segunda-feira, 30 de junho de 2008

Heródoto Barbeiro fala sobre seus livros



Entrevista feita com o jornalista Heródoto Barbeiro para o Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP) pelo pesquisador Pedro Zambarda de Araújo. As perguntas abordam a carreira literária desse ícone da comunicação, pouco conhecida, e seus conhecimentos sobre história, sobre o próprio jornalismo, com suas opiniões pessoais.

Foi uma pesquisa periférica da tese Escritores e Jornalistas: A relação das duas vocações na vida e carreira de Albert Camus. Apesar do péssimo áudio (não consegui corrigir) e da péssima iluminação, vale a pena.

Foi feita na TV Cultura, em maio desse ano.

domingo, 29 de junho de 2008

Campeã francamente...

A Espanha ganhou da Alemanha por 1 a 0 e sagrou-se campeã da Eurocopa de 2008. O gol foi marcado pelo dedido Fernando Torres, aos 33 minutos do primeiro tempo. Foi a segunda conquista dos espanhóis na competição.
A partida final reuniu duas seleções com perfis diferentes. De um lado a Alemanha, que deve ser respeitada em qualquer ocasião, não importando quem esteja representando suas cores. Do outro, estava a Espanha, possuidora de uma mística negativa sobre suas costas. É uma seleção que titubeia em momentos decisivos. Mas não hoje.
O que se viu no início do embate foi uma Alemanha com mais posse de bola que acuou a Espanha pelo lado esquerdo, mas sem criar nenhuma chance de gol clara. A Espanha, por sua vez, acertou a marcação no meio de campo - que voltou mais para buscar o jogo - e com isso começou a construir jogadas com passes envolventes e desfechos perigosos. Aos 14 minutos, Metzelder quase marcou contra, em cruzamento de Capdevilla. Sérgio Ramos, utilizando a mesma jogada, levantou a bola para Fernando Torres, aos 22, acertar a trave.
A Fúria seguia melhor no jogo controlando o meio campo, e não dando chances aos alemães. Xavi, Iniesta, David Silva, Marcos Senna e Fábregas dominavam e, com toques rápidos, criavam chances de gol. Até que, aos 32 minutos, - com um passe em profundidade de Xavi – Fernando Torres, misturando raça e categoria, finalizou sutilmente na saída do goleiro Lehmann e fez a festa dos súditos do rei Juan Carlos.
Visivelmente a Alemanha sentiu o golpe, e quase perdeu a cabeça. Ballack esquentava o jogo, e o clima ficava cada vez mais quente, como o vermelho da camisa da Espanha. Sorte dos germânicos, já que o primeiro tempo havia sido finalizado.
Atrás no placar, o técnico alemão Joachim Low substituiu o apagado Lahm, pelo lateral esquerdo Jansen. Mas os espanhóis continuavam melhor: Sérgio Ramos impecável na marcação pelo lado esquerdo anulava Podolski, Marcos Senna dava a qualidade necessária para a saída de bola, auxiliado pelo excelente Xavi, que era um monstro, pelo excesso de categoria que demonstrava no jogo.
O técnico alemão colocou o brasileiro naturalizado Kevin Kuranyi, procurando pressionar a zaga da Fúria, entretanto apenas uma chance foi criada, um remate de fora da área de Ballack. Pouco, para quem procurava o título.
A Espanha seguia perigosíssima nos contra-ataques, e, por diversas vezes, pôde definir a final. Assim, bastou controlar o jogo no meio campo, dar o espetáculo que a tanto tempo procuramos no futebol mundial e esperar o apito do árbitro italiano Roberto Rosseti.
Os espanhóis, depois de 44 anos, voltavam a levantar um troféu. Uma grande lição para o futebol mundial, que voltou a premiar a ofensividade e o espetáculo. Por “osmose”, David Villa (ausente da final por lesão) levou a chuteira de ouro por ter sido o artilheiro da competição, marcando quatro vezes.


Temos que agradecer aos espanhóis pelo espetáculo que nos proporcionaram. Nessa excelente competição e de altíssimo nível técnico, EUROCOPA 2008.

...e sem Franco!

O interessante desse título é que a importância dele pode transcender as quatro linhas.
Historicamente, a Espanha sempre foi bastante dividida. Há um forte nacionalismo nas regiões catalã e basca. O país sempre foi um mosaico de identidades, o que dificultou uma unidade nacional. Além dessa heterogeneidade cultural, a nação viveu um nefando período político no século XX: trata-se do governo do general Francisco Franco, que emergiu após uma sangrenta Guerra Civil.
Enquanto governou, o ditador instituiu o castelhano (que o mundo concebe como “espanhol”) e proibiu o catalão, o basco e os demais dialetos. Ele tentou forjar uma homogeneidade nacional que não existia. Isso só fez com que ele fosse desprezado e odiado em localidades distantes de Castela. Houve clubes que conseguiram fazer oposição ao general, como o Barcelona e o Athletic Bilbao.
Em 1964, a Espanha conquistou seu primeiro título da Eurocopa. Sob a batuta do ditador, os espanhóis venceram a União Soviética por 2 a 1 no Santiago Bernabéu e levaram o caneco. No entanto, um título em casa sob o poder de um governante rígido é sempre visto com olhos tortos. Assim foi com a Itália em 1934 e com a Argentina em 1978. A conquista não foi tão comemorada pelos opositores de Franco, nem por catalães e bascos (a não ser pelos simpáticos ao regime).
Após esse troféu , a seleção espanhola não ganhou mais nada significativo. Remetendo a Nelson Rodrigues, pode-se dizer que esse país sofria de um complexo de "vira-latas". Os espanhóis sempre titubeavam em torneios importantes. A sina era sempre a mesma, um time relativamente bom, mas que acabava perdendo. Foi assim em 1982 (em casa), 1998 e 2006. Parecia que o problema era sobrenatural. E não era o de Almeida.
Nessa Eurocopa, no entanto, a Espanha deu um banho de bola, passou com 100% na fase de grupos. Nas quartas de final venceu a Itália nos pênaltis, após partida tensa. Teve sorte? Sim. No entanto, sem sorte o sujeito não consegue chupar um chicabon, nem dar olé em touros. Nas semi-finas, um categórico 3 a 0 contra a Rússia. Hoje a bela vitória sobre os alemães sacramentou o título.
Essa seleção teve muito mais apoio popular do que a de 1964. É um título que, de alguma forma, conseguiu dar a Espanha uma maior unidade, ainda que provisoriamente. O futebol gosta mesmo do dia 29 de junho. Em 1958 o título ajudou a consolidar a identidade nacional brasileira. Hoje, 50 anos depois, o título tem um impacto correlato, pois ameniza as rivalidades regionais e une os espanhóis em torno de uma seleção que é tão castelhana quanto catalã.
Espanha, campeã francamente. E sem Franco.

Crédito original do texto - Pedro Proença

sábado, 28 de junho de 2008

São tantas emoções


Texto e charge por Leonam Bernardo

Um close na mãe que chora a perda do filho; um acidente grave, de preferência, com vítimas graves; sangue, muito sangue; grandes catástrofes; desastres; violência. O jornalismo na TV tem sempre um quê de emoção. É quase uma pré-condição da noticiabilidade neste meio que a atenção do telespectador esteja sempre voltada ao visual.

Não se trata de sensacionalismo. Pelo menos não em todos os casos. Tem mais a ver com o poder de captação da atenção de quem assiste. Ou seja, a importância de um fato, a ponto de virar noticiável na TV, está diretamente relacionada ao valor-imagem do acontecimento. Claro que não é sempre assim, mas freqüentemente o tempo dispensado no meio televisiviso ao-que-quer-que-seja apóia-se sempre no quanto este o-que-quer-que-seja possa render visualmente.

John Langer, em seu livro Tabloid television, afirma que as notícias na televisão são um “espetáculo gratuito”, e que as imagens filmadas geram, conseqüentemente, um conteúdo superficial. Além disso, o autor defende que elas não passam de um produto mercantil regulado por encargos de marketing, que tentam fazer aumentar a audiência por razões comerciais, não jornalísticas. Para Langer, as notícias na TV tratam de assuntos banais com um suspeito sentimentalismo e são, em sua maioria, exploradoras.

Pode ser que o autor generalize um pouco demais, mesmo porque o tema central de seu livro é o sensacionalismo televisivo. Mas não é exagero afirmar que o telejornalismo seja pautado pelas imagens, e por uma busca contínua pela atenção e emoção dos telespectadores. Na televisão - diferentemente dos meios impressos, em que o leitor seleciona suas editorias de interesse - há uma necessidade maior em segurar o telespectador em frente ao aparelho, garantindo a audiência. Para que isso aconteça, vale até trilha sonora em programas policiais. Tudo emocionalmente calculado.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

50 anos de nosso maior triunfo


2008 é um ano de muitas datas comemorativas. Centenário da imigração japonesa, dois séculos da vinda da família real, 40 anos de 1968. Mas provavelmente nenhum é tão significativo para o nosso povo como os 50 anos do primeiro título da Copa do Mundo. Há exatos 50, no dia 27 de junho de 1958 o Brasil se sagrava pela primeira vez em sua historia campeão mundial de futebol.

A Copa, disputada na Suécia, foi uma das que teve o melhor nível técnico da história, de acordo com especialistas como Orlando Duarte. Apesar de a seleção francesa ser liderada pelo grande atacante Fontaine, quem surpreendeu foi uma seleção desacreditada, sem grandes astros e que tinha um complexo de perdedor que vinha sendo carregado durante 8 anos. O time do Brasil era o retrato de uma seleção que nunca havia chegado a um verdadeiro ápice, e que para o mundo, nunca chegaria. Mas as coisas mudaram durante aquele verão nórdico.

Não é exagero chamar aqueles 23 homens de heróis. Afinal de contas, herói nacional é aquele que luta e conquista algo grandioso em nome de seu país, certo? E eles lutaram como verdadeiros guerreiros. Lutaram tanto que seus nomes merecem ser lembrados um a um. Titulares: Gilmar, Nilton Santos, Djalma dos Santos, Orlando, Bellini, Didi, Zito, Garrincha, Zagallo, Vavá, Pelé. Reservas: De Sordi, Dida, Oreco, Castilho, Mauro, Zózimo, Dino Sani, Moacir, Pepe, Joel, Mazzola.

