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terça-feira, 19 de agosto de 2014

Jovem cria “Geladeiroteca” para incentivar leitura com livros gratuitos

Por Ferraz Jr, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura USP do Campus de Ribeirão Preto
Via Agência USP de Notícias, Creative Commons

A população de Sertãozinho, cidade a 20 quilômetros de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), ganhou um estímulo inusitado para incentivar a leitura. O jovem Haroldo Luís Beraldo decidiu copiar uma ideia: a de customizar uma geladeira e fazer dela uma biblioteca. O resultado deu tão certo que ele montou a segunda “geladeiroteca” e estuda abrir mais três, em menos de um ano. Estudante do curso de Ciências da Informação, Documentação e Biblioteconomia, o CID, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Beraldo se inspirou em ideias semelhantes que encontrou em Araraquara, São Paulo, e Blumenau, em Santa Catarina.

Segundo ele, a ideia de fazer a geladeiroteca surgiu da necessidade de apresentar algum projeto na “11ª Feira do Livro de Sertãozinho”, em outubro de 2013. Ele participa da Feira desde 2007 como membro da comissão organizadora e, desde 2012, com a Biblioteca Gen. Álvaro Tavares Carmo, mais conhecida como Biblioteca da Canaoeste, também em Sertãozinho, onde o projeto está ancorado. “Pesquisei a respeito de projetos que envolviam doação e repasse de livros e o que fiz foi apenas copiar uma ideia e adaptar à realidade da biblioteca e da Feira do Livro”, revela. Assim nasceu o projeto “Geladeiroteca: consuma aqui e alimente seu espírito”.

Ele inscreveu e teve o projeto aprovado em edital do Ministério da Cultura que possibilitava a uma série de municípios terem seus Pontos de Leitura. Com isso, foi contemplado com R$ 20 mil para custear a implantação do projeto. O professor de Beraldo na FFCLRP, José Eduardo Santarém Segundo, coordenador do Curso de Ciências da Informação e da Documentação e Biblioteconomia, elogia a iniciativa. “É uma satisfação ver que nossos egressos estão propondo projetos desta natureza, com uma linha empreendedora e criativa de estímulo a leitura.”

Geladeira e consumo de livros

A escolha da geladeira como local para montar uma biblioteca não foi ao acaso e ele se diverte com isso. “Como é um eletrodoméstico usado nas residências para armazenar itens que geralmente são consumidos diariamente, resolvi trabalhar, ou melhor, brincar com a noção de consumo, mas não de alimentos e sim de livros. Por isso escolhi a geladeira. Consumimos tanta coisa no nosso dia a dia e que tal seria ter uma geladeira onde se consome livros?”

O funcionamento do projeto é simples. Trata-se de uma carcaça de geladeira que é customizada para chamar a atenção de quem vê e é alimentada com livros recebidos por doação. As pessoas podem retirar, trocar e doar livros sem que haja a necessidade de um cadastro formal com qualquer biblioteca. “É uma forma simples de oferecer livros para a população de maneira desburocratizada, o oposto do que normalmente acontece em bibliotecas”, explica. Beraldo não sabe ao certo quantos livros já passaram pelo projeto. Ele calcula que na Feira do Livro de Sertãozinho do ano passado foram repassados aproximadamente 400 livros à população. Na Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto desse ano, mais de 3 mil.

A receptividade superou as expectativas iniciais de Beraldo. “As próprias pessoas que retiram livros se encarregam de devolver ou de doar outro no lugar. Isso acaba criando uma noção de pertencimento e também de colaboração que eu, particularmente, não esperava que fosse acontecer de uma forma tão natural e rápida”. Em Sertãozinho funcionam duas geladeirotecas instaladas em locais de grande fluxo de pessoas. Uma está no Centro Esportivo Mogiana, em parceria com a ABA, a Associação Amigos do Bairro Alvorada. A outra está no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC).

sábado, 2 de agosto de 2014

Pesquisa mostra que quem lê Harry Potter respeita mais gays e imigrantes

Por Pedro Zambarda

Segundo a pesquisa publicada no Journal of Applied Social Psychology feita com estudantes na Itália e no Reino Unido, a série de livros Harry Potter, da escritora J. K. Rowling, é capaz de reduzir o preconceito dos seus leitores a respeito de homossexuais, imigrantes e diversas minorias.


Foram realizados dois experimentos, um com crianças do ensino fundamental e outro com jovens do ensino médio junto com universitários. A leitura dos livros  best-sellers melhora o relacionamento entre jovens de meios sociais e econômicos diferentes.

A publicação The Independent afirma que a identificação com o personagem Harry - e o distanciamento do vilão Voldemort - faz com que o preconceito contra gays, negros e imigrantes seja reduzido.

E você, é Sonserina ou Grifinória?

Via EXAME.com

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Estados Unidos e a guerra contra o terrorismo. Blackwater e a guerra total

"Empresas como a Blackwater operam numa indústria baseada na demanda, e é esta demanda, derivada de guerras de conquistas agressivas e impopulares, que precisa ser reduzida. A verdade é que, enquanto houver tropas no Iraque, haverá prestadores particulares".

Jeremy Scahill, jornalista colaborador do The Nation e autor do livro Blackwater.


Blackwater não é uma teoria da conspiração "criada pela esquerda americana para atacar o Partido Republicano". A empresa possui milhares de funcionários ao redor do mundo e atende, atualmente, pelo nome Academi, adotado desde 2011, quando foi comprada por um novo conselho de administradores e de investidores. É líder no setor paramilitar, de segurança privada e até de atendimento em catástrofes naturais. Concorre com companhias como DynCorp e Triple Canopy. Oferece soldados, armamentos e expertise para o exército americano, através de contratos com o Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, o que blindou os mercenários de investigações executadas até pelos próprios militares.


A empresa faturava cerca de US$ 100 milhões antes do 11 de setembro de 2001 e ultrapassou lucros bilionários até 2005 (US$ 1 bi foi alcançado em meados de 2003), em contratos de fornecimento às operações no Afeganistão, contra Osama Bin Laden, e no Iraque, contra Saddan Hussein. Sob o nome de "forças de paz", a Blackwater também ganhou US$ 70 milhões em contratos federais para dar suporte aos sobreviventes do Furacão Katrina, em 2005, faturando US$ 243 mil por dia. Os membros da Blackwater se caracterizam por seus armamentos sofisticados, óculos escuros e, muitas vezes, confundidos com forças especiais SEAL e SWAT, infiltrados dentro do exército.

O jornalista Jeremy Scahill, do veículo de esquerda The Nation, fez uma biografia de mais de 500 páginas bastante crítica sobre a organização, que foi publicada em 2008. Na época, relatórios do Congresso americano apontavam que o país já havia disperdiçado US$ 60 bilhões nas guerras empreendidas pelo presidente republicano e conservador George W. Bush. Scahill mostra que parte dos gastos governamentais está ligado, direta ou indiretamente, às privatizações promovidas no setor militar, sobretudo com o uso de recursos da Blackwater.

Ultradireitistas da Carolina do Norte

Blackwater USA nasceu em 1997 da mente de duas pessoas: Erik Prince e Al Clark. Price era filho de Edgar, um empresário de muitos negócios em Holland, no estado americano de Michigan. Ed Prince foi um dos inventores do pára-sol com espelho iluminado utilizado na indústria automobilística até os dias atuais. Fortemente cristão e protestante, Ed passou valores religiosos fortes ao filho Erik, além da defesa do mercado liberal, da livre concorrência e dos principais ideais da direita conservadora interiorana dos Estados Unidos. Com essa base, Erik ingressou nas forças especiais da Marinha, a SEAL, e conheceu Al Clark. Os dois então tiveram a ideia de começar sua própria empresa privada de segurança e tropas suplementares na Carolina do Norte. Clark perdeu espaço quando a companhia ganhou rentabilidade sob a gestão de Erik.

