Texto e charge por Leonam Bernardo
Dia desses eu estava caminhando pelo centro de Ourinhos, minha querida cidade natal, no interior de SP, quando reparei - e alguém explicou - que a Prefeitura Municipal, em parceira com a Associação Comercial e a Polícia Militar, instalou dezenas de câmeras de segurança na região central do município. Que eu saiba, criminalidade nunca foi o forte de Ourinhos. Mas alegando prezar pela segurança de seus cerca de 100 mil habitantes, as autoridades implantaram as tais câmeras, constituindo um moderno sistema de vigilância e monitoramento.
A constatação do Grande Irmão ourinhense me fez notar o quanto as profetizações de George Orwell, Michel Foucault e cia. se concretizaram (ou estão se concretizando). Onde quer que se vá hoje em dia, nos mais diversos lugares públicos e privados, elas, as câmeras, nos acompanham. Ruas, avenidas, escolas, shoppings centers, supermercados, elevadores, condomínios. Tudo é monitorado.
Muito além do propósito "segurança", o emaranhado vigilante, presente em praticamente todo o mundo, constitui uma grande ferramenta de poder. A manutenção da ordem pela constante observação, o ser-visto-sem-ver, é inerente à existência humana, hoje, por conta do processo de dissecação implantado em uma sociedade vigilante e impessoal.
O modelo do panóptico* generalizado do século XXI é suplantado pela mais alta tecnologia e abastecido pela vontade/necessidade do domínio sobre as massas pelas classes dominantes. As câmeras são os espelhos da sociedade moderna, e refletem a impessoalidade e o individualismo na qual ela está mergulhada.
Disciplinar a sociedade. Dividí-la e classificá-la. Conhecer cada célula social para liderar e governar. Qual seria o limite?
* O filósofo inglês Jeremy Bentham (1748-1832) idealizou um sistema de prisão com disposição circular das celas individuais, dividas por paredes e com a parte frontal exposta à observação do diretor por uma torre do alto, no centro, de forma que o diretor “veria sem ser visto".
5 comentários:
Alguém andou prestando atenção nas aulas do Lira ano passado, não?
Que lindo Hani! ^^
E seja bem vindo!!!
Adorei sua entrada no blog =]
Gostaria de desenhar charges contigo, se for possível, qualquer dia desses!
Abraço!
dou uma forte observação para o excelente uso do léxico na redação, além da visão pessoal e dos recursos literários. Uma legítima crônica.
Valeu gente!
Espero contribuir com mais textos e cherges para o Bola muito em breve.
Bom texto, mas que título infeliz, meu caro! Mais do mesmo, sempre!
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