sábado, 10 de janeiro de 2015

Léo Maia, filho adotivo, conta sobre quem foi Tim Maia na vida real

Por Pedro Zambarda


Léo, o que você achou sobre edição da televisão ao filme de seu pai? Distorceram demais?

Cara, não foi do documentário da Globo que eu não gostei, mas achei de verdade o filme ruim. O diretor [Mauro Lima] deixou minha avó branca no filme, sendo que ela é descendente de índia! Meu avô é descendente de português, não negão. São detalhes que uma pessoa que trabalha com cinema deveria saber que são erros, fora a desorganização cronológica.

Se o Tim estivesse vivo, o que ele faria ao ver o filme, considerando o quanto ele era combativo com a Globo?

Meu pai não é vagabundo, nem porco e nem feio como esses brancos dizem no filme. O Tim Maia, por tudo o que ele fez, aceitaria ouvir a história que contaram sentado num sofá? Ele não aceitaria nada disso. Nascido e criado por ele, eu mesmo não aceito isso. Já vi ele organizar grandes festas e arrumar confusões, mas nunca vi ele arrumar uma briga sem ter as razões dele. Ele brigou para a gente ter nossa própria gravadora, nosso próprio espaço e para fazer a nossa arte. Transformaram meu pai num zé ruela, bicho. Meu pai era um amante do Brasil e de sua diversidade em todos os hábitos da sua personalidade.

Como era o Tim Maia que você conheceu?

Meu pai não era depressivo e nem tinha o olhar de morte daquele personagem do filme. Ele tocava violão e criava músicas geniais pela manhã, num clima bem tranquilo. Meu pai, pra quem conhece, era muito amoroso. Cuidava de 80 crianças e ficava rindo das coisas. Ele fez besteira e foi maluco? Foi. Mas não era só o cara dos antidepressivos. Não conheço ninguém que tenha chamado meu pai de gordo e de filho da puta. Isso tá lá no filme. Ninguém na vida teria a coragem de dizer isso… Ele foi com dois cachorros de verdade numa gravadora porque eles mexeram nos volumes das guitarras, cara!

Tim Maia não levava desaforo pra casa. O diretor do filme levou a liberdade poética ao extremo e não se ateve aos fatos. Tá tudo errado no filme, tá errado do começo ao fim. Tá mal interpretado e não procuraram as pessoas para saber a verdade de todos os fatos. Só alguns amigos do meu pai foram para a versão da TV Globo e defenderam meu pai. A edição deu uma melhorada no desastre que é o filme.

Essas coisas me revoltaram como filho e fica essa molecada vendo isso sem saber a verdade. Os autores fizeram uma pseudopesquisa sobre ele e não retrataram nada sobre a genialidade que existia ali. Tim Maia, por exemplo, tirava o instrumento de quem não sabia tocar e só estava enrolando. E mandava um papo reto. Ele era assim.

A entrevista completa foi publicada no Diário do Centro do Mundo, o DCM.

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