Erik Prince, o "príncipe" da Blackwater

A companhia nasceu como um estabelecimento de tiro ao alvo, venda de armas e expertise para forças especiais. Evoluiu para uma agência de contratação de mercenários, que chegaram a recrutar veteranos das guerras na Iugoslávia do governo Bill Clinton. Veteranos de outras guerras americanas também encontraram na Blackwater um "paraíso" para voltarem a viajar, darem alguns tiros e desestressar frustrações e traumas pessoais. 

De acordo com informações obtidas por Scahill, a Blackwater cresceu absurdamente quando, em 10 de setembro de 2001, a empresa foi incluída em um programa de desburocratização do Pentágono promovido pelo Secretário de Defesa do presidente Bush, Donald Rumsfeld. Para o político, a estrutura de defesa americana se assemelhava ao aparelho nazista em 1930 (ou outra organização ditatorial) e não permitia a participação da livre-concorrência empresarial para melhorar suas estruturas. No dia seguinte, aviões foram atirados contra as Torres Gêmeas em Nova York e contra o próprio Pentágono, forçando uma reação do exército. Rumsfeld então deu seguimento ao plano de privatização militar do governo Bush.

Erik Prince ganhou enorme empatia do republicano George W. Bush. Ele não era protestante, como seu pai Edgar, mas Erik uniu-se à segunda religião mais forte nos Estados Unidos: O catolicismo. Suas simpatias políticas foram o lobby necessário para que a Blackwater vencesse as licitações militares, muitas vezes sem concorrentes. E, politicamente, o católico Erik Prince passou a integrar uma nova corrente neoconservadora (neocon) nos EUA: Os teocons, religiosos poderosos que batalham pelo retorno de uma década de governo republicano como ocorreu na época de Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Erik se aproximou de políticos como Lewis Paul Bremmer (diplomata e administrador da coalizão contra o Iraque em 2003) e Condoleezza Rice (Secretária de Estado do governo Bush). A Blackwater protegeu os dois no Oriente Médio, em operações de alto risco, e passou a penetrar majoritariamente na linha de frente do exército americano. Para Erik Prince, sua empresa representava, além de lucros bilionários, uma verdadeira cruzada cristã contra os muçulmanos antidemocráticos no Afeganistão e no Iraque.

A Blackwater chegou a ter entre seus executivos o nome de Cofer Black, um agente da CIA que organizou a Guerra ao Terror do governo Bush e deixou os cargos públicos em 2005 para oferecer sua inteligência ao setor privado americano. Atualmente, o papel político de Black é de consultoria de espionagem ao Partido Republicano, que perdeu as eleições para o candidato negro e democrata Barack Obama.

Fallujah

Uma emboscada de 2004 na cidade iraquiana de Fallujah simboliza o poder de ataque da Blackwater. Quatro mercenários mal preparados chamados Scott Helvenston, Jerko Zovko, Wesley Batalona, e Mike Teague foram baleados em seus veículos SUV, sem blindagem adicional. A cidade de Fallujah havia sofrido ataques recentes do exército e da própria Blackwater, o que exaltou os ânimos da população.


Perfurados por balas, os carros da Blackwater foram incendiados pelos manifestantes populares. Carbonizados, os mercenários foram esquartejados pela massa e partes de seus corpos foram penduradas na ponte principal da cidade. Tudo foi documentado e exibido no YouTube.



"Fallujah é o cemitério dos Estados Unidos", gritou o povo iraquiano, erguendo os corpos.

Para revidar a humilhação pública, a Blackwater mandou um efetivo pesado de homens e helicópteros para um ataque direto. Os mercenários assassinaram a sangue frio aproximadamente mil civis, incluindo mulheres e crianças. O clima de revolta iraquiana aumentou e perdura até os dias atuais, mas as táticas da Blackwater endureceram em igual medida, com o governo americano cobrindo todos os seus custos.


Familiares dos mercenários mortos em Fallujah tentaram processar a Blackwater pela falta de preparo, responsável em parte por suas mortes. A empresa não foi sequer acionada judicialmente, por conta de seu contrato especial com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, que impede que a companhia seja julgada numa corte do exército ou mesmo na justiça popular. A empresa de mercenários só pode sofrer sanções diretas do governo.


Blackwater hoje

Com a crise da economia americana e o endividamento das guerras, além da diminuição da presença estatal, a Blackwater aumentou seus recursos financeiros, empregou torturadores chilenos do antigo regime do ditador Augusto Pinochet, além de guerrilheiros colombianos e outros profissionais de diferentes camadas do globo. No entanto, mesmo com muito dinheiro, a Blackwater sofreu processos e foi obrigada a mudar de nome, para Academi.

Erik Prince buscou tirar seu nome dos negócios e se tornou um conselheiro de investidores chineses na África, segundo a imprensa local. Diferente do governo Bush, o presidente Barack Obama reduziu a presença de militares no Oriente Médio, além de ter assassinado Osama Bin Laden.

Mesmo assim, o atual governo democrata não removeu republicanos de postos-chave no Congresso, o que não diminuiu a privatização de setores do Estado, mantendo a crise financeira iniciada por Bush em suas guerras por lucros.

Membros da Academi e ex-integrantes da Blackwater forneceram treinamento para tropas anti-Bashar Al-Assad na Síria. Mercenários também estiveram envolvidos nos conflitos da Líbia. Estima-se que a empresa esteja presente em cada foco de conflito ou crise de segurança no Oriente Médio e na África, oferecendo soldados, transporte e suprimentos.

Há estudos de novas guerras com armas fabricadas com impressoras 3D e com drones voadores que substituiriam soldados humanos. O Partido Republicano e seus simpatizantes estão nesses projetos. Com a presença de conservadores teocons, é certo que a Blackwater terá sua participação caso o governo decida atacar países usando drones, num cenário muito parecido com a ficção de Hideo Kojima nos videogames, na saga Metal Gear.

Com a Blackwater, o negócio de mercenários evoluiu de tropas suplementares para o maior sistema de financiamento militar privado do mundo, com faturamento na casa dos 10 bilhões por empresa. E o primeiro a pagar a conta pela privatização do exército é a população americana, que financia os impostos e as taxas que são revertidos para os ganhos da empresa, através de contratos do Estado que deixou de atuar na área. Logo após, é todo o restante do mundo que paga a conta, sendo atacado por esses mercenários ou fornecendo mão-de-obra barata para aumentar a influência da Blackwater no mundo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Detalhes sobre os erros na biografia de José Dirceu


Segundo a Folha de S.Paulo, em texto do dia 20 de agosto, o jornalista Mario Sergio Conti listou 20 erros contados no livro Dirceu, A Biografia. À reportagem, o ex-diretor da Veja enviou mais 30 erros, que não foram revelados. Otávio Cabral, o autor do livro, também conversou com o jornal, criticou Conti por um erro de reportagem na Piauí e prometeu uma nova edição de sua biografia best-seller, com todos os equívocos corrigidos. 

"Erros acontecem. Mario Sergio Conti sabe bem disso. Tanto que na última 'piauí' foi publicada uma carta de uma professora que ele havia dito, na edição anterior, que estava morta e contado detalhes de seu enterro. Mas ela está bem viva", disse Otávio Cabral à Folha.

"Conti de fato "matou" a pessoa errada. Mas Lúcia Carvalho, autora da carta, não é professora, e sim arquiteta", afirmou Moriss Kachani, da Folha.

Fonte aqui.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O livro que Bill Gates escreveu antes da popularização da internet

Bill Gates é um bilionário norte-americano reconhecido como fundador da Microsoft, uma das primeiras empresas de tecnologias especializadas em software, em programas. Sua empresa surgiu em Albuquerque, no estado do Novo México, em 1975. Eles licenciaram o sistema operacional DOS, mas a empresa dominou o mercado ao lançar o Windows, em meados dos anos 80, que funcionava na maioria dos computadores existentes.


No entanto, o senhor Gates também é autor de pelo menos um livro, além de dezenas de artigos publicados em jornais reconhecidos, como Wall Street Journal. Um dos maiores bilionários segundo os rankings da revista Forbes e da agência Bloomberg, Bill Gates publicou em 1995 o livro A Estrada do Futuro. Nele, o empreendedor lança especulações sobre a internet e a sua relação com os computadores em 10 anos.

