segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Alô, alô, Paloma!

Às vésperas de completar 28 anos, Paloma Piragibe já coleciona êxitos em sua carreira profissional. Formada em jornalismo pela PUC, a carioca encontrou seu auge trabalhando como produtora do filme Alô, Alô, Terezinha (ao lado, Paloma e Roberto Carlos no intervalo das gravações). Esse documentário dirigido por Nelson Hoineff, exibido recentemente nos cinemas e que será lançado em DVD em março, é sobre a trajetória do ícone da TV, entre os anos 60 e 80, Abelardo Barbosa (1917-1988), o Chacrinha. Atualmente redatora do programa Show do Tom, da Record, Paloma revela, em entrevista exclusiva, que seu começo na área não foi fácil – chegou ,inclusive, a trabalhar de graça – e confessa sua paixão por personagens da vida real. Confira:

Paulo Pacheco - Como foi o início de sua carreira?

Paloma Piragibe - Fiz cinco anos de Jornalismo na PUC-Rio. O normal são quatro, mas trabalhei do segundo para o terceiro período. Só estou onde estou porque pude “investir” muitas vezes em estágios quase de graça. Mas nada é de graça. Na verdade, sempre vi o trabalho como algo importante demais. Aos 20 anos, lutei para estar em uma redação de jornal (qualquer uma), e a batalha e a sorte me ofereceram o Jornal dos Sports: esporte amador, educação, saúde e especiais de futebol... Descobri minha paixão por personagens, histórias boas pra contar, minha escola. [Fiquei no jornal] Um ano e dez meses, os quatro primeiros sem ganhar nada, dando plantões como todo mundo, mas era minha feliz opção. Eu queria assim. Não me arrependo e faria tudo de novo. Fui chamada para uma entrevista com a ex-técnica de ginástica olímpica e ex-deputada estadual no Rio, Georgette Vidor (foto abaixo), para sua assessoria de imprensa. Entrei no mundo das pessoas com deficiência e essa foi uma das grandes recompensas. Foi aí que descobri a imagem e o som. Produzi um programa na televisão pública para Georgette, PPD em Debate (“Pessoa Portadora de Deficiência em Debate”).

Paulo - Desde quando surgiu o interesse por televisão? Quando foi que você decidiu que queria seguir a carreira audiovisual?

Paloma - Acredito que foi quando entrei no programa estagiar da TV Globo. Em outubro de 2004, uma professora de telejornalismo da PUC-Rio disse para não deixar de fazer a prova do Programa Estagiar da Rede Globo de Televisão. Eram oito ou nove etapas, fui passando e fiquei um ano na Editoria Rio da TV Globo. Quando meu estágio acabou, não me contrataram, mas a galera do Fantástico conhecia meu trabalho pelos corredores, por achar ótimos personagens. Fiquei um ano colaborando nas reportagens, toda terça-feira estava na reunião de pauta do programa. Depois me deram um contrato de quatro meses (eu já estava formada). Ser produtor de reportagem é gostoso demais. É mais ou menos como ser produtor de documentário, só que com a diferença que tem que ser no “time” da TV, ou seja, absolutamente rápido. TV é apaixonante. A responsabilidade é enorme e acho que fazer TV é gostoso por isso: desafio de um bom conteúdo junto com tempo.

Paulo - Como conheceu Nelson Hoineff?

Paloma - Quando o contrato acabou, o produtor Eduardo Faustini me indicou para Nelson Hoineff para fazer o filme Alô, Alô, Terezinha. Só falei ao Nelson assim: “Amo personagens reais.” E ele: “É isso. O filme do Chacrinha será tudo que o cerca, personagens reais. Você pode começar amanhã?” E fiquei dois anos na produtora audiovisual do Nelson – Comunicação Alternativa (COMALT). Alô, Alô, Terezinha foi o filho. Mas pude fazer outros projetos, aprendi formular outras ideias, e não tenho dúvidas de que passei a ver televisão de outra forma. Aprendi muito, mas muito com Nelson.

Paulo - Como conheceu Abelardo Barbosa, sendo tão pequena na época da morte dele?

Paloma - Lembrava do Chacrinha sábado à tarde em casa com os primos, mas nada profundo. Sabia que era um apresentador. Já era louca por TV, mas não imaginava trabalhar nela. Lembro demais da cobertura do seu enterro. Já na faculdade de comunicação ele era um mito. Chacrinha foi um presente e vai ficar na minha vida profissional e pessoal para sempre. Digo isso porque não vejo TV da mesma forma. Identifiquei-me demais com Chacrinha. Gênio, com uma sabedoria audiovisual, digamos. Como produtora, ao lado do Daniel Maia, e pesquisadora, obviamente descobri e conheci Chacrinha por centenas de programas, estudando uma gargalhada dele, por exemplo, um bordão, livros, o comportamento dele no palco e como ele queria os programas de sucesso que realizou. Chacrinha é único. Digo a todos que estudam comunicação: conheçam um pouco do Chacrinha. Como vale a pena para quando atuarem no vasto mercado audiovisual, seja TV, cinema, celular ou internet, tenha um pouco do Chacrinha, dependendo do conteúdo a ser produzido.

Paulo - Alô, Alô, Terezinha foi sua primeira experiência com documentários?

