quinta-feira, 27 de junho de 2013

Tudo o que você precisa saber sobre Anonymous (nos protestos do Brasil)

Esclarecendo para quem não sabe estas informações: Anonymous são vários grupos hackers (e crackers) de internautas sem liderança ou formação, criados nos Estados Unidos, que agem contra ações de quebra de neutralidade da internet. Ficaram em evidência a partir de 2008, com a crise econômica americana que se tornou mundial. Passaram a fazer ataques de negação de serviço (DDoS) - com vários computadores acessando uma página ou um banco de dados até tirar tudo do ar por sobrecarga. Suas vítimas, normalmente, sites de empresas e do governo. Os Anonymous descobertos pela polícia ou pelas autoridades são desligados dos grupos.



Um dos alvos prediletos do Anonymous é o Federal Reserve, o Banco Central norte-americano.

O caso dos conflitos cibernéticos americanos é tão sério que se descobriu espionagem da gestão Obama no caso PRISM, programa de vigilância que conectava o governo aos bancos de dados de empresas como Microsoft, Google, Facebook, Yahoo!, Apple, YouTube, AOL, Paltalk e Skype. O caso veio a público no dia 6 de junho de 2013, com depoimentos do analista de sistemas Edward Snowden. 

O Anonymous, como um força sem lideranças ou identidades públicas, quer ir contra programas que invadem a privacidade das pessoas em seu país de origem e acaba promovendo ataques virtuais.

Dito isso: O Anonymous pouco tem a ver com os protestos no Brasil. O grupo, e seus braços brasileiros, fizeram apenas invasões e vandalismos em sites. Fora isso, a participação do Anonymous é pura especulação e fruto de desinformação de quem não sabe o que é ataque DDoS. Os vídeos no YouTube não provam que essas pessoas sabem invadir computadores ou se elas sabem sobre neutralidade de rede.

Em tempo: A máscara do personagem Guy Fawkes tem vários significados. Guy Fawkes (1570-1606) foi um conspirador monarquista e católico que queria impedir o avanço do protestantismo no Reino Unido. Promoveu uma tentativa de explodir o Parlamento britânico no evento conhecido como "Conspiração da Pólvora". O personagem histórico inspirou o escritor Alan Moore nos quadrinhos de V de Vingança a fazer o herói portar uma máscara de Fawkes. No entanto, V é um super-herói anarquista, anti-neoliberal e crítico de governos como o da premiê Margaret Thatcher, governante que inspirou a crítica de Moore.

domingo, 23 de junho de 2013

Nem todo nacionalismo dos protestos no Brasil é (necessariamente) ruim

Há reclamações nas redes sociais como Facebook e Twitter, e com razão, que o nacionalismo e o ufanismo recente nos protestos lembra o período da Ditadura Militar e/ou esvazia as pautas dos protestos em São Paulo e no Brasil todo. A maior parte dessas reclamações partem da esquerda política, que estava antes nas manifestações e acredita (com razão) que suas pautas foram tomadas. Mas gostaria de convidá-los a uma reflexão rápida: Talvez não seja bem assim.


Há relatos de jovens da periferia do Capão Redondo, próximo ao Morumbi, que utilizaram bandeiras brasileiras e cantaram hinos por melhoras na infraestrutura e no acesso do bairro, que é muito marginalizado. Fecharam, inclusive, a ponte João Dias. Nos trens vindos do Grajaú, na CPTM, idosos e adultos pintaram os rostos e foram, em clima de festa, ver o que estava acontecendo no centro de São Paulo, além da Avenida Paulista. Na estrada do M'Boi Mirim, a bandeira brasileira foi levada ao fechar uma das principais vias para o Jardim Ângela, na zona sul da cidade paulistana.

Nada descarta que estes moradores de periferia sejam conservadores e estejam pensando apenas em suas causas regionais, mas, considerando que eles são o elo mais frágil da sociedade, a bandeira deles pode ser digna.

Bandeira brasileira não está diretamente ligada ao fascismo, às doutrinas repressoras ou ao esvaziamento do discurso. Pode ser, sim, o símbolo da vez. E quem está incomodado com os discursos equivocados e com os abusos recentes, incluindo a queimada de bandeiras de partidos políticos, deve aprender a agregar e unir brasileiros de diferentes segmentos. A onda de nacionalismo pode ser uma onda de união realmente popular, independente  dos defeitos dos discursos englobados nas mobilizações.