Para Gates, a web é uma invenção comparável à imprensa de Johannes Gutenberg e seria popularizada principalmente pelo uso doméstico de computadores. A computação doméstica, a criação dos PCs, ocorreu graças aos software desenvolvido pela Microsoft e por empreendedores como Steve Jobs, da Apple, que criaram máquinas acessíveis ao grande público, fora dos círculos militar e acadêmico.

Como hoje a internet está muito desenvolvida em redes sociais e pela interatividade dos próprios usuários, a leitura desse livro é interessante justamente por retratar uma época muito diferente há quase 20 anos atrás. Bill Gates descreve, por exemplo, como seu amigo Warren Buffett, bilionário investidor do Berkshire Hattaway, não tinha o menor interesse em computadores até encontrar informações úteis sobre jogar bridge com amigos na web. Gates explica também como livros ciberpunks como o de William Gibson anteciparam termos que seriam utlizados em massa na informática.

Hoje, Bill Gates não tem mais o cargo de CEO da Microsoft, mas defende as criações de sua antiga empresa. Ele está envolvido em atividades de filantropia, no combate à pobreza e às doenças como a pólio.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Aniversários de J. R. R. Tolkien e Isaac Asimov: Recomendação de livros



Dois mestres da literatura e da ficção fantástica, J. R. R. Tolkien e Isaac Asimov abriram 2013 com seus aniversários: Nos dias 3 e 2 de janeiro, respectivamente. Tolkien se consagrou com as histórias medievais fantásticas de O Senhor dos Anéis, enquanto Asimov inovou na ficção científica com as leis da robótica em Eu, Robô.

Por isso, em homenagem aos 121 anos do britânico nascido na África do Sul Tolkien, se ele estivesse vivo (morreu em 1973), e aos 92 anos do russo Asimov (morreu em 1992), vamos recomendar dois livros menos conhecidos sobre esses autores.


Michael White fez um relato de fã e uma pesquisa extensa sobre detalhes da vida do escritor britânico em Tolkien: Uma Biografia. O autor de O Hobbit, que atualmente está em cartaz nos cinemas, é retratado como um profundo pesquisador e linguista que soube unir seu dom literários aos seus trabalhos acadêmicos. Embora seja uma biografia, o escritor consegue não deixar a vida de Tolkien muito entediante em seu relato, como fazem outros autores do gênero.


Fugindo das tramas de robôs ou mesmo de robótica, O Fim da Eternidade é um dos primeiros livros de Isaac Asimov e foi publicado cinco anos depois de Eu, Robô, em 1955. A obra lida com viagens no tempo e formação da sociedade. Vale para quem quer conhecer outro lado de Asimov, que ainda conserva elementos científicos, falando sobre o futuro.

Informações via Facebook do Omelete.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Como fazer uma boa resenha?

Entre os diversos textos que as pessoas fazem, especialmente na internet, um dos formatos mais adotados é a resenha. E o que é uma resenha, seja no jornalismo ou na crítica de forma geral? É uma análise da estrutura de um produto, seja um livro, um filme ou mesmo um local visitado pelo autor do texto.

Por esse motivo, a resenha é um serviço para o leitor que tem interesse pelo produto ou que pode ter curiosidade por ele. Esse estilo de texto pode abarcar opiniões, mas elas não são úteis se não colaborarem para um entendimento amplo do que é analisado.

Por isso, se você for fazer uma boa resenha:

- Descreva a obra que você escolheu. Aponte detalhes sobre o estilo do autor e a narrativa que está proposta, seja em romance, em conto, em poesia ou mesmo em dissertação.

- Com as descrições, conecte o livro ou o filme com outros produtos similares ou mesmo diferentes. Faça isso de maneira que torne seu texto esclarecedor, usando humor ou outro recurso que lhe parecer apropriado na comparação.

- Tome cuidado com excesso de adjetivos. Os adjetivos devem servir para caracterizar seu texto, e não para dotá-lo de opinião superficial.

- Pode-se abordar a biografia do autor do produto ou da obra se isso facilitar o entendimento de seu leitor.

- A opinião deve surgir, então, se as descrições do objeto estiverem claras. O ideal é que as opiniões apareçam no final da resenha. A mudança dessa estrutura só pode acontecer se isso não atrapalhar na descrição do objeto escolhido. Pode-se falar mal no começo, desde que isso não desanime o leitor para saber novos detalhes.

- Cuide do vocabulário na resenha. Palavras simples ajudam a fazer o texto fluir, mas a criatividade conta pontos positivos para o resenhista que souber usar um vocabulário mais elaborado sem empolar a descrição.

- A questão do final de um filme ou de um livro depende do foco do seu texto. Se você escreve pra quem já viu o produto, entregar o final pode ser positivo para construir novas discussões sobre o tema. Mas a regra geral é evitar registrar detalhes que o leitor só vai ter em contato com a obra. O suspense e a expectativa fazem parte do trabalho do resenhista.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Bola da Vez #15: Um ótimo blog de resenhas


Este texto não é nenhuma novidade e lembra de uma coisa já antiga: Uma matéria de capa da revista Veja do dia 18 de maio deste ano. Voltada para a literatura dos dias de hoje, entre jovens e gente até mais madura, a publicação divulgou um ótimo blog de resenhas em suas páginas.

r.izze.nhas.com, criado por  Taize "Izze" Odelli, recebe lançamentos de editoras nacionais como Companhia das Letras, Intrinseca e Record. A jovem faz textos curtos sobre os livros, mas de maneira bem focada e disciplinada. No texto da revista, ela foi apontada como um exemplo de novos leitores que estão se aventurando em clássicos como Fíodor Dostoiévski, um dos autores que está sendo reeditado nessas publicações.

A autora Izze aproveita os trajetos até seu estágio para fazer resenhas - um bom exercício de leitura.

E como o Bola costuma resenhar alguns livros em seus textos, vale a recomendação e o link.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Um Brasil vítima da burocracia governamental e do aquecimento global

Samantha Quitéria Albuquerque, conhecida como Shasha, é aluna de pós-graduação em sociologia e funcionária pública de um centro de apoio a imigrantes. Mulata, descrita pelo autor como uma mulher com "olhos de lince", ela é a protagonista do romance Ordem e Progresso, escrito por P.P.F. Simões. A personagem, apesar de namorar um homem rico que não se preocupa em lhe dar prazer, é narrada como uma heroína feminista em um universo machista e repleto de contradições que é tanto o Brasil de hoje quanto o país descrito no livro.

Simões parece oscilar, em sua narrativa, entre um local idêntico ao que vivemos na realidade e outro mundo, afetado pelo aquecimento global, que parece mais próximo de uma distopia futurista. A repartição pública onde Samantha trabalha passa a ser abarrotada de imigrantes. Eles fugiram de seus países após serem afetados por tornados, terremotos e todo o tipo de desastre natural. O cenário de Ordem e Progresso é o Brasil, que não foi afetado por nenhum desses incidentes.

A escrita do autor do livro, que estreia neste romance publicado pela editora Novo Século, é leve e acessível. O único defeito da narrativa de Simões é o excesso de adjetivações que ele coloca para os personagens, para as sensações e para todo o contexto da história. A protagonista feminina e seus colegas de trabalho - Ana Carolina, Bruno e Henrique - ganhariam mais com mais descrições sobre a situação de abandono que vivem no serviço público, o que é um problema real na sociedade brasileira. O autor, partindo para a ficção, também narra que os militares brasileiros montam uma espécie de campo de concentração para exterminar imigrantes. O conceito é interessante, mas parece muito fora da realidade do que o país faria em uma situação de excesso de população entrando em seu território, especialmente com sua infraestrutura precária para gerar uma repressão eficiente.

