sábado, 28 de abril de 2012

O que é humano em Battlestar Galactica?


Battlestar Galactica, originalmente, é uma série de 1978. Seriado da TV contava a história da guerra entre humanos e máquinas aproveitando o sucesso que Star Wars tinha conseguido um ano antes. Com esse enredo,  Ronald D. Moore decidiu refazer toda a sua estrutura e lançou um novo seriado em 2004.

A série acabou em 2009. No momento, ela está disponível na íntegra no Netflix. Para quem aprecia ficção científica com naves, religião, guerras e discussões interessantes sobre o que é humano, o novo Battlestar Galactica é realmente um ótimo espetáculo visual.

Em seu novo roteiro, Moore pegou a guerra original da série de 1978 e aprofundou todos os pontos da história. Na nova linha de tempo, os humanos criaram as máquinas, chamadas de Cylon, para fazer trabalhos forçados. Esses robôs, em determinado momento, resolvem se rebelar. Homens e máquinas então se enfrentam até que a humanidade vence o combate e estabelece um armistício.

A paz dura por quarenta anos.

A segunda guerra começa, então, quando os humanos descobrem que os cylons conseguiram desenvolver um robô totalmente orgânico, similar aos replicantes do filme Blade Runner. Infiltrados em todos os 12 planetas das colônias humanas, os cylons desativam todas as defesas e iniciam ataques nucleares. Os locais são destruídos, as naves, conectadas em rede, são desativadas por vírus e um genocídio é promovido pelas máquinas, lideradas por suas cópias humanóides.


Somente uma nave sobrevive. Galactica, comandada por William Adama, sobrevive ao ataque por ter um sistema offline de operação. Adama encontra então Laura Roslin, a última representante do governo humano das 12 colônias. Escoltando várias naves civis, eles decidem então seguir a profecia de Phthia, da religião politeísta colonial, que diz que a humanidade encontrará salvação no 13º planeta habitável: A Terra, a nossa Terra.

Em quatro temporadas, Galactica então evidencia que não é apenas uma série de duelos entre naves espaciais e entre robôs e humanos. O seriado mostra questões religiosas entre todos os seus personagens. Os humanos são politeístas e acreditam em deuses parecidos com a mitologia grega. Os cylons, especialmente os humanóides, falam em uma religião monoteísta, onde todas as máquinas estão conectadas. Esse "único Deus", das máquinas, teria determinado o genocídio dos homens.

Esse aspecto espiritual da série foi criticado por alguns fãs. No entanto, mesmo que alguns pontos do seriado sejam questionáveis, o roteiro é bem fechado e coeso.

Outro ponto interessante da ficção científica de Moore é que os cylons humanóides estão infiltrados na Galactica. A série se torna, então, uma constante troca de acusações entre os humanos para descobrir quem é cylon em sua própria civilização. Alguns desses cylons são personagens que você jamais duvidaria durante o seriado todo.


Essa troca de acusações durante Battlestar Galactica levanta uma questão pertinente sempre: O que é um humano, se os cylons conseguem simular todos os comportamentos típicos em um modelo humanóide?

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Bola da Foca é um nome ridículo: Quatro anos de blog


Estava lendo o blog do editor da Whiplash.net, o João Paulo Andrade, e vi um texto com o título "O nome e URL do site: o maior erro da minha história na Internet". No post, ele reclama que o nome Whiplash não é facilmente associado com um site voltado para rock e heavy metal, especialmente para os algorítmos da busca do Google, que selecionam e privilegiam nomes mais simples. João Paulo, no entanto, realça que o nome tem forte significado para ele. E que o site faz sucesso até hoje, no ar desde 1996.

Bola da Foca não é diretamente relacionado a um blog de mídia e jornalismo, mas é um trocadilho simples e bacana. Pensei nesse nome enquanto estava em uma viagem de ônibus, com uma rima óbvia e idiota na cabeça, sem imaginar que escreveria nesse blog por mais de quatro anos. Neste mês, no dia 8, esse espaço que criei, para praticar jornalismo colaborativo, completou mais um ciclo em sua etapa.

