quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O mito do rock e a surpresa do blues - Eric Clapton e Gary Clark Jr. em São Paulo



O show já rolou há algum tempo. No dia 12 de outubro, dia das crianças, o estádio do Morumbi encheu para ouvir um mito da música e um ícone da guitarra elétrica. O show do astro Eric Clapton foi pontual, caprichado, entusiasmado e comportado. Mas as surpresas da noite não ficaram somente no guitar hero do rock e do blues.

As cadeiras deixaram clara que a atmosfera da apresentação para toda a família. Todos os presentes estavam tranquilamente esperando o começo do show, mesmo com uma garoa fraca e meio fria que caía no dia. As pessoas, então, foram surpreendidas pelos acordes distorcidos e sujos de Gary Clark Jr., um guitarrista negro que é revelação nos Estados Unidos.

Tocando os sucessos de seu EP de 2011, The Bright Lights, o músico abusou do seu vocal potente e aveludado, enquanto os solos de guitarra elétrica faziam as pessoas dançarem e entrarem no transe de sua música. Arrisco dizer: Muitos ali, naquela noite, acharam mais surpreendente o músico negro que ninguém conhecia e que contagiou todos imediatamente com suas notas pesadas.

Assim como a explosão de seu instrumental distorcido, Gary Clark cantou lentamente as letras de suas composições, acreditando que o público entenderia seu conteúdo. A sintonia, no final de seu show, era tanta que o final foi brusco. Ele fez um espetáculo de blues sentimental, sentindo cada nota de sua guitarra e provocando o público.

Do mesmo jeito rápido e simples, Eric Clapton entrou no palco. Wonderful Tonight fez os ouvintes nostálgicos dos anos 80 vibrarem com cada nota do solo. Layla foi executada com o músico sentado, em um blues elétrico contagiante. Old Love trouxe o swing e fez Clapton andar no palco. As cantoras de suporte vocal exibiam força e vivacidade em sua performance, além das danças calmas e performáticas. Com tudo isso, Clapton fez um show perfeito? Tecnicamente sim, mas com menos sentimento se comparado a Gary Clark.

Clapton não exibiu sorrisos. Não fez muita coisa além do protocolar: Jogar clássico atrás de clássico para os fãs. Com toda a sua timidez e perfil discreto, surpreendeu menos. No entanto, ao tocarem em comunhão a clássica Crossroads, música de Robert Johnson, Eric Clapton e Gary Clark Jr. igualaram seus dons nas seis cordas, em um dueto repleto de companheirismo. Dizem que Clapton é um "deus da guitarra". Naquela noite, deus e seu pupilo mortal do blues estavam mostrando diferentes faces de belas músicas clássicas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O real sentido do automobilismo



Poucos clichês são mais usados que o “lembro-me como se fosse ontem”, mas neste caso ele é válido. Era a manhã de 1º de maio de 1994. E você, como eu, sabe o que aconteceu. Sabe o que estava fazendo. Talvez até saiba qual foi a sua reação. Eu sei qual foi a minha, qual foi a do meu pai que estava ao meu lado. Afinal, era a morte de Ayrton Senna.

Ao contrário de muitos, a morte de Senna foi meu segundo contato com a morte em um esporte que eu estava aprendendo a amar. O primeiro veio no dia anterior, com o acidente fatal de Roland Ratzenberger no treino classificatório para fatídica prova de domingo. Ainda não entendia aquilo, e me choquei com as cenas da desesperada tentativa de socorro a Ratzenberger. Com Senna, veio o choque de realidade.

Em 1999, com 11 anos, já entendia muito bem a morte, e já amando este esporte vi o pior acidente que minha memória consegue buscar: Greg Moore perdendo a vida em um violento choque contra o muro interno de um oval, na Fórmula Indy. E então, no último domingo, a morte no automobilismo voltou a me chocar com o acidente de Dan Wheldon.

Por que competir em um esporte onde o risco de morte é tão inerente? Ou melhor, por que amar este esporte, que a primeira vista parece tão frio, distante e até, por que não, monótono? Desde domingo me pergunto a mesma coisa enquanto acompanho as consequências da morte de um grande piloto, embora pouco conhecido por aqui. E um polêmico texto publicado por André Forastieri me trouxe a resposta. Forastieri, que nunca escreveu sobre automobilismo, mas que praticamente introduziu o “jornalismo nerd” no Brasil, reflete o ponto de vista de grande parte das pessoas e conclui, já no título, que o “sentido do automobilismo é a morte”.

Seria fácil apenas afirmar que ele é um jornalista de blog a procura de pageviews, aproveitando-se de um assunto do momento e escrevendo algo polêmico. O difícil é entender as razões de seu texto e encontrar argumentos para contrariá-lo. Afinal, poucos esportes parecem ter qualquer sentido e praticar um onde seu destino final pode ser o choque com um muro de concreto a 300 km/h parece mais sem sentido ainda. Mas quer saber? Argumentos racionais não iriam funcionar. E o sentido para isto, ao menos pra mim, pode ser encontrado justamente naqueles que perderam suas vidas neste esporte.

