sábado, 30 de novembro de 2013

Estudantes de Filosofia da USP comentam prisões arbitrárias no campus

Inauê Taiguara Monteiro de Almeida e João Vitor Gonzaga foram presos na manhã do dia 12 de novembro de 2013, na reintegração de posse da reitoria da USP, sem estarem no local. As prisões ocorreram na Praça do Relógio, do mesmo campus. Inauê tinha cabelos longos e encaracolados, que foram raspados. Os dois passaram uma noite presos sob alegação de formação de quadrilha, sem provas concretas. Em público, os estudantes comentaram as prisões, acompanhados pelas professoras Tessa Moura Lacerda e Marilena Chauí. Vídeo está abaixo:




quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Barriga em jornalismo também é "business"

Por Júlio Ottoboni
Do Observatório da Imprensa, por Creative Commons.

Há diversos tipos de dor de barriga e elas podem ser provocadas pelas mais diferentes causas. Mas, de longe, a mais dolorida e incômoda é a dor advinda da “barriga jornalística”, já que sua causa geralmente é a falta de apuração sobre o assunto, um preceito básico da prática da profissão.

Lisa Padilla/Flickr/Creative Commons

No jargão jornalístico barriga ou barrigada é quando se publica uma informação falsa, geralmente por desleixo e falta de compromisso maior com o que se noticia. Algumas delas se tornaram clássicos, como o caso “boimate” da Veja ou da Folha de S.Paulo, que promoveu a cervejaria Antárctica como patrocinadora do time de futebol do Corinthians. O “furo” barrigudo veio em página inteira, com direito a chamada em primeira página, e poucos dias depois o clube apresentava um banco como o financiador do time.

O jornal O Estado de S.Paulo, o centenário e conservador Estadão, também já deu suas barrigas históricas. Mas isso era tido como caso de demissão na Redação do jornal. A qualidade da informação recebida pelo leitor era algo sagrado – embora o jornal dê sinais claros de que nos últimos tempos passou a cultivar o gosto por uma protuberância abdominal em suas páginas e portal da internet.

Os registros barrigudos começaram a se acumular depois de o Estadão ter anunciado que o asteroide Pallas C4 se chocaria com a Terra em poucos dias (o que, na verdade, se tratava do lançamento do carro da Citroën), e agora presenteia seus leitores com uma extensa reportagem publicada na quarta-feira (20/11) na editoria de “Economia & Negócios” sob o título: “‘Segredo para o sucesso é ambição e muito trabalho’, diz executivo”.

Nome? Destino?

O repórter deitou elogios à performance profissional de um executivo indiano-brasileiro, um gênio saído das lâmpadas mágicas do universo asiático para o mercado tupiniquim. Algo digno de um roteiro de Bollywood, para causar inveja ao filme “Quem Quer Ser Um Milionário”.

O jornalista, sem conter sua empolgação, emendou: “Hoje, aos 42 anos, o executivo comanda a Nilla Business, dedicada a administrar os bens de uma comunidade de 300 famílias indianas ao redor do mundo. O patrimônio administrado pela companhia é de cerca de R$ 1 bilhão”. Algo que seria fantástico, mas como saber se isso é verdade ou um tremendo engodo?

Bastava ir ao Google, o oráculo dos jornalistas afobadinhos, quando não preguiçosos, para topar com os sites e referências ao Grupo Nilla e ao Nilla Business. Ambos pertencentes ao mesmo dono e com endereços idênticos, os quais – diga-se – inexistentes. O principal deles fica na Rua Coronel Melo de Oliveira, 1100, na Lapa, São Paulo. Neste número há o corredor de uma casa, provavelmente fundos, onde funcionava uma empresa de jardinagem. Bem pouco para uma megacorporação.

Entretanto há algum engano aqui, pois a reportagem diz que “a empresa, baseada em Londres, busca oportunidades de negócio ao redor do mundo, inclusive no Brasil”. São Paulo ou Londres?

Como o site da Nilla Business dá um endereço inexistente na capital paulista, o correto é procurar na capital da Inglaterra, mais propriamente no número 163 de Kingsley Road Hounslow, na região metropolitana de Londres. O que se encontra lá também é frustrante: uma casinha de subúrbio operário, acanhada e sem qualquer jeito de sediar uma companhia que gerencia R$ 1 bilhão de famílias indianas.

Ainda restam para checar dois outros endereços da Nilla Business: um prédio na Avenida São João, 1461, em São José dos Campos, São Paulo, e Business Office – Índia, que ficaria no 2ND Floor Faijabad Road Sanjay Gandhi Puram – Lucknow. Porém, é fácil perceber que ambos os endereços não são na Inglaterra e a Índia já se libertou do império britânico há algum tempo.

Na terra da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) existe um casarão fechado, com uma placa em sua fachada: Grupo Nilla – Marketing e Comunicação. Outra questão: ali é o local do escritório da Nilla Business ou não? O que consta, segundo alguns profissionais do mercado publicitário local, é que o aluguel está vencido faz três meses e a água foi cortada. Deve ser esse então o motivo de nenhuma movimentação no lugar.

No destino indiano, há sim uma empresa no endereço exposto no site da corporação tratado pelo Estadão. Mas não se trata da Nilla Business e sequer é citada no complexo empresarial descrito na reportagem, que envolveria rede de restaurantes, uma linha aérea e 30 escolas de inglês. Que rede de restaurantes é essa? E essa linha aérea tem nome e destino? Questões elementares.

Apuração qualificada

Na Índia, no endereço dado, está a empresa Spiritual Communications, no 2ND Floor Super Shopping Centre Opp-V-Mart SG Puram, Faizabad Rd, Sanjay Gandhi Puram, Lucknow. Infelizmente não se consegue obter maiores informações, até mesmo por falta de numeração ou outra especificação no endereço fornecido no site da Nilla Business quanto a seu escritório na Índia. Ficaram então as semelhanças.

Já com tantas arestas sem aparar é inútil pedir que se procure algo como CNPJ, pois apesar de manter seus sites, endereços e colaboradores no Brasil, a empresa pertence às terras britânicas e provavelmente o tal registro de pessoa jurídica seria ineficaz para conter a barriga.

Para finalizar a história do marajá, a reportagem generosíssima traz que entre suas empreitadas existe ainda “algumas apostas no Brasil, como a escola de inglês Achieve Languages, aberta em 2012 e que já contabiliza 30 unidades. O projeto prevê a transformação de escolas de inglês ‘sem bandeira’ em membros do método Oxford de ensino”.

Embora no site da Achieve Languages, que tem 18 unidades elencadas em sua página na web, também não se forneça telefone ou e-mail para contato, não está especificado de onde vem esse investimento e quem o administra. Por outro lado, no rol dos clientes na Nilla Business inexiste qualquer menção sobre as escolas Achieve Languages, embora surja a concorrente CNA e a Unifesp.

Como não há gênio da lâmpada, nem Aladim ou similares, seria interessante os jornais se preocuparem em reduzir suas barrigas. Um bom regime para se prevenir os dissabores dos erros grosseiros é apurar as informações e qualificar suas notícias. Entretanto, não custa perguntar: o jornal vai assumir o erro e reparar a informação para seus leitores? Tenho dúvidas se a autocrítica chegaria a tanto. Não dá para esquecer que erros em jornalismo sempre têm consequências, a maioria desastrosa.

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Júlio Ottoboni é jornalista científico

domingo, 24 de novembro de 2013

Gravidade e a solidão do espaço

Filme com Sandra Bullock e George Clooney é um dos poucos que deve ser visto em 3D, numa sala IMAX de cinema, de preferência. Se não for possível, assista numa televisão 3D de boa qualidade. E se prepare para ver um espaço que não imaginamos, que é silencioso e monótono, mas igualmente perigoso.


Gravidade deve ser visto em 3D porque foi feito para que você interaja com os astronautas perdidos no espaço, próximos do planeta Terra. O enredo é simples e curto, pois tem apenas 91 minutos, ou seja, 1h30min. É uma hora e meia de astronautas num enredo fiel à realidade da exploração espacial hoje.