Com os protestos no Brasil, uma proposta: Uma Constituinte

Compartilho no blog um texto de Lucas Fontelles, estudante de Relações Internacionais pela PUC-SP e, atualmente, intercambista e também estudante na Science Po, em Paris. Ele lançou uma proposta de Constituinte na internet, com o objetivo de reformar a atual Constituição Brasileira atendendo aos anseios atuais da população no país.



Colo o texto dele abaixo, pois considero importante para a discussão:

"Amigos,

Quem compareceu ontem à manifestação pôde ver a enorme amplitude e heterogeneidade dos manifestantes. Pessoas de todas as idades, profissões, classes sociais foram às ruas para expressar sua indignação com tantas coisas erradas que existem no Brasil e com o sistema político viciado que impede as mudanças que precisamos. Ontem vivemos a maior manifestação das últimas décadas, e isso orgulha e emociona quem é brasileiro.

Porém, como muitas pessoas já estão comentando pelas redes sociais, é verdade que o aumento do manifesto trouxe uma enorme quantidade de bandeiras e objetivos que passaram em muito os "20 centavos" iniciais. Em uma situação como essa, há o risco desse movimento que possui uma força enorme agora perder força com o passar do tempo e não atingir nenhum dos milhares objetivos pretendidos. Isso ocorreu com movimentos similares a esse como o Occupy Wall Street, os Indignados na Espanha, entre outros. É por isso que precisamos de uma bandeira única e possível que unifique todas as nossas demandas e aspirações por mudança.

Acredito que essa bandeira é a bandeira por uma Constituinte. Podemos pressionar o congresso nacional para que eles aprovem uma Assembléia Constituinte. Infelizmente pela nossa Constituição apenas o Congresso pode aprovar uma Constituinte. Mas é apenas com ela que conseguiremos fazer a Reforma Política e a Reforma Tributária que o país precisa no momento e que nunca saem pois são contra os interesses dos políticos eleitos. Uma Constituinte com deputados eleitos por nós e não pelo Congresso, e que seriam proibidos de concorrer a cargos eletivos nas próximas eleições.

Não precisamos dividir o movimento agora. Não precisamos expulsar os de classe média, nem os pobres, nem os com partido nem os sem partido. Precisamos sim é que todos saiam de suas casas e se unam para pressionarmos os políticos com essa bandeira que é comum a todos nós que queremos ver uma mudança de fato nesse país. Não precisamos gostar do PT, nem do PSDB, nem do PMDB, nem do PSOL nem do PSTU, precisamos sim é que os deputados desses e outros partidos sejam pressionados a fazer o que queremos.

Espero que todos que gostem compartilhem essa idéia para vermos esse movimento mais forte e mais unido.

Abraços e vemprarua."

A troca de guarda na grande e pequena mídia

O jornalismo está mudando. Dos repórteres até os editores e empresários da comunicação. Não se trata apenas do avanço da internet, mas sim do próprio avanço do tempo e das trocas de comando.


Isso será melhor? Não sei, depende de quem nos lê e de como escrevemos e reproduzimos notícias.

Ruy Mesquita morreu no dia 21 de maio de 2013, tentando ser o jornalista editorialista e homem de negócios do Estado de S.Paulo ao mesmo tempo. Deixou um jornal em crise e com demissões, mas contribuiu com a criação (e a morte) do Jornal da Tarde. Roberto Civita morreu no dia 26 de maio de 2013, deixando um legado de diversas revistas na editora Abril, um modelo de jornalismo norte-americano e um tipo de gestão centralista.

Edson Flosi morreu no dia 5 de junho de 2013, após 30 anos de carreira como repórter da Folha de S.Paulo e do Jornal da Tarde. Fez história no jornalismo policial.

Estes três homens foram importantes e simbolizam as transformações que a imprensa enfrentará nos próximos anos, meses e dias. Trata-se não apenas da mudança da chamada grande mídia, dos jornalões, televisões e revistas. Não se trata da digitalização dos conteúdos na internet.

É a saída dos homens da imprensa escrita e televisiva para a entrada dos homens que conviveram de modo online, com uma outra lógica para compôr notícias.

Isso será melhor? Não sei, depende de quem nos lê e de como escrevemos e reproduzimos notícias.

