Ainda, aos vinte anos, o questionamento continua. Afinal, o que é crescer? Aceitar que tudo o que compôs seu mundo infantil não tem espaço na vida adulta e seguir em frente? Bem que meu pai gostaria que eu fosse adepta deste pensamento.
É curioso como o cotidiano dá a impressão de amadurecimento. Faculdade, estudo, trabalho, responsabilidades – há semanas em que me pego tentando lembrar o que comi no almoço. Tudo isto faz distanciar da rotina despreocupada dos mais jovens.
Foi a decisão tomada há mais de uma semana que mudou a perspectiva: No sábado, um dos poucos em que não tive que acordar cedo, retirei o livro da pilha bagunçada. Na capa, a letra com o título cintilante, o garoto britânico de olhos verdes e cabelos negros que eu tanto conhecia: um velho companheiro.
Como o fechar de um ciclo, e depois de iniciar e parar a leitura incontáveis vezes, eu finalmente saberia o final da história que acompanhou toda minha vida. E achava estar preparada para isso.
Agora, largada no sofá devorando as páginas, eu volto a ser a garotinha de sete anos que, deitada em sua cama, ouvia atentamente a voz da mãe contar as aventuras mais fantásticas vividas por este menino. E ela tinha pesadelos com o inimigo que, em sua imaginação, era em comum.
Ou a pré-adolescente que tinha o quarto coberto com pôsteres e foi assistir pela primeira vez, e, com uma excitação enorme, o herói de carne e osso. E que no final acabou vendo o seu primeiro filme legendado. O primeiro representa muito para a cinéfila que sou.
Então a jovem estudante vem à mente. Uma que no meio da puberdade encontrava momentos maravilhosos sentada na cama ou no mesmo sofá, curvada diante de sequências cada vez mais grossas. Foi provavelmente um dos primeiros livros a ler sozinha. Foi o primeiro de muitas coisas.
E assim aquele sentimento de preparação, de maturidade, foi dissolvido quando a primeira página foi aberta: “este livro é dedicado a sete pessoas: (...) e a você, que ficou com o Harry até o fim”. Estas palavras me fizeram parar. Até o fim. Durante o crescimento as pessoas precisam de apoios, coisas com as quais, independente do momento da vida em que estão, elas podem contar. Mais uma primeira vez para mim.
O texto na folha seguinte trouxe a emoção – ele diz que os amigos, mesmo depois de mortos, permanecem vivos em seus amigos. Outro choque me atingiu: a vida passa, o tempo chega, também, para Harry Potter. Também para mim.
Agora, separada do fim por apenas 7 capítulos, fui tomada por esta inquietação antes de dormir. Por um lado lembrei dos rostos que me reprimiram quando souberam o que estava lendo, e, por outro, do quão bem me faz sentir.
Eu tinha esquecido, estava perdido em minha rotina o quão incrível é poder sentir-se criança novamente, participar das aventuras, torcer, morder os lábios nas cenas de tensão, e sorrir como se algum segredo me tivesse sido confiado. Enfim, ter um parâmetro, olhar para o primeiro livro e analisar até onde cheguei, tudo o que houve no meio desses 13 anos.
Então eu sei o que é crescer: É buscar o antigo você na memória, plantá-lo ao seu lado e compará-lo com o de hoje. É ser capaz de distinguir onde acertou e onde falhou, é aprender a se desculpar e a não repetir os mesmos erros, é aceitar quem você se tornou e ter coragem para mudar. É conseguir conquistar o mesmo que um de seus heróis: Ter amigos para sempre, porque são eles que vão estar ao seu lado.
Mas o mais importante é manter em mente que eu não seria a mesma pessoa se não tivesse passado por aquela juventude. Não teria tomado as mesmas decisões, não estaria onde estou hoje. O agradecimento então vem - de poder fazer parte de tudo isto, de ter aprendido, me divertido, e crescido ao lado desses livros.
E agora o adeus implicado com o final das páginas me parece fora de lugar, dramático, e não serve. Fica apenas um ‘até logo’, um ‘te vejo depois’, porque ainda há filmes para ver, um parque para visitar, novas experiências a viver, outros pontos de vista para interpretar, e filhos para ouvir.
Porque afinal de contas, o primeiro de tantas coisas e o mesmo de tantos anos é como um amigo: Depois de tanto tempo juntos na jornada, não importa a distância ou a temporada sem contato - um dia eu vou abrir aquele livro e lembrar de tudo, porque ele fez parte da minha infância. E por isso faz parte de mim - até o fim.
6 comentários:
Livros: A capacidade de transferir o que é genuinamente humano sem nenhum homem de carne e osso.
Demais seu texto :)
Harry Potter tem olhos verdes. Daniel Radcliffe tem olhos azuis. Não é o Daniel Radcliffe que está na capa do livro.
Perai..sério que não é ele??? Meu...como assim me enganaram durante tanto tempo!!!!!
cada um viu..
hahahha, calma galere. Sem atritos :S
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