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quarta-feira, 8 de abril de 2015

Sete anos de Bola da Foca, 10 anos da minha vida com blogs

Por Pedro Zambarda

Bola da Foca completa sete anos nesta quarta-feira (8) com 2,010 milhões de acessos, de acordo com o Google Analytics.


Neste ano, completo 10 anos da minha vida profissional escrevendo blogs. Escrevo em livros desde meus oito anos, ou seja, há 18 anos. O inglês Neil Gaiman, o roteirista dos quadrinhos Sandman, dá a dica na foto acima do que devo continuar fazendo.

Comecei fazendo fotologs e sites pessoais, como diários. Cheguei a ter um template do BRUNOMAXIMUS em 2005. Depois tive um DeviantART com poesias e um blog voltado pra artes, o Blue Writers. O Bola da Foca surgiu em 2008 como um laboratório de jornalismo durante minha primeira graduação, na Faculdade Cásper Líbero. Na mesma época, me tornei colaborador da Whiplash.net, o maior site de rock e heavy metal do Brasil até hoje.

Colaborei em novos projetos, como o extinto site Ponto Mac, voltado para fãs da Apple, e como revisor do site e da revista Nintendo Blast, focadas no público fã de Mario e que existe até hoje. Comecei a estagiar no site da revista Sorria. Depois me tornei repórter e redator por mais de dois anos no site EXAME.com, da editora Abril. Também colaborei no blog Wii Are Nerds.

Nesse meio tempo, ajudei, junto com o blogueiro Nick Ellis do Meio Bit, a fundar o TechTudo, o maior site de tecnologia da Globo.com. Quando sai da Abril, em 2013, me tornei colunista deles por mais de um ano e, com Geração Gamer, passei a mapear a cena brasileira de games no Brasil.

Passei a blogar no site Brasil Post, de volta à Abril, e me tornei repórter de política no Diário do Centro do Mundo, o DCM, em 2014. Escrevo também sobre a empresa do maior buscador do mundo no Google Discovery. Também dou mais pitacos de games internacionais no Bonus Stage e num novo projeto chamado Drops de Jogos, site parceiro do Catraca Livre.

Colaborei esporadicamente em mais sites com apenas alguns poucos textos, fiz amigos e me diverti nesta jornada.

Foi uma década movimentada, escrevendo sobre tecnologia, economia, negócios e muitos assuntos para descobrir o que é o Brasil. Meus textos foram de algo muito pessoal e particular até a poesia, a arte e a prosa, para no fim desembocar no jornalismo.

Espero que eu tenha mais uma década de movimentos deste naipe.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Cientistas revelam segredos das cores de Cândido Portinari

Por Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias

A maneira com que o pintor Cândido Portinari (1903-1962) combinou pigmentos de materiais variados para criar as cores de suas pinturas é revelada pelos estudos do Núcleo de Apoio a Pesquisa de Física Aplicada ao Patrimônio Histórico e Artístico (NAP-FAEPAH) da USP. Entre os meses de março e agosto deste ano, 21 quadros expostos na Igreja Matriz de Batatais (interior de São Paulo) passaram por análises de fluorescência de raios X e espectroscopia Raman para identificar os elementos químicos e compostos presentes nas tintas. Os resultados permitem auxiliar o processo de restauração das obras de arte e em futuros estudos sobre o método de trabalho de Portinari.


Os quadros na Matriz de Batatais, executados pelo pintor provavelmente entre 1953 e 1955, trazem cenas da vida de Jesus Cristo. São pinturas de vários tamanhos, desde as estações da Via Sacra, que medem aproximadamente 50 por 50 centímetros (cm), até quadros como “Batismo” e “Sagrada Família”, com 1,99 metros (m) de altura por 2,99 m de comprimentos. “Os responsáveis pela restauração procuraram o núcleo para realizar um trabalho de caracterização dos materiais usados nas obras e seu estado de degradação durante o processo de restauro”, diz a professora Márcia Rizzutto, do Instituto de Física (IF) da USP, coordenadora do NAP-FAEPAH. “As medições de raios X e Raman aconteceram na própria igreja, por meio da utilização de equipamentos portáteis pertencentes ao Núcleo”.

As duas técnicas não necessitam de extração de amostras (não-invasivas). A fluorescência de raios X serviu para caracterizar quais substâncias químicas estavam presentes nas tintas dos quadros. “O aparelho emite um feixe de raios X, que são utilizados para excitar o material presente no pigmento e depois raios X característicos dos materiais são reemitidos pelos pigmentos analisados com frequências de onda diferentes, conforme o material encontrado, o que permite classificar cada elemento químico”, conta a professora do IF. “Em algumas obras usou-se a espectroscopia Raman, em que um sistema de laser interage com os compostos e estes espalham novamente o laser e assim fornecem informações sobre a composição química dos materiais analisados”.

Com base nos resultados das medições realizou-se um mapeamento dos quadros, que indicam os componentes de cada pigmento presente nas obras. “As análises apontam que Portinari usava pigmentos industrializados, porém feitos de diferentes elementos químicos, para variar as tonalidades de cores, como no céu pintado em alguns quadros”, diz Márcia. Para conseguir um maior número de tons de azul, o pintor usava pigmentos a base de cobalto, estanho e cobre. “Nas partes pintadas de branco foram encontrados traços de zinco; nos amarelos, cádmio, nos marrons, ferro, nos verdes, cromo, e assim por diante”.

Paleta de cores

As informações obtidas sobre a paleta de cores utilizada nos quadros da Matriz de Batatais podem ser comparadas com outras obras do artista. “É possível verificar se os pigmentos e as técnicas de pintura usadas nestes trabalhos apresentam semelhanças ou diferenças com quadros de Portinari em outros acervos, como o do Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP”, ressalta a professora. “Os estudos com imageamento não encontraram traços de carbono, presentes no carvão e no grafite usado por artistas para esboçar traços iniciais em suas obras, o que pode ser um indício de que o pintor realizou os quadros diretamente sobre a tela”.
O NAP-FAEPAH surgiu em 2012, com o objetivo de realizar um trabalho interdisciplinar entre pesquisadores de ciências exatas e humanas para fazer um estudo sistemático de caracterização de objetos em acervos artísticos, históricos e etnográficos. “Por meio de técnicas físicas e químicas é possível verificar, por exemplo, processos de degradação, mudanças nos materiais ao longo do tempo e efeitos de restaurações anteriores realizadas em obras de arte, ou semelhanças entre culturas devido as características da produção de objetos em coleções etnográficas”, explica Márcia. Desde 2003, a professora realiza análises em acervos museológicos, inicialmente no Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP.