Sandra Bullock é uma astronauta de manutenção chamada Ryan Stone, que perdeu a filha e está em uma missão no espaço. Ela está acompanhada por um superior chamado Matt Kowalski, interpretado por George Clooney. Há outros integrantes na equipe, mas com expressão muito pequena no enredo. A voz que faz a interpretação do controle de missões da NASA americana é a do ator Ed Harris.

Ryan então é atingida por uma tempestade de lixo espacial, consequência de outras expedições humanas. Sua estação é destruída e, por isso, inicia-se uma corrida contra o tempo para que ela consiga oxigênio e recursos para retornar até a Terra. As explosões, no filme, não têm som, como no espaço real. O lixo espacial retratado também existe. A dificuldade para controlar o próprio corpo na imensidão escura também é descrita em detalhes pelo filme. Gravidade não tenta ser Star Wars ou Star Trek, inventando histórias sobre o espaço, como qualquer ficção. Gravidade é um dos poucos filmes que tenta mostrar a realidade, e a tontura, da solidão de estar no espaço.

Em um texto de 17 de outubro, um astronauta chamado Garrett Reisman (NASA) comentou sobre o filme à Forbes: "Gravidade é o filme espacial mais realista até o momento. O único defeito do filme é que não é tão fácil se movimentar de uma estação para outra. Exige muita energia e planejamento cuidadoso para mudar de órbita".

O filme é vazio, curto e repleto de efeitos especiais que mostram como estar sem gravidade pode ser um problema para a sobrevivência do ser humano.

Gravidade busca mostrar o espaço como ele é: Escuro e solitário.

Corrupção no Metrô de SP em uma imagem


Se alguém souber de quem é a imagem, deixe a autoria nos comentários.

“Olha o rapa!” - Caso dos ambulantes

Por Cinthia Viana, estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU

Comércio informal cresce no Brasil, mas ilegalidade da profissão deixa a classe ambulante à margem da sociedade

Quem já andou por regiões com movimentado comércio ambulante, como na famosa Rua 25 de Março, em São Paulo, já deve ter ouvido a frase do título. Um estudo feito neste ano pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que o comércio informal cada vez cresce mais no Brasil.

Para o ambulante Damião da Rocha, 80 anos, entrar neste tipo de negócio foi uma solução para garantir renda no fim do mês. Ele está há 22 anos em frente ao metrô Marechal Deodoro, na calçada da Rua Albuquerque Lins, em Higienópolis. Chama muita atenção da clientela por seus olhos azuis, convidativos. Começou no ramo pelos mesmos motivos de muitos comerciantes de rua – falta de emprego. “Eu trabalhava em uma empresa de metalúrgica, mas com a aproximação dos meus 60 anos, fui demitido. Alegaram que eu estava com a idade avançada”, relembra o comerciante. Quando fez a escolha do local de trabalho que poria comida na mesa de casa, já tinha algumas vantagens. Damião mora próximo ao local, e a Rua Albuquerque Lins tinha uma feira que borbulhava, ou seja, seu público estava garantido.

Carrinho de supermercado, em que Damião encontrou duas utilidades:
mostruário para seus produtos e facilidade na fuga da fiscalização

Em sua primeira barraquinha, Damião vendia coco, o qual considera o melhor produto para um camelô. “Coco vende em qualquer temperatura e em qualquer dia.” Atualmente, Damião vende guarda-chuvas e brinquedos. Mudou seus produtos e substituiu a barraca por um carrinho de supermercados por conta da fiscalização, o famoso ‘rapa’. “Posso sair correndo com o carrinho sem ter que largar minhas mercadorias”, explica. O apelido que os fiscais ganharam já diz tudo: “Eles chegam do nada e levam tudo sem dó. Perco meus produtos e minhas vendas do dia. Parecem urubus vindo na carniça”, desabafa. 

Um problema que o comércio ambulante enfrenta diariamente é a falta de reconhecimento da profissão.  De acordo com a Revista Superinteressante, em diversos países da Europa e recentemente no Canadá, a profissão foi legalizada como forma de melhorar o planejamento urbano. O comércio informal traz um ótimo giro econômico para os países, contribuindo também, com o aumento do turismo local.

Segundo o portal JusBrasil, em 2006 por intermédio de Carlos Brito do Partido Democrático Trabalhista (PDT) foi criada a Cooperativa de Compras do Comércio Popular (Coocomp). O projeto permitiria os camelôs a comprarem mercadorias pagando 3% de impostos, quando a alíquota normal é de 17%. O Governo do Estado do Mato Grosso ofereceu, também, linhas de créditos aos cooperados, através da MT Fomento.

Ainda de acordo com o portal, o movimento pela legalização ganhou repercussão nacional e levou o presidente da República, na época, Luiz Inácio Lula da Silva, a criar a Medida Provisória 380 que estabeleceu o Regime de Tributação Unificada (RCU), para importação de mercadorias adquiridas no comércio do Paraguai. A MP foi transformada em projeto de lei, já aprovado na Câmara Federal e no Senado. Agora resta apenas a normativa da Receita Federal para que a legalização dos camelôs se torne uma realidade.

O interesse não é só desses trabalhadores, mas também da população que utiliza seus serviços e teria mais segurança com a nota fiscal emitida. Damião garante: “Todo mundo compra meus produtos, quem passa e precisa de alguma coisa, independente da classe social.” Outro problema decorrente da ilegalidade da profissão é a falta de segurança do próprio camelô. Segundo o vendedor ambulante, alguns pedestres passam e levam a mercadoria sem pagar, pois sabem que ele não tem como fazer uma denúncia.

Assim como milhares de ambulantes, Damião já pensou em “abrir uma portinha”, como ele carinhosamente chama seu sonho. O aluguel de uma sala comercial é caro, além dos custos extras – água, luz e telefone. “Já cheguei a ver aluguel na região, mas todos são acima dos 3 mil reais. Não tenho como garantir meu lucro, trabalhar com comércio é saber que tem mês que você pode tirar 5 mil e tem mês que não chega a 1 mil.”

Damião afirma que os órgãos fiscalizadores na época da gestão do prefeito Gilberto Kassab chegavam a levar suas mercadorias de duas a quatro vezes por dia. “Era impossível faturar”, relembra. Com a atual gestão petista do prefeito Fernando Haddad, o comerciante afirma que a frequência dos fiscais diminuiu, mas ainda sofre com a fiscalização.

A jornada de Damião e de milhares de ambulantes não é fácil, ele trabalha 12 horas por dia, sem garantia de voltar com um retorno financeiro para casa. O reconhecimento deste tipo de comércio precisa chegar ao Brasil, como já aconteceu em diversos países ao redor do mundo. Tudo que está à margem da sociedade, como estão os camelôs por exercerem uma atividade ilegal, tende a ser mal visto aos olhos da população. E não é fácil o dia a dia do ambulante, já diz a música da banda O Rappa: “Tremenda correria, some com a mercadoria”.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Cinema: fabricando sonhos e realidades

Por Vitor Gonçalves de Almeida, estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU

Entenda como a sétima arte pode influenciar no comportamento humano.

A produção cinematográfica, sobretudo a norte-americana, é produtora de realidade. O processo, muita vezes estereotipado, com que essas obras são fabricadas, pensadas e executadas tem como seu principio máximo atingir os valores sensíveis do ser humano. O cinema, de uma forma mais abrangente, é utilizado como um produto artístico, midiático e principalmente ideológico, construindo e elevado culturas com a mesma facilidade com que a mídia cria um novo “fenômeno” sensacionalista.

Mickey, o simbolo maior da Disney, é um dos maiores produtores ideológicos do cinema
Os norte-americanos são os principais fornecedores dessa “propaganda” ideológica oriunda do cinema. Inteligentemente, os Estados Unidos, berço dos maiores filmes da história, criam um cenário de proximidade com o telespectador, isto é, utilizando-se da maneira com que a população se porta perante inúmeras situações e as transportam, como em um “passe de mágica”, para a realidade das telonas.

A grande diferença entre o mundo real e o dos longas-metragens é a forma como que os problemas se desenrolam e, principalmente, como eles são resolvidos harmonicamente, recheada de momentos heroicos projetando, nas mentes dos cinéfilos apaixonados, um cenário confortável. O aspecto verossímil facilita – e dialoga – com a população de maneira ímpar, transformando os tons leves da confortabilidade cinematográfica em um modelo a ser seguido e, por que não dizer, vivido.