Senna, que apesar de poucos lembrarem era apenas um homem e não um mito, uma vez disse que tinha muito medo de morrer. Mas que no momento que estava em um carro, o medo passava, e tudo que ele queria era vencer. E esta frase já foi dita ao menos uma vez por todos os grandes pilotos: a vontade de vencer simplesmente subjulga o medo da morte. Mas novamente, é fácil falar isto, mas tentar entender, para nós mortais que trabalhamos 8 horas por dia em algo sem qualquer tipo de risco, parece quase impossível.

Michael Schumacher já afirmou que em certos momentos se sentia flutuando na pista. Ou seja, que ele e o carro eram como uma única coisa. Senna já disse que em Mônaco entrava em transe, transportado para seu próprio mundo enquanto pilotava nas estreitas ruas do Principado. Se tais declarações eram marketing na tentativa se forjar como mito é irrelevante, mas retratam perfeitamente o sentido deste esporte: não se tornar uma extensão da máquina, como muitos dizem. Mas sim tornar a máquina a extensão de si mesmo.

Sempre foi assim, e por isso o homem se apaixonou tão fortemente pelo carro desde sua invenção. Por isso que para alguns, pilotar e vencer é tão básico quanto respirar. Estúpido? Talvez...provavelmente. Assim como boa parte de tudo que nós achamos fascinante. Por isso que Sennas, Moores e Wheldons faziam o que faziam. Não por um desejo suicida de adrenalina, como afirmou Forastieri, mas por tentar alcançar algo a mais. Algo que nós, normais, não entendemos.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Um jornalismo dos Sem-Luz

A colaboradora Lidia Zuin fez um texto opinativo sobre ensino superior, jornalismo e carreira. Para os estudantes de comunicação e curiosos sobre a área, o texto vale por seu teor crítico. Para quem está iludido ou desiludido com sua trajetória em um curso de graduação, a leitura é válida, especialmente num momento de crise pessoal.

O texto está reproduzido na íntegra, logo abaixo.


Um jornalismo dos Sem-Luz
Por Lidia Zuin

Muitos prestam vestibular para a graduação em Jornalismo na fé de que são bons escritores, exímios articulistas e germes da revolução. Outros simplesmente cursam, uns desistem e migram para áreas completamente distintas. Logo no primeiro ano, alguns professores já confidenciavam: “Sei quem será e quem não será jornalista”. E os pupilos passam semestres tentando adivinhar o que é a tal profissão para a qual estão se preparando.

Nos primeiros trabalhos, entrevistam a mãe analfabeta acerca da nova gramática, presenteando-a com o aposto de lingüista. Mais tarde, passam a obedecer às regras do lead e do limite de caracteres, começando a se preocupar com o primeiro estágio. Alguns se tornam Isaías Caminha de assessorias de imprensa, mais tarde passam a revisar textos de uma revista mensal qualquer e aí, de repente, conseguem publicar uma nota sobre celebridades assinando como “A Redação”.

Com o tempo, o equilíbrio faculdade-estágio vai se perdendo e o trabalho passa a se sobressair, tornando as presenças nas aulas cada vez mais raras e o interesse quase extinto. Isso acontece também porque alguns professores, que geralmente também atuam como jornalistas, estimulam precocemente a entrada do aluno no mercado de trabalho, mesmo que isso signifique um pontapé no traseiro daquele que ainda não está necessariamente pronto. Trata-se de um aluno: um alumni, um “sem luz”. Ou seja, o resultado é que o ânimo é podado por cargos que não exploram suas qualidades e as ilusões são perdidas conforme se faz uma autópsia da prática jornalística. Calejados, muitos chegam bufando à faculdade e se perguntam: “Já fiz isso milhares de vezes no trabalho, o que estou fazendo aqui?”

E o ensino segue defasado, enfadonho e desastroso porque, paradoxal e tragicomicamente, muitos educadores não estão preocupados em lecionar, mas em formar operários de redação. Relatos como “Back to School”, publicado no blog da revista Piauí, não são nenhum escândalo ou novidade àqueles alunos que chegam sempre rastejantes e atrasados. Talvez estejam cansados da mesmice das aulas, talvez tenham feito plantão na madrugada anterior. Como disse uma universitária nessa situação: “Tenho que pagar o aluguel”. Trabalhar é preciso, preparar-se não.

Esse desencanto também não é surpresa para os professores que freqüentemente encontram a sala parcial ou completamente vazia. E isso é grave. Porque seus alunos certamente estão interessados em garantir suas presenças, para então possuir um diploma e poder exercer livremente seus cargos de estagiário efetivado. Não é necessário aprender. Isso, aliás, nem é mais interessante. Mesmo oferecendo palestras complementares, as instituições de ensino não estimulam a aquisição de conhecimento, mas a garantia de presenças e de nota. O ensino se torna uma pedra no meio do caminho do foca que quer seguir em paz seu rumo ao topo da carreira. Com a desvalorização do diploma em Jornalismo, o pedregulho se torna uma cordilheira rochosa.