Eu concordo com João Paulo. Se fosse fazer um site hoje, tomaria um cuidado extra no nome. No entanto, acho que a internet tem muito a ganhar com nomes e ideias espontâneas, independente da mecânica de buscas do Google. Este blog não é o melhor de seu segmento, mas foi uma porta de abertura para mim, e para muitos amigos meus, praticarem o que gostam de fazer: Produção de textos de qualidade. Com isso, todos nós aprendemos mais, sempre.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Journey: Apenas...jogue!


Apenas...jogue!


Existem alguns momentos na vida, que você não segue um caminho, mas apenas é levado por ele. Sim, a frase é clichê, parece coisa de filme motivacional ou orelha de livro de auto-ajuda, mas é verdade. Seja por qual for o motivo, você simplesmente acredita que aquele caminho é o certo, e você tenta, contra tudo e contra todos, chegar lá. E, talvez, esta seja uma das mais básicas da essência humana: Ter fé em algo. Seja isso religioso ou não.
Não é fácil de descrever esse sentimento, e talvez seja mais difícil ainda evocá-lo através de uma obra. Pois bem, uma obra conseguiu fazer isso comigo. E não foi um filme ou um livro. Foi um game. Journey, da thatgamecompany, é diferente de tudo que já foi feito na história dos games – e sim, tenho noção do que envolve afirmar algo desse tipo. O jogador controla um personagem sem nome e sem feições, que por algum motivo, inicia sua jornada em direção ao pico luminoso de uma montanha no horizonte. Em nenhum momento descobrimos o que motiva o personagem. Como se isso fosse necessário.
Os comandos são os mais simples possíveis. Tudo que o jogador pode fazer é andar e ocasionalmente pular/voar, se for possível graças a alguns elementos no jogo. Mas... Journey não é do tipo de game que se perde tempo falando de jogabilidade. Perde-se tempo falando, sim, de sua beleza. Em uma época que se fala cada vez mais de gráficos e do potencial de consoles e PCs, este simples game para download, feito por uma empresa independente, talvez seja a obra mais bonita já produzida recentemente. Não estou falando apenas de gráficos, que são de fato maravilhosos. Mas de fotografia, de composição da imagem, de luz, de sombras...de tudo. Uma sequência em particular, que coloca o personagem em alta velocidade pela areia desértica contra o por-do-sol foi capaz de me deixar sem qualquer tipo de reação, tamanha sua beleza.
Journey ganha ainda mais quando se fala de seu multiplayer, que provavelmente é o mais criativo dos games. Enquanto você progride com seu personagem, ao longe vê um movimento, uma sombra, que aos poucos ganha contornos de um outro ser como o seu. Não é um NPC, mas sim um outro jogador. Não há comunicação via texto, não há indicação do nome do jogador na PSN, não há nada. Apenas ele e você, que podem se comunicar apenas pelo único som que os personagens produzem. É simples, é básico, é genial.
Sinceramente, não há como transpor o que é Journey através de um texto. Pode-se falar que é único, que é lindo, que é diferente, mas apenas o jogador pode ter noção do que ele irá encontrar. Pois o game é simplesmente uma obra de arte em sua concepção mais básica: Ele é extremamente pessoal. Não existem respostas fáceis, não existe uma conclusão óbvia, se é que existe uma conclusão. Journey é sobre o que é de mais misterioso na condição humana, a fé, e não se busca respostas para isso. Portanto, compre, baixe, reserve duas e quinze de seu dia, apague as luzes e deixe-se envolver pela que talvez seja uma das mais prazerosas experiências que os games podem proporcionar hoje em dia.

sábado, 21 de abril de 2012

Google homenageia os 52 anos de Brasília

A página mais famosa de buscas na internet do Google não deixou de homenagear o Brasil nos 52 anos de aniversário da capital do país. Brasília, conhecida pelo nome bsb, ganhou um desenho no logo (doodle) com assinatura de Oscar Niemeyer na home do buscador.

No doodle do site, o logotipo homenageia os monumentos principais da capital do Brasil. Da esquerda para direita estão: O Memorial do presidente Juscelino Kubitschek (fundador da cidade), o Congresso Nacional, a Catedral Metropolitana e o Palácio da Alvorada.