Muito disso pode ser observado nas relações causadas pelas adaptações literárias, essencialmente as destinadas ao público denominado “teen”, com o seu “nicho”, ou seja, como a paixão e costumes dos personagens são, quase que instantaneamente, incorporados pelos jovens. A dificuldade de aceitação do mundo, por parte dos adolescentes, facilita a criação de elos emocionalmente fortes entre eles e os seus personagens favoritos, levando-os, muitas vezes, a agir conforme o seu ídolo, demonstrando uma clara insegurança com o mundo e uma personalidade frágil e moldável.

Engana-se quem pensa que as animações infantis não possuem influências no cotidiano das crianças. Segundo Aparecida Gonçalves, professora do ensino infantil de uma escola da zona leste da capital paulistana, princípios adquiridos e incentivados durante os primeiros anos de vida são essenciais para a formação da personalidade. “Os atos e ações praticados durante a infância são essenciais para o desenvolvimento da criança”, dispara a educadora de 48 anos.

Ideologia em diversos gêneros

A ideologia está inserida em quase todos os filmes, até nas adaptações das histórias em quadrinhos, popularmente conhecidas como HQs. O conturbado período pós-guerra é um exemplo claro – e óbvio – da importância da propaganda ideológica introduzida através de filmes, quadrinhos e publicações midiáticas. 

Os super-heróis, tão aclamados nos dias de hoje devido a filmes como “Batman” e “Vingadores”, demonstram principalmente pelas suas vestimentas e discursos, por vezes ufanistas, uma clara tendência e predisposição à idolatria desmedida. O “fantástico” e irreal humano é visto, admirado e cultuado como modelo de humanidade, isto é, a forma de agir do personagem pode “induzir”, de maneira sutil, pensamentos e comportamentos de cunho político.

O apelo emotivo dos filmes romântico pode ser considerado como outra forma de criação de estereótipos, uma vez que no desenrolar de toda trama, os “pombinhos”, dotados de características comuns e de fácil assimilação, esquecem todas as divergências e encontram no amor seu bem comum. O humor, inúmeras vezes utilizada durante filmes desse gênero, é visto – e utilizado – como uma válvula de escape, intercalando os anseios da vida a dois com momentos descontraindo. Esse efeito causa uma empatia com o público tornando fácil a visão do “eu” dentro do personagem descrito na telona. 

Guilherme Guimarães é responsável pela página Claquette que, atualmente, conta com quase 6 mil adeptos

A paixão pelo cinema é algo completamente aceitável e compreensível. De acordo com Guilherme Guimarães, dono da fanpage cinematográfica Claquette, o amor entre sociedade e cinema pode ser explicada pelas cargas emocionais que, por sua vez, são subjetivas e distintas. “O telespectador, ao ver uma cena que lhe chama a atenção, é transportado para outra realidade. Para um novo mundo”, completa o produtor de conteúdo on-line de 22 anos.

Via Cinismo Desvairado

Escolas: formará Cidadãos?

Por Maria Flaviana Carvalho , estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU



O novo projeto de lei coloca em questão o papel das escolas no Brasil. Será a solução ou exclusão?

A violência aumentou nos últimos anos dentro das escolas de todo país, segundo pesquisa feita da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo). Só no estado de SP, 44% dos Professores da rede estadual sofreram algum tipo de agressão. A falta de segurança levaram educadores a criarem um novo projeto de lei com a intenção de diminuir as agressões verbais e física a professores da rede publica. Será acrescentado o artigo 53-A na  Lei 8.069 de julho de 1990  do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

“Art. 53-A. Na condição de estudante, é dever da criança e do adolescente observar os códigos de ética e de conduta da instituição de ensino a que estiver vinculado, assim como respeitar a autoridade intelectual e moral de seus docentes.


Parágrafo único. O descumprimento do disposto no caput sujeitará a criança ou adolescente à suspensão por prazo determinado pela instituição de ensino e, na hipótese de reincidência grave, ao seu encaminhamento a autoridade judiciária competente.” 

Este projeto foi criado em 2011 pela deputada Cida Borghetti (PROS-Pr) e apoiado pela relatora da comissão de Educação Deputada Professora Dorinha Seabra Resende (DEM-TO).

Mas essa questão está dividindo a opinião de educadores de toda a rede. A Professora e também autora do livro “Os 4 Ps da Educação” Ely Paschoalick, em entrevista ao jornal Metro, diz  pensar “ser uma porta de exclusão a tão sofrida escola estalada no Brasil”.  

Mas há aqueles que acreditam que uma lei mais rígida será mais eficiente ao combate de todos os tipos de violências dentro das escolas no País.

O que os estudantes dizem a respeito desse novo projeto?

Em debate alunos do primeiro ano do ensino médio da Escola Estadual  Republica  da Nicarágua, zona leste de São Paulo; Mateus (17), Mariana (16) e Letícia (15) disseram “ser uma boa iniciativa” . Porém, por outro lado “poderia existir uma exclusão social dentro das escolas, pois  professores poderiam usar desse beneficio como autoritarismo”. 

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A vida sobre duas rodas - Caso dos motoboys

Por Francielle Verissimo, estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU

Os desafios da profissão de motofretista: a luta da categoria por seus direitos e a guerra com outros motoristas.

A moto acima na esquerda está na antiga lei, e na direita de acordo com a lei. abaixo dois motofretista vestidos com os trajes de trabalho e ao lado o número de identificação no baú 

De acordo com a Lei Federal 12.009/09, o motofretista tem que fazer vistoria a cada seis meses, mas na realidade esse procedimento só acontece uma vez por ano.

"O governo oferece cursos de especialização, pouco mais de  50 mil profissionais já participaram", comenta Pedro Pimenta, assessor de imprensa do sindicato dos motoboys. O curso é obrigatório para o profissional que realiza o transporte de pequenas mercadorias, e tem duração de 30h, sendo 25h de aula teórica  e 5h de prática em pista de treinamento.

O curso é qualificado de acordo com a lei citada acima, e aborda todo o conteúdo necessário para a boa prática da profissão de motofrete, tanto no aspecto da legislação que regulamenta o setor, quanto nos conhecimentos de trânsito e de como pilotar a motocicleta com segurança e cidadania.

"A diferença entre a moto-frete, moto-táxi e moto é que moto-frete faz entrega, mototáxi leva pessoas e é mais comum no interior e moto é para o lazer", contou Pedro Pimenta.

A partir do dia 13 de novembro de 2013, a prefeitura exigirá que os motociclistas alterem ou comprem seus instrumentos de trabalho. Entre as novas obrigações, podem ser citadas: A cor da moto, que deve ser branca  e ter a placa vermelha com letras brancas, o baú, que, além de ser branco, deve possuir faixa refletiva e número de identificação colado atrás (todos os motofretistas têm que ter esse número) e a antena corta-pipa (que corta a linha com cerol). Da mesma forma, são exigidos equipamentos de segurança, como faixas refletivas no colete (que devem ser amarelas) e no capacete (vermelhas e brancas), e botas de couro.  Para os  motofretistas profissionais, além dos equipamentos, é obrigatório ter idade mínima de 21 anos e possuir habilitação por pelo menos dois anos. 

"O dia a dia do motociclista é o seguinte: Ele chega às 8h, pega o serviço, vai para rua fazer a entrega e às 12h faz pausa de uma hora para almoço. Após, retorna ao trabalho, faz o roteiro novamente e finaliza até às 17h. Essa rotina é por contrato fixo. A outra forma de trabalho é esporádica, ou seja,  “bate e volta” .Como o mínimo de expediente é de 2h, e o profissional recebe R$ 16,00 por hora, o ganho gera em torno de R$ 32,00", explica Francisco Abilio, 43, motofretista, e empresário da área.

"O piso salarial é de R$ 1.000,00, e o profissional pode faturar mais R$ 900,00, da seguinte forma: Algumas empresas alugam a moto do motoboy, que recebe R$ 500,00 pelo aluguel e mais R$ 400,00 como uma ajuda de custo para gastos como gasolina, pneu e peças, dando um total de 1.900,00. Mas isso varia de empresa para empresa", esclarece Francisco.

