domingo, 26 de abril de 2009

Da ditadura aos abusos da grande imprensa na era da internet

Imagens de reprodução (ver Google Imagens)
Laurindo "Lalo", Ivan Seixas, Venício Lima e Luís Nassif

Reunidos na sala Rio de Janeiro do Hotel Macksoud Plaza, dia 24, de abril na Alameda Campinas, transversal da Avenida Paulista, comunicadores realizaram a discussão “A Mídia em Debate”, com temas polêmicos que rondaram a imprensa nos últimos dias. Com a organização feita pela Agência Carta Maior, a palestra reuniu jornalistas que foram da esquerda armada, como Antonio Roberto Espinoza e Ivan Seixas, o blogueiro Luís Nassif e até mesmo o acadêmico de comunicação Venício Lima.

Por Pedro Zambarda

Mediados pelo professor da Universidade de São Paulo (USP) e do programa de mestrado da Faculdade Cásper Líbero, Laurindo “Lalo” Leal Filho, especialista na emissora BBC, o debate teve transmissão simultânea para a internet, na TV Carta Maior. Por esse motivo, o mediador limitou as falas em alguns minutos para cada participante, permitindo intervenções da platéia e pela web.

Docente da Escola Pós-Graduada de Ciências Sociais (FESP), Antonio Espinoza contou sobre a experiência de ter sido entrevistado pela Folha de S.Paulo, por telefone, no dia 5 de abril deste mês. Nela, o jornalista contou sobre sua participação na organização armada VAR-Palmares e o plano de seqüestrar o ministro Delfim Netto, no final dos anos 1960, tendo suas declarações distorcidas na matéria final. “Não deixarei de ceder entrevistas aos órgãos de imprensa, pois sou um homem transparente. Mas já cancelei minha assinatura do jornal” afirmou o jornalista. A manipulação do texto de Fernanda Odilla relacionou a ministra Dilma Rousseff como uma das principais pessoas envolvidas no caso, mostrando uma foto de um suposto documento de prisão dela. “A ficha utilizada e divulgada pela Folha é de uma rede de direita na internet” completou. Órgãos como o Observatório da Imprensa apontaram esse indício com mais detalhes, embora outras buscas na web não o comprovem.

Ivan Seixas, jornalista, entrou na discussão de Espinoza trazendo sua experiência traumática de tortura na época da ditadura militar brasileira. “Eles te extorquem tudo, todos os bens. Minha mãe também foi levada presa e sua tortura era escutar a mim e meu pai” ressaltou, falando dos eventos que ocorreram com ele 1971, quando foi preso por participar do MRT - Movimento Revolucionário Tiradentes. “Vi a foto de meu pai (o metalúrgico Joaquim Seixas) morto “em confronto” na capa da Folha da Tarde, no mesmo dia em que ele foi assassinado pelos torturadores. Aquilo era a senha, pois eles tinham acesso à imprensa. Achei que fosse morrer também, porque a ordem na época era 50% dos presos serem mortos” revelou, fazendo referências ao AI-5 e também a atuação controversa de jornais como a própria Folha de S.Paulo.

Lalo encerrou a parte dos depoimentos especiais, que colocaram a mídia realmente em cheque, para trazer a opinião dos debatedores críticos. Damian Loreti, professor da Universidade de Buenos Aires, trouxe a discussão de um novo pré-projeto de lei que prevê um espaço obrigatório de críticas em todos os veículos de comunicação argentinos. “De quem é a liberdade de expressão?” perguntou o acadêmico, em castelhano para toda a platéia, dizendo também que seria benéfico se toda a América Latina tivesse na legislação projetos semelhantes.

Venício Lima, autor do livro Mídia: Crise política e poder no Brasil e pesquisador pela Universidade de Brasília (UnB), abriu sua fala ressaltando o crescimento da crítica dentro da própria mídia. “Estamos agora na agenda pública de discussões, sendo que esta reunião é a prova disso” argumentou o acadêmico, afirmando também que o espaço da faculdade é um espaço permanente de debate, ao passo que as ONGs fazem um ativismo alternativo. No entanto, o foco principal desse questionamento dos meios de comunicação, para o teórico, é a internet. “Os formadores de opinião já não existem mais nela” afirmou.

O questionamento de mídia do pesquisador ligou os comentários anteriores até a fala do último debatedor. Famoso em blogs por premiações conquistadas como, por exemplo, o iBest de política em 2008, Luís Nassif aborda economia e política em sua página na internet. “Estou em guerrilha com a Veja” afirmou o blogueiro, sobre os processos que encaminhou na justiça por calúnia e a difamação sofridas ano passado pela revista de maior circulação no país. O caso se deu pelas criticas em relação à vários posicionamentos políticos da revista semanal ao longo de sua história. Colunistas como Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo utilizaram seus espaços de texto e uma rede leitores fiéis para lançar ataques ao jornalista, degradando a discussão.

Nassif acredita que “em inúmeros casos, a velha mídia perdeu a mão, como a reeleição de Lula, em 2006. São como duas pessoas tramando atrás das cortinas de um palco. O pano caiu. Esse modelo acabou”. Por esse viés de reflexão, é possível, em casos como a “ditabranda” da Folha – e muitos outros – haver finalmente um pensamento mais conciso sobre a imprensa e que possa também aperfeiçoar seus instrumentos? Até onde podemos passar os interesses corporativos e políticos na comunicação e realmente fornecer informações úteis, mesmo quando a profissão de jornalista é questionada?

A internet em geral fez elogios à transmissão simultânea da palestra, sendo a maioria das perguntas sobre detalhes dos casos de Dilma, da internet e sobre comunicação vindos da platéia física.

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