Você normalmente é indicado para a área de jornalismo quando possui aptidão com textos escritos, uma voz similar aos famosos locutores de rádio ou uma desenvoltura diante de uma câmera de vídeo. Superficialmente, a profissão transmite a ideia geral de que o formando faz apenas esses tipos de atividades. Quando ingressei na carreira, sem muitas intenções pré-concebidas, consegui notar que esse conhecimento aparente não se comprova nem na teoria e nem na prática.
Cheguei ao ensino superior com dois anseios, querendo me tornar um escritor de literatura desde muito novo, aos oito anos, e querendo trabalhar com informática, por gostar muito de computadores e da interação da internet com as pessoas. Durante meu percurso na Faculdade Cásper Líbero, descobri que jornalismo consegue englobar meus gostos justamente por lidar com um objeto de estudo complexo: A confecção da informação. Academicamente, pude ter acesso à obras literárias que reformularam minha escrita, além de descobrir excelentes jornalistas em autores consagrados, como Albert Camus. Profissionalmente, o mundo online se mostrou uma possibilidade aberta para que o jornalismo preencha o conteúdo em rede.
Uma grande virtude do curso da Cásper Líbero, e que pude verificar também no curso da Escola de Comunicação e Artes da USP, é as experiências laboratoriais promovidas por professores. No site de jornalismo da Cásper, pude cobrir a vinda do embaixador norte-americano para a instituição, explicando o funcionamento das eleições na época da ascensão de Barack Obama à presidência. Para o site de Cultura Geral, fiz diversas coberturas de shows de rock´n´roll, o que criou um gosto por jornalismo musical. Na revista-laboratorial Esquinas, pude fazer uma reportagem sobre cibercultura e cyberpunks, que ampliou minhas fontes especializadas em tecnologia. Aprender com experiência e teorias necessárias cria um equilíbrio de conhecimentos para o profissional.
O ensino superior em comunicação ainda enfrenta contradições e paradoxos. Há docentes que valorizam o glamour antigo dos jornalistas, tais como os grandes repórteres e as grandes reportagens. Outros professores dão noções panorâmicas de teóricos da profissão, o que enfurece alguns alunos que não conseguem encontrar relação direta com a prática do trabalho. Por fim, o trabalho jornalístico é paradoxal por não ter uma especialização por conhecimento específico, como é a medicina. Ainda falta ao ensino uma diretriz clara do que é fundamental para a profissão, além do aprofundamento no estudo da carreira. Os alunos também não apresentam o mesmo nível de interesse. Resta aos professores, diante de alguns indivíduos desinteressados, buscar apenas alguns estudantes que demonstram sua vocação dentre salas inteiras.
O mercado de trabalho no jornalismo está em crescimento com os investimentos do Brasil na informática, o que melhorou os instrumentos de trabalho da imprensa. Os problemas se centram nas condições salariais, na alta competitividade e na falta de valorização do serviço. Comparado ao começo dos anos 2000, com o estouro da supervalorização dos negócios digitais que gerou um corte expressivo de empregos, ser jornalista hoje é entrar em um mercado com vagas em áreas variadas, como assessoria de imprensa, blogs, jornais, revistas, televisão, sites e até em trabalhos similares com a publicidade e as relações públicas.
Para minha trajetória, os grandes benefícios da faculdade foram estimular o exercício constante do texto, despertar a paixão por outras mídias - como o rádio e a televisão - e, acima de tudo, estar ligado com as tendências da internet e das novas tecnologias. Ainda existem problemas na abordagem do mundo digital feita por professores, mas sou levado a crer que essas disparidades acontecem por um conflito de gerações diferentes, que viveram e vivem contextos distintos.
Hoje digo: Informo digitalmente. Essa capacidade me foi estimulada pela minha formação como jornalista, que também reforçou meu gosto por literatura e arte. Acredito que, das graduações em ciências humanas, o jornalismo é um curso que será mais atraente dentro de alguns anos, principalmente para alunos pró-ativos, criativos e com disposição. E toda essa condição será possível se houver melhorias constantes na formação superior.
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