Via Agência USP de Notícias, Creative Commons
A população de Sertãozinho, cidade a 20 quilômetros de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), ganhou um estímulo inusitado para incentivar a leitura. O jovem Haroldo Luís Beraldo decidiu copiar uma ideia: a de customizar uma geladeira e fazer dela uma biblioteca. O resultado deu tão certo que ele montou a segunda “geladeiroteca” e estuda abrir mais três, em menos de um ano. Estudante do curso de Ciências da Informação, Documentação e Biblioteconomia, o CID, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Beraldo se inspirou em ideias semelhantes que encontrou em Araraquara, São Paulo, e Blumenau, em Santa Catarina.
Segundo ele, a ideia de fazer a geladeiroteca surgiu da necessidade de apresentar algum projeto na “11ª Feira do Livro de Sertãozinho”, em outubro de 2013. Ele participa da Feira desde 2007 como membro da comissão organizadora e, desde 2012, com a Biblioteca Gen. Álvaro Tavares Carmo, mais conhecida como Biblioteca da Canaoeste, também em Sertãozinho, onde o projeto está ancorado. “Pesquisei a respeito de projetos que envolviam doação e repasse de livros e o que fiz foi apenas copiar uma ideia e adaptar à realidade da biblioteca e da Feira do Livro”, revela. Assim nasceu o projeto “Geladeiroteca: consuma aqui e alimente seu espírito”.
Ele inscreveu e teve o projeto aprovado em edital do Ministério da Cultura que possibilitava a uma série de municípios terem seus Pontos de Leitura. Com isso, foi contemplado com R$ 20 mil para custear a implantação do projeto. O professor de Beraldo na FFCLRP, José Eduardo Santarém Segundo, coordenador do Curso de Ciências da Informação e da Documentação e Biblioteconomia, elogia a iniciativa. “É uma satisfação ver que nossos egressos estão propondo projetos desta natureza, com uma linha empreendedora e criativa de estímulo a leitura.”
Geladeira e consumo de livros
A escolha da geladeira como local para montar uma biblioteca não foi ao acaso e ele se diverte com isso. “Como é um eletrodoméstico usado nas residências para armazenar itens que geralmente são consumidos diariamente, resolvi trabalhar, ou melhor, brincar com a noção de consumo, mas não de alimentos e sim de livros. Por isso escolhi a geladeira. Consumimos tanta coisa no nosso dia a dia e que tal seria ter uma geladeira onde se consome livros?”
O funcionamento do projeto é simples. Trata-se de uma carcaça de geladeira que é customizada para chamar a atenção de quem vê e é alimentada com livros recebidos por doação. As pessoas podem retirar, trocar e doar livros sem que haja a necessidade de um cadastro formal com qualquer biblioteca. “É uma forma simples de oferecer livros para a população de maneira desburocratizada, o oposto do que normalmente acontece em bibliotecas”, explica. Beraldo não sabe ao certo quantos livros já passaram pelo projeto. Ele calcula que na Feira do Livro de Sertãozinho do ano passado foram repassados aproximadamente 400 livros à população. Na Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto desse ano, mais de 3 mil.
A receptividade superou as expectativas iniciais de Beraldo. “As próprias pessoas que retiram livros se encarregam de devolver ou de doar outro no lugar. Isso acaba criando uma noção de pertencimento e também de colaboração que eu, particularmente, não esperava que fosse acontecer de uma forma tão natural e rápida”. Em Sertãozinho funcionam duas geladeirotecas instaladas em locais de grande fluxo de pessoas. Uma está no Centro Esportivo Mogiana, em parceria com a ABA, a Associação Amigos do Bairro Alvorada. A outra está no Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC).
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