Com auxílio da Pró-Reitoria de Pesquisa e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o Núcleo adquiriu equipamentos para realizar as medições, principalmente nos locais em que se encontram os acervos. “Além do equipamento de fluorescência de raios X e da espectroscopia Raman, também são utilizadas diferentes tangencias de imageamento para caracterizar as obras de arte como uma câmera de infravermelho, fotografia de alta resolução e fotografia com fluorescência UV que se complementam e auxiliam a estudar a obra, estudar o processo criativo do artista por meio da identificação dos traços iniciais em pinturas e desenhos. Pode-se ainda ampliar os estudos de análises de materiais utilizando o Acelerador de Partículas do Instituto”, completa a coordenadora.

No MAC são estudadas as pinturas italianas do acervo de Ciccilio Matarazzo e a coleção de gravuras em papel, em colaboração com a professora e historiadora Ana Gonçalves Magalhães e com os especialistas em Conservação e Restauro do Museu, Rejane Elias Clemencio, Renata Casatti, Marcia Barbosa e Ariane Lavezzo. “No IEB é feito um trabalho com as pinturas de cavalete de Anita Malfatti e desenhos de Di Cavalcanti, com auxílio da especialista em conservação e restauro, Lucia Elena Thomé”, relata a professora.

No Museu Paulista (MP) da USP são estudados os processos de impressão fotográfica do final do século 19 e início do 20, em conjunto com a vice-coordenadora do Núcleo, professora Solange Ferraz de Lima, e as conservadoras do Museu, Sonia Spigolon, Ina Hergert e Yara Petrella. “No MAE é feita a analise de artefatos cerâmicos etnográficos e arqueológicos da Amazônia, com participação da professora Fabíola Silva e Dra. Silvia Cunha Lima”, acrescenta Márcia. Também participam do Núcleo os professores Manfredo H. Tabacniks e Nemitala Added, do IF, Augusto Câmara Neiva, da Escola Politécnica (Poli) da USP, Carlos Appoloni, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), e Patrick Ravines, da Buffalo State Univeristy, nos Estados Unidos, além de estudantes de graduação, pós-doutoramento e do técnico Tiago Fiorini, do Acelerador de Partículas.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Lula ganha estátua de bronze em Washington D.C., nos EUA

Ao invés de Getúlio Vargas ou de Fernando Henrique Cardoso, o artista chinês Yuan Xikun escolheu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para homenagear o Brasil. Ele construiu uma estátua de bronze do estadista para uma exposição em Washington D.C., nos Estados Unidos, no AMA (ART Museum Of the Americas).



O busto de Lula está ao lado de outras personalidades do continente americano, como Abraham Lincoln (Estados Unidos), Simón Bolívar (Venezuela), Tupac Amarú (Peru), Tupac Katari (Bolívia), Juana Azurduy (Bolívia), Andreo De Santa Cruz (Bolívia), Gabriel García Márquez (Colombia), Jose Martí (Cuba) e ‪José de San Martín‬ (Argentina). Todas elas fazem parte da exposição "A América aos olhos de Yuan Xikun".

A exibição começou em 9 de maio e vai até o dia 1º de Agosto de 2014, nos EUA. O motivo da arte é celebrar o 10º ano da entrada da China na OEA.

Como previsto, obviamente, o busto de Lula já está sendo alvo de ataques de comentaristas de sites jornalísticos e de portais de notícia, como podemos verificar na Folha, no R7 e no Terra.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Comunicação em Grafite e Pichação durante os protestos de junho e ao longo de 2013

Artigo originalmente desenvolvido como um trabalho do curso de Estética III, do professor Dr. Leon Kossovitch, na FFLCH-USP. Aviso: O texto é longo.

Por Pedro Zambarda

A arte como representação de seu tempo

“O fim da história da arte não significa que a arte e a ciência da arte tenham alcançado o seu fim, mas registra o fato de que na arte, assim como no pensamento da história da arte, delineia-se o fim de uma tradição, que desde a modernidade se tornara o cânone na forma que nos foi confiada”.

BELTING, Hans. O Fim da História da Arte.

Quando Hans Belting lançou seu livro O Fim da História da Arte, decidiu colocar um ponto de interrogação no final da sentença, indicando, em parte, uma dúvida ao questionar os padrões estéticos. O autor estava num impasse ao duvidar de uma noção de trajetória histórica fixada pela educação formal. O meio artístico, ressaltado por Belting, já havia passado por movimentos como o Cubista, o Dadaísta, o Bauhaus e diversas vanguardas contemporâneas que contribuíram para facilidade de difusão dos meios. No campo da filosofia, Belting também ressalta escassez de pensadores totalmente originais no século 20 e ressalta o esvaziamento que atingiu a metafísica. Cita Jean-Paul Sartre, Martin Heidegger e Theodor W. Adorno. Os três, nascidos entre os anos de 1890 e 1900, exibem teorias que tentam refundar a ótica do pensamento histórico-filosófico, ou denunciam o desgaste de uma visão moderna.

“A obra de arte possui uma unidade peculiar que possibilita uma forma totalmente própria de narrativa: A interpretação. Ela não está ligada a priori nem a um método e nem mesmo a um ponto de vista, pois uma obra pode admitir vários métodos e responde a muitas questões ”, explica Hans Belting, em um capítulo de seu livro dedicado a uma dúvida se a história deve ser da arte ou das obras em si. Belting estabelece como visão diferenciada, por exemplo, da visão dos poetas da Antiguidade Clássica, greco-romana. A tradição, nesta civilização antiga, era a das obras simbólicas e até mesmo das obras de arte “inventadas”, de acordo com o autor alemão. Um exemplo claro, dentro da filosofia, são os manuscritos divulgados por Platão sobre os atos e os pensamentos de seu mestre, Sócrates, entre os anos 399 e 347 a.C. A biografia de Homero e de diversos nomes conhecidos do mundo grego também foram submetidas a uma análise que escapam de uma interpretação direta, está transformada em símbolo.

Com esta estética esgotada, progressivamente mais subjetiva ao olhar do espectador e muito distante de padrões estabelecidos pelo Renascimento Cultural na Europa dos séculos 14 e 16, o grafite ressurge como uma manifestação de protesto na Paris de 1968, no auge dos movimentos estudantis da Sorbonne.

Os grafiteiros se transformam em agentes artísticos com suas mensagens e eles ganham, aos poucos, relevância com a ascensão do street art e do hip-hop como música nos anos 1990.

“Há muito tempo a arte já não é mais um assunto de elite, mas assume em substituição todos os papéis da representação de identidade cultural, os quais nesse meio tempo não têm mais lugar nas instituições da sociedade. Quem fala sobre arte  a encontra em todas as funções possíveis por ela exercidas hoje. Em todo caso, onde a arte entra em cena o especialista é apenas requisitado apenas por uma questão ritual e não mais para um esclarecimento sério. Onde a arte não gera mais conflitos, mas garante um espaço livre no interior da sociedade, ali desaparece o desejo de orientação que sempre estava voltado para o especialista. Onde não existe mais esse desejo, ali também deixa de existir o leigo”.

BELTING, Hans. O Fim da História da Arte.


