terça-feira, 31 de julho de 2012

A importância de ser valente


Poster americano de Valente

Produções culturais voltadas para o público feminino parecem girar em torno da promessa do casamento perfeito. Seja em comédias românticas ou desenhos animados, o enredo das personagens femininas se resume, em geral, à busca pelo homem ideal. A fantasia do matrimônio parece estar enraizada no imaginário dos contos de fadas, em que donzelas indefesas aguardam enquanto o príncipe encantado enfrenta obstáculos para salvá-las.

Com o passar dos anos, esse imaginário sofreu modificações, que podem ser percebidas nas produções da Disney. Filmes como Branca de Neve, Cinderela e A Bela Adormecida, surgidos entre as décadas de 1930 e 1950, retratam princesas frágeis salvas por príncipes corajosos, por quem se apaixonam. Já no final da década de 1980 e início dos anos 1990, surgem as primeiras heroínas através de produções como A Bela e a Fera, Aladdin e A pequena sereia. Porém, a realização de desejos e ambições dessas personagens só é atingida através do casamento, indicando que a mulher ainda depende de uma figura masculina para viver plenamente.

Somente a partir da segunda metade dos anos 1990 e início dos anos 2000 - com o Pocahontas e Mulan -, que surgirão as grandes heroínas da Disney. Suas histórias são marcadas pela busca por liberdade, honra e coragem. São elas as portadoras das virtudes necessárias para ultrapassar os obstáculos que se apresentam e depende somente delas a concretização de seu sonho, que consiste em conquistar seu lugar no mundo. Essas grandes personagens foram sucedidas por outras menos impressionantes, mas nem por isso menos fortes, em produções mais recentes como A princesa e o sapo e Enrolados.

Apesar dessa evolução, esses filmes compartilham uma característica em comum: a ausência de uma figura materna. De Branca de Neve e os sete anões até A princesa e o sapo, a mãe da protagonista morreu, desempenha um papel desimportante ou nem sequer é citada. Quando esse papel possui alguma relevância na trama, é somente para ser vilanizada através das madrastas. Com isso, a relação entre mãe e filha - uma das relações mais complexas e importantes da vida de uma menina – continuou ignorada. As protagonistas firmam suas identidades pela figura do homem, ao qual se distanciam, aproximam-se, igualam-se e/ou se complementam. O masculino sempre se apresenta como a referência a partir do qual o feminino se define.

Fugindo dessa tradição, está a nova produção da Pixar, Valente. O filme conta a história de Merida, uma princesa escocesa que enfrenta a tradição para conquistar o direito de seguir seu próprio destino. Para isso, ela deve enfrentar as preocupações de sua mãe, Elinor, que a treinou para corresponder às expectativas da sociedade. Entretanto, a rebeldia de Merida produz consequências desastrosas, forçando mãe e filha a revalidarem seus laços. Com isso, o cerne de Valente está na relação conflituosa entre mãe e filha, que precisa ser reconstruída em face das adversidades.


Merida e Elinor

Dessa forma, a Pixar criou um novo tipo de princesa. A personagem de Merida não é definida através da comparação com alguma figura masculina. Seu pai é reduzido a coadjuvante e ela sequer carrega interesse romântico por algum rapaz. Sua personalidade e suas ações são determinadas a partir de sua mãe, criando uma identificação do feminino com o feminino. É através da figura de outra mulher, sua mãe, sua rainha, seu futuro, sua tradição, sua história e sua herança, que Merida encontrará o mapa para seu destino. Com isso, o filme emociona na sua capacidade de retratar uma relação primordial para a constituição de qualquer mulher. Além de ser, nas palavras de Ana Maria Bahiana:
(...) refrescantemente próxima da experiência real – e não imaginada, em geral por um homem – de crescer sendo menina, à sombra das expectativas da sociedade, em geral encarnadas na figura materna, mas animada pelo fogo interior que é prerrogativa de todo ser humano. É um tema poderosíssimo, que merece ser retomado muitas vezes de muitas formas, limpo, sem clichês, sem distorções.
A animação também aponta para uma nova tendência identificada por Naomi Wolf, em seu artigo publicado no The Guardian. As produções culturais comerciais estão abrindo os olhos para ambições, desejos e relações importantes da vida de uma mulher, subvertendo a posição primordial que a fantasia do homem ideal possui na sua busca por felicidade e relegando-o a segundo plano. Isso não quer dizer que não há espaço para o amor ou para as relações românticas, apenas estão sujeitas a outras expectativas igualmente cruciais para a mulher. Naomi escreve:
Esses filmes despem os estratos de mística e entusiasmo direcionado às mulheres através da narrativa tradicional do casamento, e aumentam a importância do ponto de vista de que não há um final feliz se ela coloca todas as suas expectativas de aventura, transformação de vida e alegria futura nos ombros de um único homem (e um florista, um designer de vestidos e um serviço de buffet).
Ao contribuir para transformar a percepção sobre o feminino dentro da tradição das histórias de princesas, Valente é também um filme com sensibilidade suficiente para reduzir a figura do homem dentro da vida de uma mulher a uma posição mais realista ao protagonizar uma relação que é muito importante na formação de uma menina, mas que tantas vezes foi ignorada. Atende, assim como as novas comédias românticas, a uma demanda de apontar e representar com fidelidade a diversidade do universo feminino. Um universo complexo, repleto de obstáculos e que, para aquelas que nele vivem, exige muita, muita valentia. 