Além da luta por direitos com a prefeitura, os profissionais da área têm uma disputa diária com os motoristas de caminhão, ônibus e táxi. Uma rivalidade que muitas vezes deixa sequelas ou até mesmo leva a morte. 

"A 'guerra' entre motofretistas e motoristas de ônibus é uma grande estupidez, todos poderiam conviver no mesmo espaço, mas a falta de respeito entre eles deixa 'o bicho comer solto', aí só acontece desgraça no trânsito, acidentes e mortes", comenta Julio Cezar de Andrade,22, cobrador de ônibus.

Um teto para todos - Caso TETO

Por Ana Flavya Rigolon, estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU

Está escrito na Declaração Universal dos Diretos Humanos (DUDH) no Artigo 25, parágrafo 1º, que todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis. O texto está presente neste documento desde 1948.

Organizações competentes tentam diariamente fazer com que o Artigo 25 da DUDH seja efetivamente cumprido, para que todos os cidadãos possam usufruir de seus direitos. Um bom exemplos de iniciativa advém da Organização das Nações Unidas (ONU), que tem como objetivo facilitar a cooperação em matéria de direito internacional, segurança internacional, desenvolvimento econômico, progresso social, direitos humanos e a realização mundial. Eles possuem, por exemplo, os Direitos Humanos das Nações Unidas (UNHRC), que tem como finalidade aconselhar a Assembleia Geral sobre situações em que os direitos humanos estão sendo violados.

Outra Organização é o TETO que está presente na América Latina e no Caribe, e tem como foco trabalhar pelo desenvolvimento comunitário em assentamentos precários, realizando ações conjunta aos moradores e com voluntários para que, a longo prazo, seja criado uma sociedade mais justa e sem pobreza.


Mesmo em situações precárias, como casas quase desabando, a família é um bem importante. Ela está sempre unida, como está escrito na fachada da casa "FAMÍLIA"

“Realizamos várias ações em conjunto com os moradores para ir superando os principais problemas da comunidade, de acordo com a visão deles. Aos poucos, vamos sanando os desafios até que a comunidade caminhe com as próprias pernas e siga se desenvolvendo”, relatou Pedro Egydio Marcondes de Oliveira, de 24 anos. Ele entrou na Organização em 2011 como voluntário, e há sete meses é o Diretor de Comunicação do TETO. Ele dedica 100% do seu tempo para essa causa.

Dentro do TETO existem dois tipos de voluntários: O fixo que dedica em média quatro horas semanais em uma área fixa e específica e o voluntário pontual, que faz parte do banco de dados. Sempre que há uma atividade, email são enviados. Se há interesse e disponibilidade, o voluntário se inscreve para participar. Ele pode ser um doador, apoiando com um valor fixo mensal e financiando todas as intervenções nas comunidades.

São ações grandes como as duas citadas que estão fazendo a diferença mundialmente, aproximando cada vez mais os cidadãos uns dos outros e tornando a sociedade mais igualitária e livre de preconceitos. Elas se somam com pequenas iniciativas locais.

domingo, 17 de novembro de 2013

Mais jornais, melhor jornalismo

Por Alberto Dines
Do Observatório da Imprensa, por Creative Commons.


Em 2012, segundo dados da Associação Nacional de Jornais (ANJ), havia 727 diários impressos no Brasil.

É razoável? É pouco?

Pouquíssimo: deveríamos ter, no mínimo, o dobro – 1454. Sem contar os digitais, os bissemanais e trissemanais. Com 5.570 municípios, deveríamos alcançar ao menos a média de um veículo jornalístico por município.

O fenômeno da concentração da imprensa não se resume ao número reduzido de grandes empresas de comunicação e à forte tendência para a formação de oligopólios regionais. O mais grave são os vazios, os bolsões de silêncio, as manchas cinza, ocas, espalhadas entre as 727 ilhas do Arquipélago Gutenberg.

Proativo e cobrador

O jornal diário impresso ainda é uma referência básica para efeitos estatísticos, sociais e políticos. Portais digitais, rádios, repetidoras de TV e emissoras comunitárias são importantes fontes de informação, mas cuja identidade, periodicidade, alcance e volume são mais difíceis de ponderar. Pelo menos com os recursos de que dispomos agora.

Quando o megainvestidor Warren Buffet, hoje convertido em guru da imprensa comunitária, afirma que ela é a única efetivamente indispensável, está se referindo ao seu poder de catalisar interesses vitais e oferecer um repertório de notícias essenciais (ver aqui a entrevista de Buffet ao Observatório da Imprensa na TV).

O jornal local é, além disso, um formidável acionador de trocas e de circulação de riqueza. Qualquer que seja o seu modelo estatutário (sociedade não lucrativa ou comercial), o diário comunitário fala com todas as partes daquele universo comum. E cria um tipo de leitor com níveis de exigência muito maiores do que o metropolitano, geralmente mais distraído, sujeito a pressões e interesses diversificados.

O leitor da imprensa local é focado, proativo, cidadão mais consciente, respondente, cobrador. Lidar com ele é mais complicado e mais gratificante. Razão pela qual no currículo de muitas estrelas da grande imprensa americana encontra-se sempre uma temporada de exercícios na pequena imprensa.

O novo poder

A capilaridade do sistema democrático se sobrepõe à capilaridade combinada das audiências da pequena imprensa formando um contingente que, ao menos teoricamente, é mais sólido e menos vulnerável ao caciquismo. Esta a razão pela qual designamos o projeto do Instituto Projor (entidade mantenedora deste Observatório) como a Grande Pequena Imprensa.

Seu primeiro evento público (ver aqui) desvendou um formidável elenco de oportunidades para associações dos jornais locais com ONGs, movimentos sociais, OAB, Ministério Público, universidades, empresas públicas e agências de fomento.

“Small is beautiful” era o slogan algo nostálgico dos anos 1960. Agora, na era dos chips, pode-se dizer “small is powerful”. 

Em busca do pluralismo

Comunicação de Alberto Dines ao painel “O papel do jornalismo local – Como estruturar uma operação sustentável” do seminário Grande Pequena Imprensa (São Paulo, 8-9/11/2013)

Imagino que me enquadro na antiga definição sobre jornalistas: especialistas em ideias gerais. A última profissão romântica fez da imprensa uma formidável ferramenta para a transmissão de conhecimentos.

Fomos treinados para dirigir grandes organizações, mas no fundo acalentamos o mesmo sonho de dirigir um pequeno jornal numa sossegada comunidade interiorana. A fantasia parece bucólica, mas exprime o desejo de fazer jornalismo numa escala humana.

A primeira vez em que me envolvi com a chamada “pequena imprensa” foi no início dos anos 1960, quando o Jornal do Brasil começou a planejar o seu crescimento. Ao lado da melhoria do jornal, eu pretendia uma cadeia de jornais-satélites acompanhando os eixos rodoviários que chegavam ao Rio. Vivíamos os primeiros efeitos da explosão rodoviária iniciada nos anos JK.

De volta ao tema que nos reúne aqui, queria compartilhar com vocês um segredo profissional que procuro adotar há algumas décadas: na dúvida, a melhor solução será sempre aquela que resolve ao mesmo tempo mais de um problema. Dificuldades não existem isoladas na Natureza, são encadeadas. Ao trabalhar com propostas mais amplas, não apenas evitamos efeitos colaterais como também criamos dinâmicas espontâneas, convergentes. No mundo multidisciplinar em que vivemos, a solução distendida e ampliada, além de mais eficaz, tem a vantagem da maior durabilidade.

Como começar

As novas tecnologias não resolvem tudo. Os velhos valores não podem ser oferecidos apenas às pequenas elites. Novas ferramentas combinadas aos valores permanentes é uma solução holística.

O processo informativo deste início do século 21 é simultaneamente fragmentado e concentrado. As novas mídias digitais favorecem a pulverização e a dispersão, mas o sistema informativo como um todo continua tendente à concentração das empresas em grandes grupos, num processo que vem se consolidando há quatro séculos. Reverter repentinamente a concentração dos meios comunicação através do uso da violência – como está sendo tentado na Argentina – significa colocar em risco a própria estrutura democrática. Não se chega ao pluralismo com golpes de força.

