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segunda-feira, 14 de abril de 2014

USP discute: O que Filosofia tem a ver com Jornalismo?

Uma determinada área discute diversas questões relacionadas aos conhecimentos humanos. A outra área lida também diferentes conhecimentos, mas não aprofunda sua pesquisa. Uma é filosofia. E a outra é o jornalismo. Elas tem pontos em comum? Isso vai ser discutido na Universidade de São Paulo (USP), no dia 16 de abril (quarta-feira), na Tenda Cultural Ortega y Gasset, Rua do Alfiteatro.



O 1º Colóquio de Filosofia e Jornalismo propõe explorar os pontos em que se cruzam ou se afastam essas duas disciplinas, com oficinas e um ciclo de debates com especialistas. A organização está com o estudante de filosofia da FFLCH-USP e jornalista Duanne Ribeiro.

Confira a agenda do evento abaixo.

16 abril_ qua_ 14h às 22h
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Visão crítica da mídia_ 14h às 15h30

Dimas Antônio Künsch_ doutor em Ciências da Comunicação. Professor de jornalismo da faculdade Cásper Líbero, onde coordena o programa de Mestrado em Comunicação.

Daysi Bregantini_ editora e diretora responsável pela revista Cult.

Urbano Nobre Nojosa_ doutorando em Filosofia pela Unicamp. Professor no curso de Comunicação e Multimeios da PUC-SP.
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Oficina redação jornalística_ 15h30 às 17h 

Gerson Moreira Lima_ doutor em Ciências da Comunicação pela USP, jornalista e professor.
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Filósofo + jornalista: foucault_ 17h às 17h40 

André Paes Leme_ bacharel e licenciado em filosofia pela FFLCH/USP, onde é mestrando e realiza pesquisa na área de Estética.
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Papel do intelectual público_ 17h40 às 19h

Marcia Tiburi_ doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Autora de vários livros na área, professora e colunista da revista Cult.

Bruno Paes Manso_ doutor em Ciências Políticas pela USP. É autor do livro O Homem X - Uma reportagem sobre a alma do assassino em SP (Prêmio Vladimir Herzog de melhor livro reportagem de 2006).
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Filosofia do jornalismo_ 19h30 às 20h30 

Martim Vasques da Cunha_ escritor, jornalista, doutorando em Ética e Filosofia Politica pela USP, autor do livro "Crise e Utopia: O dilema de Thomas More" e colaborador do jornal Rascunho.

Andrés Bruzzone_ doutorando em Filosofia da Comunicação pela USP, jornalista, editor e publisher. 
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Oficina redação filosófica_ 20h30 às 22h 

Ricardo Fabbrini_ doutor em Filosofia pela USP. Professor-doutor dessa universidade, compõe o corpo editorial de revistas acadêmicas da Unesp, da PUC-SP e da UNB.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Por que fazer uma graduação em Filosofia?

Desde 2010, eu faço um curso de graduação em Filosofia na Universidade de São Paulo (USP). Ao chegar no quarto ano do curso, resolvi tentar responder uma pergunta: Por que você deveria estudar isso? Tentei não dar respostas muito óbvias, como parecer inteligente, escrever de forma prolixa ou entender o sentido da vida. Estes são argumentos (bem) superficiais.

Foto: Réplica da escultura "O Pensador", de Auguste Rodin, em Berlim. Autora: Andréa Lagareiro
Filosofia não dá dinheiro, filosofia geralmente é um conhecimento utilizado para formar professores de filosofia e, em casos de sucesso e bem raros, filosofia pode ser assunto de livros que são sucesso de crítica (e não de vendas). A notoriedade de um pensador normalmente acontece depois de sua morte.

Saindo dessas superficialidades, seguem 10 bons motivos para estudar filosofia.

1. Estudar filosofia é entender o começo da ciência, da cultura e do conhecimento. Quem estuda os pensadores, entra em contato com literatura, física, biologia, matemática e as diferentes abordagens para absorver informações - Ler os textos de Galileu Galilei ajuda a entender mecânica básica da física, enquanto René Descartes esclarece o papel das matemáticas em suas Meditações. Voltaire traz os textos de folhetins e dos jornais da imprensa revolucionária francesa. Aristóteles lida com os princípios da biologia. Ludwig Wittgenstein eleva o papel da linguagem para conhecer qualquer coisa.