Mass Effect 3 – Uma carta de amor ao sci-fi


Quando escrevi sobre Mass Effect 2, em agosto do ano passado, comentei que a trilogia que estava sendo construida pela Bioware era a coisa mais importante acontecendo nos games naquele momento. De lá pra cá, sempre que olhava pra esse texto – e o fiz algumas boas vezes – pensava comigo mesmo: “será que exagerei?”. “Será que é mesmo tudo isso?”. Quase um ano depois, vem a resposta.

Shepard: o herói de Joseph Campbell finalmente ganha os games

Mass Effect 3 foi o game mais antecipado dos últimos dois anos e quando finalmente foi lançado, em março deste ano, a grande questão era a mesma que cerca todo capitulo final de uma grande série, seja nos games, cinema, TV ou literatura: o final conseguirá satisfazer tal expectativa? O grande problema desta pergunta é que ela geralmente tem uma resposta injusta, pois cada jogador/leitor/espectador imagina o próprio final e gostaria que a obra se encerrasse daquela determinada forma. Contudo é dificil encontrar pontas soltas e expectativas não satifeitas com o que Mass Effect 3 entrega.

Tecnicamente o game é quase perfeito. Visual lindo, um shooter em 3ª pessoa que mescla de maneira extremamente eficiente com mecânicas de RPG, tudo isto amarrado por um sonorização espetacular, desde os sons de tiros, naves, explosões até finalmente o trabalho de dublagem em um nível alto. Existe sim um bug aqui e outro ali, mas nada que estrague a experiência. Sinceramente, prefiro não perder meu tempo com detalhes técnicos. Para isso existem milhões de reviews espalhados pela internet que podem abordar este aspecto melhor que eu. O que realmente importa em Mass Effect 3 é o que ele representa para todo um gênero.

Quando os créditos finais de ME3 sobem, qualquer jogador com o minimo de sensibilidade começa a relembrar toda a jornada pelo qual passou e a relação que se criou com aquele universo e com todos os personagens que por lá passaram. O que a Bioware conseguiu criar ao longo de três jogos foi uma verdadeira jornada para o personagem, Shepard, e para o jogador. Acompanhamos o inicio de tudo, os períodos de climax e personagens maravilhosamente bem construídos que não apenas enfrentamos, mas que partilham desta jornada conosco. Garrus, Mordin Solus, Tali, Liara, Joker, Miranda...são nomes que vão marcar a lembrança de qualquer jogador. E o fato de nos importarmos com seu destino é apenas consequência de uma grande narrativa.

Mas no fim, tudo se resume a Shepard. O personagem dúbio que ora é uma extensão do jogador, ora tem vida própria, com carisma, personalidade e objetivos. Se no inicio do primeiro ME o jogador quer se tornar Shepard, no final, tudo muda. Nos momentos finais de ME3, eu não apenas queria vencer com o ele, ou ver ele agindo da forma que eu agiria. Eu queria seguir Shepard e eu finalmente conseguia entender porque, naquele universo, ele era a esperança de toda a galáxia. E é este tipo de relação entre jogador e personagem que é raro hoje em dia nos games. Shepard nada mais é do que o herói de Joseph Campbell, que após uma jornada se torna aquele em quem os outros depositam suas esperanças e medos. E, inevitavelmente, sua jornada chega a um final. Um final definitivo.

Minha opinião não mudou. Mass Effect é o que de mais importante aconteceu nos games nos últimos anos. É sem precedentes e, espero, uma porta aberta para novas investidas nas construção de narrativas mais complexas e mais completas. Acima de tudo, Mass Effect é uma carta de amor. Uma carta de amor aos games ao provar que é possível ir sempre além em uma mídia que luta até hoje para provar que é uma forma de arte. Uma carta de amor aos jogadores, dando a eles a oportunidade de decidir o final de um jornada longa e árdua. É uma carta de amor à ficção cientifica e todas as maravilhas que ela já criou. De Asimov à George Lucas, de Phillip K. Dick à Stanley Kubrick. O sci-fi vive nos games. E espero ansiosamente voltar logo para esse magnifico universo.


A polêmica do final: A grande polêmica ao redor de Mass Effect 3 foi o seu final. Muitos jogadores consideraram ele inconclusivo e graças à repercussão, a EA lançou uma expansão que explicaria melhor o final. Joguei com o novo final e em seguida assisti os vídeos do final original.

