segunda-feira, 19 de março de 2012

Três décadas em 15 reportagens: A carreira do jornalista Edson Flosi


Professor querido pelos alunos da Faculdade Cásper Líbero, Edson Flosi ficou reconhecido na sala de aula por suas narrativas envolventes ao falar sobre a cena de um crime e propôr exercícios simples e criativos para os estudantes de jornalismo.  Ele imitava, de maneira cômica, situações grotescas de assassinato, mas com uma leveza única em suas palavras, digna de uma boa piada.

Repórter por 30 anos, entre 1960 e 1990, ele esteve nas grandes reportagens policiais da Folha de S.Paulo dirigida por Cláudio Abramo, em plena ditadura militar, e ainda fez uma grande carreira no Jornal da Tarde, tratando de crimes que as autoridades não conseguiram solucionar.

Flosi então concentrou toda essa história como jornalista no livro Por trás da notícia, lançado neste mês nas livrarias. O profissional não só transcreve e comenta as 15 melhores reportagens de sua carreira, mas traz textos totalmente inéditos, falando de jornalismo e dos bastidores de cada texto, enfatizando seus erros, acertos e aprendizados na apuração. É uma obra resumida, com referências claras e simples de ler, sem palavras desnecessárias. O livro nasceu como uma pesquisa no Centro Interdisciplinar de Pesquisa (CIP), da Cásper Líbero.

Entre as matérias, Edson Flosi relata o caso de Cícero Yajima, que foi encontrado morto em um carro modelo Maverick em 76. O caso não concluiu se o dentista se matou por uma desilusão amorosa ou se ele foi assassinato por sua amante. Flosi também desenrola detalhes sobre a luta armada do revolucionário da ALN Carlos Maringhela, que revela o envolvimento de Aloysio Nunes, senador hoje do PSDB. O repórter também fala dos guerrilheiros do PCdoB que receberam treinamento na China em plena ditadura militar. E, em seu olhar, sem arrependimentos, Flosi acredita que não facilitou nem o trabalho da polícia, mas sim o dos revolucionários com as informações das autoridades.

O livro vale para que os jovens repórteres, e até os experientes, reflitam na maneira de apurar reportagens do cotidiano junto com autoridades e até com a própria polícia. Edson Flosi acreditava em seu próprio trabalho, mas muitas passagens do livro mostram que existem situações em que a ética jornalista não é nada clara. Situações em que você pode, claramente, ajudar as autoridades a cometer injustiças, incluindo o extermínio de ativistas políticos.

Flosi fala de jornalismo literário, logo no começo do texto. Mas o que fica mais claro, em suas reportagens, é que a riqueza de seu repertório veio de horas na rua, junto com as pessoas, aprendendo o jornalismo no dia a dia. E é dessa maneira que ele virou professor e advogado nos dias de hoje, trazendo os conhecimentos únicos que ele adquiriu naquela época.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo,

Não entendi quando vc fala sobre a ética jornalística. Na reportagem sobre os jovens que foram à China fazer treinamento guerrilheiro? Está claro no texto que tudo o que foi publicado já era de conhecimento da polícia - mas não dos guerrilheiros. Ou seja: publicar as informações ajudou a protegê-los, e não o contrário.

Pedro Zambarda disse...

Obrigado pelo toque. Foi um erro de checagem. Obviamente o Flosi disse que ajudou os revolucionários com informações da polícia.

Mesmo assim, acredito que o livro lida com essa parte delicada da ética, que pode ajudar, infelizmente, as autoridades a cometer injustiças.

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