sábado, 30 de julho de 2011

Eric Clapton é o "Beethoven de guitarra"

Há quase cinco anos atrás, o guitarrista Eric Clapton disse que estava ficando parcialmente surdo. O motivo da nova deficiência era o som extremamente alto de algumas de suas apresentações, principalmente as com o Cream nos anos 1960. No entanto, hoje o guitarrista ainda se mostra em forma e lançou o CD Clapton, em 2010.

Como ele consegue manter uma carreira de quase 50 anos no ramo musical, fazendo história no rock e resgatando a sonoridade do blues de Muddy Waters? Não é possível explicar como Eric Clapton ainda lota estádios em seus shows, como as apresentações de São Paulo e do Rio de Janeiro que vão rolar no mês de outubro deste ano e que já estão quase esgotadas. Só podemos dizer que, com as devidas proporções, Eric Clapton é um verdadeiro "Beethoven de guitarra", especialmente neste novo álbum.

Com 14 faixas, o CD continua mostrando o bom gosto do guitarrista com o tom blueseiro acústico e elétrico de seus antigos trabalhos. Se Eric não consegue mais ouvir direito, como ocorreu com o compositor erudito Beethoven no fim de sua vida, ele consegue, pelo menos, compôr músicas com média de cinco minutos estáveis, agradáveis e consistentes. É verdade que não há hits elétricos como Layla ou Wonderful Tonight, mas How Deep is The Ocean funciona com o fundo de teclado e de saxofone em um ambiente mais focado para o jazz, com o refrão grudento típico de suas músicas.

A voz de Eric Clapton, se não é virtuosa, funciona muito bem com seu tom aveludado, presente até mesmo na calma guitarra. A faixa Milkman abre espaço para os músicos de apoio mostrem improvisações e uma melodia "à vontade" em uma canção sólida, com uma letra de um pedido de casamento.

Se o CD capricha em melodias calmas, falta um único clímax. Eric Clapton parece não compôr mais para os fãs de suas bandas antigas, como o power trio Cream ou o Derek and The Dominos. Músicas como Diamonds são deliciosas para admiradores dos trabalhos acústicos e mais espirituais de Eric, como Tears in Heaven. Ou seja, os roqueiros podem reclamar que o guitarrista está fazendo apenas música sobre amor, sobre seu sentimento de velhice melancólica e que ele soa repetitivo, apesar do bom groove, do bom ritmo, de sua guitarra elétrica.

Mesmo com essas possíveis críticas ao novo trabalho, a letra de Hard Times mostra bem o que Clapton quer passar nesse CD. There'll be no more sorrow / When I pass away / And no more hard times / e nao mais tempos duros / No more hard times / Yeah, yeah, who knows better than I? O disco é um funeral, uma despedida, uma visita aos seus gostos pessoais e uma coletânea de músicas relaxantes. Clapton, o nosso "Beethoven de guitarra", não compõe uma obra-prima neste material, mas faz diversas músicas que conseguem funcionar bem juntas.

Depois da grudenta Rolling and Trumbling, a sedutora e dramática Autum Leaves fala sobre sedução, amor maduro e convivência. Clapton, de 2010, faz os românticos com a vida se sentirem tocados pela música. E suas influências no blues trazem boas memórias para os fãs de rock´n´roll.

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