Sem contar spoilers, posso dizer que o final alternativo não mudou em nada a história do jogo, ele apenas a deixa mais clara. Pois se sou sempre a favor da incerteza e da interpretação própria em sci-fis, cheguei à conclusão que o final merecia ter sido melhor explicado. E o mais importante foi que a Bioware conseguiu fazer isto de uma forma elegante e poética, sem deixar a impressão que estava explicando tudo de qualquer jeito, deixando uma enorme espaço para que o jogador interprete o que realmente aconteceu com o personagem de acordo com as suas próprias conclusões.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Vladimir Safatle e a experiência intelectual na USP

Ele é o colunista da Folha que tocava no assunto delicado da PM na USP nas terças-feiras. É o comentarista da TV Cultura que, diante das câmeras, mantinha a aura de indivíduo crítico na sociedade, mesmo acompanhado por vozes que discordavam de suas ideias.


Vladimir comparecia às aulas das noites de terça-feira sempre com um terno escuro. Em muitas semanas, ele utilizava uma gravata preta, com um visual parecido com os personagens de Quentin Tarantino no filme Cães de Aluguel. Suas aulas, desde março de 2012, eram rigorosamente registradas em texto e distribuída aos alunos. A fala na sala de aula era pausada e preenchida por preposições que remetiam ao rigor dos discursos que o professor ia abordar em sua palestra. Enquanto as palavras ecoavam, a sala com espaço para cerca de 200 alunos estava lotada e silenciosa.

Mesmo pausado em seu discurso, Vladimir Safatle trabalhava para aumentar sua voz nas palavras que marcam as teses de Gilles Deleuze, Félix Gattari e pensadores franceses do século 20. Pós-modernismo, univocidade e crítica eram termos recorrentes. "O que quero ensinar é que não existe pensamento ou pensador irracional. O que vocês vão aprender com Deleuze é que, com as leituras rigorosas, tudo é permitido para ser criado dentro da filosofia. Alguns pensadores tendem a chamar de irracional o que não compreendem".

De março até junho, as aulas de Vladimir Safatle não esvaziaram em quase nenhuma semana. O método de ensino pouco mudou na transição dentro do curso: Eventualmente o professor trouxe slides-shows, mas ele não se manteve nesse artifício. As aulas transcritas, ao invés de se tornarem uma leitura chata ao vivo, viraram um roteiro organizado do professor e dos alunos. As perguntas eram fortemente incentivadas.

Os alunos da USP perseguiam Vladimir pelos corredores, em conversas alongadas sobre as teses de Gilles Deleuze tanto em suas obras originais quanto nas monografias e estudos do autor francês sobre David Hume, Friedrich Nietzsche, Henri Bergson e Baruch Spinoza. Progressivamente, alguns estudantes notaram que Deleuze era uma metáfora sobre a própria condição daqueles que assistiam as aulas de Vladimir Safatle.

"Eu quero oferecer para vocês a experiência de formação intelectual, através das leituras de Deleuze como criação de suas próprias teses", explicou Vladimir, na última aula, justificando o curso e buscando algo além do que está dentro do Departamento de Filosofia da USP hoje. O professor citou um "vício" que existe dentro da universidade: Ler de maneira superficial as obras, sob a justificativa que a investigação das estruturas basta para entender o texto, sem tentar teses mais ousadas sobre a formação histórica e intelectual do pensador. "Filosofar é pensar contra si mesmo", afirmou o professor, mostrando a contradição que é estudar, sem aceitar as estruturas oferecidas pela escola.

Com todas as formalidades e sua organização, Vladimir Safatle deixou uma mensagem final aberta e rica com seus estudos: Ouse conectar as obras que normalmente estudamos para procurar significados novos e formadores de sua própria intelectualidade. Deleuze, segundo Vladimir, pegou emprestado o conceito de hábito em Hume, de intuição em Bergson, de eterno retorno em Nietzsche e de várias outras estruturas para criar uma crítica ordenada no livro O Anti-Édipo, além de conceitos originais em Diferença e Repetição. Vladimir então deixou sua mensagem neste semestre para os alunos da USP: Criar seus próprios Frankensteins, sem se curvar passivamente à análise estrutural imposta pela maioria dos cursos superiores e pela educação em si. Vladimir ia contra a normalidade do Departamento de  Filosofia.

Bola da Vez #16: Resenhas de filmes em vídeo



A jornalista e mestranda Maira Giosa, minha ex-colega da Cásper Líbero, resolveu fazer resenhas em vídeo dos novos filmes que estão em cartaz nos cinemas. Ela está na Espanha e já conferiu O Espetacular Homem-Aranha e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Em vídeos de youtube, ela faz um debate interessante sobre as virtudes dos roteiros de ambos os filmes e seus furos de narrativa.

Outro ponto alto explorado nos dois vídeos são comentários sobre os efeitos visuais, a fotografia e os atores em cada um dos longas-metragens.

Confira o conteúdo logo abaixo.

Maira é colaboradora do blog geek B33p e mantém o site Projetor. Ela também responde no Twitter.




domingo, 29 de julho de 2012

Batman: The Dark Knight Rises - Um retorno ao filme Begins



Pode ler este texto sem medo de saber spoilers do filme. Não terá nada parecido com isso.

Batman The Dark Knight Rises (O Cavaleiro das Trevas Ressurge, no título em português) encerra uma trilogia que revigorou o super-herói da DC Comics em longas-metragens dos estúdios Warner. O grande responsável pela transformação tem nome: O diretor Christopher Nolan, conhecido pelos filmes Insônia e Amnésia. Como este é o último capítulo de uma sequência de filmes de Batman, a pressão em seu lançamento, nesta semana, foi grande. E ele corresponde ao que se espera.