Mesmo com essas ressalvas, o livro trabalha bem, de maneira simples, todo o seu lado real e ficcional. Ponto alto para o narrador que exerce auto-crítica inclusive sobre suas próprias percepções sobre Samantha Albuquerque. Utilizando um recurso que já foi explorado em obras de Machado de Assis, Simões tenta conversar com o leitor ao longo dos capítulos, fazendo, inclusive, comentários sobre o seu próprio estilo de escrita.

O livro vale a pena para quem quer conferir um novo autor ou temas como sustentabilidade, funcionalismo público e uma simples ficção que consegue agregar esses assuntos. Os temas são atuais e poucos explorados. A dica para o escritor desse livro fica apenas para ele amadurecer certos aspectos de sua literatura, evitando alguns adjetivos que sobram e valorizando mais as descrições que ele coloca no papel, apostando num estilo com maior verossimilhança.

PS: O autor entrou em contato com o blog e nos enviou um exemplar pelo correio para que alguém do Bola fizesse uma resenha. Gostamos muito da iniciativa e o texto foi escrito com imparcialidade.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Ferreira Gullar e Laurentino Gomes são os grandes vencedores do Jabuti de 2011



Com um novo livro de poesia depois de dez anos, chamado Em Alguma Parte Alguma, Ferreira Gullar (foto 1) voltou a ganhar o prêmio Jabuti neste ano, na categoria ficção. Poeta desde a década 1950, quando publicou A luta corporal, Gullar tem uma carreira sólida como poeta e crítico de arte.

A segunda estrela do Jabuti, que ocorreu na última quarta-feira, foi Laurentino Gomes (foto 2). Ex-jornalista da revista Veja, ele ganhou fama ao reconstruir a história da família real portuguesa no Brasil, de maneira descontraída e acessível, com 1808. Com sua narrativa sobre a independência, 1822 levou a estatueta de não-ficcção deste ano.

Para quem tiver mais curiosidade sobre um dos livros, há comentários de Laurentino Gomes em uma palestra no Bola da Foca sobre 1808. Mais detalhes, aqui.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Os outros tipos de economia


Quando você pensa em economia, você imagina circulação de dinheiro e pessoas ricas? Se essa é sua resposta, o livro Free, do editor da revista WIRED Chris Anderson, lança mais dúvidas. Como integrante de uma publicação de tecnologia e tendências, o escritor coloca exemplos de empresas como Google, Gilete e até os criadores da gelatina, que transformaram o mercado de produtos com serviços grátis. E como eles são bem-sucedidos sem cobrar dinheiro?

Anderson traça diversos planos de negócio - capital cruzado (produtos pagos que sustentam gratuitos), mercado de três integrantes (um oferece serviço de graça a um cliente e outra empresa que paga) e até mesmo economias não monetárias (trocas de outros bens, como reputação na internet). Todas essas alternativas mostram que o mercado econômico que você conhece é muito mais do que dinheiro. Você pagaria algum centavo por uma pesquisa no Google? Eles lucram bilhões com suas buscas de graça.

O livro é agradável - foi escrito em 2009 - e é fundamental para estudantes de comunicação, economistas e gente plugada na internet ainda hoje. Chris Anderson faz questão de explicar conceitos econômicos sem blocões de texto, mas sim com parágrafos curtos, e também com bons infográficos. Para quem quer entender web, economia emocional e de reputação, o Google e o Facebook, a fama dos nerds hoje e a próxima fase do capitalismo, sua leitura é fundamental.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Biografia de Sarney vende 15 mil exemplares. É mais do que seus próprios livros


O presidente do Senado e membro da Academia Brasileira de Letras, José Sarney, conseguiu um sucesso editorial: Esgotou 15 mil exemplares em pré-venda de sua biografia escrita por Regina Echeverría e editada pela Leya.

O recorde talvez não supere seus quatro mandatos como senador, mas certamente esmagam as vendas de seus próprios livros, cerca de 19 obras. Nenhuma delas esgotou ou recebeu premiações nacionais, exceto por críticas afiadas de personalidades como Paulo Francis e Millôr Fernandes.

O lançamento da biografia de Regina sobre a vida de Sarney está previsto para 22 de março. Repetindo o sucesso, a editora imprimirá mais 15 mil exemplares.

Informação via Marcelo Onaga, da Exame.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A guerra de Cremilda Medina


Por Amanda Sousa, Ana Claudia Cabanas, Iara Aurora, Guilherme Müller, Mariana Campos e Thatiana Rós - Universidade Anhembi Morumbi.

Nascida em Portugal e radicada no Brasil, Cremilda Medina é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pesquisadora e professora titular da Universidade de São Paulo. Atua há mais de 40 anos na área e publicou 13 livros de sua autoria. A vasta experiência e dedicação a pesquisas na disciplina tornaram a jornalista um modelo pragmático da contemporaneidade. Trabalhou nos periódicos Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo e, neste último, desenvolveu um trabalho de 10 anos nos cadernos de arte e cultura. Nesta entrevista baseada em seu livro “Entrevista: o diálogo possível”, Medina fala do início de sua carreira, do interesse em se dedicar às pesquisas e estudos acadêmicos, do trabalho realizado no jornal O Estado de S. Paulo (principalmente no entrave entre o factual e o atemporal), dos problemas que atingem o mercado da área como advento da tecnologia, manuais de redação e o autoritarismo institucional, e ainda aconselha os jovens jornalistas sobre como lidar com a profissão.


Thatiana Rós - Cremilda, eu queria saber quais fatores da sua infância que influenciaram na escolha pelo curso de jornalismo? A senhora sempre gostou de escrever ou teve alguma influência de fora, da família, por exemplo?

Cremilda Medina - O que realmente mais marcou foi primeiro, durante o ginásio que eu fiz em Porto Alegre, eu vim de Portugal com 11 anos e meus pais me radicaram em Porto Alegre, aí de Porto Alegre eu fui parar no Colégio Farroupilha. E, o fato de eu ter ido parar na escola de alemães, ou descendente de alemães, fez com que eu me destacasse em Português. Então, a língua e literatura foram muito próximas em toda a minha formação ginasial. Agora, quando eu estava no 3° ano do colegial clássico, eu fiquei com muitas dúvidas do que eu ia fazer de faculdade, eu acho que aí é que está o momento importante. Bom, aí eu fiz uma reflexão comigo mesma, o que até hoje eu me surpreendo, e eu não queria me fechar em nenhuma área a não ser naquela que me desse uma possibilidade de trânsito social, de relação com os outros, de vir ao mundo com relação com outros e por isso eu decidi jornalismo. O que foi um tumulto em casa. O curso de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul começou em 50 exatamente e eu fiz o vestibular em 60. Na época, fiz o de jornalismo e o de letras. Era possível, na Universidade Federal daquele tempo, fazer dois. E, acontece que passei em 1° lugar em letras clássicas, que era Português, Grego e Latim e em 2° lugar em jornalismo. Mas, enfim, eu teimei, bati o pé como bati com meu pai, e terminei fazendo do curso de jornalismo. Ele foi a centralidade da minha vida universitária. A minha mudança para São Paulo foi por conta da Universidade, também porque eu em 68, em 67 mais precisamente, já era jornalista em Porto Alegre e tal, e fui chamada para dar aula na universidade federal no curso de jornalismo e assumir o jornal laboratório com os alunos. Que era preciso, pesquisar, inovar, estudar. Daí surgiu à notícia de que a ECA iria criar, isso no fim de 1960, início de 70, a primeira pós-graduação da América Latina. E aí em 1971 eu preparei tudo, já estava casada, com dois filhos e tal, para vir para São Paulo fazer a pós-graduação licenciada pela Universidade Federal. O fato é que dessa mudança para cá resultou a pesquisa. Então, dar aulas na Universidade de São Paulo significa ter um projeto de pesquisa e não simplesmente ensinar aquilo que a gente já sabe. Agora, o fato é que efetivamente, a arte e a literatura em particular sempre estiveram presentes na minha vida, isso eu digo bem nesse texto “O Povo e o Personagem”. E eu me orgulho muito, porque eu vim para São Paulo para ingressar nessa afinidade de pesquisa e resulta-se como mestrado da ECA. O trabalho foi o primeiro da América Latina e eu sou a primeira mestra formada em 75. Finquei pé nesse continente. Embora, eu tenha viajado muito, tenha feito outras coisas fora, mas a pesquisa sempre foi voltada para vocês, para nós, para os grupos de trabalho aqui no Brasil.

