
Paulo Pacheco - Como foi o início de sua carreira?
Paloma Piragibe - Fiz cinco anos de Jornalismo na PUC-Rio. O normal são quatro, mas trabalhei do segundo para o terceiro período. Só estou onde estou porque pude “investir” muitas vezes em estágios quase de graça. Mas nada é de graça. Na verdade, sempre vi o trabalho como algo importante demais. Aos 20 anos, lutei para estar em uma redação de jornal (qualquer uma), e a batalha e a sorte me ofereceram o Jornal dos Sports: esporte amador, educação, saúde e especiais de futebol... Descobri minha paixão por personagens, histórias boas pra contar, minha escola. [Fiquei no jornal] Um ano e dez meses, os quatro primeiros sem ganhar nada, dando plantões como todo mundo, mas era minha feliz opção. Eu queria assim. Não me arrependo e faria tudo de novo. Fui chamada para uma entrevista com a ex-técnica de ginástica olímpica e ex-deputada estadual no Rio, Georgette Vidor (foto abaixo), para sua assessoria de imprensa. Entrei no mundo das pessoas com deficiência e essa foi uma das grandes recompensas. Foi aí que descobri a imagem e o som. Produzi um programa na televisão pública para Georgette, PPD em Debate (“Pessoa Portadora de Deficiência em Debate”).
Paulo - Desde quando surgiu o interesse por televisão? Quando foi que você decidiu que queria seguir a carreira audiovisual?

Paloma - Acredito que foi quando entrei no programa estagiar da TV Globo. Em outubro de 2004, uma professora de telejornalismo da PUC-Rio disse para não deixar de fazer a prova do Programa Estagiar da Rede Globo de Televisão. Eram oito ou nove etapas, fui passando e fiquei um ano na Editoria Rio da TV Globo. Quando meu estágio acabou, não me contrataram, mas a galera do Fantástico conhecia meu trabalho pelos corredores, por achar ótimos personagens. Fiquei um ano colaborando nas reportagens, toda terça-feira estava na reunião de pauta do programa. Depois me deram um contrato de quatro meses (eu já estava formada). Ser produtor de reportagem é gostoso demais. É mais ou menos como ser produtor de documentário, só que com a diferença que tem que ser no “time” da TV, ou seja, absolutamente rápido. TV é apaixonante. A responsabilidade é enorme e acho que fazer TV é gostoso por isso: desafio de um bom conteúdo junto com tempo.
Paulo - Como conheceu Nelson Hoineff?
Paloma - Quando o contrato acabou, o produtor Eduardo Faustini me indicou para Nelson Hoineff para fazer o filme Alô, Alô, Terezinha. Só falei ao Nelson assim: “Amo personagens reais.” E ele: “É isso. O filme do Chacrinha será tudo que o cerca, personagens reais. Você pode começar amanhã?” E fiquei dois anos na produtora audiovisual do Nelson – Comunicação Alternativa (COMALT). Alô, Alô, Terezinha foi o filho. Mas pude fazer outros projetos, aprendi formular outras ideias, e não tenho dúvidas de que passei a ver televisão de outra forma. Aprendi muito, mas muito com Nelson.
Paulo - Como conheceu Abelardo Barbosa, sendo tão pequena na época da morte dele?