2. Filosofia contribui para conectar diferentes conhecimentos - A ontologia (palavra que deriva dos termos gregos "ontos", que significa ser, e "logos", estudo) é o assunto principal de qualquer filósofo. Nesse aspecto, a filosofia se aproxima bastante do jornalismo e da comunicação como um todo. Ela lida com diferentes conhecimentos conectados. Ela tem como objeto de estudo o ser humano. E ele não se conhece apenas por números, por linguagem ou apenas pela ciência pura.

3. As ideias contribuem para acontecimentos práticos - Os socráticos, na Grécia, transformaram o pensamento mitológico em racionalidade e em conhecimentos científicos. Os estoicos, em Roma, prepararam o império para a decadência. Os iluministas traduziram os ideias da Revolução Francesa, que decapitou a realeza e até mesmo os próprios revoltados. Hoje há filósofos que pensam os limites da ciência e da extrema especialização, como Edgar Morin em Paris. A filosofia também se traduz em ideologias políticas e econômicas, como Adam Smith, no liberalismo capitalista inglês, e Karl Marx, na esquerda alemã.

4. A filosofia te ensina a pensar criticamente e a reproduzir as principais ideias históricas - Para que você tenha propriedade ao questionar a forma como a sua sociedade se comporta, é fundamental ler e depurar os autores que influenciaram gerações de outros pensadores, cientistas e figuras importantes da história. A filosofia nem sempre se comporta de forma linear e cronológica, mas influencia toda a humanidade, de uma forma ou de outra.

5. Filosofia te ensina o valor do sofrimento e das lições cotidianas - Os pensadores traduzem muitas de suas ideias em passagens de suas próprias biografias. No entanto, nenhum deles ensina a ser feliz, como alguns autores de autoajuda pregam. Mesmo assim, as histórias pessoais dessas pessoas acabam contribuindo para conhecimentos práticos da vida.

6. Filosofia mostra, claramente, que o conhecimento não é algo definitivo - Por ser mãe da ciência, e mais antiga do que ela própria, a filosofia prova que pensar não é definir as coisas de maneira fechada. As ideias estão em constante reforma e é por este motivo que ela floresce no ambiente acadêmico, às vezes transbordando para fora dele.

7. Estudar filosofia é, primordialmente, aprender a ler - E, para ler corretamente os autores, os professores deste tipo de curso passam anos depurando os diferentes vocabulários dos pensadores. Dar aulas de filosofia não significa simplesmente resumir livros, mas muitas vezes consiste em fazer leituras coletivas nas salas de aula.

8. Filosofia pode nos ajudar a pensar de maneira mais simples - Ao lidar com questões complexas elaboradas por livros filosóficos, você aprende que sua vida é muito diferente daqueles pensadores. No entanto, mesmo com essas diferenças, conseguimos enxergar suas ideias presentes em fatos mais banais. Com novas referências adquiridas dos conhecimentos filosóficos, conseguimos separar o que é importante. Nos tornamos mais simples, em determinados aspectos.

9. Filosofia é, acima de tudo, um exercício mental - Pensar filosoficamente contribui para que você não fique acomodado. Pensar de forma aprofundada acaba sendo, um pouco, pensar contra você mesmo. Você consegue calejar suas ideias ao praticar a filosofia. E isso é saudável.

10. A boa filosofia é um bom exercício de humildade - Filósofos que pensam nos limites do ser humano, no desespero, na dor e na morte nos fazem entender que o homem precisa de muito pouco para viver bem e até de maneira saudável. Por esse motivo, as boas ideias acabam sendo um exercício de humildade, que nos livra dos pensamentos mais fúteis, tanto do ponto de vista consumista quanto do ponto de vista do egoísmo puro.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Os textos na grande imprensa sobre o centenário de Albert Camus

Publicações que combateram Camus em vida, como o Le Figaro, e jornais americanos e brasileiros prestaram homenagens ao Nobel franco-argelino. O centenário de Albert Camus é hoje e muitos veículos de imprensa ressaltaram seu legado cultural, literário, filosófico e até político, sobretudo na crítica da esquerda. Foi uma vida de 46 anos dedicada à intelectualidade.


