O filósofo e escritor Alain de Botton deu uma palestra hoje, na editora Abril, sobre seu último livro, Religião para Ateus, e sobre seus pensamentos acerca de questões cotidianas. Apesar de ser apegado a pensadores céticos como Nietzsche e Platão, Botton se mostra mais interessado em assuntos comuns da literatura contemporânea, como amor, vida e morte. No entanto, o intelectual mostra que sua abordagem nos livros é totalmente diferente dos clássicos estudos metafísicos.
"O mundo precisa de escritores que vão às ruas. Não jornalistas, mas escritores mesmo. Escritores que descrevem, não os que vão em busca de escândalos, como os jornais", defendeu o pensador. Questionado sobre os livros que faz sob encomenda, ele diz não liga para os pedidos, desde que sejam sobre assuntos que normalmente não são abordados.
Ao falar sobre livros e escritores, Botton falou sobre sua última obra e foi questionado sobre a arte como entretenimento. Para ele, infelizmente essa visão colabora para que as criações artísticas fiquem restritas para um consumo aparente de "mulheres descupadas, ricas e ociosas". Alain de Botton gostaria que o meio artístico e a cultura tivessem um papel de sagrado, antes ocupado pela religião. Para ele, a arte poderia ter esse poder de reconfortar diante das mazelas da vida.
Nesse ponto da palestra, fizeram a pergunta: "Você é um autor de autoajuda?". Botton não fugiu da questão. "Eu quero criar uma nova autoajuda. Não quero criar soluções fáceis. Não vou te ajudar, porque muitas coisas não têm solução. Quero repartir coisas".
Apesar de querer criar algo novo nesse gênero de leitura fácil, o autor, com formação em filosofia no Reino Unido, não parece nem um pouco com os best-sellers do gênero. "Há escritores de locais proibidos e exóticos, como a Amazônia e o Congo. Eles vão para lá e fazem descrições interessantes. Há escritores sobre o amor, que é um assunto abordado diversas vezes. Mas não há escritores sobre corporações. Não há escritores que falam sobre bancos. Esses são assuntos que você vê na rua da sua casa, não é algo inacessível".
Alain de Botton parece querer ser um autor desses assuntos acessíveis, mas pouco abordados. Prazeres e desprazeres do Trabalho, livro publicado pelo escritor em 2009, faz uma crítica sobre a forma como procedemos com o mercado nos dias de hoje. "Usamos o trabalho para combater a morte, achando que somos imortais", diz ele. E, como toda boa reflexão, ele quer mostrar que o dia a dia nos escritórios não precisam ser encarados dessa maneira. Como se fosse a única coisa essencial na vida.
O escritor nasceu no dia 20 de dezembro de 1969 em Zurique, na Suíça. Alain se formou em história em Cambridge, fez mestrado em filosofia no King's College e fez doutorado em filosofia francesa na Universidade de Londres. Ele é idealizador do projeto School of Life, empresa cultural que pretende reorganizar o conhecimento.