O fato de que ninguém dá ouvidos aos índios não é novidade. Vão-se as terras, a cultura e a dignidade desse povo tão importante na história do nosso país, e, mesmo assim, ainda existem aqueles que pregam pela "civilização" e pelo avanço da agricultura nas pouquíssimas áreas reservadas a eles. Uma triste realidade presente em um país que se diz miscigenado.
No meio de tantas intrigas envolvendo grupos indígenas e "o homem branco", durante a semana uma notícia chamou a atenção. Imagens de uma tribo isolada no Acre foram divulgadas pela primeira vez, e a visão de seus homens atirando flechas contra o avião foram bem-vindas aos defensores de suas causas. Segundo o organizador da missão e coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental da Funai, José Carlos dos Reis Meirelles Júnior, as mulheres e crianças da tribo correram para dentro de suas ocas, enquanto os homens, pintados de urucum, tentavam se defender do estranho invasor. "Enquanto eles estiverem nos recebendo a flechadas, e eu já levei uma na cara, estarão bem. O dia que ficarem bonzinhos, já eram...", disse Meirelles.
Saber da existência de tribos isoladas em pleno século XXI mostra a vulnerabilidade de tais grupos. Estima-se que existam cerca de 100 agrupamentos semelhantes ao redor do globo, sendo que 60 podem estar em solo brasileiro. Pela imensidão na Amazônia, esse dado não pode ser desconsiderado, já que na época do descobrimento existiam aproximadamente 5 milhões de índios no Brasil, e acredita-se que cerca de metade se localizava em regiões amazônicas. O isolamento desses grupos foi uma escolha feita por seus próprios membros, e respeitá-la seria a escolha mais racional e ética.
Devido a esse desejo, membros da FUNAI já decretaram a demarcação da área em que os índios vivem, mas sem divulgar sua localização. Nas palavras de José Carlos Meirelles: "O futuro deles depende da gente, ou a gente preserva as regiões acidentadas [onde eles vivem] que não servem para agricultura, só servem para serem preservadas, ou essa gente vai acabar." A idéia é muito bonita no papel, mas resta saber se tais declarações permanecerão intactas depois de pressões internacionais, apelos de produtores e curiosidade da mídia. A esperança de um pouco de respeito para com os verdadeiros descobridores do Brasil persiste ao lado do ideal de justiça que, sem ter outros meios, anda sendo feita pelas próprias mãos indígenas que trocaram o arco e flecha por facões e seqüestros.
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