Enquanto o ensino em jornalismo se mantiver como uma tortura, a mídia continuará a ser medíocre, porque os profissionais que a compõem não serão capazes de melhorá-la sem possuir uma base intelectual que fuja da tecnicidade da prática jornalística. Disciplinas como sociologia, antropologia, teoria da comunicação, história, filosofia e tantas outras pertencentes à área das humanidades colaboram não somente com a formação de um melhor profissional como de um homem. Aquele que dominar tais conhecimentos estará preparado para lidar com seus semelhantes, não os subjugando à condição de objetos ou de seres alienígenas com suas visões condicionadas pelo cabresto do dualismo. Não basta ao jornalista encontrar as melhores fontes se ele não estiver pronto para beber delas.

Morre Muammar Gaddafi, nas mãos do Comitê de Transição Líbio


Morreu hoje, depois de ficar quase 42 anos no poder, o "irmão líder" Muammar Gaddafi. Ditador na Líbia, seu governo entrou em crise com a onda de revoltas no mundo árabe, desde fevereiro deste ano.

Gaddafi foi morto com um tiro na cabeça, enquanto fugia em um comboio da cidade de Sirte, sua terra natal. Ele estava desaparecido desde quando os rebeldes do Comitê de Transição Líbio (CNT) assumiu a capital do país, Trípoli.

O nome do ex-ditador possuía cerca de 112 grafias diferentes. Para conferir esse problema nas traduções de notícias, clique aqui.

sábado, 15 de outubro de 2011

A dúvida como base do pensamento, segundo Kierkegaard


O dinamarquês Søren Kierkegaard foi um dos maiores pensadores de teologia e um católico religioso fervoroso. Mesmo com textos voltados, quase todos, para a espiritualidade, é um erro encaixá-lo como um pensador conservador ou retrógrado. Ele foi responsável, no começo do século XIX, por introduzir a filosofia existencialista, que valoriza o conhecimento subjetivo, complexo, no lugar de uma compreensão superficial e rasa.

Em É preciso duvidar de tudo, um texto inacabado curto (cerca de 100 páginas), que foi escrito entre 1841 e 1842, Kierkegaard cria uma ficção e não escreve um tratado filosófico nem pedante e nem rigorosamente elaborado. Sua intenção é fazer filosofia, mas ele conta, de maneira leve, seus princípios através de um protagonista chamado Johannes Climacus.

Johannes é um estudante recluso e misântropo que passa a refletir sobre como é o pensamento em seus dias. Ele leu os clássicos, mas ele repara que pensadores modernos trazem teorias mais múltiplas. E, em todos esses autores novos e no seu próprio pensamento, ele encontra um ponto em comum: A dúvida.

Kierkegaard trabalha a dúvida que faz relação, a dúvida construtiva, que busca construir aproximações entre elementos diferentes na vida das pessoas. Não é a dúvida por simplesmente discordar, mas sim um elemento que faz parte ser homem, de falar e de se comunicar.

"A imediatidade é a realidade, a linguagem é a idealidade, a consciência é a contradição (...). A possibilidade da dúvida situa-se na consciência", diz o autor, através de seu personagem. O pensamento duvidoso se torna fonte para as afirmações.

Climacus pensa muito sobre a modernidade, mas estabelece padrões que temos para ter curiosidade em aprender novos conhecimentos. Para o personagem literário e filosófico, existe um paradoxo mental ao pensar por nós mesmos. O livro aponta que não é possível imaginar de maneira coerente sem nenhum questionamento. Duvidando ou não das teses de Kierkegaard, esse livro é uma pérola universal entre todas as suas obras, religiosas ou não.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Steve Jobs em quatro revoluções na Apple

Para relembrar o ex-CEO da Apple, Steve Jobs, que faleceu no dia 5 de outubro, selecionamos quatro vídeos de suas revoluções na empresa. Nas apresentações, é possível ver a desenvoltura do executivo ao apresentar gadgets inovadores no universo tecnológico.

As boas homenagens à vida de Steve Jobs

Veja as boas homenagens que os sites brasileiros fizeram ao que foi a vida e a morte de Steve Jobs, ex-presidente da Apple e um dos marketeiros mais inovadores da informática:



Pessoal do Nerdcast fez um programa sem risadas, sem "lambda, lambda, lambda" na abertura e com muita informação pessoal sobre a influência do tabalho de Jobs em suas vidas. Vale cada segundo ouvido no podcast (audiocast).


O Rapaduracast não gravou um programa de audio, mas recomendou seu cast sobre a história da Pixar. E fez uma pequena homenagem que pode ser lida aqui.


O UOL, assim como a maioria dos portais de notícias da web, reproduziu um discurso de Jobs na Universidade de Stanford, em 2005. Vale por cada minuto.

Steve Paul Jobs faleceu aos 56 anos



Steven Paul Jobs morreu junto com sua família no dia 5 de outubro de 2011, aos 56 anos. A informação foi divulgada pelo próprio site da Apple, que publicou uma foto com sua data de nascimento e morte (segunda foto). Essa foi a notícia da semana, que ecoará por décadas, tanto por sua história quanto pelo seu legado  na criação de empresas inovadoras, como Apple, NeXT e Pixar.

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