terça-feira, 27 de maio de 2008

Adeus e obrigado Guga

Lembro-me vagamente daquele domingo de 1997. Eu tinha apenas 9 anos e assistia ao Fantástico junto aos meus pais, quando chegou a notícia de um desconhecido brasileiro que havia ganho um grande torneio de tênis na França. Eu não tinha ainda a menor idéia que tal torneio era Roland Garros, e muito menos tinha idéia da sua importância. Mas o nome deste brasileiro ficou na minha cabeça, ou melhor, o seu apelido: Guga.

A ascensão do jovem tenista brasileiro foi meteórica, a ponto de em 2000, apenas três anos após conquistar Roland Garros, Gustavo Kuerten assumiu a ponta do ranking mundial, em um ano perfeito. Logo a mania do tênis, um esporte até então completamente desconhecido, se espalhou pelo país. Era a "Gugamania". O país que antes mal sabia as regras do jogo estava se acostumando a termos como “backhand” e “slice”. Logo depois crianças começaram a invadir as quadras de tênis do país. Confesso que fui uma “vítima” desta mania. Ingressei no tênis no ano 2000, aos 12 anos de idade, e só fui largar o esporte quatro anos depois, por uma série de motivos. Mas não abandonei o amor pelo esporte, amor esse que foi crescendo na medida em que Guga se tornava um ídolo pessoal e nacional.
Não há como negar que havia algo diferente naquele garoto de cabelos fartos e sorriso fácil. Não era apenas o Brasil que o amava, mas sim o mundo. Foi ele que, com corações desenhados em quadras e horas de autógrafos, ensinou ao mundo que é possível sim torcer com emoção em um esporte que pede silêncio. E não era só simpatia, afinal, o tênis que ele jogava era empolgante. No saibro, foi imbatível em seu tempo. Sua esquerda de mão única era matadora e seja em Montecarlo, Hamburgo ou Roma, Guga era favorito. Mas, quando chegava Roland Garros, não era apenas favorito, era sim temido. Foram três títulos: em 97, 2000 e 2001 contra Sergei Brugera, Magnus Norman e Alex Corretja, respectivamente. Entre os adversários vencidos nestas campanhas estão nomes como André Agassi, Yefigeny Kafelnikov, um jovem Roger Federer entre outros. Também fez historia nas quadras rápidas ao conquistar nada menos que o Masters Cup, copa do mundo do tênis em que participam os 8 melhores tenistas do ano. Kuerten não apenas venceu este torneio, ele fez milagre. Venceu simplesmente dois dos maiores tenistas da historia, um após o outro. André Agassi e Pete Sampras não foram pareo para um Guga inspirado.
Gustavo Kuerten não está na lista dos dez maiores jogadores da historia, embora talvez esteja em uma que englobe os 20. O tempo e o próprio corpo foram implacáveis com Guga, tiraram dele pelo menos mais 5 anos de um tênis em alto nível. Foram implacáveis conosco também, já que fomos privados de duelos com Roger Federer e, principalmente, Rafael Nadal. Nossa, como seria bom ver esses dois jogando uma final de Roland Garros... Assim como foi bom ver sua última partida domingo, no mesmo torneio. Todos sabíamos que Guga não tinha chance de ganhar, faltava-lhe o físico. Mas o jogo, em si, foi secundário. O que importou realmente foi acompanhar aquelas raquetadas pela última vez, ouvir os gritos enquanto soltava um backhand, ou a torcida gritando seu nome. É uma sensação estranha ver um ídolo encerrar a carreira. É a terceira vez que sinto isso, e sei que ainda vou sentir no minimo mais umas duas vezes. Ao mesmo tempo em que um vazio se instala na gente, também está presente a sensação de que vimos algo grandioso, que poderemos contar isso para nossos filhos, netos. Talvez seja apenas uma ilusão, mas eu agradeço por ela. Tudo que resta dizer agora é adeus Guga e obrigado por tudo que você fez por este país, por seus fãs e por si mesmo. Porque isso sim é o que mais importa. Vá torcer pelo seu Havaí e pegar sua ondas. Afinal, você merece.

3 comentários:

Pedro Zambarda disse...

Texto entusiasmado, mas em sintonia e intimidade com a carreira de Guga.

Não sabia que você curtia tenis, hehe.

Mônica Alves disse...

É incrível como ainda tem gente que o considera um jogador medíocre. Chega a ser triste.

Anônimo disse...

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