terça-feira, 25 de setembro de 2012

Spec Ops: The Line - O horror de Joseph Conrad nos games



O quão importante as especificações técnicas realmente são em um game? O quanto a qualidade dos gráficos realmente pesa? Ou as escolhas ou pequenos defeitos na jogabilidade de fato afetam toda a experiência? Em tempos de games AAA, mais caros que filmes de Hollywood, a resposta natural é que eles são fundamentais. E isto acaba afetando nossas escolhas na hora de comprá-los, afinal em um país onde cada jogo custa R$ 150, é bom ter certeza, certo? Mas, às vezes, deixamos passar algumas boas surpresas, e com certeza Spec Ops: The Line está entre a melhores deste ano.

Lançado em meados de agosto com pouco ou quase nenhum hype pela 2K Games, Spec Ops é um shooter em 3ª pessoa que vai muito além das típicas histórias de guerra contadas nos games (leia-se Call of Duty). O Capitão Martin Walker e mais dois soldados são enviados pelos EUA para a cidade de Dubai, destruída depois de um série de tempestades de areia, para descobrir o que aconteceu com o batalhão 33, liderado pelo herói de guerra Coronel John Conrad.

A princípio, a sinopse pode parecer genérica, mas percebe-se que existe algo a mais no game quando juntamos as peças. Walker e sua equipe, formada pelos tenentes Adams e Lugo, encontram um cenário completamente diferente do que foi descrito, com Dubai tomada pelos homens de Conrad que, em vez de seguir sua ordem inicial e evacuar os poucos sobreviventes, passaram a controlá-la, idolatrando a figura de Conrad. A partir daí, o que o jogador vive é uma espiral de caos, loucura e horror, retratando o que há de pior na guerra.

Se isto não parece novo para você, tudo bem, pois Spec Ops simplesmente foi baseado em um dos maiores romances sobre guerra de todos os tempos, Heart of Darkness, de Joseph Conrad (o nome não é mera coincidência). A adaptação não é pretensiosa e ocorre de forma tão sutil que, mesmo se o jogador leu o livro ou assistiu Apocalypse Now (adaptação cinematográfica do romance), demorará a perceber a origem do texto de Spec Ops. Mas o que não é sutil é a decadência mental e moral do personagem principal.

Não é nada fácil retratar os horrores da guerra em um game. Mesmo tentativas um pouco mais ousadas, como Call of Duty: Black Ops, acabam esbarrando na glorificação do tema. Afinal, seu público-alvo prefere deste modo para que se possa gastar mais boas horas no multiplayer. Sabendo disso, a 2K foi mais a fundo e “chutou o balde”. Esqueça as sutilezas e frases de efeito. Em Spec Ops o horror da guerra é esfregado na cara do jogador através da pele do Cap. Walker, dublado de forma precisa por Nolan North (Uncharted).

Como disse no início, tecnicamente o game é bom, mas não há nenhuma primazia técnica. As ruínas de Dubai são maravilhosamente bem construídas, lembrando a cidade moderna de hoje. Contudo, o design dos personagens são genéricos, embora não necessariamente ruins. Não são coisas quadradas e esquisitas, mas ninguém vai se lembrar de suas feições. Como shooter o game é competente e a IA é um ponto alto, assim como a vulnerabilidade do personagem – fique exposto por alguns segundos a mais e a morte é certa. Contudo, em tempos de Gears of War e Uncharted, algumas falhas realmente irritam, principalmente nos sistema de cobertura.

Mas, sendo sincero, é um pena que estes defeitos tenham que ser lembrados. E é uma pena ainda maior que Spec Ops: The Line tenha sido lançado sem qualquer barulho e com notas medianas, o que afetou diretamente as suas vendas. Pois em tempos em que Call of Duty vende 100 milhões cópias com gráficos maravilhosos, mas histórias que envergonhariam até os roteiristas de Independence Day, Spec Ops vai além. Se inspira em um dos grandes romances já escritos e aborda uma questão que nunca foi tratada nos games: A guerra, não importa o quão justa ou correta ela possa parecer, é um horror. É um pesadelo real, onde não apenas o civis sofrem, mas também aqueles que carregam as armas têm suas vidas destruídas ou afetadas para sempre.

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