Se existe uma coisa chata no mundo de hoje é o “politicamente
correto”. Mas, tão chato quanto ele, é o “politicamente incorreto”, ou seja,
aquela mania irritante de simplesmente querer ser do contra. Afirmo isso,
porque nesse texto vou correr o risco de cair na segunda opção.
A Square-Enix lançou hoje (30/5) o novo trailer de Hitman:
Absolution, novo jogo da série sobre o Agente 47, um assassino de aluguel que
se vê caçado pelo próprio sistema do qual fazia parte. Pra quem não conhece a
série, ela foi uma das percussoras dos jogos de ação “stealth” na última
geração, bebendo da fonte de Metal Gear Solid e dando origem a filhos como
Splinter Cell. Quanto a história em si, entre alguns jogos e spin-offs, ela foi
no máximo divertida, mas nunca nenhuma obra de arte. O game até chegou a ser
adaptado para o cinema em um filme homônimo sem muita graça. Pois bem, a Square
promete mudar essa impressão morna que Hitman passa, e vem investindo pesado em
seu próximo capitulo, e o trailer é o exemplo máximo disso.
O ponto é que, menos de 24 horas depois de chegar à rede, o vídeo
de dois minutos e meio já causou polêmica. Em uma sequencia incrivelmente
bonita, o Agente 47 é ataca por assassinas sexys vestidas de freiras e, uma a
uma, mata todas, em sequências gráficas e fortes. No artigo que mais gerou repercussão até
aqui, Keza Macdonald, editora da IGN UK, um dos maiores sites de games do
mundo, chama a peça de, entre outras coisas, ofensiva, sexista, de mal gosto e “um
mal sinal sobre o que público quer dos games”. Você pode ler o artigo clicando
aqui.
Pois bem, este é o problema quando se leva muito a sério algo
que simplesmente não é sério. Existem games e games. Existem obras pesadas como
Heavy Rain ou Red Dead Redemption, que de fato querem passar uma mensagem,
obras de arte como Journey ou Shadow of Colussos e existem - a gigantesca
maioria - o entretenimento puro e simples. E Hitman não é nada além disso. O
trailer, que você pode conferir ao fim do post, parece uma sequência tirada de
algum filme trash do Robert Rodriguez (Sin City, Machete e Planeta Terror).
Sim, ele é machista, é violento, talvez seja de mal gosto, mas não, não é um
mal sinal para a indústria. É apenas uma peça sem qualquer conteúdo mas que
traz um visual “legal”, que todo fã do jogo vai adorar. Isso vai gerar hype,
vai ajudar a vender mais e só.
Que a indústria dos games hoje é madura o suficiente para
ser considerada culturalmente tão relevante e influente quanto a do cinema, não há
dúvidas. Mas, assim como no cinema, a grande maioria de seus produtos não é
séria, e não deve ser tratada como tal. E não vamos esquecer uma coisa básica:
os games cresceram a partir da violência, com um encanador italiano esmagando a
cabeça de tartarugas. Sinceramente, um homem de terno matando freiras de
lingerie não me parece o fim do mundo.