O show já rolou há algum tempo. No dia 12 de outubro, dia das crianças, o estádio do Morumbi encheu para ouvir um mito da música e um ícone da guitarra elétrica. O show do astro Eric Clapton foi pontual, caprichado, entusiasmado e comportado. Mas as surpresas da noite não ficaram somente no guitar hero do rock e do blues.
As cadeiras deixaram clara que a atmosfera da apresentação para toda a família. Todos os presentes estavam tranquilamente esperando o começo do show, mesmo com uma garoa fraca e meio fria que caía no dia. As pessoas, então, foram surpreendidas pelos acordes distorcidos e sujos de Gary Clark Jr., um guitarrista negro que é revelação nos Estados Unidos.
Tocando os sucessos de seu EP de 2011, The Bright Lights, o músico abusou do seu vocal potente e aveludado, enquanto os solos de guitarra elétrica faziam as pessoas dançarem e entrarem no transe de sua música. Arrisco dizer: Muitos ali, naquela noite, acharam mais surpreendente o músico negro que ninguém conhecia e que contagiou todos imediatamente com suas notas pesadas.
Assim como a explosão de seu instrumental distorcido, Gary Clark cantou lentamente as letras de suas composições, acreditando que o público entenderia seu conteúdo. A sintonia, no final de seu show, era tanta que o final foi brusco. Ele fez um espetáculo de blues sentimental, sentindo cada nota de sua guitarra e provocando o público.
Do mesmo jeito rápido e simples, Eric Clapton entrou no palco. Wonderful Tonight fez os ouvintes nostálgicos dos anos 80 vibrarem com cada nota do solo. Layla foi executada com o músico sentado, em um blues elétrico contagiante. Old Love trouxe o swing e fez Clapton andar no palco. As cantoras de suporte vocal exibiam força e vivacidade em sua performance, além das danças calmas e performáticas. Com tudo isso, Clapton fez um show perfeito? Tecnicamente sim, mas com menos sentimento se comparado a Gary Clark.
Clapton não exibiu sorrisos. Não fez muita coisa além do protocolar: Jogar clássico atrás de clássico para os fãs. Com toda a sua timidez e perfil discreto, surpreendeu menos. No entanto, ao tocarem em comunhão a clássica Crossroads, música de Robert Johnson, Eric Clapton e Gary Clark Jr. igualaram seus dons nas seis cordas, em um dueto repleto de companheirismo. Dizem que Clapton é um "deus da guitarra". Naquela noite, deus e seu pupilo mortal do blues estavam mostrando diferentes faces de belas músicas clássicas.