quinta-feira, 5 de junho de 2008

O suicídio de Ian Curtis e os debates sobre o rock moderno

A visão romanceada do filme Control e qual a realidade do rock´n´roll após o grande impacto causado pelo Joy Division nos anos 1980

Por Pedro Zambarda de Araújo, 2º ano de jornalismo

“Muitas das músicas são feitas para não serem agradáveis mesmo” diz Sam Riley, na pele do vocalista Ian Curtis. A fisionomia do ator, nascido no ano de falecimento do verdadeiro Curtis, 1980, remete totalmente às fotografias e poucas gravações audiovisuais da banda Joy Division. A ouvinte da frase é Annik Honoré, jornalista belga e amante do músico, vivida pela atriz Alexandra Maria Lara.

Essa frase talvez fundamente o filme Control, lançado oficialmente nos cinemas do Brasil em 21 de maio de 2008, com direção do fotógrafo belga Anton Cobjn e baseado no livro Touching from a Distance, da viúva de Curtis, Deborah. Esses manuscritos são um dos motivos básicos do eixo da trama girar em torno da própria ex-mulher, interpretada por Samantha Morton, que convence diante das cameras, com suas feições sofridas e desiludidas frente a misantropia clara do companheiro. No entanto, esse foco obscurece vários outros, como a própria banda, a natureza dos ataques epiléticos do astro do rock e o contexto histórico da época.

Ian Curtis é, assim como “parte” do filme, um retrato filmado em preto e branco de uma realidade inglesa e global dos anos 80: a desilusão do punk rock, da vida junkie dos drogados radicais e a limitação musical da época. As performances do vocalista do Joy Division seriam mais lembradas do que as músicas em si, de certa forma. A epilepsia que o atacava no palco era uma imagem pitoresca do post-punk, da new wave que emergia do som inglês decadente. Futuras bandas, embaladas pelo grupo de Curtis, não se prenderiam mais em “rótulos”, mas na sinceridade de suas expressões físicas, nas letras geradas de maneira espontâneas e desprendidas de qualquer estilo.

Precipitadamente, poderíamos dizer que até o rock emocore, estilo bastante popularizado no Brasil nos últimos anos, teria tirado suas raízes do fenômeno Ian Curtis. É também prematuro admitir que o cenário alternativo tende a adotar a depressão e o sofrimento como ideologias dentro de sua sonoridade.

No entanto, tal análise se torna errada por um único fator: se Curtis realmente apreciasse seu sofrimento, a decisão extrema de se enforcar no varal de sua casa, após o processo de divórcio com Deborah, não teria ocorrido, como demonstra bem o filme. Se os demais integrantes do Joy Division realmente só se vangloriassem do vocalista problemático que tinham, e que encerraria a banda em 1980, eles não formariam, naquele mesmo ano a banda New Order, que entrou em um som mais eletrônico e menos depressivo.

Ao contrário do emo, que começou em 1985, no cenário musical de Washington D.C., o Joy Division faria brotar na cabeça dos jovens, sem as extravagâncias de David Bowie nos anos 1970, que a música é sim imagem, ato, não só depressão ou temas obscuros, que também foram abordados pelo grupo.

O futuro musical certamente não está apenas na nostalgia do rock mais clássico, que sempre remonta aos já explorados Beatles, Elvis Presley, Pink Floyd, Rolling Stones, entre outros. A música também não se reduziria ao peso excessivo do heavy metal, que prosseguiria numa linha mais agressiva em relação ao padrão, nem aos protestos do punk, que teve uma “morte” como movimento social marcada pela overdose fatal do músico junkie Sid Vicious, em 1979.

Apesar de, hoje, ser considerado apenas um suicida, Curtis foi um mito na atuação e sua banda, uma herança. Paul Banks, vocalista da banda Interpol, nos Estados Unidos, faz um som bastante similar ao da Joy Division em pleno século XXI, sem ter problemas com depressão ou tendências autodestrutivas. A temática obscura da banda de Ian Curtis não era apenas reflexo do seu estado emocional, mas do mundo globalizado, dos males urbanos, dos protestos que não deveriam carregar fortes ideologias e preconceitos, mas conservar a pureza de suas palavras.

Uma das cenas de Control tem uma mensagem subliminar interessante: em uma das últimas apresentações do Joy Division, um homem é pago para substituir Curtis, que se recusa a se apresentar devido a suas crises epiléticas cada vez mais agudas. O visual do músico contratado lembra um emo, com uma enorme franja cobrindo o olho, uma voz fina e dedos pintados. Talvez por isso, foi vaiado. A ausência de Ian começava a representar um perigo para todos, já que a platéia passou a reagir com ameaças verbais aos músicos. Curtis retoma os microfones, canta parte de Disorder, a música que estava sendo executada, se decepciona com a alegria automática do público e abandona o palco. O músico contratado retorna e os fãs invadem o palco, e o show acaba em pancadaria.

A banda Joy Division significa atitude pessoal de músico, não pura depressão, não puramente “Ian Curtis”. É provável que a maioria dos jornais faça comentários que o filme Control e a história do grupo sejam um retrato puro do negativismo moderno. Vejo a música deles como algo que se descreve nos atos de cada integrante na cena: Peter Hook tocando o contrabaixo nas cordas mais agudas devido à má qualidade do instrumento (Peter só conseguia ouvir notas altas no amplificador, reproduzindo poucos graves nas melodias), o olhar de decepção do guitarrista Bernard Summer ao ver a degradação de Ian, o ruído dos sprays e outros sons que são aproveitados na música, um experimentalismo que dá o toque necessário ao rock mais atual.

A chaminé que aparece no último take do filme, fazendo um paralelo com os cigarros que Curtis sempre tragou em vida, é uma metáfora de nossos tempos: alguns observam o charme degradante do fumante, outros vêem os males da nicotina manifestados ali. Isso também se aplica ao Joy Division.

22 comentários:

Unknown disse...

Belo ensaio Pedro. Demonstra um amplo conhecimento do assunto.
Qnto a Curtis, eu sou um daqueles, e não são poucos, que acredita que ele era extremamente limitado musicalmente, e o New Order acabou se tornando rapidamente melhor tecnicamente que o Joy Division.

Só discordo qndo vc afirma que foi a banda que incitou, após Bowie, a questão da imagem no rock. Vou lembrar aqui rapidamente o exemplo de Alice Cooper e do Kiss

Pedro Zambarda disse...

Kiss e Cooper também são dos anos 70.

Eu diria que o post-punk e o hard rock farofa marcaram o rock 80.

Abraços.

Anônimo disse...

Você realmente não sabe quando parar.

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