A seleção formada por estes 22 heróis saiu do Brasil desacreditada. Não havia muito tempo para se treinar e o ataque formado por Pelé e Vavá não gerava confiança, afinal de contas, Pelé era apenas um jovem de 17 anos. Enquanto Zagallo e Bellini eram unanimidades, Zito não era visto com bons olhos. Para piorar, a CBD (Confederação Brasileira de Desportos) teve que bancar amistosos na Itália contra times locais. Enfim, não foi a preparação dos sonhos, mas não se pode negar a garra de todos.

O que houve a partir do início da Copa foi algo único, comparado somente à Hungria em 1954 e à Holanda em 1974. Mas diferentemente dessas seleções, o Brasil venceu. E venceu bem, passando por adversários fortes, como a temida e já citada França e a dona da casa, Suécia. E foi também quando surgiu ninguém menos que o maior jogador da história: Pelé.

A Copa de 58 marca o nascimento do futebol arte. Um futebol jogado para frente, preocupado em marcar gols e apenas isso. Claro que não foi o esquema tático que venceu aquela Copa, mas o talento individual de cada jogador. O garoto Edson Arantes do Nascimento fez o mundo parar. Nas jogadas geniais, dribles fantásticos e chutes mortais, ele se mostrou um atacante completo como nunca existira. Com o apoio vindo de trás por Zagallo e Zito, o ataque do Brasil foi implacável. A Suécia se ajoelhou diante daqueles heróis, assim como o mundo. E partir daquele 29 de junho de 1958, nasceu o "mito Brasil". Um país que supera seus problemas e, com alegria e talento, vence superpotências do esporte. Esse mito ainda persiste, e ainda acreditamos que o Brasil seja assim, embora os atuais tempos do nosso futebol não representem em nada o que essa seleção um dia já foi.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Sopa de Letras

Queremos ouvir uma boa história. Queremos ouvir uma história boa. Queremos, de boa, ouvir uma história. A boa é que queremos ouvir uma história. De boa, ouvir uma história é o que não queremos.

Ok, eu apresento uma matéria de jornal. Ele, com sua voz grossa de experiência, diz que ela está bem escrita, diz que o texto está gostoso. Falo que o tema é fofoca. Vem, da boca dele, críticas em caminhões. Os ares se transformam em lamentos queixosos. A culpa é do país, dos clichês, do imenso repertório dele que é muito melhor do que o mundo diminuto. O mundo prova, outra vez, que é diverso, maldito, perverso.

Influenciei o julgamento de alguém em uma frase curta. Um verbo e um substantivo: "é fofoca". As palavras sendimentaram e o comentário inicial se liquefez. Ele poderia reviver o que disse e me contrariar. O público não forma opinião, eu formo a sensação deles.

Um professor essa semana disse que não gosta de dar notas. Esqueceu somente de transmitir aos alunos que gostaria que assistissem suas aulas, apenas isso, deixando que um jornalista fechasse suas opiniões em um "ele não presta". Uma empregada disse que não conseguia se levantar para o trabalho nesse domingo. Esqueceu que a dona foi influenciada por administradores de empresa e lugares-comuns frouxos. Terminou demitida, talvez fosse melhor um robô no lugar dela.

Frankfurt foi o tetris da comunicação. A epopéia de William Gibson vive no coração latente, na incomunicação subseqüente, não na sociedade demente.

Sopa de Letrinhas são crônicas publicadas às quintas-feiras.

Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Diário de uma arubaito - A reta final e a conclusão disso tudo

Na última semana de trabalho, passei a evitar fazer muitas horas de zangyô a fim de que nas semanas seguintes, reservadas para passear e conhecer de fato o Japão, o cansaço não me impedisse de seguir meus propósitos. Mesmo durante os dois meses e meio trabalhados na ASTI quase sem recusar hora extra e um dia de falta apenas, no último dia de trabalho o chefe revelou a filosofia que reina naquele ambiente. A dor-de-garganta contraída uns dias antes e a febre alta durante o expediente não foram motivos suficientes para que ele me liberasse às 17 h, horário até o qual era obrigada a trabalhar.

Nesse dia, tive de trabalhar com a jaqueta da fábrica sob o macacão (o que num dia normal seria extremamente quente) devido ao frio que provinha da febre. Nos kyukeis (intervalos) de doze minutos, deitava-me no chão, no mesmo local onde fazia o serviço, para cochilar encostada na máquina por uns míseros cinco minutos. Apesar de todos os sintomas da dor-de-garganta, não havia como parar a produção e, naquele momento, percebi como o ser humano consegue tirar forças que até então ele desconhece para realizar as exigências que lhes são impostas. Somente depois de pedir assistência ao tantosha (funcionário da empreiteira) tive a permissão para sair de lá. O chefe alegara inicialmente que dor-de-garganta não era motivo suficiente para alguém sair do trabalho às 17h e que, naquele dia, eu deveria fazer no mínimo mais três horas extras. Vindo de alguém que proibira uma das funcionárias de sair da fábrica para procurar um médico quando ela sofrera uma hemorragia, não havia por que me espantar. Ao menos, durante os dias em que não me senti bem, a fábrica ofereceu-me medicamentos bons para me tratar, afinal, eles não queriam era que eu parasse de trabalhar.

Acabou! Não acredito!

Ao chegar ao apatto, tive uma sensação única e inexplicável. Durante mais de dois meses enfurnada numa fábrica branca e cinza, a idéia de que eu não precisaria nunca mais retornar para lá parecia inacreditável. Aquelas pessoas que conhecera, muito diferentes de mim, provavelmente eu jamais veria novamente. O fato de ter me despedido de todas com um rápido abraço em menos de cinco minutos tornava o momento um tanto quanto triste. No entanto, não havia muitos motivos para me concentrar nisso, pois logo começariam minhas duas semanas de passeio mais do que merecidas. Durante esse período, viajei de shinkansen (o famoso trem-bala) utilizando o Rail Pass, um tipo de passagem que permite andar de “shinkan” por uma semana e quantas vezes quiser. As linhas a que se tem direito são da empresa Japan Railways (JR), que vende a passagem somente fora do Japão e apenas para turistas. Teoricamente, como meu visto era de trabalho e tinha duração de três anos, eu não tinha direito ao uso, mas na estação de Hamamatsu isso nem foi verificado pela funcionária da empresa.

Nesse período, tive a oportunidade de conhecer alguns pontos turísticos das cidades de Nara (Totaiji, o Buda Gigante), Kyoto (Kinkaku-ji, o Templo Dourado, e o Castelo de Nijo), Hiroshima (o Museu da Paz), Tokyo (os bairros de Ginza, Akihabara e Asakusa), além da ilha de Miyajima e a Universal Studios de Osaka. No decorrer dos posts desse blog, contarei as histórias desses lugares e a importância dos mesmos na formação cultural desse país, rico em tradições e inovações tecnológicas.

A lição

Passar pelas dificuldades por que passei - frio, um pouco de fome, falta de tempo e dinheiro, saudade da família e dos amigos, enfim, tudo o que vem junto com o fato de viver sozinha num país desconhecido – está longe de ser uma experiência divertida. Saber encarar esses momentos como um período de amadurecimento, principalmente para alguém que até então nunca trabalhara ou saíra do próprio país, foi imprescindível.

É muito fácil criticar o Brasil quando se está aqui, vivendo diariamente os problemas que assolam toda uma sociedade cujos problemas começam na infância e são levados adiante. Afinal, o “jeitinho brasileiro” dá conta de amenizar tudo isso. Também é fácil proferir frases de amor ao “meu país” e de saudade do Brasil quando nos deparamos com uma realidade tão fria, diversa e exigente no que diz respeito aos valores humanos e às relações pessoais. Quando se é a base da escola social de um país e tudo o que há de ruim num lugar passa a não existir em outro, esquece-se daqueles problemas que ficaram lá longe. Quando retornamos, uma sensação de desacerto fica impregnada; é inevitável fazer comparações. Inútil? Talvez. Difícil mesmo é agüentar gritos de chefe, a saudade de quem faz a diferença em nossas vidas, horas e mais horas trabalhando de pé feito um robô. Por quanto tempo? Um ano, dois, três...Imaginando o momento de embarque do avião, lembrando da filha que ficou em casa e precisa do dinheiro para uma operação no estômago. Difícil é também avaliar tudo com suas devidas medidas. Por que é necessário escolher um dos extremos? Se as comparações entre países de culturas diferentes podem soar desarmônicas ao se levar em conta a história e os princípios que regem a vida de cada indivíduo proveniente de um deles, por que não aprender com essas diferenças?

Fica aqui minha proposta, aprender com a cultura japonesa o que há de mais belo e profundo no ser humano em sua extensão, nessa particular visão da vida, que aborda os valores e os princípios, a beleza e o sentido. Se há algo que absorvi com a experiência de arubaito no Japão foi o kenson, uma das virtudes do Bushido, o código de conduta dos samurais. Kenson é a humildade para aprender com as lições da vida, para ver que há sempre algo além.
Deixo minha mensagem.

Foto 1: Shinkansen. Os trens-bala que chegam à velocidade de 300km/h. Extremamente confortáveis e caros também.
(imagem extraída da internet)

foto 2: Outlets da Nike, Adidas, Puma vendem são encontrados em várias cidades. Preços atraentes fazem a festa de turistas.

foto 3: Sakura, a flor de cerejeira símbolo do Japão.
(imagem extraída da internet)

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Tanto por tanto: As dez bandas mais influentes do Heavy Metal.

