Não é difícil entender porque Jogos Vorazes divide a opinião de quem vai assistir a primeira parte de uma trilogia um tanto macabra. Apesar de ser comparado e considerado um tipo de substituto para franquias como Harry Potter e a saga Crepúsculo, a plateia mais jovem tem dificuldades em entender a real proposta e discussão do novo filme de Gary Ross (Quero Ser Grande e Seabiscuit).
Em uma realidade paralela, a pobreza e a fome reinam nos 12 distritos que um dia se rebelaram contra a Capital (onde a Lady Gaga seria a rainha do estilo) e perderam a guerra. Para relembrar o passado e “celebrar a paz”, é feito um sorteio anual e cada distrito envia dois tributos (um menino e uma menina de 12 a 18 anos) para os Jogos Vorazes - uma espécie de Big Brother da morte onde os 24 jovens lutam entre si e apenas um sai vencedor.
Ross não poupou nas cenas de disputa: Criou um filme forte, obscuro e violento, direcionado completamente para o público adulto e para o qual a faixa etária deveria ser 16 anos, e não 14. Mas, sobretudo, e essa é sua característica mais importante: O filme nos leva a pensar. Nas mortes em vão, na violência infantil gratuita, nos limites do ser humano, na moral, e na sociedade do espetáculo.
Se não houvesse audiência, não haveria apoio. Se não houvesse morte, não haveria um vencedor. Se não houvesse um vencedor, não haveria programa. Se não houvesse programa, os distritos não seriam mais aterrorizados pela iminente e contínua perda de alguns dos seus.
É interessante a maneira como as coisas são postas e como cada um lida com os acontecimentos. Em um talk show, cada tributo se apresenta e tem a oportunidade de ganhar afeto do público e chamar a atenção dos patrocinadores, que ajudam seus favoritos. O primeiro distrito, por exemplo, treina seus jovens desde cedo, visando vitória.
Os Jogos, já em sua 74ª edição, são vistos como uma fatalidade honrosa e são narrados e avaliados com precisão médica e como se não se tratassem de crianças. E o jornalismo tem o papel principal nessa interpretação e apresentação dos fatos – principalmente para animar as torcidas insanas e passar a impressão de um American Idol, e não uma edição adolescente de Jogos Mortais. Ajuda na aceitação. Até alguém contestar as regras.
Os Jogos são um mal necessário. Mas são mesmo?!