domingo, 29 de junho de 2008

...e sem Franco!

O interessante desse título é que a importância dele pode transcender as quatro linhas.
Historicamente, a Espanha sempre foi bastante dividida. Há um forte nacionalismo nas regiões catalã e basca. O país sempre foi um mosaico de identidades, o que dificultou uma unidade nacional. Além dessa heterogeneidade cultural, a nação viveu um nefando período político no século XX: trata-se do governo do general Francisco Franco, que emergiu após uma sangrenta Guerra Civil.
Enquanto governou, o ditador instituiu o castelhano (que o mundo concebe como “espanhol”) e proibiu o catalão, o basco e os demais dialetos. Ele tentou forjar uma homogeneidade nacional que não existia. Isso só fez com que ele fosse desprezado e odiado em localidades distantes de Castela. Houve clubes que conseguiram fazer oposição ao general, como o Barcelona e o Athletic Bilbao.
Em 1964, a Espanha conquistou seu primeiro título da Eurocopa. Sob a batuta do ditador, os espanhóis venceram a União Soviética por 2 a 1 no Santiago Bernabéu e levaram o caneco. No entanto, um título em casa sob o poder de um governante rígido é sempre visto com olhos tortos. Assim foi com a Itália em 1934 e com a Argentina em 1978. A conquista não foi tão comemorada pelos opositores de Franco, nem por catalães e bascos (a não ser pelos simpáticos ao regime).
Após esse troféu , a seleção espanhola não ganhou mais nada significativo. Remetendo a Nelson Rodrigues, pode-se dizer que esse país sofria de um complexo de "vira-latas". Os espanhóis sempre titubeavam em torneios importantes. A sina era sempre a mesma, um time relativamente bom, mas que acabava perdendo. Foi assim em 1982 (em casa), 1998 e 2006. Parecia que o problema era sobrenatural. E não era o de Almeida.
Nessa Eurocopa, no entanto, a Espanha deu um banho de bola, passou com 100% na fase de grupos. Nas quartas de final venceu a Itália nos pênaltis, após partida tensa. Teve sorte? Sim. No entanto, sem sorte o sujeito não consegue chupar um chicabon, nem dar olé em touros. Nas semi-finas, um categórico 3 a 0 contra a Rússia. Hoje a bela vitória sobre os alemães sacramentou o título.
Essa seleção teve muito mais apoio popular do que a de 1964. É um título que, de alguma forma, conseguiu dar a Espanha uma maior unidade, ainda que provisoriamente. O futebol gosta mesmo do dia 29 de junho. Em 1958 o título ajudou a consolidar a identidade nacional brasileira. Hoje, 50 anos depois, o título tem um impacto correlato, pois ameniza as rivalidades regionais e une os espanhóis em torno de uma seleção que é tão castelhana quanto catalã.
Espanha, campeã francamente. E sem Franco.

Crédito original do texto - Pedro Proença

3 comentários:

José Edgar de Matos disse...

Créditos do Texto "...e sem Franco !" - Pedro Proença

Unknown disse...

Muita calma nessa hora. Ainda é muito cedo para saber qual será o impacto do titulo da Euro sobre a Espanha. Vamos nos lembrar que a Espanha é um país muito dividido, e que muito comenta-se que não houve comemoração do titulo no Pais Basco. Vamos esperar para ver. E outra..um titulo da Euro é importante, mas não a ponto de redefinir o futebol de um país, como o da Copa do Mundo. Só lembrar de Euro passada, qndo a vencedora foi a Grécia, que nada fez posteiormente. Vamos esperar e ver...

Anônimo disse...

Thiago, você realmente se acha o fodão, né?

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