Bom, o título se explica por si só. As 10 bandas mais influentes do Heavy Metal na opinião desse humilde metaleiro. Lembrando que as bandas estão em ordem aleatória, já que eu nunca seria tão arrogante a ponto de classificá-las. Ai vai:

Black Sabbath: Com vocês, os fundadores originais do Heavy Metal. Se o rock é dividido entre antes e depois de Beatles, ele também pode ser dividido entre antes e depois dos Black Sabbath. A trupe liderada por Ozzy Osbourne e Tommy Iommi mudou as fundações da música como era conhecida e criou um gênero que se tornou gigantesco. Com letras sombrias, algumas até mesmo satânicas, e um vocalista que parecia ter a própria voz do demônio, os ingleses angariaram fãs de todos os lugares e todas as idades. Mães formaram legiões contra sua música e foram proibidos em alguns países. Enfim, a essência básica do Metal.

Judas Priest : Diz a lenda que o Judas Priest é o verdadeiro fundador do Heavy Metal. Seu primeiro trabalho estava pronto, mas o Black Sabbath acabou tendo a felicidade de lançar antes. Por causa desse pequeno capricho do destino, Rob Halford e sua turma perderam o título de base do Metal. Mas nem por isso são menos importantes. Junto com o Sabbath estruturaram a base do Heavy Metal, mas tomaram um caminho diferente, não trilhando por letras sombrias, mas sim por outras que tratavam de temas como desordem pública (Breakin the law).

Dream Theater: O primeiro de uma série de “ame-o ou odeie-o: mas tenha uma opinião sobre ele”, os americanos do Dream Theater mudaram para todo o sempre o Metal Progressivo. Uma gênero baseado em melodias super trabalhadas e letras conceituais, o DT (como seus fãs o chamam) acabou por elevar o Progressivo a um outro nível. Com músicos de uma qualidade ímpar, letras profundas e músicas que não preocupam com tamanho ou aceitação dos fãs, o Dream Theater, ganhou além de uma legião de seguidores, respeito, muito respeito. Em um gênero que criou coisas maravilhosas como Symphony X e Pain of Salvation, o Dream Theater ainda se mantém com a mesma qualidade de 1986. Diria eu, atualmente é até superior.

Guns N'Roses: Não sou um grande fã deles, mas não se pode negar sua importância. Você amando o Guns ou odeiando o Guns, amando Axl Rose ou odiando-o, ao menos você sabe quem são e já ouviu, pelo menos, uma música. A banda de Los Angeles atingiu o topo do mundo rapidamente, em 1987, com seu arrebatador “Appettite for Destruction”, e ficou lá até a banda implodir. Com uma mistura de Punk, Glam, Heavy Metal e Hard Rock, Axl e Slash dominaram o mundo. Os adolescentes da recém nascida geração MTV os abraçaram e a emissora de música norte-americana conheceu seu primeiro grande fenômeno. Alguns dizem que o Guns N'Roses acabou com o Hard Rock e o Heavy Metal como mainstream, como música popular. Mas a decadência de outras bandas, antes mesmo do Guns, apenas comprovam que Axl e cia foram o ápice, e não o motivo do descenso.

Kiss: “You want the best? You Got the best! With you the greatest band in the world...KISS!”. Era com essa humilde saudação que a banda formada por Paul Stanley, Gene Simmons, Peter Criss e Ace Frehley entrou no palco em seu primeiro show. Acontece que humildade nunca foi a praia do Kiss, eles simplesmente queriam ser grandes, e se faziam grandes. Seus show eram muito mais um espetáculo visual com máscaras e fogos de artifícios do que, propriamente, musical. O que poucos reparam hoje é que as musicas eram realmente boas. Afinal, como que eles conseguiram atrair tanta gente, tantos seguidores tão leais, que até hoje formam o maior fã clube do mundo se sua musica fosse ruim? Quantidade não é sinal de qualidade, mas longevidade é. E com músicas que traziam a síntese do Heavy Metal, falando de mulheres, festas e rock n'roll, o Kiss fez escola. Escola, malas, lancheiras, copos, filmes, quadrinhos, roupas...

Metallica: Hoje eles são objetos de estudo em documentários excêntricos. Seu novo álbum é quase tão aguardado quanto “Chinese Democracy” pelo mesmo motivo: curiosidade. Mas a banda de Lars Ulrich e James Hetfield não é só isso. É simplesmente considerada por alguns a maior banda da história. Com certeza uma das maiores do Heavy Metal. Se não são fundadores, são os expoentes máximos do Trash Metal. Master of Puppets é até hoje considerado um dos maiores álbuns da historia e não há quem não tenha ouvido pelo menos uma música do grandioso e polêmico Black Album. O Metallica também é “ame-o ou odeio-o”, mas não pode-se negar seu tamanho.

Iron Maiden: Eu teria que ser um louco para excluir a Donzela de Ferro desta lista. Afinal de contas, estamos falando da maior banda de Heavy Metal da história. É a banda que fez qualquer dondoca ouvir pelo menos uma musica de Heavy Metal na vida, antes mesmo do Guns N'Roses. Se o Guns trazia uma mistura muito bem trabalhada que alcançou o topo, o Iron chegou lá tocando o mais simples e puro Heavy Metal, sem denominações extras. The Number of the Beast é sua obra máxima, que fez o Iron se tornar o maior. Se o Black Sabbath é o divisor de águas que criou o Metal, o Iron Maiden é o divisor de águas dentro do próprio Metal. Quer uma prova? Ouça as 500 mil vozes cantando Fear of the Dark no Rock n'Rio de 2001 e você saberá do estou falando.

Helloween: Como vocês já devem ter percebido, estou usando muitos superlativos nesta lista. Mas, acredite, não é à toa. Todas as bandas criaram ou inovaram ou, simplesmente, foram as melhores naquilo que fizeram. Com o Helloween não é diferente. A banda mãe do gênero que mais se alastrou pelo mundo, o Metal Melódico, o Helloween é daquelas bandas que poucos conhecem nos dias de hoje, mas o que conhecem sabem o respeito que Michael Kisk e cia merecem. Se hoje existem Angra, Rhapsody, Avantasia e Hammerfall foi por conta deles. O gênero não talvez seja o mais controverso do Metal, ao lado do Progressivo. Muitos o amam, muitos o odeiam, mas quanto ao Helloween, só existe respeito. Para entender melhor, ouça Keeper of the Seven Keys Part I e II.

Manowar:The other bands play, Manowar Kill”. Simples assim, seguindo a linha Kiss de "humildade", é assim que o Manowar se descreve em uma de suas músicas. A banda de Joey De Maio faz o mesmo som a 25 anos. Não muda em nada seus temas, sempre referentes a batalhas, guerras e ao próprio Heavy Metal. Mas sinceramente, isso não importa. Os fãs não querem outra coisa. Se algum dia o Manowar mudar, será para pior. Com lemas como “Small or tall, fat or thin, we swear to put it in”, a banda tem provavelmente os fãs mais fanáticos do Heavy Metal. E ela influenciou e muito nesses últimos 25 anos. De Rhapsody até mesmo Hammerfall, o "DNA" de Manowar está presente.

AC/DC: 10 entre 10 jovens guitarristas aprendem logo cedo o riff de Highway to Hell. 10 entre 10 roqueiros amam Angus Young. 10 entre 10 pessoas na terra reconhecem a voz de Bon Scott. Se a Austrália fez coisas boas para o mundo, com certeza o AC/DC está entre as principais. Com hinos como “For those about to rock we salute you”, “Highway to Hell” e “Back in Black”, o AC/DC fez historia. Um banda que sobreviveu a morte de seu vocalista, que se calçou na genialidade de seu guitarrista, e que nunca fez mais do que queriam dela: o bom e velho rock n'roll. Puro e simples.

domingo, 22 de junho de 2008

Brasileiro não gosta de futebol!

Faz mais ou menos duas semanas desde o desabafo de Luciano do Valle no canal Bandsports. O vídeo está publicado aqui mesmo no Bola da Foca. Recomendo-o a qualquer pessoa que se interessa por jornalismo esportivo. A repercussão sobre o ato não foi pequena. O grande ponto de interrogação foi que naquele mesmo dia, o narrador estava narrando Corinthians x Sport acompanhado justamente dos profissionais que ele havia criticado. Houve quem apoiou Luciano e houve quem o criticou firmemente. Entre a grande maioria dos críticos estava a grande imprensa jornalística da TV. Formada por equipes de redes como RedeTv!, Record e Gazeta, as críticas foram severas contra Luciano do Valle. Isso só nos mostra como tal classe é corporativa e fechada. São os mesmo jornalistas e comentaristas que alternam de emissora entre si, e renegam ao limbo da TV paga aqueles que não entram no esquema .

Qual esquema seria esse? Simples, o bom e velho merchandasing. Comandado por nomes duvidosos como Milton Neves e Flávio Prado, o jornalismo esportivo hoje abusa da falta de ética e da falta dos princípios básicos do jornalismo. Situações armadas, falas adulteradas, sensacionalismo e uma grande incitação ao clima de guerra. Além de tudo isso, a imprensa é bairrista. Nenhum time fora de São Paulo "presta", assim como se o estado fosse um harém de organização. O ápice foi o comentário do “jornalista” Jorge Kajuru. Há algum tempo Kajuru está isolado em programas regionais de emissoras filiais do SBT, mas mesmo assim não abandona o corporativismo da profissão. Em uma declaração digna de um processo penal, Kajuru atacou pessoalmente Luciano do Valle, em uma das declarações mais baixas da TV brasileira.

Mas o ponto é: por que eles ainda estão ai? Por que Milton Neves, Neto, Flávio Prado ou Godoy não são substituídos por PVC, Roberto Noriegua ou Celso Unzelte? Jornalistas sérios de canais também sérios como Sportv e, principalmente, ESPN Brasil, simplesmente não têm espaço na TV aberta. São idolatrados por quem entende e gosta de futebol, mas, e quanto aos brasileiros em si? Sim, pois até agora o que foi perceptível é que brasileiro não gosta de futebol. Gosta de ouvir notícias sobre seu time, mas nada muito profundo. Não quer saber se o Luxemburgo usa duas linhas de 4 ou se o Muricy usou o Adriano como pivô. Ele quer saber de ouvir o Neto gritando e o Dr. Osmar falando que o Corinthians tem uma torcida maior que a do Flamengo, que por sinal, não é um time bom, afinal, não é paulista. Não quer saber dos esquemas ilícitos da MSI com o Corinthians, já que o mais importante é que o argentino Tevez faça gols. Não quer saber que futebol hoje é mercado. Ele quer chamar o cara que sai daqui e vai pra Europa de mercenário. Enfim, brasileiro em si não gosta de futebol!