Nesta teoria atual, de crítica da história da arte e de desgaste de seus principais argumentos, ascende no Brasil uma série de grafiteiros e artistas de rua que ressaltam o esgotamento dos especialistas. Os membros dessa cena de street art nacional não se enquadram em padrões culturais da elite que frequenta grandes leilões de quadros, mas parecem autores de peças de arte conectadas diretamente ao cotidiano das pessoas nas ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de muitas outras cidades urbanizadas, que convivem com a alta concentração populacional combinada com problemas de desníveis econômicos e sociais relevantes.

A cena do grafite paulistano e os protestos de junho de 2013

Foto: Divulgação/OSGEMEOS
Em 1986, os irmãos gêmeos Otávio e Gustavo Pandolfo começaram a grafitar aos 12 anos de idade. Era ascensão do rap norte-americano e da cultura hip-hop negra excluída. Os dois vinham de famílias de artistas e já tinham contato com lápis e desenho desde os três anos de idade. Passaram a assinar os grafites em São Paulo com o nome OSGEMEOS.

A oportunidade de crescimento dos dois, que tirou eles de apenas fazer uma arte transitória, foi o encontro com o grafiteiro Barry Mgee (Twist), que veio de São Francisco, nos Estados Unidos. Mgee exibiu sua arte de rua em exposição e mostrou à dupla que era possível conquistar notoriedade com esta arte em 1993. Em 95, OSGEMEOS chegaram ao Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS) e ganharam holofotes para sua arte que começou com tintas de carro, látex, spray e bicos de desodorante e de perfume para moldar traços. Do MIS, partiram para mostras em Munique e em São Francisco.

Foto: Reprodução/YouTube
Muitas vezes a arte de Otávio e Gustavo se transforma em uma metáfora do próprio ato de grafitar. São ilustrações urbanas que exibem a figura transgressora do grafiteiro dentro da imagem, não no sentido de vândalo, mas sim na composição de uma determinada arte.

A ascensão do grafite no Brasil, sobretudo em São Paulo, está diretamente ligado à forma como a cidade se expandiu e como hoje ela se tornou uma metrópole com mais de 200 milhões de habitantes em 2013. O local absorveu brasileiros do norte e do nordeste que se tornaram mão-de-obra, já foi uma cidade industrial e hoje é uma capital de serviços. Com a padronização das habitações em edifícios, a arte de rua se transformou em uma modificação desses espaços públicos e privados.

“São Paulo é uma selva de concreto. Prédio, prédio, prédio e quanto mais se constrói, mais há prédios e menos árvores e parques. Eles constroem um muro em volta. De alguma forma, você tem que fugir disso ou fazer parte. Essa é a história do grafite”.

Otávio Pandolfo, grafiteiro do grupo OSGEMEOS, no documentário Cidade Cinza.

OSGEMEOS não é o único grupo de grafiteiros famoso na cena paulistana. Também temos o nome de Carina Pandolfo, esposa de Otávio conhecida pelo nome Nina. Francisco Rodrigues da Silva, o Nunca, tornou-se grafiteiro aos 12 anos no bairro de Itaquera, zona leste paulistana, na periferia da capital. Do Cambuci, região central de São Paulo, surgiu Claudio Duarte, conhecido pelo apelido Ise, que aponta a gênese de sua arte no coração da metrópole onde ele vive e gosta de traços de letras estilizadas. Um último nome muito conhecido no grafite que vale a menção é Daniel Melim, responsável pelo desenho de uma mulher loira com traços similares ao de quadrinhos americanos retros, das décadas de 1950 e 1960. O desenho feito em um prédio pode ser visualizado na Avenida Tiradentes, indo da zona norte de São Paulo em direção à zona sul, no corredor de carros.

Foto: Pedro Zambarda
No ano de 2006, o economista Gilberto Kassab assumiu a prefeitura da cidade de São Paulo no lugar de José Serra, que renunciou ao cargo para concorrer ao governo do estado. Kassab implantou, logo no primeiro ano de sua gestão, a Lei Cidade Limpa, que removeu outdoors e tudo o que a prefeitura considerou como poluição visual. O alvo, obviamente, não ficaria apenas na publicidade. Em pouco tempo, Kassab começou uma guerra de tinta contra grafiteiros e artistas de rua. Ao ser reeleito em 2009, o prefeito também criou leis contra poluição sonora, interferindo em shows musicais na metrópole e detendo musicistas na Avenida Paulista e na Rua Augusta. Até o fim da gestão Kassab, em 2012, fazer arte ganhou um tom político.

O político era do PSD (divisão do DEM), um partido alinhado aos interesses do PSDB, legenda de oposição ao governo federal do PT. Em 2013, com uma virada eleitoral não esperava, o petista Fernando Haddad triunfou nas votações e assumiu o posto de Gilberto Kassab. A vinda de Haddad do PT alimentou expectativas de que uma gestão muito diferente e bem menos austera com a street art estava por vir.

O que os artistas esperavam não se concretizou. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, em maio de 2013, a gestão Haddad removeu grafites expostos pela dupla OSGEMEOS na cidade. Os grafiteiros fizeram um manifesto público e continuaram a desenhar na cidade. Disseram eles: "A arte de rua é apagada desde 2007 na cidade! Esperamos com este alerta que a Prefeitura de São Paulo e seus órgãos 'competentes' parem definitivamente de apagar os graffitis (sic) e respeitem e preservem a arte de rua em todos os seus segmentos ".

Este embate entre a cultura que emana das ruas encontraria reforço nos protestos que tomaram conta das ruas no mês seguinte. A maioria das mobilizações foi desencadeada por um grupo de jovens do Movimento Passe Livre (MPL).

Foto: Reprodução/Facebook/Os-Gemeos
Na mesma época, as passagens de transporte coletivo de São Paulo, tanto de ônibus quanto metrô, subiram do preço de R$ 3,00 para R$ 3,20. A alta no custo atraiu uma articulação do MPL, que existe desde 2005, surgido em Porto Alegre. Formado por estudantes em sua maioria universitários, o Movimento Passe Livre não tem lideranças carismáticas e possui uma organização mais horizontalizada, o que facilita a entrada de novos nomes. A principal defesa da mobilização é a criação de um transporte 100% público , ou seja, gratuito.

No entanto, antes de atingir esta, que é a maior das pautas de reivindicações, o MPL definiu metas mais realistas. A primeira delas se tornou a redução do preço das passagens de R$ 3,20 para o valor original de R$ 3,00. Protestos passaram a ser organizados e foi desta forma que começaram as chamadas “Jornadas de Junho”.

Em 6 de junho de 2013 começou o primeiro ato impulsionado pelo MPL, saindo do Teatro Municipal, no centro paulistano. Com presença de pessoas da periferia, a mobilização chegou até a Avenida 23 de Maio e colocou fogo em catracas. O movimento já contava com os chamados Black Blocs, pessoas que adotavam uma tática de vestir máscaras e revidar reações da polícia contra os protestos.