Paulo - Alô, Alô, Terezinha foi sua primeira experiência com documentários?
Paloma - De um longa sim. Mas, quando trabalhei com Georgette, já tinha decidido que meu TCC seria um documentário e com quatro personagens com deficiências diferentes. Tive a coordenação do grande cineasta e professor Silvio Tendler, que apoiou a ideia.
Paulo - A produção teve o cuidado de transformar o documentário em um registro histórico, muito mais do que um simples momento nostálgico?
Paloma - Desde o início, Nelson não queria algo biográfico. Nada de “papai, mamãe e titia”, entende? Nelson desejou um Cassino do Chacrinha (último programa do Chacrinha) dentro da tela grande. E foi isso que fizemos. Alô, Alô, Terezinha tenta mostrar ao máximo o comunicador Chacrinha através dos calouros, os artistas, as chacretes, ou seja, exatamente tudo que o cercava. Esta foi sempre a ideia do diretor e um bom produtor realiza os sonhos do cara que manda. Foi uma experiência linda, e como toda boa experiência, muita luta, mas muita luta mesmo.
Paulo - Foi difícil encontrar os ex-calouros e as ex-chacretes que aparecem no documentário?
Paloma - Não foi fácil, mas foi prazeroso. Ligava para associações de moradores. Mas até que um dia, durante a dificuldade, pensei: “Rádio é um grande meio de comunicação, calouros em grande parte eram de baixa renda, certamente não estão na internet, mas continuam escutando rádios populares”. Foi aí que comecei a mandar notas para todas as rádios comunitárias. Claro, recebemos trote de pessoas querendo cinco minutos de fama. Aí o jornalismo atuou muito. Selecionamos várias histórias, procurei imagens... Juntei boas histórias com imagens, como foi o caso do Manoel de Jesus (personagem do filme). Achamos grande parte das ex-chacretes através de Nanato e Leleco Barbosa (filhos do Chacrinha). Mas [para encontrar] a Fátima Boa-Viagem, por exemplo, Nelson sempre visitou a cidade Lumiar (região serrana do Rio), e alguém comentou com ele que ela trabalhava lá. Eles se encontraram, e produzimos. Muitas chacretes maravilhosas não entraram apenas pelo tempo. Caso contrário, teríamos umas dez, vinte horas de filme.
Paulo - Os ex-calouros do Chacrinha ficaram surpresos por terem sido requisitados após tanto tempo em que apareceram na TV?
Paloma - Nossa! Eles, as ex-chacretes e de repente até artistas como Biafra, não é? Aquele momento de achá-los e marcar uma entrevista uma glória para eles. Todos ligavam toda semana para saber quando o filme seria lançado, choraram no lançamento. Ligam para mim até hoje! Ficaram eternos na telona, é assim que acham.
Paulo - A última cena de Alô, Alô, Terezinha traz o assistente de palco Russo caminhando ao som da canção de abertura do Cassino do Chacrinha no piano. Esse fim melancólico foi proposital, como se representasse a TV pós-Chacrinha (apática, sem alegria)?
Paloma - Isso foi uma leitura sua. Bela leitura, aliás. Mas não tem como falar do Chacrinha para as pessoas que lhe assistiam sem a palavra “saudade” estar presente. Os momentos eram realmente para serem no estilo dos programas dele, esse foi o objetivo do Nelson. Buscamos o real. Deixamos as chacretes falarem. Um bom jornalista sabe escutar, somos mais que psicólogos, e deixamos todos à vontade. Todos que viveram momentos de glamour e foram esquecidos... Com Alô, Alô, Terezinha, acredito que muitas se sentiram como uma etapa cumprida.
Paulo - Você agora integra a produção (foto abaixo) do Show do Tom, da Record, em que são feitas paródias, como a do filme Tropa de Elite ("Bofe de Elite") e do reality show A Fazenda ("O Curral"). Acredita que, com isso, leva adiante o ensinamento de Chacrinha, que disse que "na TV, nada se cria, tudo se copia"?

Paloma - Para mim, Tom Cavalcante é um artista completo. Além de humorista, se ele quisesse atuar em um musical sairia bem demais, não duvido. Como Chacrinha, Tom faz a diferença na televisão. Não apenas pela elevada audiência que tem, mas pelo trabalho. Ele pensa 24 horas em televisão, como Chacrinha, e tenta “pescar” tudo para usar em algum momento no futuro. Observa, escuta... Tom é gênio, e fazer parte de sua equipe e ter feito [o documentário sobre] Chacrinha, acho que são presentes divinos e coloridos, como a televisão. Uma paixão!
Paulo - Depois de Alô, Alô, Terezinha, pensa na próxima produção? Sonha em ser diretora?
Paloma - Sim. Já tenho projetos em mente e aqueles outros que sonhamos, não é? Um deles é para 2011 e, coincidência ou não, só posso dizer que é outro personagem que mudou a televisão. E o que é sonho ainda é um documentário sobre o Tom. A história e tudo que o cerca é grande demais. E o melhor: ele continua fazendo história, está vivo para poder assistir a seu documentário, diferentemente do Chacrinha. É um sonho.
Retirado do blog http://letrasescapadas.blogspot.com
Um comentário:
Exemplo de entrevista, bem situada com o lançamento do filme.
Parabéns, caro Pacheco.
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