Em primeiro lugar, este texto é opinativo. Contém argumentos, que eu procurei embasar, mas é opinativo. É opinativo porque existe quem afirme que o termo "politicamente correto" existe. E eu acho que é uma falácia, que funciona como muleta de linguagem.
O politicamente correto não existe e é uma muleta, porque esta expressão é utilizada como um recurso por quem não consegue tecer um argumento válido para fundamentar suas próprias teses. É uma desculpa de quem utiliza o termo. Se o humor de comediantes precisa ser politicamente incorreto e apelar para o racismo ou para os argumentos frouxos numa tentativa de ser engraçado, ele não é humor de qualidade. Se a crítica de uma pessoa precisa ser enquadrada em um termo genérico como politicamente correto, é você que falha em sua argumentação mais retrógrada. Você não consegue explicar o outro e utiliza o politicamente correto como uma desculpa.
Quando revolucionários franceses criaram Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789, nenhum girondino ou alto burguês chamou aquilo de politicamente correto. E, caso alguém tenha chamado, o apelido da atitude revolucionária não vingou historicamente, não fez fama alguma. Politicamente correto é, acima de tudo, uma muleta de vocabulário favorável a quem é conservador ou, mais do que conservador, a um indivíduo com dificuldades de conviver com críticas ou diferenças.
O professor de literatura Idelber Avelar, colunista da Revista Fórum, fez um ótimo texto definindo que o politicamente correto nasceu entre as décadas de 1980 e 1990. Ele teria nascido como uma expressão ofensiva da América neoliberal de Ronald Reagan (de direita) contra simpósios como “Correção Política e Estudos Culturais”, promovido pela Conferência das Humanidades Ocidentais em Berkeley (de esquerda). Eu continuo não acreditando na expressão.
Se a direita se vale de uma expressão frouxa para ofender as políticas de esquerda, não vai conseguir fazer história com essa expressão. Vai, talvez, vender livros da série "Guia politicamente incorreto de [insira o assunto aqui]". Vai fazer um sucesso de marketing oco, e só. Esses livros valem por seus conteúdos, e não por serem politicamente incorretos, ou seja lá o que o autor quer que isso signifique. E se a esquerda utilizar esse termo para enquadrar a si própria, não vai validar corretamente seus próprios discursos.
Politicamente correto não existe. E eu espero que você não acredite nele, com toda sinceridade.