Para nós, brasileiros, é sempre bacana ver como o Google sabe fazer uma homenagem personalizada. Ainda mais voltado para uma cidade nossa.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Duas visões de um mesmo método: O Freud e o Jung de Cronenberg


Quando vi o trailer e o teaser de Um Método Perigoso, novo longa dirigido por David Cronenberg, tive a impressão de que seria um filme baseado nas vidas de Carl Gustav Jung e seu mestre, Sigmund Freud, de uma maneira superficial. Não foi preciso pesquisar muito na internet, e relembrar a carreira de Cronenberg, para descobrir que essa obra não iria, de maneira nenhuma, mostrar uma trama superficial sobre os homens que criaram a psicanálise e a psicologia modernas.

O ator Michael Fassbender está em uma fase produtiva em sua carreira. Depois de X-Men: First Class e Bastardos Inglórios, ele conquistou popularidade o suficiente para trazer sua atuação convincente a um personagem mais complexo. E é exatamente assim que se comporta Jung no filme de Cronenberg: Um profissional com uma face ética, que é procurar novas resoluções para o problema da sexualidade formulado por Freud em sua psicanálise, e também com um aspecto questionável. O filme foca na relação problemática entre Carl Gustav Jung e a psicanalista russa Sabina Spielrein, que foi sua paciente entre 1904 e 1911. Com ela, o médico tentou aplicar a análise de Sigmund Freud, um experimento que era novidade na época.

É justamente com esse paradoxo de Jung que a atriz Keira Knightley se destaca na interpretação de Spielrein. Ela mostra como a linha tênue entre médico e paciente se distorce quando existe uma relação mais forte com o psicanalista e com a própria psicanálise. Jung não só faz um tratamento efetivo sobre os traumas sexuais de Sabina - ela foi violentada fisicamente pelo pai e sentiu tesão por isso, um caso típico de masoquismo -, como também se envolve com a própria readaptação de Sabina Spielrein na sociedade.

Nesse contexto todo, entra o Freud de Viggo Mortensen, o ator que fez Aragorn na saga Senhor dos Anéis. Desiludido com seus discípulos, pois a maioria deles é apagado na psicanálise ou seguiu por outros caminhos, como foi o caso de Otto Gross, que passou a defender o sexo livre, Sigmund Freud vê no tratamento de Carl Gustav Jung um futuro para seu próprio método. Jung estudou a fundo suas teorias e aplicou ao tratamento de Sabina, segundo o filme. O que abala a relação entre os dois profissionais é justamente o elo que se formou entre Jung e sua paciente, que incomoda profundamente Freud, defesor do distanciamento no que ele chama de "psicoanálise".

O diretor cria contraste entre os dois protagonistas e a paciente não só por suas visões diferentes sobre o método psicanalítico. Cronenberg ressalta o fato de que Spielrein e Freud são judeus, pertencentes a um grupo fechado de médicos na Europa. Já Jung, no filme, é um suíço caucasiano, além de ser um idealista fã da música de Richard Wagner (autor da Cavalgada das Valquírias). As diferenças entre os personagens ressaltam a própria situação da época: O mundo ia mergulhar em duas guerras mundiais sendo que a segunda iria perseguir esses mesmos judeus.

Por toda essa trama fechada e bem amarrada, o filme de Cronenberg não soa pesado na hora de tratar a história dos dois homens que deram origem ao tratamento psicanalítico e à psicologia. Ele aprofunda na questão da violência e do sadismo, onde Keira Knightley se destaca, mas não compromete todos os demais elementos da trama. Para quem tem curiosidade pelo assunto e quer ver uma história sem muitas distorções, o filme é altamente recomendado.

sábado, 14 de abril de 2012

Segunda parte da entrevista de Edson Flosi sobre sua demissão e a crise da Cásper




Entrevista Edson Flosi - Parte 2/2 from matias lovro on Vimeo.


Na última parte da entrevista com o jornalista Edson Flosi, ex-professor da Cásper, ele explica o que precisa ser feito para a faculdade melhorar.

Veja o vídeo e tire suas conclusões.

