Documentário conta como tudo foi dar errado na crise econômica de 2008No dia 15 de setembro de 2008 o mundo parou. O banco norte-americano Lehman Brothers, um dos maiores do país, declarou a falência como o fim de um rápido e espiral processo de declínio iniciado em março do mesmo ano. Contudo o Lehman Brothers não afundou sozinho. Com ele caíram mais dois grandes bancos (Merryl Lynch e Goldman Sachs) e a maior seguradora do mundo, a AIG. O que eles arrastaram neste processo? Praticamente toda a economia global. Menos de 3 anos após sua explosão, a crise econômica de 2008 já ganhou ares lendários e conspiratórios, com muitas passagens mal explicadas. E é justamente esta a função de “Trabalho Interno”, documentário dirigido por Charles Ferguson.
Tentar explicar as causas da maior recessão americana desde a Grande Depressão de 1929 não é fácil e Ferguson sabe disso. Boa parte dos 110 minutos do documentário são extremamente didáticos, explicando termos e processos dentro do sistema financeiro que um espectador médio não teria motivo algum para entender. O filme é divido em 5 parte: Como chegamos até aqui; A Bolha; A crise; Prestação de contas e Como estamos hoje. A primeira, obviamente, é fundamental para entender a crise de uma forma mais profunda que você dificilmente encontrará em páginas de jornais, mas também serve como uma poderosa ferramenta jornalística: através dela, Ferguson quebra qualquer argumento de que sua obra é panfletária, apresentando fatos concretos ao longo das últimas duas décadas.
Para Ferguson a grande causa de toda crise é a constante política anti-regulatória adotada pelo governo americano ainda nos anos Reagan. Ela permitiu que os bancos crescessem de forma absurda, aumentando exponencialmente seu tamanho, números de funcionários e lucros. Na visão de Ferguson, a falta de regulamentação no sistema financeiro cria invariavelmente uma bolha que um dia estoura, e quando estoura, leva consigo tudo ao seu redor. Isto é exemplificado logo nos primeiros instantes do filme, quando ele conta como a Islândia passou de uma das nações mais desenvolvidas do mundo para o primeiro país a quebrar completamente devido à crise.
Narrado por Matt Damon, “Trabalho Interno” se sai muito bem na mais difícil de suas missões: não ser chato. Ferguson se mostra um fantástico roteirista ao intercalar verdadeiras aulas de economia, até mesmo usando infográficos, com momento ques até trazem uma boa dose de humor, graças as respostas evasivas de banqueiros e assessores encurralados durante depoimentos. Fica clara a postura “rir para não chorar” em muitos momentos. Para nós, brasileiros que fomos pouco afetados pela crise, estes momentos e a conclusão do documentário ao sabermos que muitos dos culpados ainda estão bilionários e no poder ganham um ar tragicômico. No entanto, para as pessoas que foram severamente afetas pela crise o documentário é uma espiral sombria que termina de forma trágica.
Durante toda a crise a pergunta que mais se ouvia, seja nos EUA ou por aqui era “Como eles não perceberam que isto estava errado?”. “Trabalho Interno” mostra que muitos não só sabiam que tudo aquilo estava errado, como trabalharam muito para que nada fosse feito para prevenir. A crise econômica de 2008 não foi um acidente ou um erro de cálculo como muito se comenta hoje em dia. Foi em grande parte um crime cometido por especuladores, banqueiros e lobistas ajudados pela falta de regulamentação proposta pelo governo. O mais assustador contudo é saber que muitos destes homens lecionam nas principais universidades americanas, moldando os futuros economistas e CEOs das grandes empresas no mundo.