Brasileiro gosta de bagunça na TV. Gosta do Kajuru falando que o Luciano do Valle trai a mulher e rouba o estado de Pernambuco, mesmo sem provas. Infelizmente essa é hoje a cara do jornalismo esportivo brasileiro na televisão. Pessoas que, no fundo, não acham que esporte seja um assunto sério para ser tratado com a mesma ética que política, por exemplo. Canais como a ESPN Brasil, seguem o que é chamado de modelo americano de jornalismo esportivo. Um modelo criado pela ESPN americana, e que se tornou referência no mundo pelo profissionalismo e seriedade que o assunto é tratado. Com cifras milionárias, os EUA souberam como nenhum outro páis transformar esporte em espetáculo midiático e com administração empresarial. O jornalismo que fazem apenas reflete a seriedade com que tratam o assunto em si. Se seguirmos a regra, não existem motivos para nos surpreendermos com o sucateamento do jornalismo esportivo em um país no qual o esporte se tornou uma grande máquina de repassamento de influência e dinheiro.

E por mais incrível que pareça, é na criticada Rede Globo que reside uma última resistência a isso tudo. Se a Globo tem negócios escusos com a CBF e não bate em Ricardo Teixeira nem se um escândalo estourar, ela pelo menos não incita o clima de guerra nos estádios. Seus comentaristas se não são jornalistas, tem noção do que é jornalismo e analisam o futebol como deve ser analisado. Se ela escolhe mostrar a série B em vez da final da Libertadores, isso é outra historia. Afinal quem manda nisso é o público. Para encerrar, só falta dizer que os rumos do jornalismo esportivo an TV não parecem se alterar a médio prazo, e ainda teremos que aturar o Milton Neves durante muito tempo, pelo simples fato de ser adorado pelo povo.

*Este é um artigo indignado de alguém que algum dia quis ser jornalista esportivo.

A vida dos palcos e da imagem

A vida como Performance percorre a carreira de cineastas como Orson Welles, com uma trajetória crítica e inovadora bem pessoal, até ícones da dramaturgia como Bertold Brecht, dono de um teatro fortemente politizado, típico da esquerda política mundial.

Por Pedro Zambarda de Araújo

Quando um crítico aborda com mais paixão seu objeto de observação, podemos visualizar isso notadamente em suas palavras, fruto de escolhas subjetivas. Kenneth Tynan, muito além dessa seleção que deduz atração ou repulsão às pessoas abordadas em seus perfis, valoriza a atuação de seus entrevistados.

Exímio escritor sobre os palcos, desde a adolescência em Birmingham, não foi à toa que Tynan produziu Oh! Calcutá!, em 1967, pioneiro na arte da nudez na Broadway norte-americana. Essa produção nos teatros provavelmente explica a admiração dele por Louise Brooks, a última perfilada no livro, que é conhecida por papeis pornográficos e bem pessoais, especialmente no filme A Caixa de Pandora, filmado em 1928.

Para explorar a vida de Brooks, além da investigação biográfica, ele entrevistou pessoalmente com a atriz, em 1979, quando ela já havia abandonado os palcos. Com esse perfil, Kenneth Tynan explica o conteúdo de outros perfis. Greta Garbo é retratada no livro como uma atriz que é sedutora em sua essência, que encanta o que está ao seu redor, apesar de ter um tipo de “masculinidade” nessa iniciativa de apreciar ao redor, que intimida as mulheres. Para ele, Garbo poderia ter feito papeis mais marcantes com esse tipo de carisma. Por outro lado, há a estrela extremamente acessível que foi Katherine Hepburn, segundo a abordagem do crítico inglês. Ambas são estabelecem um comparativo interessante com Louise Brooks.

Além dessa comunicação entre perfis escritos em tempos distintos, há também os textos que se sustentam sozinhos e ainda demonstram recursos metafóricos do autor para explicar não apenas biografias. Quais são? Antonio Ordóñez e Miles Davis.

Pela história do jazzista, especialista no trompete e em apresentações que mostram seu ego intimidador como músico, Tynan também expõe sua vida pessoal, onde Davis se desarma da personalidade que adota nos shows. É uma história de um homem que forja, explicitamente, um personagem, embora possua uma vida privada que destoa desse quadro geral, que não poderia existir num convívio íntimo.

O toureiro espanhol Ordóñez é oposto a Miles Davis, pois ele dialoga com o animal na arena como se ele fosse, de fato, tão humano quanto ele. Tamanha humildade e sincronia de Antonio Ordóñez com o espectador, que é feito um contato íntimo do matador de animais com uma arte teatral mais afetiva e didática, nas palavras de Tynan. O toureiro não abate o touro, mas permite que ele mostre seu vigor de combate, seu ápice público. Ele tem um amor pela criatura que assassina, uma honra que passa do irracional para nossos sentimentos mais pessoais.

Do teatro inglês mais tipicamente shakespeariano, Alec Guiness é um excelente ator e exemplo da categoria, que abre os textos de Kenneth Tynan textos nesse livro. Extremamente pensativo e com capacidade de transmitir intelectualidade pelo palco, seja interpretando clássicos como Irmãos Karamazov ou Ricardo III, Guiness vai ser um dos raros homens que conseguiu fazer uma transição para o cinema sem perder essas características marcantes.

O perfil feito por Tynan, de 1952, não captaria o Alec Guiness de Star Wars IV: Uma Nova Esperança, longa-metragem de George Lucas, em 1977, onde ele interpreta um sábio mestre jedi sem perder seus ares teatrais. Acaba sendo um ícone de Hollywood, já em idade avançada, sem perder o carisma que o consagrou nos palcos.

Pela história de Guiness, chegamos em mais três atores que, além de terem marcado a vida de Kenneth Tynan, mostram atuações completamente diversas sobre Shakespeare. John Gielgud, Laurence Olivier e Ralph Richardson são, além de interpretes de renome, representantes de estilos distintos.

Gielgud interpreta um estilo romântico de personagem, com carga passional forte e um significado além do carnal que prevalece. Tynan reforça esses traços de Gielgud em protagonistas espirituosos, como Romeu, na maior tragédia shakespeariana, ou Hamlet, o puro que enfrenta um tio malicioso que assassinou seu pai.

Completamente oposto, Lawrence Olivier mostra uma atuação de Otelo austera, orgulhosa. No viés desse ator, também aceito pelo diretor em 1963, a peça sobre a suposta traição de Desdemona pelo favoritismo a Cássio teria desenvolvimento não apenas graças à Iago, que convence Otelo de mentiras segundo a história original, mas também por culpa do ego do protagonista. Lawrence é um Otelo orgulhoso, que domina o público pelos seus olhos ardilosos, pelas explosões de fúria no palco, ao ser contrariado.

Richardson parece um meio-termo entre ambos, nunca tomando um tipo extraordinário em papeis extraordinários dentro do complexo das obras de Shakespeare. No entanto, dentro de papeis considerados secundários, Ralph Richardson mostra uma atuação que contagia por sua emoção mais fiel à sanidade, por uma simplicidade que destoa da complexidade que é atuar no teatro shakespeariano, repleto de personagens tipicamente loucos.

Com esses perfis, e outros como George Jean Nathan, Edith Evans até o católico Graham Greene, Kenneth Tynan traça, do particular ao público, a vida dos espetáculos na primeira metade do século XX. Traz, conectando seus textos, um repertório rico para pessoas que não vivenciaram o período, tanto nas televisões quanto nas apresentações teatrais. Investiga a genialidade de Tennesse Williams falando do homem anti-social dentro do escritor, que se destaca por uma solidão criativa. Fala sobre as inúmeras mortes que sofre o ator Humphrey Bogart no cinema, considerando seu vigor em lutar corajosamente contra o câncer que o matou, em 1957, após definhá-lo.

A Vida como Performance é um livro sobre imagens, que parece sugerir o movimento dos homens do palco sem recorrer aos textos cansativos e extremamente detalhistas. Essa cultura visual normalmente sugere uma superficialidade das ações. Nos perfis de Tynan, ela é a via para os pensamentos contraditórios e brilhantes desses astros atualmente esquecidos pelo contexto histórico, com o declínio do teatro e a ampliação da cultura televisiva.

sábado, 21 de junho de 2008

Editorial #5

54 postagens em um mês é expressivo. Sei que números não revelam desempenho, mas apontam quantitativamente as atividades que são feitas aqui, pelo menos.

(E nesse mês, ainda é dia 21 e já temos 40 colaborações!)

Contamos agora com duas novidades interessantes para os jornalistas que participam - a entrada de Priscila Jordão, estudante de jornalismo da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP), e a promoção da nossa colaboradora Lidiane Ferreira ao cargo de editora, que ela está exercendo com eficiência e precisão.

Apesar do aumento do número de integrantes na edição, reforço que isso, de maneira nenhuma, isso significa um rigor excessivo sobre o conteúdo dos textos. A Lidi fará mais edições para atender a grande demanda de textos.

O Bola da Foca não é o retiro dos "jornalistas de ouro" das graduações universitárias, mas me alegra as conquistas individuais de cada um, o blog como um todo e as discussões que nascem daqui. Grandes jornalistas surgem não por trás de um grupo, mas através de suas iniciativas originais, do seu exercício constante e da auto-crítica. Dessa forma, o blog entra como um espaço de diálogo.

Nós, focas, apesar de muitos deslizes, ainda preferimos uma discussão criativa. É uma diretriz que essa administração mantém e pretende tornar melhor diante de defeitos.

Nesta próxima sexta-feira, dia 27 de junho, haverá na Cásper a primeira reunião de pauta para tratar assuntos referentes às férias escolares (informar-se do local com os editores).