O ator Christian Bale, que ficou apagado no filme anterior diante do vilão Coringa interpretado por Heath Ledger, ganha mais vigor e destaque nesta conclusão. Seu Batman ficou afastado oito anos do combate ao crime em Gotham City. O motivo? A morte de sua amada Rachel Dawes e a morte de Harvey Dent, o promotor de justiça que se tornou o vilão Duas Caras. O acordo com o comissário Gordon ficou claro neste filme: Batman seria responsabilizado pelo falecimento de Dent, considerado um herói para a sociedade. E seria considerado um traidor. Em troca, ele abriria espaço para que a polícia da cidade efetuasse as prisões necessárias na cidade, que estava tomada pelo crime organizado.

O problema é que Bruce Wayne, o bilionário que criou o Batman com sua fortuna e sua tecnologia, não conseguiu se desapegar do super-herói. E vive isolado, distante da sociedade, sofrendo pela perda de Rachel. É assim, dentro do roteiro, que surge Selina Kyle, uma ladra infiltrada entre os serviçais da mansão Wayne. Ela é uma criminosa chamada Mulher Gato e furta o colar de pérolas da mãe de Bruce Wayne.

O simples roubo se transforma, no roteiro de Nolan, em uma ponte entre o Batman, afastado das ruas, e um novo criminoso, chamado Bane. Esse homem é um dos membros ligados com Ra's al Ghul, o líder da Liga das Sombras em Batman Begins, o primeiro longa-metragem desta série Batman. Bane recupera toda uma legião de inimigos que o herói teria derrotado antes, mas que agora desejam sair da prisão e destruir Gotham, e não apenas causar caos, como era o caso do personagem Coringa.

Este último capítulo de Nolan possui um roteiro bem amarrado por não querer se parecer com The Dark Knight, o filme diretamente anterior, e por tentar ligar-se com o primeiro episódio. Anne Hathaway está com uma atuação de tirar o fôlego como a nova Mulher Gato, com sensualidade, verossimilhança e empatia, mesmo sendo uma ladra. Joseph Gordon-Levitt's, ator de A Origem, assume o papel do policial John Blake, subordinado do comissário Gordon, e ganha uma importância positiva e surpreendente no final do filme. Marion Cotillard não está com uma atuação memorável, mas consegue também chamar atenção com a personagem misteriosa Miranda Tate.

Michael Caine encerra a trilogia como o melhor mordomo Alfred de todos os filmes já lançados sobre Batman, principalmente comparado com as séries anteriores às de Nolan. O serviçal faz a maior crítica à motivação duvidosa do super-herói contra o crime, com um senso duvidoso de vingança após a morte de seus pais. Morgan Freeman contina convincente como Lucius Fox. Este Batman é sensacional da sua maneira, sem forçar comparações com outros filmes bem feitos também por Nolan.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Toda hora é hora de aventura!


Logo de Hora de Aventura com Finn e Jake
A partir da década de 1990, os desenhos animados ganharam um novo fôlego com o surgimento de séries como The Simpsons (1989), South Park (1997), Animaniacs (1993/4), todas as outras produções do segmento para crianças do estúdio Warner, o Kids’ WB! (1995), as produções da Nickelodeon, como Hey Arnold! (1996), entre outras. Os desenhos animados  de hoje se tornaram ainda mais inteligentes: o investimento no humor sagaz e irônico, que esconde referências pop sutis, permitiu a criação de animações voltadas para o público adulto, ao mesmo tempo em que fez com que as animações infantis conquistassem fãs de todas as idades. Essa geração é responsável pelo sucesso de séries como Padrinhos Mágicos, As Terríveis Aventuras de Billy e Mandy, O incrível mundo de Gumball, As Aventuras de Flapjack Apenas um show.

Dentro desse contexto, destaca-se o desenho Hora de Aventura com Finn e Jake. Envolvido numa aura de aparente nonsense, essa animação encanta por sua incrível inteligência e sensibilidade, utilizando contornos imaginários para falar sobre o mundo visto a partir dos olhos de um garoto de 13 anos, Finn, e de seu melhor amigo, o cachorro Jake, que vivem na pós-apocalíptica Terra de Ooo. Seus cenários de tirar o fôlego e suas criaturas mágicas arremetam perfeitamente os conflitos de um menino nessa idade, ao mesmo tempo em que suas referências agradam também a um público mais velho que cresceu com videogames de Super Mario, HQs de super-heróis, filmes do John Hughes e animações do Studio Ghibli.

Mas, em um mundo onde animações são feitas por quem gosta e cresceu com desenhos, como as produções da Pixar ou outras séries do Cartoon Netwoork, o que faz Hora de Aventura tão especial? Criado por Pendleton Ward, Hora de Aventura faz um uso esplêndido de referências pop ao mesmo tempo em que leva em consideração a sensibilidade de uma criança. Mais do que criar uma salada mista de símbolos da cultura de videogames, animações e filmes, a linguagem de Hora de Aventura serve para cumprir um grande propósito: permitir que o telespectador navegue dentro do imaginário de uma criança e, no caso de adultos, reviva suas próprias fantasias de infância para redescobrir que a vida é uma aventura.