Amanda Sousa - No Estadão, a senhora ocupou as editorias dos cadernos de arte e cultura. Como foram essas experiências?

Então, essa é uma experiência que foi a mais longa do ponto de vista de mercado, porque eu sempre trabalhei com mídias, gosto muito de televisão, trabalhei na TV Cultura, na TV Bandeirantes, mas nesse período de dez anos no Estadão, foi assim o mais longo e por isso vou para implantar um trabalho de gratifica muito, um trabalho chamado que é o jornalismo cultural. E esse projeto foi um projeto de dez anos que eu tive chance de realizá-lo no Estadão, e numa época muito complicada, ainda diante de uma ditadura de censura, e uma série de obstáculos dessa natureza. No entanto ela me deu toda essa possibilidade de desenvolver um trabalho e o importante de salientar que a síntese dos intelectuais brasileiros da área de arte e de filosofia e repercussão foram importantíssimas na resistência à ditadura. Então, dar voz a esses artistas e a esses pensadores foi muito gratificante porque a gente estava na frente da luta de oposição a ditadura. E a censura e a repressão eram tudo que ele levou depois para sociedade civil a democratização do país. O Estadão foi importante por isso, porque ele estava nessa frente de luta, e ai a editoria de arte era a linha de frente. Porque todo o ato jornalístico é cultura, não é apenas a arte, ou a filosofia, ou o pensamento intelectual ou o pensamento de reflexão que pode ser chamado de cultural, qualquer editoria produz cultura. Então, é mais conveniente ser chamado, de editoria de arte do que chamar de cultura.

Mariana Campos - Você não acha que perdeu um pouco a essência do caderno de cultura, que misturou um pouco de entretenimento com cultura, outro tipo de entretenimento como fofoca?

Não, esses deslizes mais sensacionalistas existem em todo jornalismo. Na época que eu estive no Estadão estava em discussão no meio artístico, no meio literário e artístico, o desaparecimento do suplemento literário do Estadão, que foi muito marcante. Então, era assim um espaço nobre da área de arte, mesmo depois que desapareceu, eu achei isso absolutamente normal porque é uma dinâmica de alteração de editoriais, sai o suplemento literário e depois surge o sabático, e depois surge num sei o quê e, então isso é uma dinâmica de mercado, o fato é que produzia sentido, ou seja significado para as coisas é a cultura. Agora, o entretenimento que você se refere ao lúdico, o lazer é muito importante, o lúdico é muito importante para nós, para nossa vida cotidiana, como é que se vai deixar então uma coisa séria, carrancuda, sem nada de entretenimento, sem o lúdico. Então, para fazer um textinho humano, uma historia humana em uma matéria jornalística, coisa que a Folha não sabe fazer, por exemplo. Os textos da Folha são meio duros para fazer, mas a gente encontra em outras mídias, ou na televisão, ou no Globo Rural, ou no Globo Repórter, você tem que ter essa abertura, para a beleza do lúdico, inclusive o lúdico da palavra. Por que se você capta o jeito das pessoas se expressarem, fica muito gostoso trabalhar. Você não fica só lá com aquela redação padrão, aquela chatísse, da piramide invertida, do lead primário, toda aquela tralha de tecnica dogmática, tecnica enferrujada. Você não tem oportunidade de apreciar, de sentir, de se divertir inclusive com a palavra do outro, que é muito gostosa de perceber. Então se o entreterimento é um entreterimento dessa natureza, e não uma exploração sensacionalista de se falar, furungando na ferida e tal, eu acho quem deveria estar presente em todas as editorias, a começar pela política, economia, para todas. Enfim, há essa experiência humana é o cotidiano.

Thatiana Rós - A senhora sempre se dividiu entre a vida acadêmica e o jornalismo factual. Quais foram as constribuições que a vida academica trouxeram ao dia a dia como jornalista?

É um casamento mútuo que eu nunca consegui fazer a divisão do prático com o teórico. Sempre tem um alimento múltiplo. Ou seja, quando a gente está produzindo alguma coisa pratica, todo nosso arsenal de estudo está presente. E quando a gente está no arsenal teórico, às necessidades práticas interferem na linha de pesquisa. A linha de pesquisa pede às necessidades que a gente sente para trabalhar, para produzir. E o que eu acho que une as duas coisas é o que já defini neste livro [Entrevista: o diálogo possível] que é a responsabilidade social. Desde a minha decisão de ir ao outro, mudar o rumo, circular pelo mundo. Eu quero estar no mundo! Então este meu laço social com o mundo, esse vínculo de responsabilidade perante este outro que esta a minha frente é o que une a teoria e a prática.

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Iara Aurora - A primeira edição do seu livro “Entrevista: o diálogo possível” foi lançada em 1986, 24 anos atrás e muitos probelmas destacados na obra continuam existindo hoje. Houve transformações no método de entrevista e de apuração? Pois, naquela época os repórteres saiam mais a campo e hoje muitas entrevistas são feitas por e-mail.

É, estes problemas persistem porque eles transcendem os problemas ao suporte a a técnica. E a visão de mundo independe de você ter técnicas e tecnologias a sua disposição. Você pode ser dialógico com ou sem técnica agora você pode ter monológico ou com uma maravilhosa tecnologia a sua disposição. Então, talvez seja isso que de essa discussão século XXI. Você me pergunta se as máquinas estão retroagindo aos veículos de comunicação. Eu acho que há esse risco bastante acentuado. Por mais que você use a máquina, por mais que eu use a inteligência artifcial, por mais que eu use a inteligencia natural eu vou ficar atrás da máquina. A racionalidade humana funciona bem se você tem o contato possivel com o mundo. É a partir desse contato que a inteligência humana funciona bem ou é plena, se você passa a deixar de ter contato com o mundo, é a partir desse contato que a inteligência racional funciona. A entrevista digital é útil, perguntas e respostas, quando você esta no mundo das ideias, se estiver no mundo das ideias, tudo bem. Você está ligado conceitualmente, você encena uma resposta conceitual. Agora, se você não está no mundo das idéias, está no mundo vivo, a entrevista digital não tem cheiro, não tem paladar, não tem tato. É a atrofia de três de nossos sentidos de contato, nos exercitamos o olhar vendo o que a gente quer e a audição escutando aquilo que a gente quer. Mas os três importantes que marcam o contato é o paladar, tato e olfato. Por isso que fazer uma reportagem sem esses três elementos, é uma reportagem capenga, ela não tem plenitude de vida, ela não vibra.

Mariana Campos - Ainda no seu livro ‘Entrevista, o diálogo possível’ a senhora classifica a entrevista em dois grupos, uma com um objetivo de espetacularização e outra com o objetivo de compreensão. De que maneira o jornalista deve atuar para alcançar a compreensão do leitor?