Obrigado pela atenção e, focas, mantenham o excelente foco até esse momento.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Sopa de Letras

Atrasos. Através dos prazos aprendemos o valor de um traiçoeiro amigo. Uma inimigo eterno que nos acaricia e nos renuncia, sempre.

Deveria ter postado essa crônica minutos atrás. Semana passada passei pelo mesmo transtorno. O retorno de minhas atividades nem sempre corresponde, nem sempre responde aos meus anseios, ao seio dos meus desejos.

Cronos serrou o pênis de Uranos, garroteou o órgão. Desde então, temos o trauma de estarmos sempre castrados pelo mover dos ponteiros. O que não se pergunta é se os parâmetros estão realmente corretos.

Tudo deveria ter um horário certo de dormir. E certos cronistas não deveriam dormir nas aulas da Cásper (!).

Mas se a perfeição fosse como música ordenada, não seria eu. Se essa crônica fosse postada na quinta, junto com sua filosofia igualmente de quinta, com versos em terças, talvez não tivesse um bom assunto para botar em cronologia. Talvez não tivesse algum objeto para desordenar.

Sopa de Letras é como retas em uma estrada de curvas - turvas são as visões do escritor que se aventura em comunicação. Mesmo assim, transpiro clara a tese e a contradição. O postar no dia certo e o errar sem nenhuma diferença. Adormecer e estar mais consciente que os acordados - eis o real sono que todos deveriam ter.

Concentração até no barro, no lodo de seus atos.

Sopa de Letrinhas são crônicas publicadas normalmente às quintas-feiras.
Publicada nesta sexta-feira por culpa do soneca.

Falam de comunicação, de protesto e contra-protesto.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Um jornalista nos porões do preconceito

Um jornalista alemão trasveste-se de turco, adotando o pseudônimo Ali Sinirlioglu. Passa dois anos vivendo como tal, enfrenta o tratamento preconceituoso e precárias condições de trabalho destinadas aos imigrantes na Alemanha. Essa a história de Cabeça de Turco, livro reportagem de Günter Wallraff.
O jornalista, buscando ter uma experiência o mais verdadeira possível das condições que os estrangeiros enfrentavam na sociedade alemã, colocou-se em situações que lhe rederam denúncias sobre toda sorte de discriminação sofrida por eles.
A maior parte do livro é dedicada ao relato das situações de trabalho que encontrou e muitas vezes enfrentou. Trabalhou em uma fazenda; como tocador realejo nas ruas; no McDonald’s; em diversas fábricas através da empreiteira Adler; como cobaia de industrias farmacêuticas; como motorista; chegou a cogitar a hipótese de trabalhar na usina nuclear Würgassen; o jornalista sujeitou-se à grande parte dos trabalhos enfrentados pelos imigrantes. Desistiu do trabalho na usina por medo das conseqüências que a radiação excessiva e ilegal traria a sua saúde já debilitada devido aos trabalhos anteriores. Em um dos empregos que trabalhou por meio da Adler, na empresa de aço Thyssen, Wallraff ingeriu quantidades absurdas de pó com os mais variados elementos químicos nocivos à saúde humana. E quando cobaia de drogas farmacêuticas, sofreu com os efeitos colaterais da drogas, problemas de visão, vertigem, dores de cabeça, distúrbios de percepção. Além de sua história, Wallraff também relata a história dos verdadeiros imigrantes e as humilhações que sofrem.
Ao longo do livro também há textos com informações adicionais – matérias ou relatórios das empresas – que apesar de interessantes ilustrações, por não serem bem dispostos, interrompem o ritmo da leitura em trechos intrigantes do livro.
Um outro caso de discriminação enfrentado pelo jornalista, na pele do imigrante turco Ali, foi o religioso. Apresentando-se em diversas igrejas e outras instituições, alegando querer converter-se do islamismo ao catolicismo ou a religião em questão, encontrou sérias e até intransponíveis barreiras. Nas igrejas católicas, aonde foi pedindo melancólica história de como seria deportado se não fosse logo batizado para poder casar-se com sua namorada alemã católica. Somente encontrou um padre que simpatizasse com sua situação em uma igrejinha na Polônia, o clérigo concordou em batizá-lo sem muito tempo de espera.
Por fim, Wallraff – usando uma peruca de cabelos escuros, lentes de contato castanhas e um alemão “tosco e canhestro” – afundou-se até seus limites pessoais nos “porões da sociedade alemã” para denunciar de forma mais viva possível a situação deprimente enfrentados por imigrantes de minorias étnicas na Alemanha dos anos 1980. Seus relatos muito bem descritos iluminam um canto escuro da sociedade não só alemã, européia, mas também humana.

“Não tenho medo, não”

Operário que trabalha a cerca de 60 metros de altura em um prédio da Avenida Paulista conta como é ver a avenida de cima

Acima do trânsito de carros e pedestres, do corre e corre da mais paulistana das avenidas, avista-se, sobre um andaime, um operário. Debaixo e de longe, capacete cinza, botas de borracha, camiseta preta e cinto laranja. Do alto e de perto, Narciso Brito, 26 anos, palmeirense, gosta de ir ao shopping com a família aos domingos e de comer macarronada.

Prefere ouvir música sertaneja, em contraste com o ritmo que escuta a semana inteira e o businar dos mais impacientes que passam pela Avenida Paulista. “Lá em cima, o tumulto diminui, mas o barulho é bem grande.” Apesar disso, diz que gosta de trabalhar na Paulista e ver o movimento de cima, “me sinto um pouco acima dessa cidade que às vezes me acolhe, outras me pisa”.

São mais de 60 metros de altura. O chão mais próximo e que segura seus pés é uma tábua de madeira de cerca de 3 cm de espessura, apoiada nos alicerces do andaime que chega ao piso da Av. Paulista. Perguntado se há medo, responde irresoluto “eu não tenho medo”. Se já teve medo: “Já, eu me lembro da primeira vez que eu fui pras alturas, fui colocar a armação de uma laje. Nas primeiras vezes eu via tudo pequeno e ficava meio nervoso. Mas agora não tenho mais medo. Penso no trabalho e não no chão. Também fiquei com um pouco de medo quando caiu uma peça de andaime.”. Na ocasião, estava vazio e ninguém se machucou.

Narciso trabalha há 6 anos em construção civil e há 7 meses na Avenida Paulista. “Nesse tempo, nunca vi nada de incomum lá de cima, só uma vez que vi um homem correndo com alguma coisa na mão e, em seguida, uma moça correndo gritando. Acho que era um assalto. Lá de cima, eu não podia fazer nada, né?”

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mesmo com falhas, Megadeth marca o thrash em São Paulo

Banda tem som desregulado e abandona o palco para ajustes técnicos. Mesmo assim o público agita sem parar em seus verdadeiros “hinos”, durante apresentação no Credicard Hall, dia 6 de junho de 2006.

Por Pedro Zambarda de Araújo. Originalmente pra Whiplash.net.

Quando os integrantes do Metallica deixaram Dave Mustaine em um ônibus para Los Angeles, jamais poderiam imaginar que ele formaria o Megadeth e criticaria tanto a antiga banda quanto a política mundial. Não imaginariam que um guitarrista genioso como Marty Friedman criaria riffs como os do álbum Rust in Peace e nem que essa banda rival continuaria com álbuns mais consistentes que a trupe de Lars Ulrich e James Hetfield, pelo menos comparado ao fracassado St. Anger.

No entanto, o show do grupo de Mustaine foi confuso. O refrão de Sleepwalker, primeira música apresentada, do United Abominations, lançado ano passado, foi cantado por Dave Mustaine para um público já se encontrava em insano e pulando sem parar. Apesar da empolgação, a voz e a guitarra do frontman, foram totalmente abafadas pelas batidas destrutivas da bateria de Shawn Dover, embolada também pela guitarra ágil e precisa de Chris Broderick e o contrabaixo sempre presente de James Lomenzo.

As dificuldades técnicas do começo do espetáculo – frutos de testes sonoros não suficientes – irritaram os fãs. O thrash metal não estava soando sujo e agressivo como todos queriam, mas apenas barulhento. O pessoal que se encontrava na grade, em frente ao palco, suportou constantes bate cabeças e mosh, mantendo a animação e não cedendo aos problemas da banda. Mesmo assim, o fato do grupo sair do palco por 20 minutos gerou ainda mais revolta de fãs, já desgastados por quatro faixas executadas em volume alterado - Sleepwalker, Wake up Dead, Take no Prisioners e Kick the Chair - e querendo um show de qualidade.

Apesar dessas situações, nada agradáveis naquele momento, o show recuperou parte de seu fôlego com o pedido de desculpas de Dave Mustaine, sempre falando pelo resto do grupo, apesar de permanecer imóvel no palco, e a execução fiel de muitos clássicos da banda. Hangar 18 em Symphony of Destruction foram explosões de músicas de peso, músicas que o Megadeth costuma repetir em todos os shows, mas que conservam a essência do heavy metal com elementos do hardcore e do punk – ou seja, thrash – sempre atraindo mais apreciadores do estilo.

Ex-guitarrista da banda Nevermore, que mistura o rock progressivo ao thrash, Chris Broderick solou com sua guitarra mostrando talento e conhecimento das técnicas complexas e melódicas de clássicos do Megadeth. Chris foi aplaudido pelo público, que, após tantas trocas de integrantes no grupo de Dave Mustaine, aprovou o músico.


A Tout Le Monde foi a balada de descanso para o momento em que o público já estava mais desgastado da agitação e dos problemas iniciais. Gravada originalmente pela guitarra marcante de Friedman no álbum Youthanasia, em 1994, a melodia foi revisitada em United Abominations com participação da vocalista da banda Lacuna Coil, Cristina Scabbia. Executada durante o show, os espectadores cantaram em uníssono a letra que mistura francês e inglês, tanto a parte de Cristina quanto a de Mustaine.

