quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Um mergulho no instável ser humano

“O Historiador é Rei, Freud é a Rainha” é a citação, logo no começo, que hierarquiza a narrativa, que mostra a natureza conflituosa dos anos 1900, misturando fatos e psicologia. O diretor e escritor brasileiro Marcelo Masaguão compôs essas imagens no documentário Nós que aqui estamos por vós esperamos. Apesar do lançamento do filme ter sido em 1998, sua visão é uma perspectiva dos acontecimentos daquele século, focada em pequenos personagens e não apenas em celebridades, sem delimitar em períodos específicos.

Masagão não insere nenhuma fala de personagem, apenas joga com imagens seguidas por uma explicação escrita e uma trilha sonora abundante em piano e composta pelo músico belga Wim Mertens. A escolha por esse formato de filme contribui para que o espectador reveja cenas do nazismo, do stalinismo e detalhes do cotidiano sob um viés muito mais distante do clichê, do que normalmente é tachado nesses períodos polêmicos.

As cenas discutem os progressos científicos, industriais, sociais e suas conseqüências, muitas vezes, desastrosas: incluindo duas bombas atômicas que dizimaram cidades, experimentos cruéis e instauração de políticas econômicas corrosivas ao ser humano. A inspiração do longa-metragem é o livro A Era dos Extremos, do historiador marxista Eric Hobsbaun, que traz uma perspectiva crítica tanto do capitalismo quanto do socialismo que se formaram das duas Guerras Mundiais. O documentário se estende inclusive nas obras de arte desse período, do expressionismo de Edvard Munch até o experimentalismo surreal de Marcel Duchamp.

Por fim, o título do filme foi retirado do cemitério que é mostrado como um símbolo final do século XX, localizado na cidade de Paraibuna, interior de São Paulo. O significado da frase “Nós que aqui estamos por vós esperamos” é de sepultamento dos avanços e absurdos do período controverso mostrado em fotos, pequenos filmes e sons. No entanto, apesar de estar enterradas, essas imagens do homem instável ainda nos chamam para aprender sobre o que aconteceu e ainda faz parte deste novo milênio.

2 comentários:

Diego Camara disse...

Rapaz, eu vi este vídeo no 2º ano da minha faculdade. Um dos meus professores fez em seu mestrado uma análise deste documentário fazendo uma comparação dele com um dos livros do Borges.

Pedro Zambarda disse...

Ficou boa a comparação?

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