segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A grande história de 2009

O título de Jenson Button ontem no GP Brasil foi algo único na Fórmula 1. E é uma pena que poucas pessoas no Brasil lembrarão do tamanho dos feitos conseguidos ontem apenas porque um brasileiro foi derrotado. Nossa síndrome de desprezar o vice ataca, novamente. Não que chegar sempre em segundo seja bom – como diria Piquet, segundo é o primeiro dos últimos –, mas Barrichelo será mais falado pela sua terceira “derrota” do que pelo fantástico ano que teve. Enfim, por mais interessante que as carreiras de Barrichelo e Button tenham se tornado este ano, a grande história responde pelo nome de Brawn GP.

Vamos voltar até janeiro deste ano. O mundo da Fórmula 1 viu a saída da Honda da categoria como um golpe definitivo nas carreiras de Button e Barrichelo, e dezenas de especulações surgiam todos os dias a respeito do espólio da equipe. Em uma operação relâmpago, o então diretor-técnico da Honda, Ross Brawn, resolveu comprar tudo aquilo que foi deixado. Reduziu a equipe em quase 70%, mudou de fábrica, e bancou a mesma dupla de pilotos. Logo a Brawn GP, nome da nova equipe, foi ganhando admiradores e torcedores. Todo mundo queria ver aquele bando de malucos ingleses colocarem o carro no grid da Austrália em março.

A Mercedes deu uma de boazinha. Resolveu fornecer motores com um preço extremamente reduzido. A FOTA (Associação das equipes) resolveu baratear a mensalidade. Bernie Ecclestone e Max Mosley, os donos da Fórmula 1, fizeram o possível e o impossível para fazer a equipe sair do papel. Seria mais uma equipe independente. Mas, vamos ser sinceros, ninguém apostava um chocolate que a Brawn GP andaria em qualquer posição além do fim do grid. Mas, no fim de fevereiro, tudo mudou.

Quando aquele carro branco com duas listras de marca texto entrou na pista de Barcelona nos últimos testes da temporada, o queixo da Fórmula 1 caiu. Invariavelmente, Barrichelo e Button faziam os melhores tempos. Oras, é truque para conseguir patrocinador, disseram muitos. Mas quando Button venceu na Austrália, seguido de Barrichelo, deu pra ver que aquilo não era engano. Quando venceu na Malásia, todo mundo já se preocupava. Quando venceu na China, “acharam” o culpado. O difusor duplo da Brawn GP. Uma jogada genial dos engenheiros, que acharam uma alternativa para as restrições no regulamento. Uma alternativa que rendia mais de 0,6s de vantagem por volta. Mas logo, todas copiaram. E nossa, a Brawn continuou voando.

Button venceu sem parar até o GP da Turquia. Na Inglaterra a Red Bull já demonstrava ter o melhor carro, mas era tarde demais. Com 6 vitórias no campeonato, uma regularidade impressionante de Button e um Barrichelo que todos sabiam que ainda iria vencer, o campeonato estava decidido. Por mais que Vettel tenha pressionado e a Red Bull como um todo tenha apertado o ritmo na segunda metade do campeonato, era impossível tirar os dois títulos da Brawn.

Foi a primeira vitória no Mundial de construtores de uma equipe fora do eixo Ferrari-McLaren, desde 2006 – com uma Renault também fora da realidade. Foi o primeiro título de uma estreante na história da Fórmula 1. O fim da Honda e o nascimento e vitória da Brawn GP é a história mais linda do esporte em um ano extremamente complicado para a categoria, envolta em um escândalo atrás do outro. “We are the Champions”, entoada por Button ainda no cock-pit nunca soou tão verdadeira quanto desta vez na Fórmula 1.

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