E o que nos reúne hoje aqui é essencialmente a busca do pluralismo. Pela via mais natural possível. Tentando equacionar binômios e, se possível, trinômios.

Um país com as dimensões e as desigualdades do Brasil necessita de mais vozes e mais eco, maior participação e melhor entendimento. Em outras palavras, mais jornais e melhor imprensa.

Por onde começar? Criando artificialmente novos e poderosos grupos jornalísticos? Com que recursos e para atender quais mercados? Convocar os governos para construir uma nova imprensa cuja tarefa primordial será a de vigiar livremente futuros governos? Impossível.

Foco na democracia

Ao iniciar o nosso projeto na Universidade de Campinas (Unicamp), no início dos anos 1990, sob o comando do seu reitor Carlos Vogt, pretendíamos introduzir um novo item na agenda nacional: o debate sobre a imprensa. Não exigimos leis, estatutos ou códigos. Optamos por algo mais simples e mais orgânico. Sabemos que ao observar um fenômeno intervimos nele – então, ao observar a imprensa, estimulamos um movimento por mudanças. Interno, endógeno.

Começamos como media watchers, mas o media watching não é um fim em si mesmo, é um meio de buscar a excelência e excelência não pode ser alcançada por decreto. A excelência é uma solução para diversos problemas conjugados.

Nosso projeto de estimular a ocupação dos grandes vazios informativos do interior do país tenta reproduzir o que foi feito nos Estados Unidos no início do século 19, quando junto com o trem vieram os serviços e o serviço mais elementar é a troca – troca de mercadorias, troca de informações. Conhecimento.

Mercúrio era na antiguidade o deus do Comércio; Mercúrio foi o nome dos primeiros jornais em muitos países (Inglaterra, França, Portugal, Chile). Um jornal é um motor de trocas que faz circular riquezas. E a circulação de riquezas faz circular o poder.

O primeiro veículo jornalístico a circular sem censura no Brasil era escrito e impresso em Londres quando éramos uma colônia portuguesa. No Brasil ou em Portugal, seria desmantelado pela Inquisição. Em apenas 14 anos, aquele mensário que levava 90 dias para trazer as primeiras notícias até aqui dava a partida ao processo que culminou com a nossa emancipação.

A pequena imprensa é uma grande solução: comunidade e comunicação são substantivos com a mesma raiz, communis. Rigorosamente afins. A comunidade se forma através da comunicação, a comunicação só floresce onde há uma comunidade.

Para iniciar o nosso projeto, em abril deste ano fui a Omaha, Nebraska, para entrevistar a extraordinária figura de Warren Buffett, o megainvestidor que acredita na força da pequena imprensa e continua comprando pequenos e médios jornais. No fim da entrevista contei-lhe que um dia lançaremos uma campanha com o seguinte slogan: “Faça como Warren Buffett, compre um jornal”.

Ele deu uma gostosa gargalhada e disse algo assim: comprem jornais, criem jornais, mas não misturem imprensa com poder político. Pensem apenas na democracia. Esse é o nosso desafio. 

Amor ao toque - Caso CHARGE

Por Thábata Sabrina, estudante do 4º semestre de Jornalismo na Fiam Faam/FMU


O quão bom pode ser um sentimento ao toque das mãos? Esse é o amor demonstrado por Iago Peromingo Ribeiro de 7 anos. Amante de música, esportes, histórias, gorduras trans e balas, Iago passa seu dia a dia convivendo com uma síndrome que até então a medicina moderna não consegue reverter chamada CHARGE. "É uma síndrome rara que atinge um a cada um milhão de nascimentos. A palavra CHARGE tem como significado: C= Colobama (baixa visão ou a falta dela); H= Heart (Coração, problema na válvula que bombeia o sangue); A= Atresia (atresia de coanas, má formação das narinas); R= Retardamento mental; G= Má formação genitária (Micro-pênis e testículos fora do saco escrotal); E= Eart (deficiência auditiva, baixa audição ou falta dela). No caso do Iago, ele não possui todas essas más formações. É deficiente visual, já que nasceu sem os olhos, porém não tem retardamento mental, seu intelecto é perfeito, e também não é surdo. Possui micro-pênis e já operou os testículos", conta Vanesca Peromingo Ribeiro, 40, psicóloga e mãe do garoto.


Apesar do acompanhamento durante toda a gestação de Vanesca e as ultrassonografias em 3D, a síndrome só foi descoberta alguns dias após o nascimento de Iago, "Como tivemos, eu e o Adenilson (pois homens também ficam grávidos) uma gravidez tranquila, não esperávamos a notícia de que nosso filho havia nascido com alguns problemas que nem os médicos saberiam explicar ou diagnosticar. Então ficamos chocados, tristes e angustiados. É claro que para a mãe é sempre muito mais difícil. Pensava que era culpada pela condição do Iago, que havia feito algo de errado durante a gestação como quem usa drogas, bebe, fuma, sei lá. Me lembro de carregar uma culpa muito grande, mesmo sabendo racionalmente que tinha feito tudo certo", recordam-se Vanesca e Adenilson Valentim de Souza Ribeiro, 43, empresário e pai do Iago.


A síndrome de CHARGE não tem cura, Vanesca e Adenilson acreditam que a medicina em um futuro próximo desenvolverá algo que possa substituir os olhos de Iago, "algo mecânico talvez".

"Iago tem sete anos e ainda depende de nós para ir e vir. A escola onde estuda desde os três anos vem fazendo adaptações para  atendê-lo em sua deficiência visual, como por exemplo adaptar para o Braille todo o material que dispõe para ele, também suas atividades como natação, educação física e outras são adaptadas de forma que ele possa desempenhá-las. Em casa, desde pequeno sempre soube se locomover de forma livre e independente e para facilitar procuramos ter poucos móveis. Consegue reconhecer todos os ambientes de casa com muita facilidade", conta Vanesca. Além do auxilio dos pais, Iago conta com a irmã Nicole de 10 anos. "Adoro ajudar meu irmãozinho, mas nem sempre ele quer o meu auxílio, gosta de mostrar que consegue fazer sozinho" diz Nicole, que ainda revela que eles brigam as vezes. "Quando ele não me deixa ajudá-lo".

Vanesca e Adenilson fazem com que os direitos de Iago sejam aceitos pela sociedade e dizem haver muita dificuldade para isso, tendo em vista que Iago é deficiente visual. "Na escola onde ele estuda por exemplo, temos dificuldade em usar a vaga especial mesmo tendo o cartão que nos dá este direito, as pessoas entendem que somente aquelas que são cadeirantes é que podem usar. Quase todos os dias precisamos conscientizar as pessoas de que as vagas especiais são destinadas a pessoas portadoras de necessidades especiais como: Cadeirantes, deficientes visuais, pessoas obesas, ou seja, pessoas com dificuldade para se locomoverem", explica Adenilson. Os pais acreditam que essa dificuldade seja pelo modo o qual tratam o Iago e sua deficiência, de forma natural, assim a sociedade também o vêem dessa forma, sem nenhum preconceito ou distição, "sempre procuramos frequentar lugares onde as pessoas nos conhecem e sabemos que seremos bem recebidos. Não lembramos de alguma situação de preconceito que tenha nos afetado seriamente, apenas sempre nos defrontamos com pessoas curiosas que não conseguem apenas ver, precisam perguntar o que ele tem" explica Vanesca.

A alfabetização em Braille no Brasil vem a passos preguiçosos até agora. Em São Paulo, na estação Santa Cruz do Metrô, a instituição ADEVA auxilia os deficientes visuais na locomoção independente, na escrita e leitura através do sistema, além de fornecer  cursos de informática e capacitação profissional. Em Jundiaí, interior de São Paulo, local de moradia do Iago e de sua família há o centro de atendimento chamado BRAILLE, com várias terapias que ajudam no desenvolvimento do deficiente visual.  “O Iago, por exemplo, faz terapia ocupacional, fisioterapia e fonoaudiologia. Também frequenta um programa chamado PEAMA que tem por finalidade oferecer a pessoas portadoras de várias deficiências, sejam elas visuais ou não, atividades adaptadas de acordo com a necessidade de cada um. Lá (no PEAMA) no momento o Iago pratica ciclismo", conta Vanesca, "Iago é uma criança muito curiosa, já sabe ligar e desligar o computador, sabe colocar DVD para ouvir suas músicas e histórias preferidas e até joga vídeo game! Mas para que seja mais proveitoso o uso da tecnologia ele precisa de um sistema auditivo que supra a sua visão e o informe do que está fazendo. Quanto a sua alfabetização em Braille, podemos dizer que ele é uma pessoa letrada", conclui.