Eu acho que hoje eu resumiria em compreensão, mas eu estou cada vez mais anti-classificatória. Eu diria que o fundamental é o hábito compreensivo, tudo o que o que escapa deste abrir-se a compreensão é autoritário. A gente tem que entrar no mundo, na relação com os parceiros da história. Eu já fui armada para uma entrevista, como, por exemplo, uma vez no Estadão, o dono do boteco, que já morreu o Julio Mesquita definiu que seria eu que iria entrevistar o Carlos Lacerda. E eu disse para o meu editor: ‘olha, eu tenho diferença histórica com o Carlos lacerda’. Lá na minha juventude em Porto Alegre, corria no nosso imaginário que ele mandava matar os mendigos para eliminar a pobreza no Rio de Janeiro. Mesmo assim, eu tinha uma algebriza de direita, conservadora, aquela coisa de esquerdismo, típico da juventude. Então, ele exigiu que eu fosse, mas eu falei que não sou a melhor pessoa, que não gosto dele, eu fui armada. Com toda aquela minha bagagem ideológica dos anos 70, da minha juventude, da minha primeira fase profissional. E quando cheguei diante dele, a inteligência dele é brilhante, ele é uma pessoa cativante, eu me rendi, me desarmei, conversei com ele, e produzi um texto desse encontro que rendeu um cartão dele no dia seguinte que mandou para o Julio Mesquita. O Julio Mesquita mandou me chamar, mostrou o bilhete dele, fui borrada de medo do tipo ‘vou ser demitida hoje’, ai ele era muito duro, cheguei na frente dele, ele mandou eu sentar, ele era muito amigo do Carlos Lacerda ai ele disse: Ó, pra você! Ai, o Carlos Lacerda dizia coisas do tipo: a repórter que você mandou que visivelmente não pensa como eu, mas foi muito profissional, um monte de elogios. Então, esse desarmamento que eu fui forçada a ter por causa da personalidade do Carlos Lacerda. Eu aprendi que seria realmente o mais viável e conveniente para isso que eu chamo de responsabilidade com o outro. Então, por mais que eu saiba que o outro é diferente de mim, eu tenho que desarmar das minhas, dos meus pressupostos, da minha ideologia para tentar compreender quem é esse homem. A cobertura das revistas brasileiras denuncia uma visão aprioristica e ideológica para cobrir a guerra do Iraque que não tem nada a ver com o ato de compreensão.

Thatiana Rós - Professora, sabendo que o autoritarismo institucional acentuou a limitação de vozes da comunicação coletiva, muitos jornalistas deixam de cumprir seu dever de informar as várias versões da realidade através da pluralidade de fontes. Existe uma maneira de o jornalista exercer sua ética sem se corromper com essa limitação?

Se ele preserva a sua autoria, se ele se recusa a fazer essa encenação precária, mentirosa, do a favor e contra. Isso, não é exercer a sua autoria profissional, porque o mundo não se resume a favor e contra. Pegar o telefone, pegar uma declaração a favor, outra declaração contra, pronto tá resolvido o problema. Isso é enganar o freguês. A verdade, não é a verdade que você vai trazer aí nessa brincadeira, mas, sim a luta das verdades. A luta das verdades são as muitas das verdades que estão por aí, é claro que agente nunca consegue atingir o ideal que é uma pluralidade plena de divisões, de imersão. Mas, você sempre se angustia e sempre você vai ao máximo possível com aquela abertura de que tem mais, até onde for possível pra fechar a matéria. Uma autoria é substantiva, ela é consistente, quando traz essa polifonia, essa polissemia, por exemplo, a herança maldita do Fernando Henrique, eles pegam e eles trincham o que não é uma herança maldita, mas mostrando através de fatos, de dados e elementos, então a monossemia quer dizer a versão única do autoritarismo ela só é atacada, ela só é higienizada se você faz um esforço de montagem dessa monossemia para uma polifonia e uma monossemia para uma polissemia. Isso que está escrito aí continua sendo o dilema de um trabalho sujo, porco, feito nos joelhos ou trabalho de autoria, um trabalho respeitável, sério, digno de uma autoria.

Ana Claudia Cabanas - Ainda no livro, a senhora fala dos problemas relacionados ao manual de redação que fazem parte das empresas jornalísticas que seguem a caracterização dos trabalhos desde pauta até a publicação. Atualmente qual o perigo que os jornalistas enfrentam em relação a isso?

Todos, mesmo o pior. Agora tem um trabalho de uma jornalista brilhante que esta por ai na praça, que é a Patrícia Patrício ela dirige agora as revistas das FATECs. E o que ela fala é o que realmente você já tem essa impressão de quem começa a trabalhar de que o manual é uma dogmática, uma gramática para o jornalismo que não corresponde à autoria dinâmica criativa que a nossa profissão exige. E vocês vejam como compromisso com a nossa sociedade. Se você vai seguir aquelas regrinhas você se torna um burocrata, tanto faz trabalhar num caixa de banco como no jornalismo, se você segue aquelas regras. São regras que realmente ajudam a disciplinar industrialmente a profissão, mas como agora a profissão é própria industrial, não tem mais sentido, porque você agora tem autoria autônoma, online e tal. Agora, para disciplinar industrialmente as editorias e os manuais servem de baliza, seguidamente se os próprios jornalistas dessas empresas comprariam, por isso que algumas empresas não têm manuais.

Mariana Campos - O grande problema enfrentado, por exemplo, no caderno de artes é de manter o meio termo entre o factual e o atemporal. Como um crítico de cultura pode lidar com isso?

Itálico
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É muito interessante você levantar esse aspecto. Morreu agora, há duas semanas, infelizmente, um jornalista que trabalhou comigo, que tinha sido aluno na ECA na década de 60, depois ele foi para o jornalismo econômico, e aí ele veio para arte trabalhar comigo no Estadão, o Mauricio Lelo. O Mauricio Lelo chegou um dia para mim e disse: eu queria te propor o seguinte, os serviços de teatro, cinema, música, rádio, ele fazia um programa de rádio muito interessante que não existia em nenhum outro jornal, que nós produzíssemos uma pequena frase do conteúdo daquela peça, daquele filme, ou daquela exposição de arte plásticas. Eu disse: claro, experimenta, vamos lá! E ele introduziu o que hoje é banal, no Estadão pelo Mauricio Lelo, que criou uma frasesinha para definir um filme, uma peça de teatro, porque era assim muito seco, tal hora, tal lugar, aquela coisa assim sem nada. Vejam o que é a autoria, o serviço seco, passa a ser um serviço de informação a mais, um “plus a mais”, uma informação muito importante. E isso se consagrou e deu origem a um serviço que afinal tem um pouco mais do que um árido serviço. A outra estrutura de pé, era a informação factual, que você está falando. O acompanhamento de tudo o que acontece na arte. E nós tínhamos o princípio, o grupo de fugir do centro do acontecimento, do chamado centrão das artes, das artes estabelecidas e ir para a periferia. A periferia de São Paulo é riquíssima em manifestações. Então, nós também fazíamos o factual com a periferia, não apenas no centrão do Brasil e de São Paulo. Isso era muito importante, porque era a grande realização na reportagem para o repórter de arte. Não simplesmente ele ser um portador, um porta voz dos releases que chegaram a informação, mas era dele ir ao mundo buscar essas informações. E finalmente, o terceiro pé também era muito cultivado, que era o da crítica. Como administrar isso? Eu fiz uma experiência única, não quero aqui me vangloriar, realmente foi única, fui considerada maluca por causa dessa experiência, que era fazer um encontro mensal de críticos e repórteres da editoria para debaterem o confronto entre o repórter e o crítico. O crítico achava que o repórter era um ignorante; e o repórter achava que o critico era um sujeito insuportável. Então, eu reunia uma vez por mês o corpo de crítico e o corpo de repórter para quebrarem o pau; para o crítico dizer: olha você está chamando de peça o que é espetáculo, o que é espetáculo está chamando de peça, você não sabe nada disso. Aí quebravam o pau. Aí o repórter dizia assim: você mandou um texto de crítica que ninguém pode ler, porque tem não sei quantas linhas a mais, e porque as palavras que você usa. Então, era maravilhoso isso, quer dizer administrar o conflito. Mas, era um conflito que nasce alguma coisa. De maneira que os críticos tinham um diálogo muito rico com os repórteres, e o factual não brigava com a crítica; nem a critica com o factual, se harmonizavam. Mas, se a gente tem então uma proposta, uma visão, uma filosofia de trabalho, isso vai indo e vai se realizando na medida enfim, das possibilidades do grupo e da própria empresa e tal. Não é fácil, não é tranqüilo, é conflito constante. Mas, você tem naturalmente que lutar e usar argumentos consistentes. No “cotidiano do dia a dia” as pessoas são fracas as vezes, acho que não querem se incomodar, vão levando de qualquer jeito. Eu não, porque eu tenho na minha carteira profissional 14 pedidos de demissão, que eu pedi demissão. Quando bate no teto dos meus limites éticos e profissionais, eu vou caçar trabalho, vou ter meus filhos para alimentar, minha casa para pagar e tal, mas eu vou embora, não quero saber. Então, eu acho que a gente tem que se manter dentro dessa proposta, da sua visão das coisas e sempre na luta, não tem como escapar, não há trégua. Guerra permanente.