Bastante agitado durante todas as músicas, o baixo de James Lomenzo tocou bem ritmado no começo de Peace Sells, chamando atenção do público para o modo como era receptivo com os fãs, sorrindo e se movimentando pelo palco.

Holy Wars fechou a noite e deveria ter sido o momento no qual o público seria realmente agressivo, seja pelo peso da música, seja pelo tipo de fã que gosta de Megadeth. No entanto, o público pareceu estar cansado e, ao contrário do que se esperava, todos apenas viram a boa execução da banda.

O Megadeth mostrou qualidade com seus equipamentos devidamente ajustados, somadas a uma iluminação exemplar (que ficava amarelada, dando um efeito de “explosão nuclear” com a fumaça, ou azul e vermelha, simbolizando as cores dos Estados Unidos). Mas o transtorno do começo do show realmente deixou alguns presentes insatisfeitos. Foi cômico alguém do público atirar um tênis no palco durante a ausência da banda, na interrupção de Kick the Chair, apesar da decepção de todos com aquela situação.

As fotos acima, de Dave Mustaine e Chris Broderick, são apenas reproduções, não imagens do show.

Diário de uma Arubaito - Os incidentes da ASTI

Ainda que no Japão tudo funcione e raramente as coisas saiam das regras estipuladas, alguns incidentes infelizes aconteceram na fábrica enquanto estive trabalhando lá. No primeiro deles, embora eu não tenha presenciado, muitos comentários giraram em torno de uma briga entre duas mulheres ocorrida durante o kyukei (o intervalo) na sala de troca de roupas. Mais que xingamentos, ambas partiram para a agressão física na frente de todos. Como raramente acontece algo de interessante na vida dos trabalhadores de fábrica, o assunto foi comentado abundantemente, desde o motivo que levou ao incidente até a reação dos chefes no momento. Logo no dia seguinte, enquanto eu limpava com pincel e colava um tipo de plástico nos celulares para evitar que se sujassem até serem vendidos (chamavam de roboshito a função), a líder passou chamando todos com uma voz apreensiva. A chefe reuniu-nos para contar que uma das máquinas daquele andar havia quebrado e estava soltando um gás perigoso, portanto, era preciso que nos retirássemos do local o mais rápido possível. Todos foram encaminhados ao shokudô (refeitório) no último andar do prédio e permanecemos sentados sem nada a fazer durante uma hora (que foi paga como hora trabalhada, já que a culpa não era nossa). A fábrica chamou uma ambulância e algumas poucas pessoas foram levadas ao hospital, pois não se sentiam bem devido ao cheiro de queimado, que continuou no local depois que retornamos para trabalhar.

A alta produção que se verificava
na ASTI não era a mesma da fábrica da Panasonic, uma alternativa que haviam me apresentado para trabalhar quando estava ainda no Brasil. Além de se encontrar na mesma cidade, o salário pago na “Pana” era também de dez dólares a hora, a diferença estava no turno alternado a cada semana e a folga de dois dias, o chamado 5 por 2. A baixa produção de lá resultou num salário líquido quase insuficiente para as compras das meninas que foram trabalhar ali, de forma que a empreiteira teve de enviá-las para cobrir a demanda por aparelhos na ASTI. Nos dias de folga, essas arubaitos passavam o dia inteiro trabalhando, muitas delas indo trabalhar às 18h numa fábrica, saindo às 6h e retornando às 9h em outra para só sair às 22:30h. Diziam elas que em alguns momentos era difícil saber se o relógio marcava o período da manhã, da tarde ou da noite, já que praticamente não se via o sol e era capaz de o mundo fora dali acabar que continuaríamos trabalhando naquele ritmo incessante. Num dia, fiquei sabendo que ocorrera um jishin (terremoto) na cidade onde morava, mas que não chegou a ser sentido na fábrica. A região era pouco propensa a esses tremores; mesmo assim, logo que chegamos em Iwata, um senhor da prefeitura nos explicara que o mais provável a acontecer seria um maremoto (apesar de não haver sinal nenhum de praia ou mar na cidade) e também nos indicou os lugares onde poderíamos nos refugiar caso acontecesse algo mais grave.


Para quem lê os casos relatados talvez seja um tanto quanto difícil imaginar como tudo ocorreu. Creio que eu mesma me espantaria se alguém os contasse. Passar por essas situações foi, no entanto, um acúmulo de experiências das quais nunca me esquecerei e que, apesar de não terem sido engraçadas ou divertidas, serviram para moldar um pouco do pensamento que carrego sobre esse país que tanto admiro, apesar de tudo.




foto 1: estacionamento em frente à ASTI, onde o ônibus nos deixava e buscava todos os dias.

foto 2: loja de hyakuen (R$ 1,99 de qualidade do Japão) próxima à fábrica.

foto 3: Trajeto para o trabalho. Ruas estreitas de mão esquerda, árvores secas, plantações de chá ao redor e frio congelante.

terça-feira, 17 de junho de 2008

O destino da seleção "brasileira"




Vou ser direto: a Seleção Brasileira de futebol, penta-campeã do mundo, participante de todas as copas e o time que mais venceu na história do futebol do sec. XX, vive sua pior crise na história. Não estou apenas falando dos recentes resultados, da forma de jogar, da falta de um técnico competente ou da clara falta de planejamento, mas sim da junção de todos esses fatores aliados ao simples fato de que o povo brasileiro liga cada vez menos para a seleção de seu próprio país.

No último domingo o Brasil perdeu de 2 a 0 para o Paraguai. Foi a segunda derrota seguida, algo que não ocorria desde 1997. Pior, a primeira derrota desta sequência para a Venezuela, a primeira para tal time na historia. A seleção brasileira não entrou em jogo nessa última semana. Fez duas, ou melhor, três partidas patéticas (a vitória contra o Canadá não foi uma grande exibição), com um esquema tático de time pequeno, abusando do número de volantes, esperando o time adversário atacar.


Exatamente assim, a seleção brasileira, maior seleção do mundo, estava jogando como um time pequeno, estava com medo. E a falta de vontade? Uma seleção apática, sem brilho, carrancuda e mal humorada, assim como seu “comandante”. A palavra está entre aspas mesmo, porque é assim que me refiro a Dunga. E, infelizmente, é assim que o Brasil vem jogando desde a Copa de 2006. Afinal, não devemos nos enganar com o título da Copa América, que o Brasil jogou extremamente mal e foi campeão em cima de uma Argentina amarelada.

Mas este não é o grande problema. O Brasil já passou por crises técnicas antes e sempre se reergueu delas. Seja a seleção "Lazarenta" de 1990, ou o "apagão" de 1966, sempre nos recuperamos. E a era de Dunga não é diferente. Primeiro porque nosso time é ruim, assim como nossa geração não é boa. Não dá pra acreditar que um técnico se desfaça do melhor jogador do mundo e coloque o peso da seleção brasileira nas costas de Robinho, um bom jogador, mas que nunca será um protagonista do porte de Ronaldo ou Romário. Kaká já é esse protagonista. Mesmo asism, esse não é o grande problema.


Lembro-me claramente da Copa do Mundo de 2002. Suas eliminatórias foram ruins, e o Brasil se classificou no último jogo. O técnico Luiz Felipe Scolari brigou com o país ao negar Romário e convocar o questionado Ronaldo. Mesmo assim, o Brasil ainda amava sua seleção. Se não amasse não brigaria tanto com seu Comandante (sempre me referirei a Felipão com letra maiúscula), e não apoiaria seu time em amistosos e na própria Copa incondicionalmente. O Brasil foi campeão, o Brasil se emocionou. A questão que quero levantar aqui é: quem hoje pára o que está fazendo para ver a seleção que representa seu país no mundo jogando?

Esta é a pior crise da historia de nossa seleção porque ela não é mais a seleção brasileira. Perdeu identidade e seus jogadores não jogam mais aqui. Tal fato se tornou inevitável, e também a própria seleção não joga mais no Brasil. Seus amistosos são todos em lugares distantes como Europa e EUA, jogando contra times que poderiam muito bem enfrentá-la aqui. A seleção virou um grande “Cirque du Solei”,que excursiona pelo mundo mostrando seu futebol em países ricos contra times pequenos. Tudo isso para encher os cofres corruptos da CBF, que já não pensa mais no futebol, e sim no que ele pode trazer. Quem liga para a seleção hoje? Quem liga para a Copa de 2010? O que importa mesmo é a Copa de 2014 não é? Afinal, faremos uma grande Copa, sem problemas técnicos e sem desvio de dinheiro.

De fato, quando a seleção joga Brasil, apenas em jogos oficiais, diga-se de passagem, os estádios enchem. Mas tal fenômeno só se dá pelo exótico. Se antes o público ia aos jogos para ver mais um jogo de sua seleção, que ele estava acostumado a ver, hoje vemos um time só se assiste na frente da TV. Um time que estamos acostumados a ver jogar de mangas compridas por causa do frio do hemisfério norte, e que tentamos repetidamente amar, apesar de todas as dificuldades. Infelizmente esse amor está diminuindo. Diminuindo a ponto dos adolescentes de hoje torcerem para a Holanda, Alemanha ou até mesmo, quem diria, Argentina. Seleção Brasileira? Isso é coisa de velho. Pelé? Que nada, bom mesmo é Messi, Cristiano Ronaldo ou Kaká, aquele jogador do Milan sabe? Nunca pensei que tal dia chegaria, mas a Seleção Brasileira de futebol se transformou na Seleção “Brasileira” de futebol.



*A foto que ilustra o post é uma homenagem a uma das maiores seleções que o mundo já viu. Neste ano se completarão 50 anos do primeiro título mundial. Seria bom se isso servisse de inspiração para a CBF e nossos jogadores.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Música de que mundo?

Por Laís Clemente

No dia 19 de junho, terá início o Bridgestone Music Festival. O evento ocorrerá no Citibank Hall, em São Paulo, e tem a pretensão de, em três dias, inserir a platéia no universo de um estilo musical de fronteiras nada bem definidas, a world music.