(Albert Camus, conflitos autorais deploráveis de uma celebração)

(Centenário do nascimento de Albert Camus: Uma homenagem limitada devido às polêmicas)

(O centenário de Albert Camus ocorre sem homenagem oficial)

(Sísifo, o homem feliz que nos lembra Albert Camus)

(Albert camus: Autorretrato do homem que buscava a felicidade)

(Albert Camus, filosofia de um espontâneo)

Los Angeles Times - Albert Camus -- forever modern
(Albert Camus - Moderno pra sempre)

(Sete fatos que você não sabe sobre Albert Camus)

(Albert Camus: Centenário segue sem muitas honrarias em seu lar)

(Quão absurdo: O mundo como Albert Camus enxergava)





Observatório da Imprensa (Via O Globo) - Camus e a busca por um jornalismo crítico e independente

O Estado de S.Paulo - O homem deprimido

Albert Camus completa 100 anos hoje

"Em 8 de novembro ele [Lucien Camus] se apresenta na prefeitura [de Mondovi, atual Dréan, na Argélia] com duas testemunhas e declara o nascimento de seu segundo filho, no dia 7. Um só nome, Albert. Na época, de cada 40 franceses um se chama Albert. Camus Albert consta no registro entre dois muçulmanos, Khadidja (gerânio). A primeira testemunha, Piro Jean, diz-se comerciante. Nascido na Sardenha, seria, antes, hortelão. A segunda, Frendo Salvatore, nativo de Mondovi, declara-se empregado. Ele entrega sêmola e massas para o merceeiro Zamathé. Lucien Camus, esclarece o registro, é de 'origem francesa'".

De Olivier Todd, jornalista com passagem pelas publicações Nouvel Observateur e L'Express. Autor da biografia Albert Camus, Uma Vida, lançada em 1996.


Albert Camus nasceu no dia 7 de novembro de 1913, exatamente há 100 anos atrás. O horário preciso não consta nos registros, mas ele nasceu no seio de uma família de classe média baixa argelina, de origem na França. Lucien, seu pai, era descendente dos primeiros colonizadores da Argélia, trabalhava no cultivo e na colheita de uva para fazer vinho. Foi convocado para servir como militar na Primeira Guerra Mundial. Morreu no dia 11 de outubro de 1914 metralhado por uma arma Maxim, antes do filho Albert completar um ano.


Catherine Helène Sintès-Camus, a mãe, cria os filhos Lucien e Camus ao silêncio, sob a supervisão austera da avó materna também chamada Catherine. A mãe é empregada doméstica e analfabeta. Meio surda, também. As duas mulheres transformam-se em personagens nos livros de Albert Camus, por viverem a decadência e a pobreza de uma vida menos abastada na Argélia, a colônia da França.


O irmão mais velho Lucien torna-se contador. Ele vai estudar Filosofia em Argel, na capital, e desenvolve um excelente dom para textos. No entanto, vive sob pressão do pouco financiamento e envereda para a imprensa. Escreve no Sud, no Alger Étudiant [Argel estudantil], teve uma coluna de discos no La Presse Libre [A imprensa livre] e no Alger Republicain, onde consegue maior repercussão em 1938. Casa-se com Simone Hié em 16 de junho de 1934. Divorcia-se no ano seguinte, por infidelidades conjugais. Ela era viciada em morfina. "Tento fazer jornalismo para continuar minha licenciatura. Estou tão cansado, tão arrebentado. Sentimo-nos envelhecer, aos 20 anos. Bem sei que, se estou sofrendo, estou vivendo plenamente. Sei que o sublime não se separa do trágico, mas às vezes o trágico se sepra do sublime: Quando ele nos aperta demais", diz o escritor e pensador, na época.