Pendleton Ward, criador de Hora de Adventura
No livro Everything Bad Is Good For You [1], Steven Johnson escreve: “Cada infância possui seus talismãs, os objetos sagrados que aparentam ser inócuos para o mundo exterior, mas que acionam um assalto furioso de memórias vívidas quando a criança, já crescida, confronta-os”. Para quem passou sua infância nos confins das décadas de 1980 e 1990, assistindo os filmes de Miyazaki, jogando Dungeons and Dragons e lendo quadrinhos, cada episódio de Hora de Aventura parece um retorno frenético a um universo que essas crianças crescidas não estão preparadas para abandonar.

Contudo, o maior mérito dessa série está justamente na sua abordagem de assuntos que dizem respeito ao universo infantil. Em cada episódio, Finn e Jake enfrentam grandes aventuras que dizem respeito a dilemas reais da vida de uma criança, explorando temas como amizade, medo, aventura, heroísmo, violência, morte e amor. No episódio My Favorite People, Jake tem que enfrentar o dilema entre passar mais tempo com seu melhor amigo ou com sua namorada. Já em Morituri Te Salutamus, que consegue fazer uma referência a Roma Antiga e a Mortal Kombat, Jake e Finn devem lutar com espíritos de gladiadores, que, como eles, eram grandes amigos que entraram em apuros. Em Ocean of Fear, Finn deve lidar com sua fobia de oceano, questionando sua capacidade de ser grande aventureiro e herói.

A melhor parte é que o desenho lida com temas difíceis, ao passo que administra uma profusão de informações, sem cair nas falácias do moralismo. Hora de Aventura alimenta aquela fantasia de quem, diante das aventuras de Indiana Jones ou dos desafios dos videogames, possui um forte desejo de explorar o mundo. Entretanto, dificuldades surgem no caminho e, com elas, lições são apreendidas, causando um sentimento de achievement unlocked. O aprendizado, então, aparece como a recompensa de uma grande aventura, sem produzir o efeito moralizante de uma fábula de Esopo. 

Dessa forma, Hora de Aventura é um desenho inteligente feito para crianças inteligentes e imaginativas. Sua fórmula não idiotiza o universo infantil, mas tampouco trata as crianças como sendo mais do que elas são: crianças. Além disso, seus constantes e perceptíveis tributos aos signos da infância dos jovens adultos, associados com sua sagacidade, explicam o enorme sucesso que o desenho possui com o público entre 20 e 30 anos. É um desenho que incita a imaginação, o espírito de aventura, a amizade e a busca por aquilo que é certo, sem ignorar as dificuldades dessa jornada. Ele segue de maneira própria e original o legado das animações que confiam na inteligência de seus telespectadores, mas também faz sua própria contribuição: toda hora é hora de aventura!


[1] JOHNSON, Steve. Everything Bad Is Good For You: How Today’s Popular Culture Is Actually Making Us Smarter. Nova York: Riverhead Books, 2005, p. 1.

terça-feira, 17 de julho de 2012

O adeus de John Lord, tecladista roqueiro e erudito do Deep Purple



O tecladista John Lord morreu de embolia pulmonar aos 71 anos, ontem, dia 16 de julho de 2012. Ele estava em tratamento contra um câncer no pâncreas. Nascido em 1941, ele criou o Deep Purple com Ian Paice em 68, dando origem a uma banda que ditou tendências do hard rock e dos roqueiros que buscavam referências eruditas e pesadas em suas músicas. Saiu da banda em 2002.

Fez parte do Whitesnake entre 78 e 84. Em sua carreira solo, criou melodias orquestradas e fez inclusive uma apresentação na Virada Cultural de São Paulo, em 2009.

O músico recebeu uma bela homenagem na Folha de S.Paulo em um obituário assinado pelo jornalista Marcelo Soares, fã do Deep Purple e da carreira de Lord. Para quem não pode conferir o tecladista ao vivo, ele foi responsável pelas belas composições e solos de clássicos do rock´n´roll como Smoke on the Water e Highway Star. Ficará imortalizado tanto pelas referências a Beethoven que colocava em suas músicas quanto pelos ótimos duetos com o guitarrista Richie Blackmore e o vocalista Ian Gillan.

sábado, 14 de julho de 2012

O que é uma Comic-Con?



Está ocorrendo entre os dias 12 e 15 deste mês de julho a Comic-Con. Evento reúne em San Diego os fãs de quadrinhos, filmes e cultura pop para participarem de palestras com atores, diretores e produtores de filmes como Crepúsculo e Batman, além de seriados como Game of Thrones, Dexter e Big Bang Theory. Os visitantes costumam ir com fantasias de seus personagens favoritos. Mas essa feira sempre foi assim?