O confronto chegou na Avenida Paulista e voltou a acontecer nos dias subsequentes. Na mesma mobilização, surgiram pichações, uma forma de manifestação gráfica que normalmente é confundida com o grafite.

Foto: Pedro Zambarda
O MPL fez diversos atos após o dia 6, aprofundando a importância da diminuição das passagens e angariando simpatizantes. No dia 13 de junho, as jornadas se radicalizaram após excessos da Polícia Militar de São Paulo no quarto ato. Jornalistas foram agredidos no ato, como foi o caso de Giuliana Vallone, repórter da Folha de S.Paulo, que levou um tiro de bala de borracha no olho, mas não ficou cega graças ao seus óculos. No entanto, o fotógrafo da Futura Press Sérgio Silva não teve a mesma sorte: Ficou cego no olho direito. Além dos dois, Piero Locatelli, repórter da revista Carta Capital foi preso por porte de vinagre. Segundo o jornalista, ele levou vinagre no protesto para amenizar os efeitos de bombas de gás lacrimogêneo disparadas pela polícia. Pessoas foram presas arbitrariamente, sem provas de vandalismo ou transgressão social.

As Jornadas de Julho ainda foram impulsionadas pelo quinto ato, no dia 17 de junho, com adesão em massa que colocou pelo menos 1 milhão de pessoas na rua , sem nenhum revide da Polícia Militar em São Paulo. Os manifestantes chegaram até o palácio do governo de São Paulo, derrubaram as grades e, na volta, pularam as catracas do metrô. Ocorreram também manifestações no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Em Brasília, os protestos invadiram a Esplanada dos Ministérios. Outros atos foram organizados, chegando também até a sede da prefeitura de São Paulo, no centro. Os protestos agruparam outras pautas, como o combate à corrupção, a queda da PEC 37, a prisão dos mensaleiros do PT, a corrupção do metrô de SP pelo PSDB, entre outros muitos movimentos com motivação política. Até o final de 2013, continuaram ocorrendo mobilizações descentralizadas por parte da população.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Qual é a diferença entre grafite e picho?

“Em São Paulo tem várias categorias de pichação. Tem os caras que fazem só muro, tem os caras que fazem janela, tem os caras que fazem mais prédio, tem os caras que fazem mais escalada (sic) e tem os caras que fazem tudo. O fundamental da pichação daqui de São Paulo, independente das categoria (sic), é o cara ter bastante pichação”.

Djan, pichador em uma fala do documentário Pixo de 2009.

Foto: LiaC/Wikimedia Commons
De acordo com pichadores e fotógrafos entrevistados no documentário Pixo, de 2009, dirigido por João Wainer e Roberto T. Oliveira, o principal recurso estético e linguístico do picho é sua comunicação fechada. Através de códigos e desenhos de letras, a pichação polui o ambiente e revela a manifestação de setores excluídos da sociedade, como os pobres, os favelados e os jovens que estão envolvidos em uma vida de crimes. Ao executar o ato de pichar, muitos desses indivíduos entram em choque com a segurança pública ostensiva, que é a Polícia Militar de São Paulo, a mesma que reprimiu os protestos de todo o restante da população em 2013.

Um motoboy chamado Zé, fã de Iron Maiden, que diz que cruza a metrópole paulistana toda, diz que é “viciado em pichação”, no documentário Pixo. Ele confessa: “É difícil eu não ter entrado em uma rua que eu não pichei em São Paulo”. Sua motivação não parece ser a arte ou o desenho, como é o caso dos grafiteiros OSGEMEOS, mas sim sua relação de obsessão e revolta com a cidade. 

No entanto, mesmo com essa manifestação, os pichos podem guardar uma logomarca própria, que serve para identificar o pichador. Eles podem adquirir traços próprios que buscam diferenciar determinadas letras das demais. O “caderno de caligrafia” destes pichadores são os prédios das cidades, as estruturas urbanizadas e o design cinza e sem cor da metrópole.

Das referências musicais, o grafite nasceu tipicamente do hip-hop e do rap negro, músicas tradicionais de cidades grandes. A pichação, pelo seu aspecto mais rebelde e por seus constantes confrontos com a polícia, advém de roqueiros punks paulistanos, além dos protestos da esquerda contra a Ditadura Militar . Existe muita arte entre as duas tendências de arte/protesto de rua, mas elas apontam para diferentes caminhos, embora, para um leigo, a pichação continue sendo algo tão “sujo” para a cidade quanto o melhor e mais bem acabado dos grafites.

Com as Jornadas de Junho em 2013, o picho voltou como um formato estético de impacto quanto como um veículo de mensagem dos protestos do MPL e de outros movimentos sociais.

Foto: Pedro Zambarda
Diferente dos pichadores punks ou dos jovens de periferia com linguagem cifrada, as pichações dos protestos em 2013, próximos das Copas das Confederações e do Mundo, adquiriram um discurso político pesado, irônico e escrito em uma tipografia simples e legível. Na Avenida Engenheiro Luis Carlos Berrini, próximo à TV Globo de São Paulo, as mensagens grafadas nos prédios atacavam uma burguesia e uma classe média alienadas em ações contra corrupções e os desmandos de políticos, partidos políticos e do Estado como um aparelho único. “Poder Popular” apareceu em um prédio comercial na Berrini. Anteriormente aos milhões nas ruas, o MPL foi duramente reprimido pela Polícia Militar de São Paulo, chamado de “vândalos” e agredidos quando tentaram se defender, em um combate desigual contra as autoridades. Esse cenário fervente alimentou o surgimento do Black Bloc como tática contra a polícia, com pessoas comuns vestindo máscaras e atacando com paus e pedras as autoridades.

No entanto, somente quando jornalistas e indivíduos de classes mais altas foram feridos fatalmente, sendo que alguns perderam a visão, os protestos ganharam ignição significativa entre a classe média. Pacificamente, mas sem entender direito as pautas daqueles que já estavam nas ruas, essas novas pessoas engrossaram as vozes e diminuíram os preços das passagens de ônibus e de metrô, atingindo uma das metas do MPL. Isso gerou, obviamente, pichações nas ruas, nos metrôs, nos grafites e em todo lugar. O picho era como se fosse uma voz rouca da rua, dizendo o que estava acontecendo historicamente, embora não tenha resolvido a maior parte dos problemas de corrupção do país.

Foto: Pedro Zambarda
Foto: Pedro Zambarda
Na frente da estação de trem da região da Vila Olímpia é possível ver duas pichações que fazem uma conexão total com os protestos que ocorreram no Brasil: “O Povo Acordou” e “Copa das Manifestações”. As frases escritas na Berrini foram apagadas no mês de setembro, após ficarem quase três meses no local, entre junho e agosto. No entanto, as pichações da Vila Olímpia permaneceram. Refletem, em parte, a identificação das pessoas com os protestos, principalmente as camadas mais pobres.