Ingressou no Partido Comunista Argelino e depois no Francês, iniciando sua educação política de esquerda no ensino superior. Era apaixonado por futebol e era fumante compulsivo. O governo da República de Vichy, de Paris, se alinha aos alemães nazistas contra a União Soviética, fortalecendo o engajamento de oposição dos intelectuais politizados que não faziam parte da gestão. Camus entra nessa disputa política na capital da França, mesmo sendo um franco-argelino pé-preto (pied-noir). Trabalha brevemente no Soir-Republicain, em 1939.


O passaporte de Camus para Paris, em meados de 1940, é um período de experiência na redação do Paris-Soir, que imprime até um milhão de exemplares. Vive um exílio forçado e politicamente voluntário na França, distante da mãe e cada vez mais engajado nos assuntos da guerra. Escreve O Estrangeiro, o livro que viria a se tornar sua maior obra escrita. Casa-se com Francine Faure, uma pianista e matemática fã de Bach.


Estrangeiro é publicado em 1942 e custa 25 francos. Narra um protagonista que vive o presente, sem ligações com seu passado e futuro. Esse personagem comete um assassinato e não consegue justificá-lo para os demais. Ele é a figuração do conceito de absurdo, que seria abordado em ensaios e reflexões filosóficas de Camus. Os editores Michel e Gaston Gallimard divulgam Albert Camus na França. O melhor resenhista de sua obra é Jean-Paul Sartre, que o apresenta para o círculo de intelectuais parisiense. Sartre é a ponte para Camus da subdesenvolvida Argélia para a potência francesa.


Junto com Pascal Pia, seu antigo editor, Albert torna-se redator-chefe do Combat, em 1944, escrevendo textos opinativos e descritivos sobre o front de combate na Segunda Guerra Mundial. É o ápice de seu engajamento político, amizade com Sartre e exercício literário simultâneo ao trabalho de jornalista. Ele tem 31 anos. O livro O Mito de Sísifo o transforma praticamente em um filósofo, embora ele mesmo negue o rótulo, apesar de sua formação universitária.


Pia fica admirado pela escrita corajosa de Camus, lendo os editoriais em voz alta. O franco-argelino traz um tom crítico quando os americanos jogam bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, mas manifesta pesar pela morte do presidente Franklin Roosevelt. O jornal transforma-se na voz da Resistência Francesa, de esquerda, em oposição ao Le Figaro, conservador, e ao Défense de la France, sensacionalista.


Resume os males da guerra global na obra de ficção A Peste (1947), que foi terminada com muitos conflitos internos. Deixa também o Combat. Vive um período conturbado em sua amizade com Sartre. O amigo francês vai apoiar a URSS de Stalin. Ele sente os excessos do bloco comunista, mas não se alia aos capitalistas. Começa a esboçar o livro O Homem Revoltado. O Paris-Soir lança o sensacionalista Paris-Match em 1949. A imprensa deixa, aos poucos, seu lado intelectual e se torna fortemente comercial, o que o desagrada profundamente. Visita o Brasil, tanto Rio de Janeiro quanto São Paulo. Dá uma entrevista coletiva com a presença de Cláudio Abramo, o diretor do jornal O Estado de S.Paulo.

O ensaio sobre a revolta traz ideias suicidas até Camus, que transforma questões pessoais em fundamentos de sua análise. Uma carta em seu livro O Homem Revoltado, lançado em 1951, menciona os "intelectuais burgueses que querem expiar suas origens", sem citar nominalmente Jean-Paul Sartre. O francês responde, lamentando a perda da amizade. A obra crítica de Albert Camus, sobre as falhas do engajamento comunista, é o estopim de uma separação. Os conflitos das Coreias, da Argélia e de outras questões geopolíticas da Guerra Fria aumentam a diferença entre Sartre, que divulgou Camus em Paris, e o franco-argelino vindo de um mundo subdesenvolvido.

Em 1955, Camus entra no jornal de centro-esquerda L'Express, que convive com a ascensão do comercial Le Monde. Mantém-se pacifista nas questões da independência da Argélia, sua terra natal, o que lhe custa novas inimizades. Sai da publicação em 1956. Em 57, ganha o Prêmio Nobel de Literatura por uma obra "notável num sentido idealista".