Paloma - De um longa sim. Mas, quando trabalhei com Georgette, já tinha decidido que meu TCC seria um documentário e com quatro personagens com deficiências diferentes. Tive a coordenação do grande cineasta e professor Silvio Tendler, que apoiou a ideia.

Paulo - A produção teve o cuidado de transformar o documentário em um registro histórico, muito mais do que um simples momento nostálgico?

Paloma - Desde o início, Nelson não queria algo biográfico. Nada de “papai, mamãe e titia”, entende? Nelson desejou um Cassino do Chacrinha (último programa do Chacrinha) dentro da tela grande. E foi isso que fizemos. Alô, Alô, Terezinha tenta mostrar ao máximo o comunicador Chacrinha através dos calouros, os artistas, as chacretes, ou seja, exatamente tudo que o cercava. Esta foi sempre a ideia do diretor e um bom produtor realiza os sonhos do cara que manda. Foi uma experiência linda, e como toda boa experiência, muita luta, mas muita luta mesmo.



Paulo -
Foi difícil encontrar os ex-calouros e as ex-chacretes que aparecem no documentário?

Paloma - Não foi fácil, mas foi prazeroso. Ligava para associações de moradores. Mas até que um dia, durante a dificuldade, pensei: “Rádio é um grande meio de comunicação, calouros em grande parte eram de baixa renda, certamente não estão na internet, mas continuam escutando rádios populares”. Foi aí que comecei a mandar notas para todas as rádios comunitárias. Claro, recebemos trote de pessoas querendo cinco minutos de fama. Aí o jornalismo atuou muito. Selecionamos várias histórias, procurei imagens... Juntei boas histórias com imagens, como foi o caso do Manoel de Jesus (personagem do filme). Achamos grande parte das ex-chacretes através de Nanato e Leleco Barbosa (filhos do Chacrinha). Mas [para encontrar] a Fátima Boa-Viagem, por exemplo, Nelson sempre visitou a cidade Lumiar (região serrana do Rio), e alguém comentou com ele que ela trabalhava lá. Eles se encontraram, e produzimos. Muitas chacretes maravilhosas não entraram apenas pelo tempo. Caso contrário, teríamos umas dez, vinte horas de filme.

Paulo - Os ex-calouros do Chacrinha ficaram surpresos por terem sido requisitados após tanto tempo em que apareceram na TV?

Paloma - Nossa! Eles, as ex-chacretes e de repente até artistas como Biafra, não é? Aquele momento de achá-los e marcar uma entrevista uma glória para eles. Todos ligavam toda semana para saber quando o filme seria lançado, choraram no lançamento. Ligam para mim até hoje! Ficaram eternos na telona, é assim que acham.

Paulo - A última cena de Alô, Alô, Terezinha traz o assistente de palco Russo caminhando ao som da canção de abertura do Cassino do Chacrinha no piano. Esse fim melancólico foi proposital, como se representasse a TV pós-Chacrinha (apática, sem alegria)?

Paloma - Isso foi uma leitura sua. Bela leitura, aliás. Mas não tem como falar do Chacrinha para as pessoas que lhe assistiam sem a palavra “saudade” estar presente. Os momentos eram realmente para serem no estilo dos programas dele, esse foi o objetivo do Nelson. Buscamos o real. Deixamos as chacretes falarem. Um bom jornalista sabe escutar, somos mais que psicólogos, e deixamos todos à vontade. Todos que viveram momentos de glamour e foram esquecidos... Com Alô, Alô, Terezinha, acredito que muitas se sentiram como uma etapa cumprida.

Paulo - Você agora integra a produção (foto abaixo) do Show do Tom, da Record, em que são feitas paródias, como a do filme Tropa de Elite ("Bofe de Elite") e do reality show A Fazenda ("O Curral"). Acredita que, com isso, leva adiante o ensinamento de Chacrinha, que disse que "na TV, nada se cria, tudo se copia"?

Paloma - Para mim, Tom Cavalcante é um artista completo. Além de humorista, se ele quisesse atuar em um musical sairia bem demais, não duvido. Como Chacrinha, Tom faz a diferença na televisão. Não apenas pela elevada audiência que tem, mas pelo trabalho. Ele pensa 24 horas em televisão, como Chacrinha, e tenta “pescar” tudo para usar em algum momento no futuro. Observa, escuta... Tom é gênio, e fazer parte de sua equipe e ter feito [o documentário sobre] Chacrinha, acho que são presentes divinos e coloridos, como a televisão. Uma paixão!

Paulo - Depois de Alô, Alô, Terezinha, pensa na próxima produção? Sonha em ser diretora?

Paloma - Sim. Já tenho projetos em mente e aqueles outros que sonhamos, não é? Um deles é para 2011 e, coincidência ou não, só posso dizer que é outro personagem que mudou a televisão. E o que é sonho ainda é um documentário sobre o Tom. A história e tudo que o cerca é grande demais. E o melhor: ele continua fazendo história, está vivo para poder assistir a seu documentário, diferentemente do Chacrinha. É um sonho.

Retirado do blog http://letrasescapadas.blogspot.com

Um comentário:

Pedro Zambarda disse...

Exemplo de entrevista, bem situada com o lançamento do filme.

Parabéns, caro Pacheco.

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