O picho ganhou força com os protestos. Foi enquadrado como depredações da mesma maneira que a destruição de vitrines de bancos por Black Blocs, que enfrentaram a Polícia Militar. No entanto, o clima de revolta contra o aumento das passagens dos transportes tornou os dizeres “Poder Popular” dos pichadores muito mais artístico e político do que o picho convencional feito por gente da periferia.

Um caso em que a pichação foi encarada de outra forma ocorreu em 12 de junho de 2008, no Centro Universitário Belas Artes, de São Paulo. Um pichador mascarado invadiu uma exposição de estudantes do ensino superior da instituição. Ao tentar escrever sua mensagem, foi expulso e detido pela polícia. A atitude de proteger o local da arte de elite dos seguranças universitários foi o álibi perfeito para que um grupo de pichadores invadisse o local, manchando o interior e o exterior do prédio. O ato se transformou pancadaria entre pobres e pessoas socialmente mais favorecidas.

“Você acha que isso é beleza? Isso ai é coisa de incompetente, de pessoas frustradas, de caras que não tem objetivo na vida. Essa porcaria ai é de cara analfabeto, rapaz. Beleza é o pôr-do-sol, é (sic) as cores da luz branca, de onde vem outras cores. Ela nos alegra todo dia. É arte, tá me entendendo. Não essa porcaria sintética, fedida e que faz mal ”, afirmou José Carlos de Oliveira, funcionário da Belas Artes, na ocasião. O picho não consegue ter um reconhecimento absoluto como arte, mas transmite uma linguagem, mesmo que seja através de uma agressão e de um vandalismo. No contexto dos protestos populares impulsionado pelo Movimento Passe Livre, em São Paulo, a pichação ganhou autenticidade, aceitação e uma comunicação mais universal, além do vocabulário sufocado e cifrado da periferia.

A pichação feita na Belas Artes é feita com letras estilizadas, quase ilegíveis para quem está acostumado ao alfabeto latino tradicional. A tipografia é tratada para refletir ou uma linguagem fechada, ou o estilo do pichador. Ao ser utilizado nos protestos contra o Estado em 2013, o picho assumiu formas e letras tradicionais. Foi lido pela maioria das pessoas na rua, concordando com a mensagem ou não.

Foto: Reprodução/YouTube
“Pichação em São Paulo é muito mais interessante do que o grafite na cidade. O que eu vejo eu acho muito kitch, assim. O grafite é um tipo de arte careta, muito careta. A pichação tem uma vantagem sobre isso. Ela pode ser tudo, mas careta ela não é. Tanta coisa boa no mundo não é arte. Eu não entendo por que isso deve ser arte”.

Tiago Mesquita, crítico de arte presente no documentário Pixo.

Entendendo a história de OSGEMEOS, já mencionada, verifica-se que o grafite é uma arte que já estava internacionalizada quando ganhou forma em São Paulo. A pichação tomou um caminho inverso, nascendo com um código próprio da periferia paulistana e dos grupos punks e de roqueiros que estavam na cidade. Da mesma forma, os grafites baseados nos protestos de São Paulo demoraram um tempo maior do que as pichações para ganhar destaque para as pessoas e para a imprensa.

Foto: Divulgação/OSGEMEOS
Otávio e Gustavo Pandolfo grafitaram um manifestante com uma mensagem de protesto após o dia 13 de junho de 2013, quando o repórter Piero Locatelli, da Carta Capital, foi preso por porte de vinagre. OSGEMEOS fizeram uma crítica direta às constantes censuras que jornalistas estavam enfrentando nos protestos, sobretudo da Polícia Militar de São Paulo.

O desenho foi feito na Avenida 23 de Maio, no Bairro do Paraíso e continha os dizeres “Vinagre é Crime”. A prefeitura paulistana apagou a mensagem em meados de julho. OSGEMEOS então colocaram uma segunda mensagem, mais provocadora, mencionando a Constituição Brasileira: “É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença. Artigo 5º”. A atitude de grafitar, ser apagado e trazer uma nova mensagem ocorreu muito depois das primeiras pichações durante as Jornadas de Junho.

Foto: Divulgação/OSGEMEOS
Ou seja, os protestos deixaram em evidencia o picho, enquanto o grafite manteve sua dimensão artística e até aceita em determinados espaços públicos. Como o senso comum não costuma diferenciar os dois ofícios, quando a pichação ganhou destaque por mensagens da população em mobilização, ela parecia de fato uma arte de rua que refletia aquele momento histórico do Brasil.

Possível conclusão

“A arte antiga tornou-se parte integrante da cultura que veneramos por causa de sua beleza e não por causa de sua verdade ou atualidade”.

BELTING, Hans. O Fim da História da Arte.

No dia 5 de novembro de 2013, o cantor de música pop Justin Bieber grafitou um muro nas ruas de São Conrado, Rio de Janeiro, com conivência das autoridades policiais. Por ser celebridade, o músico não sofreu nenhuma repressão física. Bieber não é pobre, e não tem motivos sociais para se manifestar em um desenho em uma cidade brasileira. Mesmo assim, esteticamente, o artista canadense se sente atraído pela street art e por essas manifestações urbanas de cultura.

Por esse motivo, podemos dizer sim que grafite e pichação são formas esteticamente artísticas, que adquiriram forma com os movimentos musicais presentes nas grandes cidades hoje, acompanhadas por livros e leituras críticas sobre a verticalização das moradias. Em uma cultura de prédios e de grandes corporações capitalistas, criar obras de arte nas paredes de cor cinza é tanto uma manifestação direta quanto um formato adequado de arte, que contrasta com a pintura clássica ou mesmo com o modernismo do começo do século 20. Mesmo a transgressão das formas em Pablo Picasso não chega aos pés dos inúmeros edifícios pichados na capital paulistana. A visão artística do pichador beira a desobediência civil, sobretudo com o risco de cair dos prédios ao fazer um picho ou as perseguições, agressões físicas e processos que ele pode sofrer da polícia e das entidades de justiça brasileiras.

A pichação é paradoxal por consistir, apenas, em letras e palavras escritas de maneira cifrada. No entanto, elas manifestam o desejo subjetivo do artista daquela montagem com sprays de tinta. Não se trata de um desenho, mas apenas de termos rabiscados nas paredes. Beira o vandalismo de acordo com uma visão tradicionalista de arte, cristalizada nos museus, nas grandes curadorias e nos grandes leilões artísticos. Ao pichar um local, passa-se uma mensagem independente de reflexões prolixas sobre a arte. O picho é um ato que está sempre em discussão, mas que adquire uma estética válida, por exemplo, quando representa as vozes de milhões de brasileiros que foram reclamar de seus governantes e de seus políticos. De seus poderosos. No entanto, mesmo quando é considerado como uma estética válida, pode se tornar caso de polícia.