Escreve os rascunhos de O Primeiro Homem, livro inspirado em sua vida e com o personagem Jacques Cormery. Em 3 de janeiro de 1960, iria pegar um trem com a mulher Francine. Por insistência de Michel Gallimard, seu publisher, retorna para Paris de carro. Morre no dia 4, às 13h55, com o impacto na hora. Tinha 46 anos. Gallimard morreu cinco dias depois, no hospital. Bateram em uma árvore no acidente.

"A seus amigos, Camus dizia com frequência que nada era mais escandaloso do que a morte de um criança e nada mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel".

Trecho da biografia de Olivier Todd.

No Google francês e no espanhol, a empresa de tecnologia e buscas fez uma homenagem ao centenário de Camus com um logotipo estilizado e inspirado no livro O Mito de Sísifo. Veja o Doodle abaixo.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

Palestra vai abordar carreira jornalística de Albert Camus e filosofia moral

Farei uma palestra sobre minha iniciação científica iniciada na Faculdade Cásper Líbero, chamada O Jornalista Albert Camus, e abordarei tanto a imprensa clandestina francesa na Segunda Guerra Mundial quanto questões filosóficas sobre o tema. O evento será no dia 23 de agosto, às 19h30, na sala 110 da Faculdade de Filosofica, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). A palestra vai divulgar o jornal Discurso Sem Método, do CA do curso de Filosofia. Mais informações, abaixo:


segunda-feira, 29 de abril de 2013

O Discurso sem Método, o jornal da Filosofia da USP, entrega 700 exemplares em uma semana

Na primeira semana de abril, o jornal O Discurso sem Método, do curso de Filosofia da Universidade de São Paulo, conseguiu um feito para uma publicação universitária: Distribuiu 700 exemplares em apenas sete dias. Como um jornal feito inteiramente por estudantes do curso, ele cumpre seu propósito, sendo um espaço aberto de discussão política, de artes e de poesia, além de conter textos com parte dos conteúdos aplicados nas aulas pelos professores.


"Jornal a serviço da dúvida" está no seu terceiro número e reproduz na capa um quadro do artista Francisco Goya, chamado "O Sono da Razão produz monstros". A publicação vale a sua leitura e é disponibilizado de graça no departamento da FFLCH-USP.

Mais informações no site do jornal.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

O Discurso Sem Método - o jornal do curso de Filosofia da FFLCH-USP

Em 2012, alunos do curso de graduação na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) criaram o Jornal da Filosofia, que não possuía nome, mas já continha notícias, colunas de discussão sobre movimento estudantil, poesias, resenhas de livros e discos, além de cruzadinhas.


Agora, em 2013, o jornal passa a se chamar O Discurso Sem Método - e já possui blog, que você acessa aqui. O nome foi decidido em votação virtual e física pelos próprios alunos do curso. É uma iniciativa que atende as demandas específicas dos estudantes de Filosofia, que debatem livros que são destrinchados nas aulas, e também a necessidade de uma comunidade grande e complexa, como é a USP.

O jornal é semestral e tem apoio do Centro Acadêmico de Filosofia Professor João Cruz Costa, o CAF. O Discurso é mais uma publicação e uma iniciativa que cresce dentro do ensino superior no Brasil, sustentado e alimentado pelos maiores leitores e escritores responsáveis por seus textos e conteúdos: Os estudantes.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Vladimir Safatle e a experiência intelectual na USP

Ele é o colunista da Folha que tocava no assunto delicado da PM na USP nas terças-feiras. É o comentarista da TV Cultura que, diante das câmeras, mantinha a aura de indivíduo crítico na sociedade, mesmo acompanhado por vozes que discordavam de suas ideias.


Vladimir comparecia às aulas das noites de terça-feira sempre com um terno escuro. Em muitas semanas, ele utilizava uma gravata preta, com um visual parecido com os personagens de Quentin Tarantino no filme Cães de Aluguel. Suas aulas, desde março de 2012, eram rigorosamente registradas em texto e distribuída aos alunos. A fala na sala de aula era pausada e preenchida por preposições que remetiam ao rigor dos discursos que o professor ia abordar em sua palestra. Enquanto as palavras ecoavam, a sala com espaço para cerca de 200 alunos estava lotada e silenciosa.