Os olhos do Iago é o tato, já que usa suas pequenas mãozinhas para identificar pessoas e objetos. "Desde bebê, ele sempre teve o ´hábito`, se é assim que podemos dizer, de enchergar com as mãos, nunca precisamos ensiná-lo! Para ele ficou claro que nós enchergamos com os olhos e ele com as mãos", relembra Vanesca.

Mimado pelos avós maternos e paternos, os pais contam que não existe distinção. "O Iago é uma criança muito doce que é o que faz dele uma pessoa especial verdadeiramente. Nós enquanto pais não fazemos nenhuma distinção, apenas cuidamos para que ele próprio não coloque sua vida em risco".

Iago tem muitos coleguinhas, mas prefere a companhia dos adultos. Como qualquer criança, adora brincar, a única coisa que o diferencia de tantas outras é a falta de visão. Quem sabe possamos ter no futuro mais um talento como Stevie Wonder ou Andrea Bocelli, tendo em conta que seu grande passatempo não é nada mais nada menos que a música, instrumentos musicais como violão, teclado, sanfona, pandeiro, chilofone e flauta estão sempre ao alcance das mãos para que Iago possa fazer sua bagunça, como um bom brasileiro joga futebol, anda de bicicleta, adora balanços dos parquinhos de sua cidade e se diverte na cama elástica, "gosto do teclado e do meu BAT BAG. Tenho dificuldade de brincar com coisas que vão para longe de mim, por exemplo bola ou bolinha de gude, não consigo perceber aonde foram parar".

Amante de bala e, claro, das famosas bombas calóricas, como pizza, coxinha, pastel, pipoca com catchup, lasanha e carne com queijo, ele diz que também curte uma beterraba. Com o paizão, Iago toca teclado, um dos seus passatempos favoritos. Por quê? Claro que por conta da bagunça, "porque tem várias músicas que eu posso tocar e fazer bagunça com meu pai".

Sobre Nicole, irmã mais velha, Iago conta como é o convívio entre irmãos. "Ela é muito legal, me ajuda a fazer o dever, a levantar da cama, me trocar e muitas outras coisas. Brincamos mais ou menos, ela tem muitas coisas para fazer, mas quando quando dá tocamos teclado, vamos a cama elástica, passeamos no parque e inventamos histórias. Adoro histórinhas, a da Chapeuzinho Vermelho, Dos Sete Cabritinhos, Doroti, Peter Pan, Pinóquio...".

E Nicole adora ficar coladinha com o irmão caçula. "Gosto quando ficamos juntinhos na cama da mamãe e do papai para ouvir histórinhas, também gosto quando ficamos falando coisas que não tem nada a ver, inventar trava língua, passear em família... Ele é muito fofo e gosto muito da companhia dele".

Um filho é uma bênção de Deus, dois é uma dádiva divina e, como católicos praticantes, a família Ribeiro segue passando uma estrutura incrível a Iago e mostrando que a vida é muito mais do que pode-se ver... É o que pode-se sentir.

Departamento de Filosofia da USP divulga nota de repúdio à prisão dos estudantes na reintegração de posse

Aderem a este documento os seguintes professores:

Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros

Andréa Mª Altino de Campos Loparic 
Caetano Ernesto Plastino
Carlos Alberto Ribeiro de Moura
Edélcio Gonçalves de Souza
Eduardo Brandão
Homero Silveira Santiago
Lorenzo Mammì
Luís César Guimarães Oliva
Luiz Fernando Batista Franklin de Matos 

Maria Lúcia Mello e Oliveira Cacciola
Márcio Suzuki
Marco Aurélio Werle
Marcus Sacrini Ayres Ferraz
Moacyr Ayres Novaes Filho
Osvaldo Frota Pessoa Filho
Otília Beatriz Fiori Arantes
Paulo Eduardo Arantes
Pedro Paulo Garrido Pimenta
Ricardo Nascimento Fabbrini
Roberto Bolzani Filho
Tessa Moura Lacerda


Os professores representam as principais cadeiras disciplinares do departamento na Universidade de São Paulo.

Estudantes da USP são presos injustamente, sob acusação de depredação, após reintegração de posse na reitoria

Inauê Taiguara Monteiro de Almeida foi preso na manhã do dia 12 de novembro com o estudante João Vitor Gonzaga pela Polícia Militar de São Paulo durante a reintegração de posse da reitoria da instituição, ocupada por estudantes desde o início de outubro. Inauê é um dos dirigentes do Centro Acadêmico de Filosofia, enquanto João Vítor é um dos funcionários da Faculdade de Arquitetura.


Na manhã do mesmo dia, a reitoria da universidade foi retomada por policiais e teve prejuízos estimados em um milhão de reais. Entretanto, nenhum dos ocupantes foram encontrados, porque deixaram o local sabendo da ação da PM paulistana há pelo menos três dias. Inauê e João Vítor estavam organizando uma festa do CA da Filosofia, desvinculada da ocupação da reitoria. Funcionários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH-USP) e seguranças do mesmo local asseguram os eventos anteriores às prisões. As detenções ocorreram na Praça do Relógio (foto acima) e não na reitoria, onde deveria estar ocorrendo a reintegração de posse. Dois ciclistas não-alunos também foram detidos sem nenhum indício de participação na depredação no mesmo dia. No entanto, foram liberados no mesmo dia.

O advogado dos dois alunos, Felipe Vono, apoiado pelo Diretório Central dos Estudantes, documentou em textos publicados no Estado de S.Paulo e na Carta Capital a versão dos estudantes. A polícia acusou ambos de depredação de patrimônio público e formação de quadrilha, crime que é inafiançável, sem provas.

Os estudantes tiveram seus cabelos raspados e há denúncias de socos e pontapés no processo de detenção. Os rostos de ambos foram exibidos em sites jornalísticos como Terra e Veja sem que as prisões fossem executadas em cima de suspeitas concretas. Não houve processo de investigação sério sobre as depredações da reitoria, além da total falta de comunicação do reitor João Grandino Rodas com todos os estudantes de seu espaço universitário.

Liberados no dia 13 de novembro, às 18h aproximadamente, os dois estudantes divulgaram uma carta de agradecimento, com algumas reclamações. Segue abaixo:

Carta aberta de agradecimento à sociedade

Caros amigos, familiares e concidadãos,

Gostaríamos de agradecer ao apoio de todos aqueles que se mobilizaram para que nós, Inauê Taiguara Monteiro de Almeida e João Vitor Gonzaga, estivéssemos novamente em liberdade e pudéssemos defender-nos das acusações feitas por policiais da tropa de CHOQUE, que faziam a reintegração de posse do prédio da reitoria da USP. Fomos presos arbitrariamente e de forma violenta.

Temos a consciência tranquila por saber que não estávamos no prédio da reitoria e que não participávamos da ocupação do mesmo. De modo que não temos receio algum de que eventuais imagens das câmeras que estão espalhadas pelo campus apareçam – inclusive exigimos que elas apareçam.

Durante cerca de três horas ficamos desaparecidos, pois se fomos detidos por volta das 05h horas do dia 12 de novembro, às 08h42min deste dia o twitter da PM de São Paulo declarou: “Informamos que na reintegração de posse na Reitoria da USP, ao contrário do que tem sido informado, não houve nenhum detido.” Ora, então onde estávamos se não sentados no chão do ônibus da PM, ao final do corredor, estacionado entre o prédio da reitoria e a biblioteca Midlin? Talvez tenhamos viajado no tempo, de volta para o período da ditadura. Gostaríamos que esta fosse a explicação mais plausível. Porém, sabemos que infelizmente isto ocorre cotidianamente em plena Democracia e Estado de Direito, com especial recorrência nas periferias e favelas, onde habita a população negra e pobre do país. Aparecemos e estamos soltos, mas somos a minoria destes casos.