Comic-Con tem mais de quarenta anos. Foi um evento de verão criado em 1970 nos EUA para que fãs de quadrinhos, mangás e todas os desenhos animados pudessem compartilhar seus vícios e paixões. Os fundadores foram Shel Dorf, que morreu aos 76 anos, Richard Alf, que morreu neste ano aos 59 anos, e Ken Krueger, que faleceu em 2009, aos 83 anos. Eles eram revendedores e colecionadores de HQs e de livros de ficção científica, uma moda da época que continua até hoje.

Com a decadência da venda de quadrinhos mundialmente, o evento foi cada vez se tornando mais voltado ao cinema e ao mundo do entretenimento. Os super-heróis como Batman, Homem-Aranha e Super-Homem voltaram aos estandes da Comic-Con através de seus filmes, que se tornaram sucessos de bilheteria, superando clássicos cinematográficos.

Outra mudança recente no evento é o número de seriados de televisão apresentados, que já superam o cinema. Em 2011, a Comic-Con teve 80 programas de TV foram apresentados, comparando com apenas 35 filmes divulgados.

Alguns podem dizer que, com o tempo, o evento sofreu transformações drásticas. Mas vale lembrar que os 20 maiores faturamentos nos cinemas incluem os filmes Os Vingadores e Batman: O Cavaleiro das Trevas. Por isso, mesmo em outra mídia, as criações dos quadrinhos permanecem vivas, o que sempre favorece novas Comic-Cons nos Estados Unidos, que reúnem os fãs dessa cultura pop global.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Aaron Sorkin, o rei do pastiche


Elenco de The Newsroom

The Newsroom, nova série criada e escrita por Aaron Sorkin, estreou em 24 de junho de 2012, um ano depois de Moneyball, dois após o lançamento do filme The Social Network e seis anos após o término da série The West Wing, também criados e escritos por Sorkin. A série conta a história de um jornalista temperamental, Will McAvoy (interpretado por Jeff Daniels), que, junto com sua produtora-executiva, Mackenzie McHale (Emily Mortimer), busca praticar um jornalismo idílico, cuja preocupação é informar os telespectadores e contribuir para fomentar os debates políticos nacionais.

Em uma era em que o jornalismo é liderado por grandes corporações que definem suas pautas através de critérios ideológicos e/ou sensacionalistas, a série de Sorkin busca resgatar os grandes valores que percorrem (ou deveriam percorrer) essa profissão: fidelidade aos fatos, descompromisso com ideologias políticas, descaso com os grandes patrocinadores e – o que é típico das séries de Sorkin e do vocabulário norte-americano – patriotismo. Dessa forma, The Newsroom é uma homenagem a uma suposta grande era do jornalismo investigativo, protagonizada por nomes como Edward R. Murrow, Bob Woodward e Carl Bernstein, dentre outros.

O resgate de uma era em que os grandes valores americanos vigoravam é uma fórmula recorrente dos trabalhos de Sorkin. Em The West Wing, Martin Sheen incorporava a figura do perfeito presidente americano no papel de Jed Bartlet. Ele e sua equipe, pouco preocupados com a reeleição de sua administração, representavam a aplicação dos princípios dos Founding Fathers diante dos conflitos contemporâneos. Em Moneyball, Brad Pitt encarna Billy Beane, gerente de um time de beisebol que reconstrói sua equipe através da crença de que seus jogadores devem ser avaliados sob critérios matemáticos que meçam seu desempenho, ignorando superficialidades, como idade, maneiras peculiares de se lançar a bola, antigos ferimentos ou até mesmo beleza, de forma a construir um time digno de grandes astros do passado. A questão central da narrativa de Sorkin é, portanto,sobre a dificuldade de se manter os valores do passado em um mundo em que eles são descartados por motivos menos dignos, como lucro, poder e popularidade.

Jeff Daniels como Will McAvoy

The Newsroom não foge dessa fórmula. A própria abertura nos aponta para o espírito da série: a música tema é muito parecida com a de The West Wing, com uma composição instrumental que remete aos corredores de uma redação e a uma identidade tipicamente americana. Em seguida, o episódio começa com Will participando de um debate em uma universidade sentado – não por acaso – entre uma liberal e um conservador, simbolizando um canal entre dois extremos ou, ainda, uma terceira via. A princípio, seu comportamento é silencioso. Ele é caracterizado pelo entrevistador como o Jay Leno das notícias: aquele que não incomoda ninguém. Sua atitude apática é transformada quando uma estudante da platéia pergunta aos três participantes o que faz da América o melhor país do mundo. Pressionado, McAvoy responde de maneira rude, direta e absurdamente sincera, apontando que o país possui alguns dos piores índices do mundo em diversas áreas como educação e saúde. Contudo, Will prossegue, afirmando que o país costumava ser o melhor do mundo. A partir daí, enumera algumas das grandes diretrizes que guiavam a vida dos americanos, mas que se perderam nos anais do passado: defender o que é certo, lutar por motivos morais, aprovar ou não leis por motivos morais, travar guerras contra a pobreza e não contra os pobres, sacrificar-se, importar-se com seus vizinhos, etc.

