terça-feira, 27 de maio de 2008

Diário de uma Arubaito - parte 3

As duas primeiras semanas de trabalho foram reservadas para aprender a lidar com as broncas, pegar prática no serviço e acostumar-me com o ritmo de vida e o aperto de praticamente todos os lugares. O banheiro, por exemplo, era dividido em duas partes: num cubículo ficava o vaso sanitário (onde se jogava o papel higiênico) e no outro estavam o ofurô (banheira), o espelho e a pia. Entre eles ficava a máquina de lavar.

O appato(apartamento) em que morava era uma kitnet ideal para uma pessoa. O alto preço do aluguel, porém, obrigava-nos a dividi-lo com mais duas ou três moradoras. Externamente, o apartamento mais lembrava a porta dos fundos de um restaurante, já que também era velho. Lá, dormíamos no chão em futons, uma espécie de edredon. A falta de espaço, levando-se em conta que cada uma das moradoras levou para o Japão duas malas de 32 kg, fez com que eu passasse a dormir num armário onde inicialmente eram guardadas todas as malas. Ali, pelo menos, eu tinha um mínimo de privacidade e não precisava dormir sob a luz, o que me desagradava. Lá pelas 20h eu já estava me preparando para dormir, pois às 6h o despertador tocaria e queria evitar ter de trabalhar cansada no dia seguinte.
Nesse período inicial de minha estada, a sensação era uma mistura de esperança de que a situação melhorasse e dúvida sobre o sentido de estar ali. Foi, no entanto, o único momento em que parei para pensar se tudo aquilo valia a pena e, em momento algum, bateu o arrependimento. A impressão que tive das meninas com quem dividia o quarto foi a melhor possível, e me fez até iludir-me de que a convivência se manteria positiva até o fim do baito. Naquela fase, porém, eram somente elas com quem eu podia contar.

No dia 25 de dezembro, nada de diferente aconteceu. No Japão não se comemora o Natal, já que o país não é cristão. Acordamos, fomos trabalhar, voltamos e dormimos. Creio que a única diferença foram uns dois “Feliz Natal” que ouvi durante todo o dia. Muito diferente das comemorações que devem ter ocorrido no Brasil, um país extremamente alegre se comparado à frieza do Japão.

Três dias depois estávamos parando de trabalhar para o oyasumi (dias de descanso), uns dos poucos dias em que a fábrica pára de funcionar por completo. Antes de sairmos de lá, os chefes fizeram questão de nos lembrar que no dia 7 de janeiro deveríamos estar de volta ao trabalho.


foto 1: banheiro minúsculo. Vaso sanitário separado da pia e do ofurô, ao fundo.

foto 2:
interior do appato semelhante ao que morei.

foto 3: placa indicando a rede Leopalace
(conjunto Mirai - Kakegawa-shi Shizuoka-ken).

2 comentários:

Gabriel Carneiro disse...

Gostei mais dos outros dois textos...

Está bom.

Anônimo disse...

Acho que pela foto, nem precisava falar que o banheiro era minúsculo..

só não entendi até hj esse negócio de vc dormir no armário. vc dormia em pé, é isso?

isso tudo é tão surreal que nem consigo processar, Lari.

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