Torcer para o país no esporte é ser patriota? Para
socióloga, patriotismo vai muito além de pintar o rosto de verde e amarelo
socióloga, patriotismo vai muito além de pintar o rosto de verde e amarelo
Camisa e boné da seleção, olhos atentos na tela do computador e mãos suando no mouse. Está era a cena que se via, no dia 2 de outubro, ao entrar no quarto do estudante Kaio Santiago, de 18 anos. O jovem, assim como grande parte da população do Brasil, aguardou aflito o resultado da escolha da cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Deu Rio de Janeiro, para alegria dele e de milhões de brasileiros. “Há tempos não ficava tão nervoso com o resultado de alguma coisa. Isso é que é amor pelo país”, enfatizou com entusiasmo.
Em época de grandes eventos esportivos, o Brasil enche-se de “patriotas”. São ruas pintadas de verde e amarelo, bandeiras do país penduradas em carros, prédios, empresas... gente chorando de alegria e de tristeza. Mas não são apenas essas características que definem uma pessoa patriota, garante a socióloga Lúcia Rangel. “Patriotismo é um dos valores que adquirimos com a cultura ao longo do tempo, no processo de educação. Torcer para o Brasil no esporte é importante, mas não é o fundamental. Ser patriota é ter amor por tudo que diz respeito ao país, como sua cultura, sua história, sua música, sua comida”.
Kaio, que diz ter “um grande amor pelo Brasil”, confessa não sabe cantar o Hino Nacional inteiro e nem conhece a história das datas cívicas do país. Questionado sobre o que se comemora no próximo dia 15 de novembro (Dia da Proclamação da República), o jovem disfarçou e voltou a falar da vitória do Rio de Janeiro, como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016. “Podemos mudar de assunto?”, brincou o estudante do 3º ano do Ensino Médio.
Essa realidade é mais comum do que se imagina. Hoje em dia, muitos jovens sequer sabem cantar a música que representa o país. Em setembro, tentando minimizar este problema, o Governo Federal criou uma lei que obriga a execução do Hino Nacional uma vez por semana, nas escolas públicas e privadas de toda a nação. Mas parece que a medida não surtiu muito efeito. Uma análise feita pelo Laboratório UniCarioca de Pesquisas Aplicadas mostra que 57% dos alunos de ensino médio não aprovam a ideia, porque acreditam que "não é assim que se desperta o amor pela pátria" (43,34%). Dos estudantes entrevistados na pesquisa, somente 26,11% concordam com a lei e acham importante cantar o hino.
Em 1942, Getúlio Vargas já ordenava que os colégios promovessem esta formalidade cívica. Em 1989, José Sarney fez a mesma determinação, por considerar a proposta uma forma de incentivo ao nacionalismo. Com o tempo, porém, o hino foi deixando de ser cantado na maioria das escolas, que se limitavam a executá-lo apenas em cerimônias e ocasiões especiais.
Em abril de 2006, a então governadora do estado do Rio, Rosinha Garotinho, sancionou um projeto da deputada Alice Tamborindeguy, obrigando todas as escolas públicas e particulares do estado a realizar “cerimônias cívicas” com a execução do Hino Nacional e hasteamento das bandeiras do Brasil, do estado do Rio e do município em que a escola se encontrava. O decreto também especificou os dias em que isso deveria acontecer: manhãs e tardes de segundas e sextas-feiras - o que, na prática, não vem acontecendo.
José Batista de Souza, de 45 anos, lembra que, na sua época de colégio, os estudantes respeitavam as datas cívicas e se interessavam pelos assuntos do país. “A gente tinha que cantar o Hino Nacional na escola, mas isto não era visto como uma obrigação. Os alunos se emocionavam, colocavam as mãos no peito e entoavam forte o ‘Ouviram do Ipiranga às margens plácidas’”, conta com os olhos atentos Souza, que considera descaso com a tradição o que os jovens fazem hoje. “É uma vergonha um país onde o futuro da nação não sabe nem quando foi descoberto o local onde vive, muito menos qual é a sua história”, desabafa.
Para a socióloga Lúcia Rangel, a lei que obriga a execução do Hino Nacional nas escolas, apesar de trazer uma resistência no começo, é válida porque incentiva os jovens a gostarem e se interessarem pela cultura brasileira. Entretanto, a estudiosa alerta que só isso não basta. “Precisa existir, junto com essa obrigação, um trabalho em sala de aula, desde o jardim de infância, que mostra de forma dinâmica e didática que o Brasil tem muito o que oferecer. O país é um legado, uma herança que se passa de uma geração para outra, por isso deve existir esse trabalho para que se possa construir uma sociedade melhor no futuro”, conclui.
Foto: Abril.com
Reportagem: Ariane Fonseca
3 comentários:
Bom, por partes: Saber cantar ou não o Hino não significa nada. Até pq ele é imbecil e antiquado.
Agora, não saber a história do próprio país é foda. Não apenas por questão de patriotismo, mas pra não falar besteira qndo for discutir qqr problema social. Ser patriota no esporte é legal e diverto, eu sou. Mas o problema é que a maioria do povo só o é quando é conveniente ser, quando é moda. Pergunta pra metade das pessoas que estavam la e dizem que amam o Brasil, ou pelo menos o esporte, em quais anos o Brasil foi campeão mundial?
Bando de hipocrita
Thiago,
Então, eu também acho que só saber cantar o HIno Nacional não adianta nada. Mas também acho que é importante sabê-lo. TUdo é um conjunto!
E concordo que tem muita gente hipócrita no país. Vai na modinha, na "farra". Mas, no fundo, não sabe quase nada nem do esporte, que diz amar tanto.
Ah sim: Quem inveto aquela maldita música "Eu sou brasileiro, com mto orgulho e mto amor" devia ser chicoteado em praça publica.
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