domingo, 11 de maio de 2008

Conversa de bar


J: -Sabe, às vezes penso que esse mundo tá mesmo de perna pro ar.
S: -Ah, eu tenho certeza disso. Basta ligar a televisão no noticiário pra comprovar.
J: -É... Dá nem vontade de por filho nesse mundo, nesse mundo feio.
S: -Pois é. Mais um pra sofrer... dá não cumpadi.
J: -Difícil... difícil e complicado. Sei nem cuida de mim nesse mundo louco...
S: -Tem tanto crime, tanta maldade, violência...
J: -Insegurança o tempo todo.
S: -Mas eu não tenho medo de nada não, chapa. Tenho nada a perder mesmo.
J: -Essa conversa ta profunda demais já... vamo tomá a breja sossegado, antes que esquente.
S: -Depois de um dia cheio lá na fábrica, com aquele porre do supervisor, tem nada melhor que nosso “happy hour da cohab”, né não?
J: -É! Falou e disse!
Nesse momento, o dono do bar se dirige a J e diz: Telefone pra você, ali no balcão.
S: -Quem era
J: -A patroa merirmão! Tá meia estranha, falou pra mim voltar logo pra casa...
S: -Não vai espera o churrasquinho? Nem os petisco?
J: -Dá não, vô vê o que ela quer.
S: -Tu pagou lá, o cara que concerta a geladeira? Mano honesto que te indiquei, jogava futebol com ele quando era moleque.
J: -Ih... nem lembrei. Vai vê é isso... A mulhé deve ta puta comigo. Como fui esquecer?
S: -Melhor ir lá então. Até amanhã no serviço.
J: -Até... vê se não atrasa de novo, parece que gosta das bronca do outro pé no saco lá...
S: - Podexa parceiro, to esperto já.
Chegando em casa, J encontra sua mulher com um olhar que ele nunca tinha visto, e com a face tomada por uma expressão ligeiramente aflita. O clima estava diferente.
J: -Que que aconteceu mulhé? Precisava ligar lá no bar assim? Já disse que vô pagar o cara da geladeira, esquenta não princesa.
M: - É que... eu também não esperava, mas... J, eu tô grávida.

3 comentários:

Pedro Zambarda disse...

É, o mundo tá de pernas pro ar mesmo.

Dá pra notar a "caipiragem" no "concerto" mesmo, que não é de orquestra, hahahahahaha

Ótimo texto, Naná!

Rafael Lacerda disse...

Coisas da vida...

Ogra, para de ler Verrissímo e vai ler seus textos de História, vai \O

AHuHAuAHUAhuAUhuA

Mônica Alves disse...

Dá pra imaginar quantas conversas desse tipo existem no país por dia?

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