O homem que fez o Brasil chorar...duas vezes!
Quando o assunto é futebol, não existe ninguém superior ao Brasil. Ninguém superior em talento, quantidade de gênios e, principalmente, ninguém superior em arrogância. E tal arrogância é justificada, afinal somos a única seleção que se classificou para todas as Copas do Mundo, somos recordistas em títulos, 5, e em finais, 7. Ou seja, quando somos derrotados não são méritos do adversário e sim defeitos e falhas nossas. E não existe nada mais sintomático que os desastres ocorridos em 1998 e em 2006, quando o Brasil foi humilhado mundialmente por uma seleção que não chamava muita atenção desde a década de 80: a França, quando ela própria eliminou uma seleção brasileira espetacular liderada por Zico. E por que 2006 e, especialmente, 1998 foram mais traumatizantes? Por causa de um homem: Zinedine Zidane.
Zidane nasceu em 23 de Junho de 1972 em Septème-les-Vallons, filho de imigrantes argelinos. Seu primeiro contrato como jogador foi como amador em 1982 com o US Saint-Henry. Depois de jogar no amadorismo, Zidane chamou a atenção AS Cannes que o contratou com apenas 15 anos de idade. Foi um inicio extremamente prematuro para a época. Sua estréia no time principal foi aos 17 anos, em 20 de maio de 1989, há exatos 19 anos. Em 92 ele se transferiu para o seu primeiro grande time, o Bordeaux. Logo na primeira temporada ele marcou 10 gols, um número impressionante para um meia na França. Depois de algumas temporadas de extremo sucesso, onde Zidane e o atacante Lizarasu levaram o time à final da Copa de UEFA em 96, iniciou-se um leilão pelo passe do já considerado craque. Quem levou a "sensação francesa" foi o Juventus de Turim, por 35 milhões de francos. E Zidane não poderia ter tido um começo melhor no Calccio (campeonato italiano). Logo de cara, na temporada 96/97 foram conquistados o campeonato italiano, a Copa da Itália, Supercopa de Europa e o Mundial de Clubes. Muitos já especulavam sobre a Copa de 98, e o provável encontro entre os dois maiores jogadores do mundo: Ronaldo e Zidane.
Bom, como a média da idade dos leitores deste texto gira em torno de 20 anos pra baixo, todos deveriam ter em média 10 anos de idade. Mas me lembro exatamente de cada jogo daquela Copa de 98. Não só os jogos do Brasil, mas também os jogos de uma França que ao poucos começavam a espantar o mundo com sua campanha em casa. O Brasil fazia jogos épicos, como a lendária semifinal contra a Holanda. A França fez jogos burocráticos, mas se classificou com a única pontuação máxima de 9 pontos na primeira fase. Mas Zidane fazia milagres, sendo a espinha dorsal de um time limitado, armava jogadas geniais e driblava com uma elegância ímpar. Até que o esperado embate chegou: Brasil versus França na final da Copa da França. Brasil era favorito, liderado por um fenomenal Ronaldo. Só que Ronaldo não jogou naquela partida, por motivos que não entrarei no mérito nesse texto. E o que se viu não foi apenas um Brasil que jogou mal, foi um Zidane que fez mágica. Fez o mundo se espantar com lances tão elegantes que só se imaginaria ver em imagens resgatadas de Franz Beckenbauer, ou em uma música de Frank Sinatra. O que se viu foi o nascimento definitivo de um dos maiores gênios da historia do futebol. E, por mais que se diga que o Brasil estava estranho naquele dia, não há como negar que houve um verdadeiro espetáculo no estádio Saint Denny naquela noite de domingo de 1998. Resultado: França campeã mundial pela primeira vez na historia e Zidane eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa.
Não pretendo me estender contando os últimos 6 anos da carreira de Zinedine Zidane. Até porque, tais anos já são passível de memória dos leitores. Tudo o que resta é lembrar de como gênios sempre ressurgem quando mais são necessários. Como Michael Schumacher em sua última corrida, como Michael Jordan na final da NBA em 98, ou seja como Ronaldo na Copa de 2002, Zidane ressurgiu das cinzas para brilhar pela última vez na Copa de 2006. E tal ressurgimento tinha que ser contra o Brasil. Tinha ser justamente contra a seleção que o alçou a categoria de gênio. O Brasil chorou naquela quarta-de-final em Julho de 2006. Chorou a má atuação do time, chorou a humilhação sofrida por um esquadrão até então imbatível. Mas o que ficou pra mim foi a despedida do maior jogador que já vi tocar numa bola de futebol. Hoje, em 2008 posso dizer que não vi Pelé, não vi Maradona, mas vi sim Zinedine Zidane.
Um comentário:
Apesar do ufanismo fundamentado do Brasil sobre o futebol, acho que Zidane foi bem-vindo em seu futebol de qualidade. Se continuasse sempre com brasileiros de ponta, o esporte seria uma coisa muito monótona.
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