quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Max Payne 3 - sangue, álcool e...Brasil

Não existem muitos personagens nos games exatamente como Max Payne. Vamos direto ao ponto neste texto. Por mais que a indústria tenha evoluído, por mais que a narrativa em torno dos games tenha se aprofundado, uma regra permeia quase todos os grande jogos lançados: o jogador normalmente quer ser o personagem. E nada faz mais sentido que isso, afinal de contas, a partir do momento em que o jogador controla as ações de um personagem, ele instintivamente se coloca em seu lugar. Mas ninguém, absolutamente ninguém, gostaria de ser Max Payne! Max é a definição não-cool de um anti-herói. Max Payne é a encarnação daquilo que seu sobrenome lembra: pain, dor.
A primeira versão da série foi lançada em 2001 para PCs, e logo chegou ao PS2. Embora já se falasse em roteiros mais adultos há algum tempo, a história tinha como ponto de partida a morte violenta da família do personagem principal, seguida por uma trama que envolvia a máfia nova-iorquina, tráfico de drogas e assassinatos. Esse enredo lembrava muito mais filmes policiais do um game. Com um clima noir, Max Payne trouxe para os games a certeza de que se poderia ir além de uma simples maturidade de história, entregando um personagem complexo e trágico. Tudo isto embalado por uma jogabilidade inovadora para época, mesclando tiroteios em terceira pessoa com câmeras lentas, o bullet time do filme Matrix.

11 anos, muitas incertezas, um segundo capitulo que não causou tanto impacto e uma troca de produtora depois, e a trilogia de Payne está completa com Max Payne 3. Lançado em junho deste ano, o game foi totalmente produzido pela Rockstar, aquela mesma empresinha que só fez GTA, Red Dead Redemption e L.A. Noire. E a grande expectativa ao redor do game não foi em vão. E como é bom dizer que toda a expectativa não foi em vão. Max Payne 3 é tudo aquilo que se poderia esperar não apenas de um jogo da série, mas de um grande jogo da Rockstar.

Depois de afundar se em copos e mais copos de bebidas baratas, Max Payne abandonou New Jersey. Seu trabalho agora está em São Paulo, como segurança particular de um grande empresário brasileiro e sua mulher, uma clássica socialite paulistana. Contudo, obviamente, a coisa vai bem mal quanto a mulher de seu cliente é sequestrada e Max tem que arrumar a bagunça que, em sua visão, ele mesmo causou. E pronto. Contar qualquer coisa além disso será um crime contra uma trama não-linear, mergulhada em um clima tenso e inquietante.

Pode-se  perceber cada linha de expressão no rosto de Max
Se tem uma coisa que a série ganhou com a Rockstar, é em ambientação, em por isso, leia-se São Paulo. Ninguém entendeu muito bem quando a empresa anunciou que o game se passaria por aqui, mas a decisão foi acertada. Sai a neve, entra o sol e o calor, maravilhosamente bem retratados através de cores vivas e pulsantes, caminhando juntamente ao festival de sangue  que o game traz. Graficamente, Max Payne 3 é um típico jogo da Rockstar. Ambientes maravilhosos, alguns personagens espetacularmente bem produzidos, enquanto outros não. O próprio Max neste caso é uma obra de arte. Percebe-se cada linha em seu rosto, denunciando não apenas sua idade, mas seus anos de lamentações regadas a tiroteios e copos de whisky. Max é um cara amargurado com a própria vida, que está ressentido com o mundo e, principalmente, com si mesmo. Todo o sentimento é repassado em cada expressão dele.

Mas nada disto teria êxito se a dublagem não acompanhasse o trabalho gráfico, e felizmente isso não é um problema. James McCaffrey, o dublador de Max desde o primeiro game, humaniza o personagem de uma maneira espetacular. É impossível não acreditar em suas explosões de raiva, em seus momentos de depressão ou em breves momentos de racionalidade. A sua narração em off durante todo o game é um misto de amargura, auto-depreciação e humor ácido.

Quanto a São Paulo, uma coisa vale ser dita. A cidade retratada no game não é uma cópia fiel desta encantadora cidade onde alguns de nós vivemos, mas toda sua essência está lá. É uma metrópole global que vive em seu limite, pronta para explodir a qualquer momento. No fundo a cidade funciona como um grande resumo do Brasil na visão do exterior, porém, está além dos estereótipos. Existe uma fase no rio Tietê que poderia se passar na Amazônia e outra em um típico prédio paulistano abandonado e tomado por sem-tetos. Já as favelas lembram muito mais os morros cariocas do que os paulistanos. A propósito, a influência dos filmes Cidade de Deus e Tropa de Elite na composição das favelas é explícita, inclusive com duas passagens do filme de José Padilha sendo claramente usadas. A São Paulo de Max Payne 3 pulsa violência e corrupção como poucos cenários já retratados nos games.
Morros muito mais cariocas que paulistanos
E quando se fala em violência, o que temos aqui é um nível acima. Esqueça as apelações simplórias de Call of Duty, que servem apenas para conseguir mídia e vender mais. A violência em Max Payne 3 é explícita, crua, brutal e inerente ao game. Seja um personagem importante ou um simples capanga que você acabou de matar, tudo é mostrado da forma mais clara possível, sem parecer algo forçado ou deslocado. O objetivo não é apenas chocar, mas mostrar uma faceta mais real e menos cool da violência. Trocas de tiros são feias e é desta forma que elas são retratadas aqui.

 A Rockstar conseguiu mais uma vez. Lançando apenas um game por ano, a empresa venceu a sombra deixada por GTA e mostrou que não é uma produtora qualquer, que ela tem algo a mais. Seus games não contam apenas uma história, eles retratam momentos históricos (Red Dead Redemption e L.A Noire) e sociedades distópicas (GTA e Max Payne 3) através daquilo que eles partilham em comum: A violência. E pensando por esse lado, Max Payne não poderia ter encontrado uma casa melhor.

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