Numa mal feita tradução, o gênero significaria “música do mundo”. Assim, estariam nele inclusas toda a produção musical do planeta, o que não faria dela uma categoria, pois, até onde os cientistas têm conhecimento, não há produção musical fora deste planeta. Este “mundo” a que o termo faz menção, seria então o de uma realidade distinta da do ponto tomado como referencial, o centro da cultura dominante, que no caso seria a dos mais importantes países de língua inglesa: Estados Unidos e Inglaterra.

Esses países sim, possuem o jazz, o blues, o folk, e o rock’n roll em todos os seus incontáveis desdobramentos. Quanto aos estilos do resto do mundo? Bem, o resto...o resto é world music, um saco sem fundos onde foram colocados o fado português, o bolero, o africano kora, os brasileiros samba, bossa nova e tropicália, e até mesmo ritmos que tiveram grande influência na base rítmica da música popular americana, como a música cubana.

Esse termo classificatório foi criado por um grupo de empresários de gravadoras em 1987. Vendo o interesse crescente pelo som produzido por músicos não ocidentais, como Thomas Mapfumo, natural do Zimbábue, eles inventaram o termo e saíram em espécie de campanha para popularizar a world music (o termo, não exatamente seus representantes). A intenção era garantir que o potencial comprador de um álbum de, por exemplo, música indiana, encontrasse o disco com facilidade nas lojas, assegurando a venda e os lucros das gravadoras.

Essa intenção inicial acabou nivelando todos os ritmos que a categoria abrange por terra, dando margem a uma preguiçosa forma de classificação para críticos musicais e donos de selos. Tudo o que não for de língua inglesa, é world music.

Se lembrarmos do tamanho do ego que a cultura americana tem, fica até compreensível o porquê do termo ter virado hábito nesse país. Mas por que o resto do mundo, que tem seus estilos regionais enquadrados na world music, também se utiliza dessa nomenclatura? Certamente nenhum brasileiro diria que a Bossa Nova é um exemplar do “gênero”, mas ao falar de estilos, mesmo que de países vizinhos, lá está a “música do mundo”. Duvida? Faça uma experiência: entre na loja de discos mais próxima de sua casa e veja o que há nessa seção. Provavelmente encontrará bandas mexicanas, grupos cubanos e até mesmo músicos da nossa vizinha Argentina.
No Brasil, enxergamos a cultura de outros países do mesmo modo que americanos e ingleses enxergam a nossa. Queremos reconhecimento internacional, reclamamos quando representam Rio de Janeiro como a capital da Argentina, mas tratamos outras culturas, mesmo que próximas da nossa, com descaso semelhante.

É aí que entram iniciativas como a do Bridgestone Music Festival. Apesar de reafirmar a nomenclatura world music, a tentativa do Bridgestone é trazer esse world para mais perto dos brasileiros. Com apresentações como as do cantor e guitarrista Daby Touré – que explora em seu trabalho as fronteiras da música africana com o jazz - e da argelina Souad Massi - que tem seu trabalho influenciado por música clássica árabe, pop argelino, folk e soul music -, a esperança é que, quem sabe, após muitos anos de festivais como esse, o termo “música do mundo” caia por terra e, ao menos nós brasileiros, comecemos a realmente discernir a infinidade de sons hoje identificados pelas mesmas vãs palavras.


Imagem 1: logo do Bridgestone Music Festival
Imagem 2: Souad Massi, cantora argelina que é uma das principais atrações do festival.

domingo, 15 de junho de 2008

"A Outra" - Um típico folhetim inglês

A história da saga da dinastia Tudor já foi contada inúmeras vezes, seja em filmes, livros ou séries, praticamente tudo que já poderia ser contado sobre os herdeiros de Henrique VIII já foi esgotado. A ponto de começar a existir uma preocupante de transformar a história em ficção. Em “A Outra”, vemos a ascensão e queda de Ana Bolena, mãe de Elizabeth I, que teve sua cabeça decapitada por ordens do próprio marido. Isso tudo depois de ser a razão(entre outros motivos) pela qual Henrique VIII rompeu com a Igreja Católica e deu início à Igreja Anglicana e entregou a Inglaterra ao protestantismo. Mas o filme do diretor Justin Chadwick ignora todas as implicações politicas do caso, e resume uma das mais drásticas mudanças na história européia em uma trama de ciumes e traição.
Em vez de se focar, como é costumeiro, apenas no casal Henrique-Ana, interpretados por Eric Bana e Natalie Portman, a trama traz a irmã mais nova de Ana, Maria Bolena. Sempre tratada como coadjuvante na história, a intenção dos roteiristas Phillip Morgan e Phillipa Gregory foi mostrar a disputa entra as duas irmãs Bolena como tema central, deixando de lado toda a complexa trama política que realmente causou o rompimento inglês. O que vale dizer é que a obra tem seus pontos satisfatórios, graças a Natalie Portman, mas infelizmente se perde muito a partir da metade final.
Diretor vindo diretamente da TV, Chadwick abusa dos “vícios” televisivos. Excessivos closes nos rostos dos personagens, locações apertadas, cenas de transição repetitivas e um horroroso take superior do palácio inglês através das nuvens causa a sensação de que estamos vendo a série “Tudors” no People&Arts. Embora a fotografia exterior e os figurinos sejam competentes, em nenhum momento temos a clara impressão que aquilo tudo é da fato a corte de Henrique VIII. A escolha de certas cenas também não se justificam, como a desnecessária cena inicial e as cavalgadas noturnas das irmãs Bolena à la Paul Revier.

Apesar da fraca direção, não se pode negar que o elenco se esforça. Eric Bana se mostra um Henrique poderoso e forte enquanto o roteiro lhe permite. Natalie Portman vive aqui o que talvez seja sua primeira vilã. Com um sorriso sedutor e maléfico, uma confiança ímpar e uma ambição sem limites, ela se mostra uma Ana Bolena difícil de se resistir, mesmo se for o homem mais poderoso do mundo. Já Scarlett Johanson se mostra a cada dia que passa uma atriz mediana, e nada mais. Supostamente com o papel principal, ela é ofuscada terrivelmente por Natalie Portman e em nenhum momento expira a verdadeira dor que sua personagem deveria estar sofrendo ao ser manipulada por sua própria família. Não estranhe se você sair do cinema e achar que a outra do título é Ana, e não Maria.

Como comentado anteriormente, o filme se perde totalmente no ato final, e apesar de Justin Chadwick, a culpa cai no colo dos roteiristas. A partir de certo momento, vemos uma verdadeira correria para que o filme acabe com no máximo 120 minutos. Passagens vitais, como o rompimento com a Igreja Católica e o destino da rainha Catarina de Aragão são simplesmente citados, ou pior, ignorados. Outros furos crassos acontecem como por exemplo: O que aconteceu o primeiro marido de Maria? E seu filho? Ou é normal uma mãe só vê-lo de mês em mês? Outro ponto irritante é a queda do personagem de Eric Bana. Enquanto no começo Henrique VIII impressiona pelo seu poder e orgulho, a partir do meio acaba se tornando um otário nas mãos de Ana Bolena, que o manipula como se aquele homem fosse um fantoche, e não o rei absolutista da Inglaterra.

Enfim, apesar de um começo que possa interessar, “A Outra” acaba por se tornar um desperdício de um bom elenco e de uma boa história. Vemos um fascinante conto de traição, politica relacionamentos humanos transformado em um típico folhetim inglês, a exemplo da já citada e horrível série “Tudors”. Enfim, dos três grandes lançamentos desse fim de semana, “Hulk” se mostrou uma boa surpresa, “A Outra” uma decepção. Cabe agora a M. Night Shyamalan desempatar.
*a imagem que ilustra o post é a capa atual do livro. Como acontece muito nas edições de hoje em dia, a imagem da capa original foi substituida pelo poster do filme

Sorria, você está sendo controlado

Texto e charge por Leonam Bernardo

Dia desses eu estava caminhando pelo centro de Ourinhos, minha querida cidade natal, no interior de SP, quando reparei - e alguém explicou - que a Prefeitura Municipal, em parceira com a Associação Comercial e a Polícia Militar, instalou dezenas de câmeras de segurança na região central do município. Que eu saiba, criminalidade nunca foi o forte de Ourinhos. Mas alegando prezar pela segurança de seus cerca de 100 mil habitantes, as autoridades implantaram as tais câmeras, constituindo um moderno sistema de vigilância e monitoramento.

A constatação do Grande Irmão ourinhense me fez notar o quanto as profetizações de George Orwell, Michel Foucault e cia. se concretizaram (ou estão se concretizando). Onde quer que se vá hoje em dia, nos mais diversos lugares públicos e privados, elas, as câmeras, nos acompanham. Ruas, avenidas, escolas, shoppings centers, supermercados, elevadores, condomínios. Tudo é monitorado.

Muito além do propósito "segurança", o emaranhado vigilante, presente em praticamente todo o mundo, constitui uma grande ferramenta de poder. A manutenção da ordem pela constante observação, o ser-visto-sem-ver, é inerente à existência humana, hoje, por conta do processo de dissecação implantado em uma sociedade vigilante e impessoal.

O modelo do panóptico* generalizado do século XXI é suplantado pela mais alta tecnologia e abastecido pela vontade/necessidade do domínio sobre as massas pelas classes dominantes. As câmeras são os espelhos da sociedade moderna, e refletem a impessoalidade e o individualismo na qual ela está mergulhada.

Disciplinar a sociedade. Dividí-la e classificá-la. Conhecer cada célula social para liderar e governar. Qual seria o limite?

* O filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832) idealizou um sistema de prisão com disposição circular das celas individuais, dividas por paredes e com a parte frontal exposta à observação do diretor por uma torre do alto, no centro, de forma que o diretor “veria sem ser visto".

E morre um Mestre...

Nesse sábado, 14 de junho, morreu por volta das 4h30, aos 95 anos, o presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira, Jamelão.


Nascido José Bispo Clementino dos Santos no bairro de São Cristóvão, Rio de Janeiro, em 1913, Jamelão “pensava que seria sempre operário”. Começou trabalhando cedo, aos nove anos, como engraxate e vendedor de jornal. Foi aos quinze anos que, apresentado por Gradim, entrou como ritmista na bateria da Mangueira. No começo não tinha pretensões artísticas: gostava era do samba e de paquerar as mulheres.