Com isso, Aaron Sorkin se confirma como o rei do pastiche hollywoodiano. Suas referências descontextualizam signos do passado, misturando-os com signos do tempo presente, criando uma atmosfera nostálgica. O perigo dessa constante volta ao passado é que provoca uma amnésia histórica, reduzindo-o ao estereótipo ou ao nome de grandes ídolos, cujas particularidades não correspondiam aos anseios e às características de sua época. Ele produz um esvaziamento do passado ao apontá-lo para o mundo real de nossos tempos. Contudo, isso não diminui algumas das características primordiais da escrita de Sorkin, que é conhecida por sua fluência, pelo fervor de seus diálogos e por temáticas relevantes para a sociedade americana. Para Sorkin, valem as palavras de Friedric Jameson direcionadas ao escritor E. L. Doctorow, em seu artigo Pós-modernidade e sociedade de consumo: "Não é nenhum desserviço a ele, contudo, sugerir que suas narrativas representam menos o nosso passado histórico do que as nossas ideias ou estereótipos culturais sobre esse mesmo passado".

Para quem conhece os trabalhos de Sorkin, as cenas seguintes repetem, quando não simbolizam, esse mesmo discurso, que recorrerá por todo o seriado. Palavras como América, patriotismo, liberdade e responsabilidade são constantemente repetidas em uma tentativa de se contrapor a uma tendência atual de direcionar as notícias por um caminho alienante. No fim, trata-se de impregnar as opiniões dos telespectadores com visões convenientes dos fatos que atendem aos interesses de patrocinadores, de governantes e até mesmo daqueles que veiculam as notícias. The Newsroom tenta relembrar que o jornalismo é uma profissão com uma função social importante e nobre: transformar uma nação idiotizada pela mídia em uma nação informada cujos cidadãos possam tomar decisões de maneira consciente e, dessa forma, contribuir para a sociedade.

Entretanto, o que parte como uma reflexão termina por produzir exatamente seu efeito contrário. O que temos em The Newsroom, assim como tínhamos com The West Wing e Moneyball, é um retrato infiel de um passado não muito distante, o que contribui para uma retratação igualmente infiel dos tempos atuais. O que deveria ser uma contribuição para um debate importante – a responsabilidade social da mídia – acaba justamente provocando aquilo que condena: a alienação. Dessa forma, o que poderia ser uma tentativa legítima de produzir um debate de qualidade termina embaçando-o e afastando-se de uma caracterização verdadeira do jornalismo dos dias atuais. Nas palavras de Carl Bernstein, em uma entrevista no site Big Think quando perguntado sobre suas preocupações acerca do jornalismo na atualidade:

Então, eu não estou preocupado. O que me incomoda... e eu também acho que há um pouco de nostalgia demais sobre uma suposta era dourado do “jornalismo investigativo” que nunca existiu realmente. Você sabe, o Wall Street Journal ainda faz umas coisas maravilhosas. É uma questão de ter recursos comprometidos, por um longo período de tempo, em bater em muitas portas, em falar com muitas pessoas, em ter uma administração que está comprometida com isso. E a questão real é se nós teremos o suficiente desse tipo de administração nas velhas plataformas e nas novas, de maneira que essa forma muito importante de trabalho possa florescer.

Com atuações elétricas e diálogos formidáveis, o primeiro episódio da nova de série de Sorkin reproduz a qualidade de seus projetos anteriores. Contudo, somente através de uma visão sincera do presente – com suas qualidades, seus defeitos e suas idiossincrasias – assim como uma reflexão honesta da herança de seu passado é que se torna possível construir ou aquecer o debate acerca de um futuro que corresponda a certos ideais. No que diz respeito a isso, The Newsroom é um fracasso absoluto.


Nota do editor


Clarissa Maria é estudante de Filosofia na FFLCH-USP e é nova colaboradora do Bola da Foca.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Bola da Foca quer conquistar um prêmio no TOP BLOG 2012


Pessoal, normalmente não faço pedidos aqui no Bola da Foca e dificilmente faço posts mais pessoais. No entanto, faço um apelo neste ano. O Bola concorre pela quarta vez no concurso TOP BLOG. Nas edições anteriores, ficamos entre 100 melhores blogs de comunicação. Isso mesmo, ganhamos certificados em três anos seguidos.

Mesmo assim, queremos mais. Queremos estar entre os 10 melhores da categoria e precisamos do seu voto para conseguir isso.

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terça-feira, 10 de julho de 2012

O Homem-Aranha realista e bem humorado de Andrew Garfield




Fui ver O Espetacular Homem-Aranha, dirigido por Marc Webb (500 Dias com Ela) e protagonizado pelo ator Andrew Garfield (o Eduardo Saverin de A Rede Social). Esperava pouco do filme e a ideia de contar a história do super-herói, depois de três filmes com o Tobey Maguire, não me agradou de cara. Eis que fui surpreendido por este bom longa-metragem, com um roteiro bem amarrado.

Em primeiro lugar, o filme começa com a boa proposta de focalizar mais nos pais de Peter Parker do que no tio Ben e na tia May, casal que cria o rapaz nerd que será picado por uma aranha radioativa e se tornará o cabeça de teia mais famoso de Nova York. Isso deu toda uma nova roupagem pra história, que não pareceu desgastada nem aos olhos do fã e nem para o leigo nos quadrinhos da Marvel Comics.