Mesmo pausado em seu discurso, Vladimir Safatle trabalhava para aumentar sua voz nas palavras que marcam as teses de Gilles Deleuze, Félix Gattari e pensadores franceses do século 20. Pós-modernismo, univocidade e crítica eram termos recorrentes. "O que quero ensinar é que não existe pensamento ou pensador irracional. O que vocês vão aprender com Deleuze é que, com as leituras rigorosas, tudo é permitido para ser criado dentro da filosofia. Alguns pensadores tendem a chamar de irracional o que não compreendem".

De março até junho, as aulas de Vladimir Safatle não esvaziaram em quase nenhuma semana. O método de ensino pouco mudou na transição dentro do curso: Eventualmente o professor trouxe slides-shows, mas ele não se manteve nesse artifício. As aulas transcritas, ao invés de se tornarem uma leitura chata ao vivo, viraram um roteiro organizado do professor e dos alunos. As perguntas eram fortemente incentivadas.

Os alunos da USP perseguiam Vladimir pelos corredores, em conversas alongadas sobre as teses de Gilles Deleuze tanto em suas obras originais quanto nas monografias e estudos do autor francês sobre David Hume, Friedrich Nietzsche, Henri Bergson e Baruch Spinoza. Progressivamente, alguns estudantes notaram que Deleuze era uma metáfora sobre a própria condição daqueles que assistiam as aulas de Vladimir Safatle.

"Eu quero oferecer para vocês a experiência de formação intelectual, através das leituras de Deleuze como criação de suas próprias teses", explicou Vladimir, na última aula, justificando o curso e buscando algo além do que está dentro do Departamento de Filosofia da USP hoje. O professor citou um "vício" que existe dentro da universidade: Ler de maneira superficial as obras, sob a justificativa que a investigação das estruturas basta para entender o texto, sem tentar teses mais ousadas sobre a formação histórica e intelectual do pensador. "Filosofar é pensar contra si mesmo", afirmou o professor, mostrando a contradição que é estudar, sem aceitar as estruturas oferecidas pela escola.

Com todas as formalidades e sua organização, Vladimir Safatle deixou uma mensagem final aberta e rica com seus estudos: Ouse conectar as obras que normalmente estudamos para procurar significados novos e formadores de sua própria intelectualidade. Deleuze, segundo Vladimir, pegou emprestado o conceito de hábito em Hume, de intuição em Bergson, de eterno retorno em Nietzsche e de várias outras estruturas para criar uma crítica ordenada no livro O Anti-Édipo, além de conceitos originais em Diferença e Repetição. Vladimir então deixou sua mensagem neste semestre para os alunos da USP: Criar seus próprios Frankensteins, sem se curvar passivamente à análise estrutural imposta pela maioria dos cursos superiores e pela educação em si. Vladimir ia contra a normalidade do Departamento de  Filosofia.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Alain de Botton não é autoajuda



O filósofo e escritor Alain de Botton deu uma palestra hoje, na editora Abril, sobre seu último livro, Religião para Ateus, e sobre seus pensamentos acerca de questões cotidianas. Apesar de ser apegado a pensadores céticos como Nietzsche e Platão, Botton se mostra mais interessado em assuntos comuns da literatura contemporânea, como amor, vida e morte. No entanto, o intelectual mostra que sua abordagem nos livros é totalmente diferente dos clássicos estudos metafísicos.

"O mundo precisa de escritores que vão às ruas. Não jornalistas, mas escritores mesmo. Escritores que descrevem, não os que vão em busca de escândalos, como os jornais", defendeu o pensador. Questionado sobre os livros que faz sob encomenda, ele diz não liga para os pedidos, desde que sejam sobre assuntos que normalmente não são abordados.