Sabemos disso.

Se saímos, foi graças à mobilização das pessoas, entidades e mandatos que se engajaram em nos defender. Se não fosse a repercussão política de nossa prisão poderíamos ainda estar presos no Centro de Detenção Provisória de Osasco, ao qual fomos encaminhados pela manhã do dia 13 de novembro.

Enquanto cidadãos que foram presos injustamente, gostaríamos de agradecer a nossos amigos e familiares pelo amor e dedicação que empenharam à nossa liberdade. Eles se mobilizaram desde o momento em que souberam que havíamos sido detidos e conseguiram, em pouquíssimo tempo, acionar uma rede de contatos que nos ajudou a sair da situação em que estávamos. Queremos agradecer também à dedicação dos advogados Felipe Vono, Maria Lívia, Fernanda Elias, Viviane Cantarelli e dos advogados do Sintusp que deram o seu melhor e conseguiram que recuperássemos a nossa liberdade, bem como a todos os outros inúmeros advogados que nos ajudaram a conversar com nossos entes queridos que estavam para além dos muros da prisão e ajudaram a elaborar a estratégia jurídica que nos permitiu estar mais uma vez em liberdade. Queremos agradecer também ao Deputado Estadual Prof. Carlos Giannazi, que esteve presente conosco por três vezes durante o dia e meio em que ficamos detidos (indo inclusive ao CDP para se certificar que nossa integridade física seria resguardada), à Deputada Leci Brandão que enviou o seu Chefe de Gabinete, Eliseu Soares Lopes, para nos prestar solidariedade no 93º DP. Aos mandatos de Ivan Valente, Toninho Vespoli e Zé Maria que nos apoiaram. Em especial, queremos agradecer ao Senador Eduardo Suplicy que intercedeu por nós. Gostaríamos também de agradecer aos detentos, com os quais fomos levados ao CDP e com os quais dividimos uma cela durante à tarde do dia 13 de novembro, pela solidariedade e humanidade com que nos trataram.

Queremos agradecer às entidades “Grupo Tortura Nunca Mais/RJ”, “Instituto Helena Greco de Direitos Humanos e Cidadania, Belo Horizonte”, “Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos”, “União de Mulheres de São Paulo” e “Promotoras Legais Populares” e todas as outras que se manifestaram em nosso apoio.

Como membros da comunidade acadêmica da USP, gostaríamos de agradecer a todos os colegas do curso que se mobilizaram e ajudaram a divulgar a notícia de que estávamos presos. Agradecemos ao Centro Acadêmico de Filosofia “Prof. João Cruz Costa” (o CAF), ao CAELL, ao CeUPES, ao CALQ e a todos os Centros Acadêmicos que manifestaram seu apoio para que fossemos liberados e inocentados. Agradecemos ao Diretório Central dos Estudantes da USP, DCE Livre “Alexandre Vanuchi Leme” pelo apoio e solidariedade prestados. Também somos gratos aos professores do Departamento de Filosofia, pois sua manifestação de apoio foi fundamental para que fossemos postos em liberdade. Agradecemos aos colegas do Curso de Áudio Visual Anders R. e Lorena Duarte pela rápida edição do vídeo “Liberdade para João Vitor e Inauê!”. Agradecemos Sintusp que além de manifestarem seu apoio, também disponibilizaram seus advogados para nos defenderem. Agradecemos à Adusp pelo seu manifesto de apoio. Somos gratos a todos os professores, funcionários e alunos da USP ou de outras Universidades que assinaram alguma das muitas cartas de apoio que circularam. Agradecemos também ao apoio, manifestado em nota, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e do Instituto de Psicologia.

A Reitoria da Universidade de São Paulo já se manifestou acerca dos prejuízos ocorridos no prédio da reitoria e disse que irá investigar e punir os responsáveis por tais danos. No entanto, nada disse sobre a prisão arbitrária de dois estudantes da universidade. Gostaríamos de perguntar se nossa integridade física e moral não merecem a atenção da reitoria, que deveria zelar por toda a comunidade universitária?

Nenhuma pessoa se quer veio procurar-nos para saber como estávamos e apurar os relatos sobre como nossa prisão foi feita. Por esta conduta omissa em relação ao que passamos, repudiamos veementemente o silêncio da Reitoria da USP frente à injustiça que ocorreu com dois de seus estudantes dentro do Campus Butantã, principalmente por que a ação de reintegração de posse que culminou com a prisão arbitrária de tais estudantes foi solicitada pelo próprio reitor João Grandino Rodas. Além de tudo isso, ainda receamos que esta mesma reitoria venha a mover um processo administrativo contra nós. (Quanto a isso, o DCE Livre da USP Alexandre Vanuchi Leme criou um abaixo assinado contra a criminalização do movimento estudantil e pela retirada imediata dos processos que teremos de responder. Quem quiser nos apoiar, o link: https://secure.avaaz.org/po/petition/Nenhuma_punicao_aos_estudantes_da_USP_e_retirada_imediata_dos_processos_aos_2_estudantes_presos/?copy&mobile=1)

Para finalizar, gostaríamos de afirmar que o que aconteceu conosco poderia ter acontecido com qualquer estudante ou cidadão que estivesse circulando naquele local àquela hora.

Ficamos desaparecidos por algumas horas, embora estivéssemos em mãos da Polícia Militar. Fomos presos e torturados física, psicológica e moralmente. Acusados de depredação ao patrimônio público, furto qualificado e formação de quadrilha (sendo este último crime inafiançável). Mantiveram-nos longe de nossos familiares e amigos, pois alegaram que nos prenderam em flagrante. Estivemos em seis celas diferentes (em dois DPs e no CDP). Ficamos nus várias vezes. Perdemos as roupas com que fomos detidos – recuperamos apenas nossos tênis, sem cadarços. Rasparam nossas cabeças. E ainda teremos de responder ao processo jurídico que se instaurou contra nós. Nesse sentido, gostaríamos de prestar nossa grande estima e mais altas considerações à lucidez das decisões do juiz Adriano Marcos Laroca e do desembargador José Luiz Germano (em 09 e 15 de outubro, respectivamente) sobre a questão da reintegração de posse do prédio da reitoria da USP, pois tais decisões reconheceram que acionar a polícia militar para resolver conflitos políticos, como o que se dava internamente à USP, poderia culminar em fatos lamentáveis como estes que infelizmente viemos a sofrer na pele.

Toda a arbitrariedade a que fomos submetidos só nos mostra uma coisa: a universidade precisa ser urgentemente democratizada. Como disse a Associação dos Docentes da USP (Adusp) em seu manifesto lançado dia 13 de novembro, esperamos que em breve a USP possa ter a sua estrutura de poder democratizada através de uma Estatuinte livre, soberana e democrática.

Agradecemos sua atenção e pedimos que nos ajudem a divulgar esta carta,

Inauê Taiguara Monteiro de Almeida, estudante do 4º ano do Curso de e Filosofia da USP e membro do Centro Acadêmico de Filosofia “Prof. João Cruz Costa”

João Vitor Gonzaga estudante do 5º ano do Curso de Filosofia da USP e funcionário técnico administrativo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Os textos na grande imprensa sobre o centenário de Albert Camus

Publicações que combateram Camus em vida, como o Le Figaro, e jornais americanos e brasileiros prestaram homenagens ao Nobel franco-argelino. O centenário de Albert Camus é hoje e muitos veículos de imprensa ressaltaram seu legado cultural, literário, filosófico e até político, sobretudo na crítica da esquerda. Foi uma vida de 46 anos dedicada à intelectualidade.