O grafite é parecido quando é reprimido da mesma forma pela autoridades, mas tem um forte apelo de formas por consistir essencialmente de ilustrações, monstadas com tintas, texturas e diversos materiais. Os grafiteiros se destacam como porta-vozes dos protestos, mas também ganham espaço no design de anúncios publicitários e outros formatos comercialmente aceitos pelo mercado.

Arte Fora do Museu, site criado por André Deak e Felipe Lavignatti, foi criado como uma plataforma colaborativa em 2011 e ganhou o prêmio Web’s Got Talent em 2013, promovido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) , pelo Núcleo de Coordenação do Ponto BR (NIC.br)  e pelo W3C Brasil. A página online traz uma premissa simples: Catalogar a arte tipicamente de rua em forma de mapas e bancos de dados.

Mais de 100 cidades brasileiras foram catalogadas e, agora, o projeto está começando a rastrear a street art em cidades como Barcelona (Espanha), Montevidéu (Uruguai) e Nova York (EUA). Deak e Lavignatti, dois jornalistas, não embolsaram um centavo do projeto, mas conseguiram patrocinadores e apoios para sustentar o site. O Governo Federal, o Ministério da Cultura e o Festival Cultura Inglesa foram algumas das entidades que contribuíram para a expansão e inclusão de colaborações na internet. Os mapas podem ser configurados e complementados por visitantes do site.  

Mesmo com essas possibilidades, o site não fez um mapeamento de pichações. As artes incluídas como categorias do site são arquitetura, grafite, colaborativa e mural. O picho, sendo uma expressão típica da periferia e dos excluídos, é controversa e não possui uma memória consistente. Dentro da iniciativa de Deak e Lavignatti, o grafite já está se tornando uma história em mapas e perfis de artistas, mesmo sobrevivendo fora de museus e de algumas galerias culturais.

Foto: Reprodução/Arte Fora do Museu
Referências

Livros
BELTING, Hans. O Fim da História da Arte. Editora Cosac Naify. 2003.
COTTINGTON, David. Cubismo. Editora Cosac Naify. 2004.

Documentários
MESQUISA, Marcelo. VALIENGO, Guilherme. Cidade Cinza. 2013.
WAINER, João. OLIVEIRA, Roberto T. Pixo. 2009.

Sites
DEAK, André. LAVIGNATTI, Felipe. Arte Fora do Museu. 2011.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Exposição: Albert Camus admirou e criticou o Brasil, ao visitar nosso país

Começou, no dia 5 de dezembro de 2013, a exposição gratuita O País da Desmedida: Camus no Brasil, que aborda a vida, a carreira e a visita do escritor franco-argelino Albert Camus ao nosso país. Produzido pelo Centro Universitário Maria Antonia (que fica na frente do Mackenzie, antiga FFLCH) e pela USP, com pesquisa realizada pelo grupo Criação & Crítica que é coordenado pela professora Claudia Pino, do Departamento de Línguas Modernas da Universidade de São Paulo. Eu fui conferir a exposição.

Chegada de Albert Camus no Brasil. Foto: Acervo do jornal O Estado de S. Paulo
A exposição mostra anotações, desenhos e memórias de Camus no Brasil, no ano de 1949. Muitos desses manuscritos se tornaram o livro Diário de Viagem, lançado em 1978. A mostra também mostra a trajetória de Albert Camus em nosso país, chegando de barco no Rio de Janeiro e indo embora até Paris de avião. Camus é retratado como um escritor gentil em entrevistas, mas rude e crítico acerca do Brasil, um país que despertou sentimentos ruins e confusos nele por sua pobreza. Sua dor pela tuberculose também é retratada na homenagem, que afetou sua percepção durante a viagem.

Poster da exposição de Camus pela USP
Há também os relatos de intelectuais brasileiros sobre Albert Camus, como Manuel Bandeira, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux e Érico Veríssimo. As fotos mostram Camus no Cristo Redentor, com a arquiteta Lina Bo Bardi. Na mesma época, o escritor foi entrevistado pelo jornalista Cláudio Abramo, que trabalhava no Estado de S. Paulo e editaria a Folha durante a Ditadura Militar.

Fotos de Camus no Brasil e um trecho: "O Brasil com sua fina armadura moderna, uma chapa
metálica sobre esse imenso continente fervilhante de forças naturais e primitivas".

A mostra tem curadoria de Ana Cândida de Avelar e Lara Rivetti. Os relatos são acompanhados por três vídeos: O documentário Albert Camus, Une Tragédie Du Bonheur (de Jean Daniel e Joel Calmettes, França, 1998),  uma entrevista com o especialista no escritor Manuel da Costa Pinto (no Centro Universitário Maria Antonia, em 2013) e uma entrevista com a professora Inés de Cassagne (também no Maria Antonia, em 2013).

Essa exposição vai até o dia 23 de fevereiro. Por que você não dá uma conferida, caso se interesse pelo autor?

Desenhos e anotações de Camus no Brasil

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Trilogia Poética: projeto leva para teatro poesia de Drummond, Bandeira e Quintana

Por Paulo Virgilio
Da Agência Brasil, por Creative Commons.

Em pleno verão carioca, uma sequência de espetáculos teatrais propõe levar o espectador a um mergulho na poesia. O projeto Trilogia Poética, que ocupa a partir da próxima quarta-feira (15) o Centro Cultural Midrash, no Leblon, apresentará a cada 15 dias uma peça dedicada a um de três grandes poetas brasileiros: Carlos Drummond de Andrade, Mario Quintana e Manuel Bandeira.



A ideia partiu do ator e dramaturgo Marcos França, que pretende com a trilogia marcar seus 25 anos de carreira. “O objetivo é levar ao palco toda a essência desses poetas e desvendá-los para as novas gerações. Mostrar que a poesia está em toda a parte, 'tanto nos amores, como nos chinelos', como dizia Bandeira, ou 'numa moedinha perdida', como Quintana”, destacou França.

Em sua trajetória, França já levou ao teatro, em musicais de sua autoria, a obra de três grandes compositores da música popular brasileira: Mário Lago, Antonio Maria e Ary Barroso. Como ator, também atuou em peças que abordavam personagens da história do país, como O tiro que mudou a história, sobre Getulio Vargas, e Tiradentes, a Inconfidência no Rio, ambas em 1992.

O espetáculo que inaugura a Trilogia Poética no dia 15, às 20h30, é Um Homem por Trás dos Óculos – Um Olhar sobre 7 Faces da Obra de Carlos Drummond de Andrade. Na peça, Marcos França contracena com a atriz Elisa Ottoni para percorrer sete facetas da obra de Drummond, incluindo algumas de suas crônicas e trechos de entrevistas que o poeta deu ao longo da vida.