Material é do estudante Matias Lovro.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Manifesto inédito de Albert Camus é divulgado pelo Le Monde



No dia 18 de março de 2012, o jornal Le Monde publicou um manifesto inédito de Albert Camus. O texto ia ser publicado no Le Soir Républicain, um jornal argelino, mas foi censurado. Na época, estava começando a Segunda Guerra Mundial.

Nesse ensaio, Camus disserta sobre o que ele acredita ser a liberdade de imprensa e o jornalismo livre. Se você quiser ler na íntegra, clique aqui. Confira um trecho abaixo.

"É difícil hoje para discutir a liberdade de imprensa sem ser taxado extravagante, acusado de ser uma Mata-Hari (famosa assassina e espiã holandesa), ou convencido de que se é sobrinho de Stálin.

(...)

A lucidez requer treinamento de resistência aos aspectos do ódio e ao culto da desgraça. No mundo de nossa experiência, é certo que tudo pode ser evitado. A própria guerra, que é um fenômeno humano, pode ser evitada ou parada a todo o momento por meios humanos. Basta conhecer a história dos últimos anos da política europeia para ter certeza de que a guerra, seja qual for, tem causas óbvias. Essa visão clara das coisas exclui o ódio cego e o desespero que se formam. Um jornalista livre, em 1939, não se desespera e luta por aquilo que ele acredita ser verdade se a sua ação puder afetar o curso dos acontecimentos. Ele não publica nada que possa despertar o ódio ou que provoque desespero. Tudo isso está em seu poder.

Diante da crescente onda de loucura, também é necessário se opor a certas recusas. Todas as restrições do mundo não criarão um espírito que concorda um pouco em ser desonesto. O ouro, e pouco sabemos sobre os meios de informação, é fácil ser verificado em sua autenticidade. Um jornalista livre deve oferecer toda a sua atenção. Pois, se ele pode dizer o que ele pensa, ele não pode dizer o que ele não pensa ou o que ele acredita ser falso. E isso em um jornal livre é medido tanto pelo que ele diz quanto pelo que ele não diz. Essa liberdade negativa é, de longe, a mais importante de todas, se ela se mantiver. Porque ela prepara o caminho para a verdadeira liberdade. Consequentemente, um jornal independente gera suas informações, ajuda o público a avaliá-las, repudia o sensacionalismo, remove invenções, organiza os comentários padronizando a informação, em resumo, ele é a verdade, na concentração das forças humanas. Essa recusa, se ela está é assim, pelo menos, permite que se negue o que nenhuma força na terra pode fazer o jornal aceitar: submeter-se às mentiras.

Isso nos leva para a ironia. Podemos imaginar que uma mente que tem gosto e meios para impor restrições é impermeável à ironia. Nós não vemos Hitler, para dar apenas um exemplo entre outros, usar a ironia socrática. Isso mostra que a ironia continua a ser uma arma sem precedentes contra os poderosos totalitários. Ela complementa a recusa na medida em que permite, ao invés de rejeitar o que é falso, dizer o que é a verdade, muitas vezes. Um jornalista livre, em 1939, não se rende a muitas ilusões sobre a inteligência daqueles que oprimem. Ele é pessimista no que se refere ao homem. A verdade expressa em tom dogmático é recusada por ele nove em cada dez vezes. A mesma verdade de forma jocosa é aceita em cinco de cada dez vezes. Esta disposição é quase igual às possibilidades da inteligência humana. A ironia também explica que jornais franceses como Le Canard e Le Merle se comprometem e podem publicar artigos corajosos conhecidos. Um jornalista livre, em 1939, é necessariamente irônico, mas ele é, muitas vezes, a contragosto. Mas a verdade e a liberdade são exigentes, uma vez que eles tem poucos amantes.

Tal atitude de espírito brevemente definida, obviamente não pode ser sustentada de forma eficaz sem um mínimo de obstinação. Muitos obstáculos são colocados contra a liberdade de expressão. Eles não são mais graves do que desencorajar um espírito. Porque as ameaças, as suspensões e a repressão na França geralmente conseguem o efeito oposto ao que é proposto. Mas devemos admitir que são obstáculos desencorajadores: a constância da estupidez, as organizações covardes, a desinteligência agressiva e, por isso, nós nos desgastamos. Aqui está o grande obstáculo que devemos superar. Obstinação é uma virtude cardeal. Por um curioso paradoxo é evidente que, em seguida, começa nela a objetividade e a tolerância.