Ao falar sobre livros e escritores, Botton falou sobre sua última obra e foi questionado sobre a arte como entretenimento. Para ele, infelizmente essa visão colabora para que as criações artísticas fiquem restritas para um consumo aparente de "mulheres descupadas, ricas e ociosas". Alain de Botton gostaria que o meio artístico e a cultura tivessem um papel de sagrado, antes ocupado pela religião. Para ele, a arte poderia ter esse poder de reconfortar diante das mazelas da vida.

Nesse ponto da palestra, fizeram a pergunta: "Você é um autor de autoajuda?". Botton não fugiu da questão. "Eu quero criar uma nova autoajuda. Não quero criar soluções fáceis. Não vou te ajudar, porque muitas coisas não têm solução. Quero repartir coisas".

Apesar de querer criar algo novo nesse gênero de leitura fácil, o autor, com formação em filosofia no Reino Unido, não parece nem um pouco com os best-sellers do gênero. "Há escritores de locais proibidos e exóticos, como a Amazônia e o Congo. Eles vão para lá e fazem descrições interessantes. Há escritores sobre o amor, que é um assunto abordado diversas vezes. Mas não há escritores sobre corporações. Não há escritores que falam sobre bancos. Esses são assuntos que você vê na rua da sua casa, não é algo inacessível".

Alain de Botton parece querer ser um autor desses assuntos acessíveis, mas pouco abordados. Prazeres e desprazeres do Trabalho, livro publicado pelo escritor em 2009, faz uma crítica sobre a forma como procedemos com o mercado nos dias de hoje. "Usamos o trabalho para combater a morte, achando que somos imortais", diz ele. E, como toda boa reflexão, ele quer mostrar que o dia a dia nos escritórios não precisam ser encarados dessa maneira. Como se fosse a única coisa essencial na vida.

O escritor nasceu no dia 20 de dezembro de 1969 em Zurique, na Suíça. Alain se formou em história em Cambridge, fez mestrado em filosofia no King's College e fez doutorado em filosofia francesa na Universidade de Londres. Ele é idealizador do projeto School of Life, empresa cultural que pretende reorganizar o conhecimento.

sábado, 15 de outubro de 2011

A dúvida como base do pensamento, segundo Kierkegaard


O dinamarquês Søren Kierkegaard foi um dos maiores pensadores de teologia e um católico religioso fervoroso. Mesmo com textos voltados, quase todos, para a espiritualidade, é um erro encaixá-lo como um pensador conservador ou retrógrado. Ele foi responsável, no começo do século XIX, por introduzir a filosofia existencialista, que valoriza o conhecimento subjetivo, complexo, no lugar de uma compreensão superficial e rasa.

Em É preciso duvidar de tudo, um texto inacabado curto (cerca de 100 páginas), que foi escrito entre 1841 e 1842, Kierkegaard cria uma ficção e não escreve um tratado filosófico nem pedante e nem rigorosamente elaborado. Sua intenção é fazer filosofia, mas ele conta, de maneira leve, seus princípios através de um protagonista chamado Johannes Climacus.

Johannes é um estudante recluso e misântropo que passa a refletir sobre como é o pensamento em seus dias. Ele leu os clássicos, mas ele repara que pensadores modernos trazem teorias mais múltiplas. E, em todos esses autores novos e no seu próprio pensamento, ele encontra um ponto em comum: A dúvida.

Kierkegaard trabalha a dúvida que faz relação, a dúvida construtiva, que busca construir aproximações entre elementos diferentes na vida das pessoas. Não é a dúvida por simplesmente discordar, mas sim um elemento que faz parte ser homem, de falar e de se comunicar.

"A imediatidade é a realidade, a linguagem é a idealidade, a consciência é a contradição (...). A possibilidade da dúvida situa-se na consciência", diz o autor, através de seu personagem. O pensamento duvidoso se torna fonte para as afirmações.