Sem pressa, mas fazendo tudo de maneira amarrada - não dando sono ou parecendo monótono -, o longa-metragem nos apresenta Gwen Stacy, assistente de laboratório do doutor Curt Connors e estudante de ensino médio. Colega de sala de Parker, é ela que provoca a visita do estudante ao laboratório da Oscorp, pertencente ao empresário Norman Osborne, que possui criaturas em testes. Aficionado por biologia e ciências, Parker conhece tanto Connors quanto parte dos segredos da empresa. E mais: Descobre que o projeto científico de seus pais é daquele local.

Com a picada da aranha, o jovem ganha poderes realmente notáveis, a ponto de quebrar móveis de maneira totalmente desastrada e a usar seus reflexos sem nenhuma noção do que está fazendo. Lutando com criminosos na rua, sem nenhum propósito concreto, Peter Parker cria aos poucos o herói que se identificará como o Homem-Aranha. E o ponto de virada, como não pode deixar de ser, voltam a ser os tios do rapaz nerd.

O Espetacular Homem-Aranha acerta em criar um herói que faz piada com suas próprias capacidades, acerta em colocar os personagens em idade jovem (final do ensino médio, dando a entender que haverá continuações que mostrarão o processo de amadurecimento) e, por fim, nos coroa com boas cenas de ação que convencem. Quando Parker sai machucado de um combate, ele realmente volta com o rosto cortado para casa, como um ser humano ficaria. E quando Curt Connors se revela como o vilão Lagarto, os combates começam a ficar realmente pesados no filme.

domingo, 8 de julho de 2012

Reunião da banda Viper: Os "soldados do metal" com bate-cabeça



No dia 1 de julho de 2012, o Viper fez uma apresentação no Via Marquês Eventos que certamente contagiou os fãs nostálgicos da banda e os expectadores que conheciam apenas o André Matos do Angra e do Shaman. Mesmo assim, o show começou com problemas: O grupo atrasou uma hora do horário originalmente previsto e só começou as músicas do álbum Soldiers of Sunrise às 21h. O som da casa também embolou bastante no começo, além de estar em um volume baixo.

Mesmo assim, era impossível não se empolgar com André Matos novamente como vocalista da banda. Com caras e bocas, além de puxar o público com um sonoro "vamos lá São Paulo", o cantor mostrou total controle de sua voz, que executava os falsetes sem nenhuma desafinação perceptível. Hugo Mariutti, ex-Shaman, fez solos rápidos e complementos interessantes na guitarra elétrica. Pit Passarell foi o segundo frontman da banda: Além de mandar bem no baixo, ele ficou brincando com o público com suas dancinhas, diferente de outros integrantes.

O show foi gravado para um DVD da banda, que deve ser lançado ainda neste ano. Antes de começar a faixa-título de Soldiers of Sunrise, André Matos fez um discurso que dificilmente será esquecido, sobre a sua época no começo do Viper.

"Naquele tempo, a gente se sentia como os soldados do metal. Lutávamos contra a ditadura e... arrumávamos briga com os carecas do ABC. Ou a gente tentava, porque, né? Na verdade, eu e o Pitt levávamos porradas naquela época", afirmou o vocalista com aplausos do público, que riu bastante com a história.

Os seis telões da apresentação também mostraram partes de um documentário sobre a história do Viper. Em uma das sequências, um show da banda mostrou André Matos jovem, sem camisa, carregando uma vasoura em chamas. O cantor tropeçou e botou fogo no palco, mostrando o grau de amadorismo deles no passado, e arrancando ainda mais risadas do público.

Outro fato que marcou muito esta apresentação do Viper foi o grande número de bate-cabeças próximos da grade da pista. Nas músicas H.R.(Heavy Rock), To Live Again e A Cry from the Edge, as pessoas tiveram que se segurar para não serem empurradas e alguns foram parar no chão. Muitos foram levantados durante o mosh. André Matos pareceu se divertir com a energia do público: "Nós avisamos os seguranças que essa música terá bate-cabeça. Eles estão assustados!"

Matos chegou a roubar o baixo de Pitt Passarell e fez uma música com o público cantando "ole, ole, ole, ole, Viper, Viper!". "Parabéns pessoal, vocês ajudaram a fazer uma canção totalmente original para o DVD!", disse o vocalista.

Vale dizer também que André Matos e sua banda também jogaram muitas músicas para o público. Living for the Night foi praticamente cantada inteira pelos fãs. O guitarrista Yves Passarell, irmão de Pit, veio ao palco fazer sua participação nessa parte do show. Atualmente ele está ocupado como músico do Capital Inicial, mas prometeu participações ao longo da turnê.

Moonlight mostrou um pouco das habilidades de Matos no teclado, tocando a Sonata ao Luar de Ludwig Van Beethoven.

Com casa cheia, a banda ainda surpreendeu no final com um cover inesperado de We will rock you, do Queen, numa versão realmente mais pesada. Essa apresentação, assim como outras ao lado do Angra e do Shaman, vão ficar para a história de André Matos e dos "soldados do metal" que fizeram história no rock brasileiro.

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