(Albert Camus, conflitos autorais deploráveis de uma celebração)

(Centenário do nascimento de Albert Camus: Uma homenagem limitada devido às polêmicas)

(O centenário de Albert Camus ocorre sem homenagem oficial)

(Sísifo, o homem feliz que nos lembra Albert Camus)

(Albert camus: Autorretrato do homem que buscava a felicidade)

(Albert Camus, filosofia de um espontâneo)

Los Angeles Times - Albert Camus -- forever modern
(Albert Camus - Moderno pra sempre)

(Sete fatos que você não sabe sobre Albert Camus)

(Albert Camus: Centenário segue sem muitas honrarias em seu lar)

(Quão absurdo: O mundo como Albert Camus enxergava)





Observatório da Imprensa (Via O Globo) - Camus e a busca por um jornalismo crítico e independente

O Estado de S.Paulo - O homem deprimido

Albert Camus completa 100 anos hoje

"Em 8 de novembro ele [Lucien Camus] se apresenta na prefeitura [de Mondovi, atual Dréan, na Argélia] com duas testemunhas e declara o nascimento de seu segundo filho, no dia 7. Um só nome, Albert. Na época, de cada 40 franceses um se chama Albert. Camus Albert consta no registro entre dois muçulmanos, Khadidja (gerânio). A primeira testemunha, Piro Jean, diz-se comerciante. Nascido na Sardenha, seria, antes, hortelão. A segunda, Frendo Salvatore, nativo de Mondovi, declara-se empregado. Ele entrega sêmola e massas para o merceeiro Zamathé. Lucien Camus, esclarece o registro, é de 'origem francesa'".

De Olivier Todd, jornalista com passagem pelas publicações Nouvel Observateur e L'Express. Autor da biografia Albert Camus, Uma Vida, lançada em 1996.


Albert Camus nasceu no dia 7 de novembro de 1913, exatamente há 100 anos atrás. O horário preciso não consta nos registros, mas ele nasceu no seio de uma família de classe média baixa argelina, de origem na França. Lucien, seu pai, era descendente dos primeiros colonizadores da Argélia, trabalhava no cultivo e na colheita de uva para fazer vinho. Foi convocado para servir como militar na Primeira Guerra Mundial. Morreu no dia 11 de outubro de 1914 metralhado por uma arma Maxim, antes do filho Albert completar um ano.


Catherine Helène Sintès-Camus, a mãe, cria os filhos Lucien e Camus ao silêncio, sob a supervisão austera da avó materna também chamada Catherine. A mãe é empregada doméstica e analfabeta. Meio surda, também. As duas mulheres transformam-se em personagens nos livros de Albert Camus, por viverem a decadência e a pobreza de uma vida menos abastada na Argélia, a colônia da França.


O irmão mais velho Lucien torna-se contador. Ele vai estudar Filosofia em Argel, na capital, e desenvolve um excelente dom para textos. No entanto, vive sob pressão do pouco financiamento e envereda para a imprensa. Escreve no Sud, no Alger Étudiant [Argel estudantil], teve uma coluna de discos no La Presse Libre [A imprensa livre] e no Alger Republicain, onde consegue maior repercussão em 1938. Casa-se com Simone Hié em 16 de junho de 1934. Divorcia-se no ano seguinte, por infidelidades conjugais. Ela era viciada em morfina. "Tento fazer jornalismo para continuar minha licenciatura. Estou tão cansado, tão arrebentado. Sentimo-nos envelhecer, aos 20 anos. Bem sei que, se estou sofrendo, estou vivendo plenamente. Sei que o sublime não se separa do trágico, mas às vezes o trágico se sepra do sublime: Quando ele nos aperta demais", diz o escritor e pensador, na época.


Ingressou no Partido Comunista Argelino e depois no Francês, iniciando sua educação política de esquerda no ensino superior. Era apaixonado por futebol e era fumante compulsivo. O governo da República de Vichy, de Paris, se alinha aos alemães nazistas contra a União Soviética, fortalecendo o engajamento de oposição dos intelectuais politizados que não faziam parte da gestão. Camus entra nessa disputa política na capital da França, mesmo sendo um franco-argelino pé-preto (pied-noir). Trabalha brevemente no Soir-Republicain, em 1939.


O passaporte de Camus para Paris, em meados de 1940, é um período de experiência na redação do Paris-Soir, que imprime até um milhão de exemplares. Vive um exílio forçado e politicamente voluntário na França, distante da mãe e cada vez mais engajado nos assuntos da guerra. Escreve O Estrangeiro, o livro que viria a se tornar sua maior obra escrita. Casa-se com Francine Faure, uma pianista e matemática fã de Bach.


Estrangeiro é publicado em 1942 e custa 25 francos. Narra um protagonista que vive o presente, sem ligações com seu passado e futuro. Esse personagem comete um assassinato e não consegue justificá-lo para os demais. Ele é a figuração do conceito de absurdo, que seria abordado em ensaios e reflexões filosóficas de Camus. Os editores Michel e Gaston Gallimard divulgam Albert Camus na França. O melhor resenhista de sua obra é Jean-Paul Sartre, que o apresenta para o círculo de intelectuais parisiense. Sartre é a ponte para Camus da subdesenvolvida Argélia para a potência francesa.


Junto com Pascal Pia, seu antigo editor, Albert torna-se redator-chefe do Combat, em 1944, escrevendo textos opinativos e descritivos sobre o front de combate na Segunda Guerra Mundial. É o ápice de seu engajamento político, amizade com Sartre e exercício literário simultâneo ao trabalho de jornalista. Ele tem 31 anos. O livro O Mito de Sísifo o transforma praticamente em um filósofo, embora ele mesmo negue o rótulo, apesar de sua formação universitária.


Pia fica admirado pela escrita corajosa de Camus, lendo os editoriais em voz alta. O franco-argelino traz um tom crítico quando os americanos jogam bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, mas manifesta pesar pela morte do presidente Franklin Roosevelt. O jornal transforma-se na voz da Resistência Francesa, de esquerda, em oposição ao Le Figaro, conservador, e ao Défense de la France, sensacionalista.


Resume os males da guerra global na obra de ficção A Peste (1947), que foi terminada com muitos conflitos internos. Deixa também o Combat. Vive um período conturbado em sua amizade com Sartre. O amigo francês vai apoiar a URSS de Stalin. Ele sente os excessos do bloco comunista, mas não se alia aos capitalistas. Começa a esboçar o livro O Homem Revoltado. O Paris-Soir lança o sensacionalista Paris-Match em 1949. A imprensa deixa, aos poucos, seu lado intelectual e se torna fortemente comercial, o que o desagrada profundamente. Visita o Brasil, tanto Rio de Janeiro quanto São Paulo. Dá uma entrevista coletiva com a presença de Cláudio Abramo, o diretor do jornal O Estado de S.Paulo.

O ensaio sobre a revolta traz ideias suicidas até Camus, que transforma questões pessoais em fundamentos de sua análise. Uma carta em seu livro O Homem Revoltado, lançado em 1951, menciona os "intelectuais burgueses que querem expiar suas origens", sem citar nominalmente Jean-Paul Sartre. O francês responde, lamentando a perda da amizade. A obra crítica de Albert Camus, sobre as falhas do engajamento comunista, é o estopim de uma separação. Os conflitos das Coreias, da Argélia e de outras questões geopolíticas da Guerra Fria aumentam a diferença entre Sartre, que divulgou Camus em Paris, e o franco-argelino vindo de um mundo subdesenvolvido.

Em 1955, Camus entra no jornal de centro-esquerda L'Express, que convive com a ascensão do comercial Le Monde. Mantém-se pacifista nas questões da independência da Argélia, sua terra natal, o que lhe custa novas inimizades. Sai da publicação em 1956. Em 57, ganha o Prêmio Nobel de Literatura por uma obra "notável num sentido idealista".

Escreve os rascunhos de O Primeiro Homem, livro inspirado em sua vida e com o personagem Jacques Cormery. Em 3 de janeiro de 1960, iria pegar um trem com a mulher Francine. Por insistência de Michel Gallimard, seu publisher, retorna para Paris de carro. Morre no dia 4, às 13h55, com o impacto na hora. Tinha 46 anos. Gallimard morreu cinco dias depois, no hospital. Bateram em uma árvore no acidente.

"A seus amigos, Camus dizia com frequência que nada era mais escandaloso do que a morte de um criança e nada mais absurdo do que morrer num acidente de automóvel".

Trecho da biografia de Olivier Todd.

No Google francês e no espanhol, a empresa de tecnologia e buscas fez uma homenagem ao centenário de Camus com um logotipo estilizado e inspirado no livro O Mito de Sísifo. Veja o Doodle abaixo.


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