Discussões sobre os protestos no Brasil na Universidade de São Paulo

No dia 21 de junho, o professor e filósofo da Unicamp Marcos Nobre participou de um debate na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Após esse evento, a instituição terá outro evento, organizado pelo DCE Livre e chamado "É hora da luta: Um debate sobre as mobilizações da juventude e do povo em todo país".

O evento terá participação do professor Vladimir Safatle (colunista da revista Carta Capital e do jornal Folha de S. Paulo), do professor da rede pública João Victor e do Movimento Passe Livre (MPL). Será às 18h no dia 25 de junho. Confira o cartaz abaixo:


Segunda-feira, dia 17 de junho: O grande dia da "Revolta do Vinagre"

Eu queria ter escrito este texto no dia que ocorreu aquele protesto que uniu mais de 100 mil pessoas nas ruas de São Paulo. Queria ter narrado o medo que as pessoas expressavam nas redes sociais naquele dia. Estávamos com medo de ir às ruas protestar e pedir a diminuição da tarifa de ônibus de R$ 3,20 para R$ 3 e levar borrachadas da Polícia Militar. Estávamos com medo de nos machucar na rua. Alguns nunca tinham indo protestar. Outros já estavam exaustos de protestar e de tanta repressão do governo aos pedidos da população carente e que sofre com a economia predatória no Brasil.

Mas nós fomos às ruas naquele dia 17 de junho de 2013, em nossa Revolta do Vinagre. Fomos às ruas depois da agressão à jornalista Giuliana Vallone, que levou uma bala de borracha no olho. Fomos às ruas depois de cerca de 250 detenções sem sentido da PM, por porte de vinagre em protestos entre outros motivos no mínimo discutíveis.




Aquele dia, em São Paulo, foi a vitória dos partidos de esquerda, como PSTU, PSOL e outros, que conseguiram emplacar e democratizar suas pautas. Foi uma vitória dos apartidários não-conservadores, que conseguiram sugerir novas abordagens de protesto, sem violência e com muitas adesões. Teve coxinha e pessoal de direita no protesto? Teve, e que bom que teve, para diversificar opiniões. Teve skinhead e grupos extremistas naquele dia? Eles deviam estar lá, porque depois se manifestaram em outros dias, quebrando bandeiras de partidos políticos. Este é o lado ruim da história. Mas a grande vitória foi de todos, unidos pelos R$ 3,20 da tarifa do ônibus e contra outras pautas, genéricas ou não, contra as injustiças praticadas pelo Estado.

O grande dia da Revolta do Vinagre incentivou as pessoas a permanecerem nas ruas. Contra Marco Feliciano e outras pautas. Pelos motivos certos e equivocados. 17 de junho, para o bem ou para o mal, ficará para a história.

No Rio de Janeiro, aquele dia foi marcado pela violência de alguns manifestantes contra prédios públicos. Em Brasília, será lembrado pela invasão significativa na Esplanada dos Ministérios, incomodando a raiz federal da política nacional. No Brasil, os protestos e as indignações ficarão registradas pela absurda sincronia entre os grupos pulverizados no Facebook e no Twitter. Faltam pautas concretas? Faltam, mas a primeira vitória está selada.

A mídia primeiro condenou os protestos, chamando quem sempre protestava na rua de vândalo e de baderneiro. Quando jornalistas começaram a se ferir, o cenário mudou. Quando pessoas inocentes começaram a ser presas por excessos da polícia, o cenário para o dia 17 de junho estava selado.

Termino o texto com uma fotografia que tirei na Faria Lima, em São Paulo, de um prédio espelhado com os manifestantes marchando. E também linko aqui o texto do blogueiro da Folha, Leonardo Sakamoto, chamado "Manifestantes derrubam aumento da tarifa do transporte público em São Paulo e no Rio". Foi a grande vitória desses protestos: A redução da tarifa de ônibus e a abertura de um processo de discussão sobre os transporte e os gastos dos governos no Brasil. Mereceram capa do jornal americano New York Times e uma cobertura ampla de blogs independentes estes protestos em nosso país.


segunda-feira, 17 de junho de 2013

O protesto de todos os protestos

No dia 9 de março de 2013, escrevi um texto afirmando que as manifestações contra o deputado Marco Feliciano na Comissão de Direitos Humanos era o protesto de todos os protestos. Eu estava errado. Esse grande protesto, que pode movimentar o Brasil novamente nesta segunda-feira, aconteceu no dia 13 de junho de 2013.



Resumirei os fatos daquela quinta-feira.