Climacus pensa muito sobre a modernidade, mas estabelece padrões que temos para ter curiosidade em aprender novos conhecimentos. Para o personagem literário e filosófico, existe um paradoxo mental ao pensar por nós mesmos. O livro aponta que não é possível imaginar de maneira coerente sem nenhum questionamento. Duvidando ou não das teses de Kierkegaard, esse livro é uma pérola universal entre todas as suas obras, religiosas ou não.

domingo, 1 de maio de 2011

A formação humanística do jornalismo segundo Voltaire


Texto publicado em 1765 para as grandes massas, Conselhos a um jornalista foi finalizado pelo filósofo e pensador Voltaire em 1737, na Holanda. Ao contrário da maioria dos intelectuais franceses - e indo na tendência do Iluminismo -, François-Marie Arouet "Voltaire" era a favor de uma linguagem acessível e até coloquial para defender seus argumento, ensaios e tratados que fizeram sucesso no século XVIII.

A obra, que não é tão reconhecida como Micrômegas, Cândido e outros livros, é a reunião de um texto sobre conselhos para jornalistas de sua época e artigos publicados no Jornal de política e de literatura e na Gazeta literária da Europa. A miscelânea é agradável de ler e não parece um texto de filosofia, embora Voltaire mostre um estudo profundo sobre o pensamento ocidental.

"Acima de tudo, ao expor opiniões, apoiando-as ou combatendo-as, evita palavras injuriosas que irritam um auditor e muitas vezes toda uma nação, sem esclarecer ninguém", afirma o pensador em seu texto, indicando a filosofia como um estudo das opiniões e das verdades históricas. Voltaire também recomenda o estudo aprofundado de história, comédia, tragédia, poemas, literatura geral e estilo. A formação humanística que o intelectual propõe é atual e razoável.

Embora Voltaire queira um jornalista que não abuse de opiniões maliciosas, suas resenhas sobre livros são repletas de ironias. Mesmo com esse teor, ele procura fundamentar todas as críticas negativas o que faz, com um comprometimento responsável ao escrever seus textos. Certamente, essa é uma capacidade que muitos jornalistas não possuem hoje. E que muitos não tinham em sua época.

A história, para Voltaire, é uma paixão natural do jornalismo, porque todos querem se encaixar nessa verdade que transpassa os tempos. O estudo de teatro, poesia e literatura é, para ele, o desenvolvimento da estética, do divertimento, do conhecimento e do humor. Ele não encara a formação do jornalismo como algo sisudo e chato, apenas baseado em fatos. Na descrição do mundo, a imprensa deve receber influência da cultura até mesmo para se corresponder melhor com seu público.

Mesmo para quem não gosta muito de filosofia, o livro é altamente recomendado. Reúne um intelectual sincero e suas opiniões sobre o papel dos jornalistas.

sábado, 3 de julho de 2010

Sobre Platão, música e matemática


O filósofo Platão pode ter antecipado em 2000 anos a revolução que Galileu Galilei causou na ciência em 1610.

Explico.

O acadêmico Jay Kennedy, da Universidade de Manchester, estudou por cinco anos as obras platônicas mais influentes no pensamento ocidental, entre elas A República. O pesquisador detectou frequencias harmônicas e desarmônicas nos manuscritos em grego. Esses indícios levam a concluir uma organização musical no texto, que pode ser derivada de uma ordenação matemática, uma herança de Pitágoras no pensamento de Platão.

Kennedy argumenta que essa ordenação é uma mensagem secreta que o discípulo de Sócrates pretendia passar. No contexto em que vivia, a Grécia era ainda dominada pelo pensamento mítico, que condenou seu mestre à morte. Uma obra escrita com uma estrutura matematizável é uma mensagem clara, segundo o pesquisador: o mundo é regido por números, não por deuses.

Galileu Galilei trouxe essa revolução na modernidade ao contestar a visão medieval do universo e, com experimentos do telescópio, provar a centralidade do Sol no lugar da Terra. Se o mundo matemático de Platão fosse revelado anteriormente, provavelmente outro físico teria chegado às revelações galileanas, segundo Kennedy. No entanto, o pensador grego optou por esconder a mensagem, visando sua própria sobrevivência em seu tempo, sob o domínio religioso.

Agradecimentos especiais aos grupo de discussão de Filosofia da Universidade de São Paulo, que me repassaram estas informações.

Fontes: BBC (em português) e artigos de J. Kennedy.

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