terça-feira, 13 de maio de 2008

O sonho incompreendido de Woody


Imagem: Hernández (http://www.monerohernandez.com/)


O mais novo filme de Woody Allen, O Sonho de Cassandra, tem sido presença constante na mídia desde sua estréia, há algumas semanas. O que tem me espantado é a quantidade impressionante de críticos que dizem que Woody perdeu a mão e está se repetindo, explorando a mesma temática de Match Point (2005). A base dos dois filmes é a mesma: um crime seguido de um dilema (e não propriamente um castigo, por mais admirador que Allen seja de Dostoiévski). A grande sacada do diretor - e é isso que a maioria está falhando em enxergar - é o tratamento dado ao tal dilema.

Match Point explorava a tentativa de Chris Wilton de escapar do crime que cometeu quando sua amante engravidou acidentalmente e tornou-se uma ameaça para seus planos de escalada social. O ex-tenista, no entanto, não é um "criminoso nato" e começa a ser esmagado pelo peso do ato que cometeu, o que chega até a, em alguns momentos, sugerir seu desejo de ser capturado para acabar logo com tudo aquilo (bem nos moldes Dostoievskianos de Crime e Castigo). Esse peso, porém, é aliviado quando a responsabilidade acaba pesando sobre outro personagem, o que mostra que Chris Wilton não é propriamente um homem de caráter - exemplificado por sua máxima "Prefiro ter sorte do que ser bom".

O Sonho de Cassandra mostra a reação de Ian e Terry - representações allenianas de Cain e Abel - frente ao mesmo crime, quase como se os irmãos sem sobrenome que velejam no sonho de cassandra fossem os dois lados da personalidade de Chris Wilton.
Terry é um homem casado, com uma vida estável, que está pensando em constituir uma família e conseguir um emprego melhor, abrindo sua tão sonhada loja de materiais esportivos. Ian despeja toda sua vida (e suas economias) na fachada de bon vivant que sustenta para namorar uma ambiciosa atriz de teatro, que, intencionalmente ou não, parece controlá-lo como quer.

Por viverem situações tão distintas, os irmãos esboçam atitudes completamente diferentes e até mesmo antagônicas frente ao favor pedido por seu tio Howard; e é aí que está a genialidade de Woody Allen, quando ele nos mostra como somos frágeis e manipuláveis e como não podemos sempre confiar em nossos instintos, nem mesmo em nosso julgamento - e tudo envolto na trilha brilhante de Philip Glass.

Claro que eu posso estar errado. Woody pode mesmo ter explorado o tema de Match Point, poupado esforços enquanto fazia Vicky Cristina Barcelona, (com Penélope Cruz e Javier Bardem) e tudo isso que eu escrevi pode ser um monte de besteiras. Mas como vocês nunca vão saber se eu estou apaixonado por uma femme fatale ou casado com uma inglesinha sem sal, vão ser obrigados a acreditar na foca; ou discordar. Enfim, façam o que quiserem, foi só um desabafo.

5 comentários:

Unknown disse...

Bom, sinceramente eu sou um daqueles que acredita que o bom e velho Woody vêm perdendo um pouco a mão. Scoop foi fraco demais, e faz tempo que ele não acerta na escolha do elenco. Enquanto Jonathan Rhys-Meyer foi o elo fraco em Match Point, Scarlet Johanson não se acertou em Scoop e Colin Farrel se mantém o sempre fraco em Sonho de Cassandra.

Fernando Gonzalez disse...

O Colin Farrel está realmente uma piada; mas, pra mim, Scoop foi como uma volta rápida ás comédias, à la Escorpião de Jade e Love and Death. Mas Colin Farrel está REALMENTE uma piada.

Gabriel Carneiro disse...

O Sonho de Cassandra, assim como Ponto Final, remetem muito mais a Crimes e Pecados. Não são filmes-irmãos. A relação familiar está muito mais ligada à traição familiar do filme de 1989.

Não é um filme ruim, pelo contrário, mas dentro das produções inglesas dele, é o mais fraco. (note que Scarlett Johansson não está presente no filme, o que pode ser a causa)

Unknown disse...

Ah sim, e eu também acredito que Sonho de Cassandra é apenas um filme de passagem, enquanto Allen estava muito mais preocupado em fazer Vicky Cristina Barcelona.

Fernando Gonzalez disse...

Essa não foi a impressão que eu deixei, né? Porque eu não acho isso não, hahaha.

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