Amanda Sousa - A senhora busca desde 1970 o fazer jornalístico e apesar das dificuldades que encontrou pelo caminho nunca desistiu. Hoje muitos dos jovens jornalistas que estão iniciando essa profissão, eles criam a expectativa em relação à profissão e muitos acabam se decepcionItálicoando. O que a senhora diria para os que estão começando, para eles não desistirem e para que eles tenham força para enfrentar o naufrágio e assim alcançarem o Diálogo Possível?

Primeiro se manter como repórter, não ceder a sedução da carreira, se logo vinga para a burocrática, para você ganhar dinheiro, para você ter poder, tal, e sobe na carreira e deixa de ser repórter. O abandono da reportagem, o hábito de ser repórter mata o vigor do jornalismo. Segundo, eu acho que é essa questão do compromisso, manter o compromisso social, que é coerente com a sua decisão de jovem. É uma decisão ética, decide porque gosta, tem um gosto e um compromisso de estar ligado ao seu tempo, na atualidade, a parceria histórica, a parceria com o outro. Se você mantém esse compromisso e você permanece no seu estado de repórter você termina se alimentando na rua com os outros, da chamada comunhão da luta. Eu acho isso uma paixão, apesar de tudo, estamos aí.

Da esquerda para a direita: Ana Claudia, Thatiana, Mariana,
Cremilda Medina, Amanda e Iara

domingo, 17 de outubro de 2010

O que é crescer


Ainda, aos vinte anos, o questionamento continua. Afinal, o que é crescer? Aceitar que tudo o que compôs seu mundo infantil não tem espaço na vida adulta e seguir em frente? Bem que meu pai gostaria que eu fosse adepta deste pensamento.

É curioso como o cotidiano dá a impressão de amadurecimento. Faculdade, estudo, trabalho, responsabilidades – há semanas em que me pego tentando lembrar o que comi no almoço. Tudo isto faz distanciar da rotina despreocupada dos mais jovens.

Foi a decisão tomada há mais de uma semana que mudou a perspectiva: No sábado, um dos poucos em que não tive que acordar cedo, retirei o livro da pilha bagunçada. Na capa, a letra com o título cintilante, o garoto britânico de olhos verdes e cabelos negros que eu tanto conhecia: um velho companheiro.

Como o fechar de um ciclo, e depois de iniciar e parar a leitura incontáveis vezes, eu finalmente saberia o final da história que acompanhou toda minha vida. E achava estar preparada para isso.

Agora, largada no sofá devorando as páginas, eu volto a ser a garotinha de sete anos que, deitada em sua cama, ouvia atentamente a voz da mãe contar as aventuras mais fantásticas vividas por este menino. E ela tinha pesadelos com o inimigo que, em sua imaginação, era em comum.

Ou a pré-adolescente que tinha o quarto coberto com pôsteres e foi assistir pela primeira vez, e, com uma excitação enorme, o herói de carne e osso. E que no final acabou vendo o seu primeiro filme legendado. O primeiro representa muito para a cinéfila que sou.

Então a jovem estudante vem à mente. Uma que no meio da puberdade encontrava momentos maravilhosos sentada na cama ou no mesmo sofá, curvada diante de sequências cada vez mais grossas. Foi provavelmente um dos primeiros livros a ler sozinha. Foi o primeiro de muitas coisas.

E assim aquele sentimento de preparação, de maturidade, foi dissolvido quando a primeira página foi aberta: “este livro é dedicado a sete pessoas: (...) e a você, que ficou com o Harry até o fim”. Estas palavras me fizeram parar. Até o fim. Durante o crescimento as pessoas precisam de apoios, coisas com as quais, independente do momento da vida em que estão, elas podem contar. Mais uma primeira vez para mim.

O texto na folha seguinte trouxe a emoção – ele diz que os amigos, mesmo depois de mortos, permanecem vivos em seus amigos. Outro choque me atingiu: a vida passa, o tempo chega, também, para Harry Potter. Também para mim.

Agora, separada do fim por apenas 7 capítulos, fui tomada por esta inquietação antes de dormir. Por um lado lembrei dos rostos que me reprimiram quando souberam o que estava lendo, e, por outro, do quão bem me faz sentir.

Eu tinha esquecido, estava perdido em minha rotina o quão incrível é poder sentir-se criança novamente, participar das aventuras, torcer, morder os lábios nas cenas de tensão, e sorrir como se algum segredo me tivesse sido confiado. Enfim, ter um parâmetro, olhar para o primeiro livro e analisar até onde cheguei, tudo o que houve no meio desses 13 anos.

Então eu sei o que é crescer: É buscar o antigo você na memória, plantá-lo ao seu lado e compará-lo com o de hoje. É ser capaz de distinguir onde acertou e onde falhou, é aprender a se desculpar e a não repetir os mesmos erros, é aceitar quem você se tornou e ter coragem para mudar. É conseguir conquistar o mesmo que um de seus heróis: Ter amigos para sempre, porque são eles que vão estar ao seu lado.

Mas o mais importante é manter em mente que eu não seria a mesma pessoa se não tivesse passado por aquela juventude. Não teria tomado as mesmas decisões, não estaria onde estou hoje. O agradecimento então vem - de poder fazer parte de tudo isto, de ter aprendido, me divertido, e crescido ao lado desses livros.

E agora o adeus implicado com o final das páginas me parece fora de lugar, dramático, e não serve. Fica apenas um ‘até logo’, um ‘te vejo depois’, porque ainda há filmes para ver, um parque para visitar, novas experiências a viver, outros pontos de vista para interpretar, e filhos para ouvir.

Porque afinal de contas, o primeiro de tantas coisas e o mesmo de tantos anos é como um amigo: Depois de tanto tempo juntos na jornada, não importa a distância ou a temporada sem contato - um dia eu vou abrir aquele livro e lembrar de tudo, porque ele fez parte da minha infância. E por isso faz parte de mim - até o fim.

sábado, 2 de outubro de 2010

Maranhão. Ferreira Gullar. José Sarney


Maranhão é um Brasil que paulistanos e fluminenses normalmente não reconhecem. Ao folhear a edição 38 da revista Brasileiros, passando os olhos no texto de Alex Solnik, vi algo além de Ferreira Gullar e seu novo livro Em Alguma Parte Alguma. Podia enxergar algo além de enxertos de poesia e trechos sobre a vida pessoal de Gullar.


"Não, Sarney foi meu amigo da juventude. Ele tem a minha idade, com diferença de meses..." afirmou Gullar ao jornalista. Incrível como São Luís deu origem a dois indivíduos completamente diferentes, mas ligado pelas letras: José Sarney e Ferreira Gullar. O velho Gullar ainda se considera amigo do político, especialmente sobre temas abrangentes como a literatura. O velho Gullar chega aos 80 anos com um prêmio Camões neste ano. O velho Sarney continua como líder do Senado nacional.

O histórico de Gullar é intimamente ligado com a esquerda. Suas declarações misturam arrependimento e boas lições desse engajamento, que se iniciou nos anos 50. Sarney representa hoje um "dinossauro do conservadorismo". Gullar alega que a política é a principal diferença entre eles.

Gullar e Sarney são duas caras do Maranhão, duas faces de um nordeste desconhecido para muitos nordestinos e brasileiros. Gullar é uma representação cultural na poesia e na crônica política. Sarney é uma autoridade da Academia Brasileira de Letras. Gullar e Sarney são retratos de um Brasil do século XX que se prolonga, até hoje.

domingo, 8 de agosto de 2010

Erudir #7: Sobre anjos e escrita fantasiosa


Mudando seu foco, Erudir traz um dos autor brasileiro que está despontando com literatura fantástica que aborda religião e fantasia. Abordando a obra A Batalha do Apocalipse, Pedro Zambarda comenta sobre a escrita de Eduardo Spohr, que conquistou do nicho do podcast Nerdcast para as grandes livrarias nacionais. Remontando o apocalipse bíblico, Spohr humaniza os anjos e os transforma em criaturas de um universo próprio, como Tolkien fez em O Senhor dos Anéis.