Mas as coisas começaram a mudar em 1945 quando ganhou um prêmio no programa de TV “Calouros em desfile" de Ary Barroso. Logo começou a viajar junto com a Orquestra Tabajara, além de assinar diversos contratos com rádios. Em 1949 tornou-se intérprete dos sambas-enredo da Mangueira e nove anos depois entrou para a ala de compositores da Estação Primeira.

No ano de 1990, Jamelão anunciou o fim da carreira de intérprete, quando começou a sofrer com problemas de pressão alta. Mas, no ano seguinte, o mestre logo voltou à ativa. Em janeiro de 2001 foi eleito para o maior cargo de sua escola de samba: Presidente de Honra da Mangueira. E em dezembro do mesmo ano recebeu das mãos do então presidente, Fernando Henrique Cardoso, a medalha da Ordem do Mérito Cultural.

Jamelão estava internado desde quinta-feira, dia 12, na Casa de Saúde Pinheiro Machado, no Rio de Janeiro, com um quadro de infecção pulmonar e urinária. O sambista era diabético e, desde 2006, tinha dificuldades para se alimentar devido a dois derrames sofridos. Ele morreu em decorrência de uma falência múltipla dos órgãos e, segundo a clínica em que estava internado, o problema era resultante da idade avançada do cantor.


Aquele que era considerado o maior intérprete do Carnaval vai deixar saudades e para sempre sua marca no samba brasileiro.

“Meu amigo Jamelão era um imenso cantor e o melhor mau humor do Brasil” – Chico Buarque

sábado, 14 de junho de 2008

"Hulk esmaga!!!"

A cada dia que passa me irrito mais com a crítica cinematográfica. Não importa mais o que o filme representa, o que ele diz, e sim os pequenos detalhes que aqueles "velhos" que acham que entender de cinema é conhecer o nome de 1000 diretores e ter visto 10.000 filmes resolvem implicar. Entre algumas coisas que li sobre o Incrível Hulk estavam: “gigante verde desengonçado”, “muita ação e pouco drama”, “desrespeito ao trabalho de Ang Lee” e o cúmulo de um tal de Luis Carlos Merten implicar com “falta de realismo que a favela é tratada”. Ah, faça-me o favor! Pra começar, o trabalho de Ang Lee foi ruim e ponto. Se tivesse sido bom o personagem não teria sido totalmente refeito de acordo com a vontade da recém-nascida Marvel Studios. E eu posso afirmar: Não poderia ter acontecido nada melhor ao nosso querido Hulk.

A historia não é uma continuação do Hulk de Lee, mas uma total recriação, até mesmo em sua origem. Neste filme, a origem do personagem tem uma ligação direta com a genêse de outro grande super herói, Capitão América. Inclusive a “presença” deste será comentada mais adiante. No papel do cientista Bruce Banner sai o bom Eric Bana e entra o melhor ainda Edward Norton, que mostra mais uma vez que é bom em qualquer papel, seja em filmes “cult” como “A outra historia americana” e em blockbusters como este. Norton, que também é o co-roteirista , repete a importância que Robert Downey Jr. teve em Homem de Ferro, ou seja, é a essência do filme. Os melhores momentos da projeção são justamente quando vemos Bruce Banner em ação, e não Hulk. Os momentos de conflito consigo mesmo apresentados nos remetem diretamente à saudosa série “O Incrível Hulk”, estrelada por Bill Bixby e Lou Ferrigno (que fazem suas participações especiais no filme, mesmo o primeiro já estando morto). Os outros destaques do elenco são William Hurt como um odioso Gen. Ross e Tim Roth como o ambicioso e incontrolável Emile Blonsky. Infelizmente o elo fraco é Liv Tyler, mas não chega a comprometer.
Muito se falou sobre as cenas rodadas no Brasil, e fico feliz em dizer que são a melhor parte do filme. Ocupando os primeiros 20 minutos de projeção, o diretor Louis Leterreier capta todo o labirinto que é a favela da Rocinha usando em muitos momentos câmeras na mão. A perseguição à Bruce Banner por atiradores merece especial destaque nesse sentido. O único contra talvez seja o português mal falado de alguns figurantes, mas a participação bem-vinda do lutador Rickson Grace compensa. As demais cenas de ação ao longo do filme são empolgantes, principalmente o primeiro enfrentamento entre o gigante verde e Blonsky, ainda em forma humana. Nesse sentido, pode-se dizer sem medo de ser queimado na fogueira que Leterrerier joga Ang Lee no chão. O diretor francês tem um feeling pra ação fantástico, assim como já havia provado em “Carga Explosiva”.
Por fim, o roteiro. E aqui entra o incrível universo que a Marvel está trazendo para o cinema. Quando escrevi a resenha de “Homem de Ferro” citei a fantástica oportunidade de um série de cross roads e o universo completo da Marvel, com todas as suas relações, ser transposto pro cinema. Se Homem de Ferro dava sinais disso, O Incrível Hulk escancara. Desde os primeiros minutos vemos referências diretas às Empresas Stark, SHIELD, Nick Fury e, o mais empolgante, o supersoro. Para quem não conhece, o supersoro faz parte do projeto do Super-soldado que originou na 2º Guerra o Capitão América. Tal projeto é citado várias vezes durante o filme e tem relação direta com a origem do Hulk. Ou seja, se a Marvel não jogar tudo que vêm construindo na lata do lixo (a Fábrica de Idéias tem um histórico preocupante de complicar o simples e errar no que ta dando certo), os próximos anos serão empolgantes pros fãs de Hqs e o público em geral. Quanto ao filme em si, a presença de um adversário à altura do herói é muito bem vinda, concertando principal equivoco do filme de Lee. E seu fecho, é, nada menos que muito empolgante, já que muitos já sabem que ****SPOILER**** Tony Stark faz um pequena participação no final, assim como a cena final com Bruce Banner nos faz pensar muito em como será a continuação***FIM DO SPOILER***.



“O Incrível Hulk” é o segundo tiro certeiro da Marvel Studios. Apostando em astros do segundo escalão, mas extremamente talentosos, e em diretores semi-desconhecidos ela aposta em seus próprios roteiristas e começa a criar um universo único e inédito no cinema. Ainda acredito que o melhor filme de herói do ano será o novo Batman, mas não se pode negar que o verão até agora nos trouxe grandes surpresas. Como disse, agora, é só saber se a Marvel continuará empolgando ou esbarrará na truculência de Joe Quesada (presidente), que aparenta fazer de tudo para brigar com quem lhe traz sucesso. Tudo que posso dizer depois disso é: esqueçam o que críticos anciões escrevem e que mal posso esperar para ver o filme do Capitão América em 2010.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

O fim de uma obra de arte, "videogame-arte"

Hideo Kojima, criador da série de jogos de videogame Metal Gear e Zone Of Enders para as plataformas Playstation, Game Cube, Xbox, Playstation 2, lança, no dia 12 de junho, ontem, o último episódio de uma das maiores entre suas séries de entretenimento. Metal Gear Solid 4: Guns of Patriots chega ao Playstation 3 encerrando a saga do já adoecido e velho Solid Snake, acabando com todos os clichês e mostrando, sem heróis e nem vilões, personagens vivos e permanentes na memória de jogadores pelo mundo todo.

Por Pedro Zambarda de Araújo

Para muitas pessoas, videogames não possuem muita importância, são meras distrações ocasionais, fúteis muitas vezes. Para admiradores de Kojima, essa máxima não pode valer, uma vez que a criação de Metal Gear Solid, o original, em 1998, transformou a forma de criar jogos: os personagens eram interpretados por atores de cinema, o enredo é repleto de clichês retirados de filmes como Rambo, embora o criador japonês também coloque uma dose certa de filosofia oriental e formas alternativas de abordagem dos episódios. O resultado é, na saga de Snake, uma história intrigante, aparentemente voltada no tradicional "governo versus ameaça internacional", mas que se transforma em uma grande crítica sobre o heroísmo nos dias de hoje.

Em Nova Iorque, dia 12, após uma "turnê" que incluiu países da Europa, Hideo Kojima apareceu para autografar exemplares dos jogos aos fãs que foram prestigiar seu trabalho na Virgin Megastore. O game, com o protagonista Solid Snake doente geneticamente, totalmente envelhecido, critica as guerras no Oriente Médio, mostrando os conflitos causados por Liquid Ocelot e sua nova máquina: a fortaleza móvel Outer Heaven. Snake também deverá encarar réplicas do terrível robô Metal Gear em miniatura, os chamados Gekkou, tudo isso sob uma jogabilidade que engloba técnicas de artes marciais para não ser notado por seus inimigos e poder sobreviver.

Sendo o último capítulo dessa série, a obra de Kojima consagra sua genialidade como pioneira no gênero chamado Tactical Espionage Action Game, além de usar mídias Blue-Ray no console Playstation 3, com mais que o dobro da qualidade gráfica de um DVD. Sobre detalhes do enredo, que interessam principalmente jogadores que acompanham a história de Solid Snake, a história não é apenas um "Indiana Jones velho", ou "Rambo em tempos de aposentadoria". Ela guarda segredos que, finalmente, não pouparão o final definitivo da série. Todos os personagens omitidos e todas as situações mal-explicadas serão esclarecidas.

Para fãs, entender o que foram os Patriots, as conspirações e a fantasia criada por Kojima fazem parte de uma diversão inteligente, que traz inovações e uma densidade artística que surpreende leigos. Isso também é explicado pela trilha sonora cinematográfica de Harry Gregson-Willams e os desenhos conceituais do japonês Yoji Shinkawa, famoso por pinturas impressionistas que são seu traço pessoal. Essas características são únicas dentre tantos jogos de videogame, também presentes nessa conclusão de saga.

Ultima foto é capa da pré-venda de Metal Gear Solid 4. A foto anterior é a capa oficial.

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