convencidos de que a sobrevivência da democracia brasileira depende, entre outras coisas, que se cumpra a legislação que regula o funcionamento econômico da mídia. Está claro que este será um debate urgente a partir de 2015".

"Não ia estuprar você porque você não merece", ameaça Bolsonaro durante sessão na Câmara

Por Mídia NINJA via Creative Commons

O Deputado Jair Messias Bolsonaro fez uma declaração agressiva no plenário do Congresso Federal. Na sessão dessa terça-feira (09) o parlamentar desrespeitou mais uma vez a deputada e ex-Ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário.


Sua fala segue em uma sequência de absurdos, como a afirmação de que o Dia Internacional dos Direito Humanos é "dia de vagabundagem". Assista na íntegra seu depoimento:

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