Já para dar forma à peça Aprendiz de Feiticeiro – Um Encontro Poético entre Mario Quintana e sua Personagem, Lili, o dramaturgo pesquisou dez livros do poeta gaúcho. “Criei um diálogo com a Lili [interpretada pela atriz Eliane Carmo], personagem recorrente da obra de Quintana. É uma conversa com a filha que ele não teve, com a sua infância”, disse França. O espetáculo estreia no dia 29 deste mês.

Em Caminho para Pasárgada, que será apresentado a partir de 12 de fevereiro, o dramaturgo e ator usou como ponto de partida o livro autobiográfico de Bandeira, Itinerário de Pasárgada. Depois, 11 livros do poeta pernambucano deram forma ao texto, entre eles Cinza das Horas, Libertinagem e Belo, Belo. "A poesia musicada de Bandeira ganha destaque na peça", antecipou França.

Os três espetáculos serão apresentados às quartas e quintas-feiras, às 20h30, com ingressos a R$ 20. O Centro Cultural Midrash fica na Rua General Venâncio Flores, 184.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Exposição gratuita: 30 anos de Centro Cultural São Paulo

Se você quiser ver uma mistura obra de pintores, de artistas e de um poeta com a história de São Paulo, a exposição dos 30 anos de CCSP pode ser vista gratuitamente na cidade até o dia 17 de fevereiro. 

A exposição é multidisciplinar e mostra obra de intelectuais do Centro Cultural São Paulo, que deram nome até para alguns cômodos do local, como Ademar Guerra, Adoniran Barbosa, Alfredo Volpi, Caio Graco, Eurico Prado Lopes, Flávio de Carvalho, Flávio Império, Henfil, Jardel Filho, Jorge Andrade, Lima Barreto, Louis Braille, Mário Chamie, Oneyda Alvarenga, Paulo Emilio Salles Gomes, Sérgio Milliet e Tarsila do Amaral.


Tarsila do Amaral chama atenção na exposição. Os quadrinhos de Henfil empolgam o visitante. Além deles, um poeta que chama atenção na exposição do CCSP é Mário Chamie. Chamie foi criador do movimento Poesia-Práxis, foi secretário de Cultura de São Paulo e inaugurou o próprio Centro Cultural São Paulo, em maio de 1982. Sua arte e a história do centro cultural se misturam. O poeta também fez parte da Academia Paulista de Letras.

Mário Chamie faleceu no dia 3 de julho de 2011.

A exposição, gratuita, estará disponível de terça-feira até sexta, das 10h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 18h. Mais informações estão no site do CCSP.

domingo, 30 de janeiro de 2011

O que é tipografia?

Trabalho do leitor e colaborador do Bola da Foca, Danilo Braga, o vídeo abaixo é uma explicação simples sobre tipografia voltada, principalmente, para profissionais de design e arte. O curta-metragem foi feito com os programas Adobe After Effects, Adobe Photoshop, Adobe Illustrator e Apple Final Cut. Confira:

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Augusto de Campos e o concretismo

"Hoje, escrevo três poesias por ano" afirmou, humildemente, o histórico poeta Augusto de Campos. No último dia 20 de novembro, Campos esteve na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, na Rua Henrique Schaumann, perto da Avenida Brasil, em São Paulo.

Explicando sobre os movimentos paulistas de arte contemporânea nos últimos 60 anos, Augusto de Campos falou do relacionamento dos jovens paulistas de 1945 com as artes plásticas e como eles empregaram isso na práxis poética, criando o movimento concretista na poesia brasileira. "Fizemos muitos trabalhos visuais".

Poesias como "Luxo Lixo" e vários trabalhos gráficos de Campos foram lembrados. "Havia também o Décio Pignatari, que era ligado com a publicidade. Foi o nosso marco na história".

Atualmente, Augusto escreve na internet e confessa que gosta de computadores desde quando teve seu primeiro Mac, na década de 90. Sobre assuntos delicados, como a briga com o poeta Ferreira Gullar, ele foi sucinto e disse que os desentendimentos foram pessoais. Disse que Gullar roubou as atenções das primeiras exposições de arte concreta com a poesia "O Formigueiro", que ocupou uma sala inteira, mais do que os demais artistas.

Confessou que ele já não não faz poesia concreta, com apelo gráfico. Citando um exemplo do irmão, o já falecido Haroldo de Campos, Augusto comentou sobre a frustração de ser sempre citado como um "poeta concretista". Ele acredita que será sempre lembrado por isso, mas que hoje já faz um estilo diferente de arte, sem rótulo.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Bola da Vez #12 - Blogs com Focas


O tema dessas recomendações é simples: qualquer blog ou site que tem "foca" em seu nome, embora nem sempre com o significado de jornalista iniciante na redação, vale para esta lista. Espero que gostem das sugestões:

- Manual dos Focas (@manualdosfocas): Blog já recomendado aqui no Bola, mas que vale ser lembrado por suas propostas de emprego e artigos voltados para a carreira jornalística. É um bom lugar para quem está entrando na carreira se informar, com um extenso banco de dados.

- Focaleando (sem twitter): Blog com brincadeiras e bom humor do ex-casperiano e repórter de tecnologia Bruno Ferrari, com amigos. Possui alguns vídeos de gafes e textos tirando sarro. Está desatualizado há tempos. Mas vale uma visita mais curiosa nos arquivos.

- Mãe da Foca (@hugoogle): Blog com várias dicas bacanas de arte urbana e design, além de variedades. Vale uma olhada.

- Foca em Foco (@focaemfoco): Jornalismo e dicas de programas noturnos. Feito por Aline Oracic, uma jornalista em formação. Vale sim.

Poucos blogs, mas espaços interessantes, assim como o Bola da Foca.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

O livro de capa azul, em branco



Dizem que a educação escolar começa, pra valer, entre seis e sete anos, com a alfabetização e a entrada no ensino básico, essencial para qualquer moleque. Logo que a professora começou a aumentar as aulas de caligrafia, ditados verbais e a mostrar sinônimos e antônimos, eu disse para mamãe que queria ser escritor, como aqueles homens famosos dos livros da escola. Nos oito anos de ensino fundamental, a vontade foi incentivada por um companheiro inseparável dos meus momentos mais solitários, quando era menor.

Era um livrinho azul, de aproximadamente 300 páginas, totalmente em branco por dentro e com capa dura. Tinha oito anos, assistia televisão, jogava videogame, ouvia coisas que os adultos diziam e elaborava histórias à partir disso. O livro me acompanhava pelas viagens e me fazia ter gosto por leituras. Era um companheiro que nunca reclamava das minhas frases repetitivas, dos meus verbos pobres ou do meu léxico monótono. As frases simples viravam cenários de batalha medieval, tiroteios entre policiais e até cenas de amor. E aquele livrinho foi testemunha das minhas vergonhas infantis, como, por exemplo, a minha incapacidade de ver e de descrever cenas de beijo, de lábios se encontrando.