Foram aproximadamente 250 presos, a maioria liberados até o dia seguinte, sem provas. 15 jornalistas detidos. O jornalista da Carta Capital, Piero Locatelli, foi detido por porte de vinagre, utilizado por manifestantes para amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo disparado pela polícia contra manifestantes que pedem a redução de R$ 0,20 do aumento das passagens de ônibus (R$ 3,20). Foram diversas pessoas agredidas. A manifestação começo aproximadamente às 15h do dia 13 na frente do Theatro Municipal. No local, já eram realizadas detenções só na averiguação. O protesto foi organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL) que defende até algo mais radical: A passagem gratuita.

vídeos de pessoas em seus apartamento tirando fotografias e recebendo, em troca, balas de borracha da Polícia Militar. A repressão invadiu a propriedade privada.

Os manifestantes caminharam pacificamente até a Rua Augusta e a Bela Cintra, tentando chegar na Avenida Paulista. Os relatos postados na internet mostram que apenas um vidro de uma residência e um ônibus foram pichados pelos manifestantes. O lixo queimado e os vidros de viaturas quebrados foram obras da Polícia Militar de São Paulo, com agentes infiltrados e a Tropa de Choque.

Fala-se em repressão contra estudantes, trabalhadores, militantes de partidos políticos e civis comuns. Um casal chegou a ser agredido em um bar quando a PM de São Paulo decidiu interditar a Avenida Paulista para afastar protestos.

Um amigo meu recebeu bomba de gás lacrimogêneo na Avenida Nove de Julho, buscando uma rota alternativa para chegar ao metrô.

Hoje está marcado outro protesto para as 17h. A pauta já não é mais R$ 0,20, mas sim melhorias no transporte público, combate à corrupção e aos males da política brasileira, como a sobrecarga de impostos. O prefeito petista Fernando Haddad e o governador tucano Geraldo Alckmin afirmaram em coletivas que não vão abaixar o preço, mas agora estão dispostos a conversar pela pressão popular.

Quer saber mais, quer lembrar alguma coisa? Leia o texto do Melhor que Bacon e seja feliz. Todas as fontes são confiáveis.

Veja também a entrevista de Giuliana Vallone, repórter da Folha que levou um tiro de bala de borracha no olho, mas não ficou cega porque estava de óculos. Ela é um retrato dos excessos dos governos e da repressão policial em protestos pacíficos.


Este é o protesto de todos os protestos. Sem uma causa única, mas com a maioria das pautas da chamada Reforma Polícia. Rendeu, inclusive, vaias à presidente Dilma na abertura da Copa das Confederações.

PS: Sábado, dia 15, ocorreu outro protesto pacífico, mas sem repressão da polícia ou repercussão gigantesca. Trata-se do Ato contra o Estatuto do Nasciturno, projeto que pretende conceder uma pensão de estupradores às suas vítimas como um direito ao feto, se a mulher engravidar. O processo foi interpretado como mais um projeto de lei que não legaliza o aborto e mantém a criminalização, tirando o direito da mulher de cuidar do próprio corpo se a gravidez trouxer riscos à sua saúde. A foto é minha, logo abaixo.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

"Todo o poder aos estudantes"

Edson Flosi, ex-professor de Jornalismo Jurídico na Faculdade Cásper Líbero, ex-jornalista da Folha de S.Paulo na era Cláudio Abramo, advogado e eterno repórter faleceu da manhã desta quarta-feira, dia 5 de junho de 2013. Ele tinha 73 anos, estava internado desde sexta-feira (31) no Hospital AC Camargo e lutava contra um câncer há sete anos.


Fiquei chateado de verdade com este falecimento. Descanse em paz, professor.

Obrigado pela piada que fez a gente chorar de rir na sala de aula, envolvendo um macaco que o senhor adotou após uma reportagem com índios. Obrigado pelo jornalismo romântico e muito anterior à internet que o senhor sempre defendeu. Obrigado pela lucidez, apesar de sua avançada idade. E obrigado, muito obrigado mesmo, pelas boas histórias do jornalismo policial, do Direito e da vida.

A grande imprensa, seus alunos da Cásper e admiradores de suas reportagens estão em luto. E não esqueceremos do senhor. Quando o senhor foi demitido injustamente, fomos até a rua protestar contra aquele absurdo.

E como ele disse, depois de ser demitido da faculdade: "Todo o poder aos estudantes".

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