(...)

Sim, é muitas vezes a contragosto que um espírito livre do século percebeu sua ironia. O que é engraçado de se ver neste mundo em chamas? No entanto, a virtude do homem é se manter firme diante de tudo o que nega. Ninguém quer reviver esses vinte e cinco anos de experiência, tanto em 1914 quanto em 1939. Devemos, portanto, experimentar um método ainda muito novo de justiça e generosidade. Mas elas são expressas apenas em corações livres e em mentes ainda exigentes. Formar esses corações e mentes, que acordem de vez, é a tarefa tanto do homem modesto quanto do ambicioso que se torna independente. Devemos chegar nisso sem adiar mais. A história será contada ou não através desses esforços. E tudo depende se eles forem feitos."

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Alunos da Cásper Líbero entrevistam Edson Flosi sobre sua demissão e a crise da Cásper




Entrevista Edson Flosi - Parte 1/2 from matias lovro on Vimeo.


Cadastrado na conta do aluno da Cásper Líbero Matias Lovro, o vídeo acima mostra críticas pesadas do professor Edson Flosi sobre a crise que a faculdade privada enfrentou com sua demissão. Flosi estava afastado da função de professor da instituição, mas atuava como advogado da instituição, mesmo com câncer.

Em um dos trechos polêmicos, Flosi diz:

"A Fundação [Cásper Líbero] deve 30 milhões de IPTU".

Veja a entrevista e tire suas conclusões.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Roger Waters e a arte do show com qualidade: The Wall em São Paulo




Um muro em construção, trajes militares, fogos e muito rock conceitual. Foi assim que Roger Waters, ex-baixista do Pink Floyd, abriu seu show baseado no CD The Wall em São Paulo, no último domingo (1). Com o refinamento de um maestro, Roger conduziu uma apresentação que contagiou de imediato pelo cuidado com o som, que repercutiu sem falhas por todo o Estádio do Morumbi, e pelas diversas animações projetadas nos tijolos do muro, catapultando todos os presentes para dentro de um videoclipe de alta qualidade.

Foi difícil não se emocionar com as letras de Waters nesse disco executado na íntegra, que abordam desde o totalitarismo (concentrado em seu protagonista, o introspectivo Pink) passando pela relação problemática com os pais e até chegar no sensação de solidão. As 26 músicas desse épico foram executadas na íntegra, com alguns acréscimos em Another Brick in the Wall Part 2 e passagens mais modernizadas entre as canções. 

Roger Waters também aproveitou o show todo para prestar homenagens para a família do brasileiro Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia britânica sob a suspeita falsa de terrorismo, além de relembrar os mortos nas guerras do Afeganistão e do Iraque. "Dedico o concerto a Jean Charles e sua família pela luta pela verdade e justiça e a todas as vítimas do terrorismo de Estado", afirmou Waters, arrancando aplausos entusiasmados da multidão que lotava o Morumbi. A apresentação era o seu protesto pessoal e coletivo, com seus fãs, contra o que ele considera abusivo e monstruoso na sociedade contemporânea.

O show fez os olhos dos presentes brilharem quando, em Goodbye Blue Sky, Roger Waters projetou aviões de bombardeio derrubando desde a foice e o martelo socialista até o símbolo do dinheiro e de corporações como a Shell. The Wall é um manifesto sobre loucura, totalitarismo e luta contra todos os poderes e símbolos que predominaram no século XX até a queda do muro de Berlim.

Quando o concerto se aproximou das músicas finais, como The Trial, o sistema de som começou a se tornar ensurdecedor, como se estivéssemos na paranóia de seus personagens, afetados pelas guerras mundiais e pelas guerras sem sentido. Os paulistanos gritaram, com força, "tear down the wall", enquanto Waters destruía seu próprio espetáculo, derrubando o muro.

Ao testemunhar o show de um homem que domina a arte da apresentação, toda a plateia sente uma espécie de libertação e de renovação. The Wall de Roger Waters em São Paulo, mesmo sem os integrantes do Pink Floyd originais, traz essa sensação.

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