Quando não encontrava as palavras certas, arriscava desenhar os personagens e até os cenários baseados no texto. Procurava não deixar a mão parada, nem mesmo relaxar a cabeça. Aquele menino que escrevia no livrinho, quando cresceu, acordou em diversas madrugadas para fazer poesia sobre as mulheres e pessoas que admirava. Tornou poema sua visão de mundo e, ao mesmo tempo, desenvolveu a análise nas dissertações e prosas. Não se prendeu em nenhum formato de texto, em nenhum tema específico, apesar de preferir registrar quase sempre o que o cativava no mundo.

Na escola, mostrava seus pequenos livros para alguns professores, que apenas elogiavam, sem entender, talvez, os anseios do menino. Nas brincadeiras com amigos, começava a elaborar as histórias dos personagens, fazendo teatrinhos. Quando veio a onda do RPG e jogos de interpretação mais elaborados, acabava sendo o mestre do jogo, o roteirista ou alguém que, no mínimo, tentava dar uma orientação para a brincadeira toda.

Rabiscar aquelas páginas, desde menor, significava sair daquele mundo. Não era uma simples fuga, mas um afastamento que sempre permitiu ao garoto dar outro sentido ao que era aprendido. Era um movimento diante das coisas. O menino tinha necessidade de ser um pouco criador, de ser algo além do que um simples estudante de escola primária, um filho ou alguém preocupado com diversão.

Escrever, quando era pequeno, não parou no livro azul. Veio um vermelho e outro verde, depois. Por fim, eu comecei a viciar mesmo em passar minhas ideias para o computador, à medida que me aproximava da adolescência, unindo tecnologia e cultura. Esse hábito de despejar o que me intrigava, ou o que eu achava que poderia ser interessante para as pessoas, virou algo essencial para o meu trabalho como jornalista. Virou motivo para aprender a língua portuguesa na educação primária, e para adquirir inspiração em redações remuneradas. E o segredo disso sempre foi observar as pessoas e os fatos, tentando colocar a minha pessoa nesse cotidiano alheio.

De certa forma, o jornalista Pedro de hoje continua sendo o mesmo moleque querendo colocar suas criações no papel, relembrando sempre a voz da professora em sala de aula. E o livro azul, com folhas em branco, faz convites silenciosos para ser manchado de tinta, grafite e ideias.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

As muitas caras de Octavio Ocampo

As mães nunca podem imaginar o que acontecerá com seus filhos quando dizem a eles “olha, aquela nuvem tem formato de um carro e aquela outra de um cachorro”. A mãe de Octavio Ocampo também não podia saber.

Nascido em Celaya, no México, em 28 de fevereiro de 1943, Ocampo estudou na escola de pintura e escultura Bellas Artes, em seu país, e posteriormente, no San Francisco Art Institute, nos EUA.

Dono de uma produção de pinturas de estética metamórfica, o artista se auto-define em um depoimento para o livro A mágica óptica: Octavio Ocampo, da jornalista e ativista política mexicana Elena Poniatowska.

“Sou metamórfico. Entre o frágil passo de uma imagem para a outra existe um momento mágico no qual me comunico com o espectador em outro nível, por meio do subconsciente e do espírito. Não sou só figurativo, mas sim multifigurativo, polimórfico. Eu gosto. Eu gosto de convidar o espectador a jogar e, com isso, capto sua atenção ao dar uma impressão de beleza ou de horror na primeira imagem; outra ao descobrir que há uma segunda, terceira e talvez, até uma quinta imagem.”

Suas obras, se analisadas bem, mostram ao apreciador da arte muitas figuras, baseadas em um só cenário. Com essa levada moderna, Ocampo é estudado no mesmo contexto artístico de pintores surrealistas como Escher, Dalí, Arcimbondo, Duchamp e Reutersvär, todos criadores de ilusões ópticas.

O pintor mexicano foi protagonista de exposições individuais nos EUA, no Canadá, na Europa e em grande parte do Oriente Médio e da América Latina, assim como em várias outras coletivas ao redor do mundo. Suas obras fazem parte de importantes coleções, como a do Museo Reina Sofia, em Madrid, e do Instituto Nacional de Bellas Artes, na Cidade do México.

Além dos quadros, Ocampo foi o autor de peculiares retratos de diversas personalidades, como a atriz Jane Fonda, o presidente norte-americano Jimmy Carter e a cantora Cher (que expôs o trabalho na capa de seu álbum Heart Of Stone).

Ademais, vale citar seu trabalho como muralista. Ocampo é responsável pela arte estética de importantes edifícios como o Palacio Nacional del México e o Instituto Tecnológico em Cevaya.

Sua grandiosidade artística é um imenso motivo de orgulho para a nação mexicana, e em forma de consagração dessa grandiosidade, será inaugurado, em breve, o Museo Octavio Ocampo, em sua cidade natal.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Na moda: Trompe o quê?

Por Bruna Caricati

O sucesso nas passarelas das semanas de moda foi o *“trompe-l’oeil” (engana os olhos). O termo, originário de uma expressão em francês, assusta, mas seu efeito visual diverte!

Este ano, várias marcas, como Fause Haten, Ronaldo Fraga e Maria Bonita, absorveram a prática do trompe-l’oeil e transferiram a arte para suas coleções, porém, o que se confirmou tendência já podia ser visto em t-shirts espalhadas pelo mundo. Basicamente, o efeito consiste em causar uma ilusão de óptica ao mostrar, nas peças, objetos ou formas que na verdade não existem. A técnica, já antiga, é utilizada na arquitetura e na pintura, para, principalmente, dar impressão de profundidade. Camisetas com desenhos imitando gravatas, bolsos, cintos, botões ou colares são alguns dos exemplos. Essas imagens, quando bem-feitas, têm a plena capacidade de driblar nossa percepção, fazendo com que realmente pareça que há um adorno sobreposto. Mas, na moda, a intenção é, principalmente, surpreender e fazer graça, sem compromisso com a técnica. Tais detalhes dispensam os acessórios. Além de ser divertida, é uma alternativa prática para quem quer um look “pronto”, pois, geralmente, não é necessário acrescentar nenhum ornamento a mais à produção.

Essa técnica foi implantada nas indumentárias pela estilista italiana Elsa Schiaparelli, na década de 1930. Influenciada pelo modernismo, movimento artístico de sua época, Schiaparelli misturava em suas criações características dadaístas e surrealistas, tendo como referência o artista plástico Salvador Dali. De uma mente revolucionária surgiu a obra do trompe-l’oeil nas vestimentas, o que adicionou criatividade e irreverência ao mundo da moda, que se tornava cada vez mais sólido e livre. Já nas pinturas, a arte de enganar a visão foi bastante aplicada em domos de igrejas e em murais, o que conferia maior amplitude visual ao ambiente. Não há dúvidas de que a ilusão de óptica tornou-se um instrumento intrigante e muito bem explorado no campo das artes. Aposte!

* Pronúncia: trrromp loeii
Matéria originalmente publicada na revista Profashional

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