sexta-feira, 16 de maio de 2008

Sai Marina Silva, e perde a Amazônia.

O Brasil perdeu essa semana uma das mais ativas vozes no governo. Com a demissão da ex-ministra Marina Silva, perde Lula, perde a imagem do governo e a imagem do Brasil como um todo e, principalmente, perde o meio ambiente. Mais especificamente a Amazônia. O seu substituto, Carlos Minc, do PT-Rio, tem uma longa carreira como ativista ambiental. No entanto, é possível dizer tranqüilamente que seus cinco mandatos consecutivos de deputado estadual foram o suficiente para que seu ativismo se tornasse um pouco mais condescendente.
Em artigo publicado neste quinta, o Le Monde da França é enfático ao afirmar que o Brasil “dá as costas para a Amazônia e abraça definitivamente o PAC”. E tal afirmação não poderia estar mais correta. Desde que assumiu o patamar de “superministra”, Dilma Roussef vem crescendo cada vez mais em esferas que vão muito além daquelas que estão sob a pasta do ministério da Casa Civil. Como “mãe” do PAC, como gosta de afirmar Lula, Dilma começa aos poucos a tomar as rédeas do crescimento industrial brasileiro, firmando assim uma postura de liderança visando uma rápida expansão econômica, que garantiria muitos pontos na corrida presidencial de 2010. Pode-se dizer sim que o PAC, apesar de necessário e extremamente bem arquitetado com a iniciativa privada, surge como uma jogada que tende a uma consequência eleitoral. O PT passa de partido sem candidato a favorito nas eleições de 2010, e Marina Silva atrapalhava tais planos.
Em sua carta de demissão, que irritou profundamente o presidente Lula, Marina disse não se sentir mais útil ao Brasil atuando na posição em que estava. E a nomeação do Ministro de Assuntos Estratégicos para cuidar do plano de desenvolvimento sustentável da Amazônia foi o exemplo final do isolamento que a ministra, amiga pessoal e velha companheira de Lula e Chico Mendes vinham sofrendo. Segundo o Financial Times, a ministra estava se tornando cada vez mais descontente nos últimos meses devido às varias obras na região da Amazônia que vinham ganhando aprovação governamental, mesmo sem o aval dela. Em um momento, ainda segundo o jornal americano, ela teria se irritado muito com uma declaração do presidente Lula onde ele dizia que “o desenvolvimento da região estava sendo atrapalhada por causa de alguns peixes”.
Outra grande razão para a demissão de Marina foi a questão dos biocombustíveis. Não que a ministra seja a favor da idéia leviana de que a produção de cana-de-açúcar no país vai gerar uma queda significativa na produção de alimentos, mas era o avanço da produção dentro das reservas amazônicas que vinha causando sucessivos atritos com senadores e deputados da bancada rural e com o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. No entanto não se pode dizer que a saída de Marina foi lamentada por todos, e o próprio Carlos Minc afirmou, após elogiar a gestão da ex-ministra, que o caminho agora é procurar uma conciliação para a nova fase em que o Brasil se encontra, de crescimento progressivo. Foi uma crítica velada a uma suposta incapacidade da ex-ministra em negociar com Dilma Roussef e o presidente Lula para um caminho mais tranqüilo, tanto para o PAC quanto para o meio-ambiente.
Obviamente não podemos afirmar se a Amazônia sofrerá mais ou menos com a saída de Marina Silva, mas afirma-se que um plano de defesa ambiental não é mais prioridade no Governo Lula. Governo este que parece ter se deslumbrado com um plano de crescimento rápido e eficaz, porém gerando séria consequências ambientais, que não devem de forma alguma ser ignoradas. Afinal de contas, é com essa mesma preocupação ambiental que o país vem lucrando, aumentando cada vez mais a exportação do biocombustível brasileiro, fechando acordos internacionais e ganhando uma boa fama mundial.
Apesar disso, não podemos esquecer também daquele trio de pessoas que se reuniram no Acre em 1984, fechando madeireiras e clamando por uma solução para a floresta. Quem eram elas? Chico Mendes, Marina Silva e Luiz Inácio Lula da Silva.

Um comentário:

Mônica Alves disse...

Marina Silva passou pela Ministério como mais uma ministra, essa é a verdade. No meio de tantos escândalos durante os dois mandatos de Lula, Marina sempre esteve discreta, e acho que isso a atrapalhou. Querendo ou não, ela não tinha o apoio popular simplesmente por não ser conhecida pelo povo. Um absurdo, uma perda enorme e, infelizmente, uma triste constante no futuro amazônico.

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