O videocast está sendo um excelente laboratório para trazer temas diferentes. Se você tiver alguma sugestão de escritor para o Erudir, ou quiser sugerir outros programas, mande e-mail para boladafoca@gmail.com.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O livro de capa azul, em branco



Dizem que a educação escolar começa, pra valer, entre seis e sete anos, com a alfabetização e a entrada no ensino básico, essencial para qualquer moleque. Logo que a professora começou a aumentar as aulas de caligrafia, ditados verbais e a mostrar sinônimos e antônimos, eu disse para mamãe que queria ser escritor, como aqueles homens famosos dos livros da escola. Nos oito anos de ensino fundamental, a vontade foi incentivada por um companheiro inseparável dos meus momentos mais solitários, quando era menor.

Era um livrinho azul, de aproximadamente 300 páginas, totalmente em branco por dentro e com capa dura. Tinha oito anos, assistia televisão, jogava videogame, ouvia coisas que os adultos diziam e elaborava histórias à partir disso. O livro me acompanhava pelas viagens e me fazia ter gosto por leituras. Era um companheiro que nunca reclamava das minhas frases repetitivas, dos meus verbos pobres ou do meu léxico monótono. As frases simples viravam cenários de batalha medieval, tiroteios entre policiais e até cenas de amor. E aquele livrinho foi testemunha das minhas vergonhas infantis, como, por exemplo, a minha incapacidade de ver e de descrever cenas de beijo, de lábios se encontrando.

Quando não encontrava as palavras certas, arriscava desenhar os personagens e até os cenários baseados no texto. Procurava não deixar a mão parada, nem mesmo relaxar a cabeça. Aquele menino que escrevia no livrinho, quando cresceu, acordou em diversas madrugadas para fazer poesia sobre as mulheres e pessoas que admirava. Tornou poema sua visão de mundo e, ao mesmo tempo, desenvolveu a análise nas dissertações e prosas. Não se prendeu em nenhum formato de texto, em nenhum tema específico, apesar de preferir registrar quase sempre o que o cativava no mundo.

Na escola, mostrava seus pequenos livros para alguns professores, que apenas elogiavam, sem entender, talvez, os anseios do menino. Nas brincadeiras com amigos, começava a elaborar as histórias dos personagens, fazendo teatrinhos. Quando veio a onda do RPG e jogos de interpretação mais elaborados, acabava sendo o mestre do jogo, o roteirista ou alguém que, no mínimo, tentava dar uma orientação para a brincadeira toda.

Rabiscar aquelas páginas, desde menor, significava sair daquele mundo. Não era uma simples fuga, mas um afastamento que sempre permitiu ao garoto dar outro sentido ao que era aprendido. Era um movimento diante das coisas. O menino tinha necessidade de ser um pouco criador, de ser algo além do que um simples estudante de escola primária, um filho ou alguém preocupado com diversão.

Escrever, quando era pequeno, não parou no livro azul. Veio um vermelho e outro verde, depois. Por fim, eu comecei a viciar mesmo em passar minhas ideias para o computador, à medida que me aproximava da adolescência, unindo tecnologia e cultura. Esse hábito de despejar o que me intrigava, ou o que eu achava que poderia ser interessante para as pessoas, virou algo essencial para o meu trabalho como jornalista. Virou motivo para aprender a língua portuguesa na educação primária, e para adquirir inspiração em redações remuneradas. E o segredo disso sempre foi observar as pessoas e os fatos, tentando colocar a minha pessoa nesse cotidiano alheio.

De certa forma, o jornalista Pedro de hoje continua sendo o mesmo moleque querendo colocar suas criações no papel, relembrando sempre a voz da professora em sala de aula. E o livro azul, com folhas em branco, faz convites silenciosos para ser manchado de tinta, grafite e ideias.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Alan Moore e a crítica ao conservadorismo

1981. Ronald Reagan torna-se presidente norte-americano por dois mandatos consecutivos, consolidando um retorno às políticas do capitalismo tradicional pelo neoliberalismo e acabando com as disparidades econômicas entre os EUA e a URSS pela queda do Muro de Berlim e a abertura comercial das nações socialistas. Um presidente que aliou reconciliação com conservadorismo, conquistando e consolidando seu eleitorado. Dois anos antes, em 1979, Margaret Thatcher assume o cargo de primeira-ministra britânica, diminuindo a atuação política trabalhista na Inglaterra e, junto com seus parceiros americanos, fortalecendo o poder do mercado sem regulagem do Estado pelo mundo.

Entre 1982 e 1983, o roteirista Alan Moore dá vida aos quadrinhos de V for Vendetta, ambientado em uma Inglaterra opressora. Entre 86 e 87, nasce a liga de super-heróis Watchmen, que é uma paródia dos mascarados norte-americanos durante a Guerra Fria, especialmente nos Estados Unidos. Ambos os desenhos, além de integrarem obras importantes do século XX, mostram uma clara crítica de Moore, um escritor polêmico por suas crenças no obscuro e na bruxaria, questionador quanto aos regimes vigentes e ao conservadorismo em geral.

O herói V é um anarquista que luta contra uma Inglaterra dominada por um ditador, Adam, muito semelhante ao poder popularizado de Tatcher. Os super-heróis de Watchmen não possuem poderes especiais, exceto um homem de pele azulada e brilhante chamado Dr. Manhattan, que sobreviveu a experimentos nucleares e pode desintegrar, integrar e manipular todo o tipo de matéria, sendo praticamente um deus do mundo físico. Outros personagens, como o Comediante e a Espectral, refletem a natureza decadente de heróis afetados por uma sociedade que não os aceita, mais próxima da realidade, se um super-homem existisse.

Moore conviveu com Tatcher e Reagan e, ao contrário deles, teceu uma realidade crítica do fim da Guerra Fria e do mundo real em que vivemos, mesmo através de desenhos. Transformou mitos norte-americanos dos anos 50 e 60, como super-heróis, em espelhos de uma realidade suja das ruas oprimida por políticos que não estão em contato com o cotidiano comum. Seja pelo poder estatal ou das corporações em mercados livres, Alan Moore criou novos mitos críticos no último século que passou. Portanto, mesmo que você não concorde com o anarquismo de V, ou com os heróis comuns de Watchmen, é recomendável ver seus quadrinhos neste começo de século.

Lançado em 2006, a adaptação cinematográfica de V for Vendetta adaptou toda a mensagem anti-fascista em uma história mais contemporânea, envolvendo caça ao terrorismo dentro da trama original, além da poesia e dos dotes artísticos do protagonista. O filme transformou-se em uma interpretação fiel de quadrinhos. A mensagem de que V pretendia tornar a explosão do parlamento inglês um símbolo de sua rebeldia contra o governo e um exemplo para sua população alienada é mantido, revivendo os ideais de Guy Fawkes no século XVII.

Em Watchmen, na adaptação aos cinemas de 2009, o plano de unificação na Guerra Fria é transformado em várias bombas nucleares explodindo em diferentes locais do globo, e não um ataque alien, como no gibi, tirando um pouco da surpresa original. Mas todos os personagens característicos de Moore estão presentes, mantendo sua criatividade como autor do conservadorismo social, estampado em seus heróis errantes.

Apesar de rejeitar as versões cinematográficas de suas obras, Moore é um autor que deve ser reaproveitado em tempos de Barack Obama na presidência, com esperanças que o mundo aguarda de um novo Estado americano. Esses novos mitos na verdade não diferem do mundo pessimista de Alan Moore, que possui sim retratos ideais, mas que estão distorcidos pela realidade em que vivem, não sendo pura fantasia e mantendo sua conexão com a crítica, sempre válida socialmente e individualmente.

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